sexta-feira, janeiro 29, 2010

Depois de casa roubada …


Passei há dias por uma rua de Lisboa onde dois trabalhadores sem identificação estavam a abrir um buraco de todo o tamanho. Aliás, nem sequer se via qualquer placa indicativa de quem era o dono da obra e a que é que ela se destinava. Imediatamente me lembrei de uma história que me contaram e que foi publicada recentemente num jornal inglês. Dizia mais ou menos isto:



No exterior do England 's Bristol Zoo existe um parque de estacionamento para 150 carros e 8 autocarros. Durante 25 anos, a cobrança do estacionamento foi efectuada por um simpático cobrador.


Um dia, sem aviso prévio, e sem qualquer falta ao trabalho durante a vida, o cobrador não apareceu.

A administração do Jardim Zoológico escreveu para a Câmara Municipal a solicitar que enviassem um outro cobrador e a resposta veio célere: o estacionamento do Zoo não era, nem nunca tinha sido, da responsabilidade da Câmara que nunca tinha pago a qualquer funcionário para desempenhar aquela tarefa.

Ou seja, durante 25 anos um senhor, como se disse muito simpático, provavelmente munido de um boné de arrumador que lhe conferia uma autenticidade que de facto não tinha, cobrou tranquilamente taxas de estacionamento estimadas em cerca de 560 euros diários.

Só que o afável senhor terá resolvido que era a altura de se retirar e de gozar uma merecida reforma, algures num lugar paradisíaco, bem longe de preferência.

As autoridades ficaram com um problema sério para resolver. Não tanto o saber para onde homem se sumira mas antes como iriam arranjar rapidamente alguém para ocupar o lugar do antigo cobrador. E, já agora, uma pessoa que fosse igualmente simpática.

Tenho a certeza de que a partir desse momento começou a haver a preocupação de controlar o novo funcionário. É que depois de casa roubada …

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Estava a ler quando reparei num homem …


Estava a ler dentro do carro. Distraidamente, enquanto “saboreava” as últimas palavras que acabara de ler, olhei por cima das páginas do livro e reparei num homem que caminhava lentamente não muito longe dali. Teria mais de setenta anos mas ostentava, ainda, uma pose distinta. Alto e direito de postura, espraiava o olhar ao redor como que a chamar silenciosamente o bando de pombos que já o cercava.


Baixei o livro e interessei-me pela figura. Tinha bom aspecto. Vestia uma gabardina que o agasalhava da tarde fria e usava casaco, camisa e gravata. Via-se-lhe o aprumo e a dignidade.


A princípio não entendi porque é que uma das mãos tanto remexia o interior de um saco de plástico de supermercado. Percebi depois que esfarelava pão que ia espalhando com gestos largos na direcção dos pombos.


O jeito de andar dos pombos e o seu ar patusco, distraíram-me por momentos do homem. Quando voltei a olhar para ele, notei que dobrava cuidadosamente o saco como que a guardá-lo para outra utilização.


Enquanto se afastava do local do festim, tão lentamente como chegara, ia olhando para trás na direcção dos pombos, como que a certificar-se de que eles se comportavam direitinho e comiam a refeição que lhes fora dada. Ou, quem sabe, a “dizer-lhes” que voltaria no dia seguinte.


Fui acompanhando com a vista os passos do homem até que dobrou a esquina. Mesmo depois de desaparecer do meu horizonte visual, continuei a “vê-lo”. Quem seria? Que mistérios guardaria?


Prossegui com a minha leitura. Porém, e inexplicavelmente, a figura daquele desconhecido alto, direito de postura e de pose distinta, teimou em sobrepor-se ao amontoado de letras que se alinhavam à minha frente.


quarta-feira, janeiro 27, 2010

Responsabilidade Social


Já repararam no modo como muitas empresas “enchem a boca” ao atirar aos quatro ventos que têm políticas de responsabilidade social? E a verdade é que, muitas delas, têm mesmo (úteis mas ainda incipientes) embora sirvam, sobretudo, outros propósitos, nomeadamente, a visibilidade das próprias marcas. Mas agora não tenho tempo para aprofundar o assunto. Ficará para um outro dia.


O que me interessa hoje abordar é aquilo a que eu chamo a socialização dos centros comerciais. Como sabem, quase todos eles, sobretudo os maiores, têm pequenas ilhotas com bancos e sofás onde se pode descansar um pouco dos afazeres que nos levam lá. Nesses lugares costumam sentar-se pessoas com alguma idade, muitos deles reformados, gente que procura enganar a solidão vendo e sentindo outra gente que passa. Ali estão, a ler os jornais gratuitos que manhã bem cedo estão à disposição, a consultar as brochuras publicitárias dos supermercados e das lojas instaladas no centro e a fazer sonecas tranquilas ou a olhar sem pressa o que gira à sua volta.


E é a essa acção de pôr os tais bancos e sofás em grandes centros comerciais - que proporcionam a “companhia” a tanta gente que está só - que eu considero que bem pode englobar-se na denominada responsabilidade social dessas empresas. Certamente que os Belmiros, os Jerónimos e alguns mais não terão pensado nisso quando ergueram essas grandes catedrais do consumo mas, inconscientemente, fizeram-no. E, provavelmente - digo eu - não tardarão a fazer reflectir essa “responsabilidade” nos respectivos Balanços Sociais.


terça-feira, janeiro 26, 2010

Um erro que persiste

Sempre achei louvável que países e cidades homenageiem aqueles que lá nasceram ou viveram e que, de alguma forma, se destacaram nas suas actividades. É um reconhecimento importante, embora com o passar dos tempos as placas pouco ou nada digam aos mais jovens. Ainda assim, um prémio justo.


Esta semana ao visitar a Guarda, ao passar por uma rua do seu centro histórico, dei de caras com uma placa que indicava que ali tinha nascido um seu muito ilustre filho – Rui de Pina - cronista e diplomata, nascido em 1440 e falecido em 1522.


Só que – e repararem bem na imagem (que não é famosa) – a data da morte inscrita na placa é 1940.


Enalteço o reconhecimento que o Município quis fazer a tão ilustre personagem mas, convenhamos, por muito bom (e saudável) que fosse, Rui de Pina certamente não conseguiu viver 500 anos.


E a placa lá continua, sabe-se lá desde quando, sem que a autarquia tenha tido o cuidado de rectificar o erro. Ainda por cima no centro do Centro Histórico da Cidade da Guarda.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Chamem-lhe milagre …


Isso, se não tiverem outro nome, chamem “milagre” ao facto de, ao fim de onze dias após o terrível sismo que devastou o Haiti, ter sido retirado dos escombros um homem com vida.


Já depois das operações de busca terem sido oficialmente suspensas, a teimosia e a obstinação da família (que disse ter ouvido a sua voz) e da equipa de socorrista que o salvou foram determinantes para o resgate de Wismond Exantus.


Este jovem de 25 anos resistiu onze dias, façanha nada comum neste tipo de tragédias, e sobreviveu, segundo ele, porque bebeu Coca-Cola e cerveja e comeu bolachas a que conseguiu chegar nas ruínas de uma mercearia onde ficou soterrado, num pequeno buraco onde mal se podia mover.


“Não gritei, simplesmente rezei”, disse.


Perante tamanha perseverança e fé não posso deixar de acreditar que, neste caso, realmente aconteceu um milagre.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Distracções


Há dias num restaurante reparei que um senhor sentado perto de mim limpava cuidadosamente o prato, os talheres e o copo com um guardanapo, provavelmente para assegurar que todos os utensílios iriam ficar irrepreensivelmente imaculados antes de começar a almoçar. Só que, pouco depois, vi que limpava a boca ao mesmíssimo guardanapo que tinha utilizado para a loiça. Distracção do senhor, pensei.


Numerosas pessoas ao espirrar colocam a mão em frente do nariz e da boca para proteger quem lhes está próximo. Porém, imediatamente a seguir, essas pessoas tão cuidadosas são capazes de cumprimentar alguém com a mesmíssima mão conspurcada que tinha acabado de receber a saraivada de bactérias provenientes do espirro. Por distracção, digo eu.


Mas para quem pense que as distracções são apanágio das pessoas simples e sem história, recordo uma outra história que se conta de Albert Einstein, o célebre físico alemão (Prémio Nobel da Física em 1921) que ficou conhecido por ter inventado e desenvolvido a teoria da relatividade.


Pois Einstein era, como quase todos os génios, muito distraído. Conta-se que num certo jantar, tinha como sobremesa umas belas cerejas e, para lavá-las, pediu uma taça com água. Einstein lavou demoradamente as cerejas, comeu-as e, uns minutos depois, bebeu toda a água da taça.

Para que vejam. Até os génios não são imunes a estas abstracções.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Gourmet para quê?


Devo confessar que o título da crónica de hoje me foi sugerido pelo meu filho, muito embora eu tivesse já pensado escrever alguma coisa sobre o assunto.


Ao longo dos anos, e de forma intuitiva, fui-me apercebendo que muitos dos produtos que me queriam impingir (leia-se vender) eram completamente falhos de substância mas, no entanto, vinham muito bem apresentados e, muitas vezes, rotulados com um nome estrangeiro. Um pouco o que tem acontecido ultimamente com os chamados "produtos gourmet". Mesmo sabendo o que essa palavra significa não dispensei a consulta à wikipédia que me disse exactamente o que eu estava à espera. Que “Gourmet é o nome que se dá à cozinha ou produto alimentar (incluindo bebidas) que estejam associadas à alta cozinha”. Melhor dizendo, e para sermos rigorosos, os produtos ligados à “Haute Cuisine”. Assim é que é.


E isto ajusta-se a quase tudo. O conteúdo pode ser o mesmíssimo mas o que interessa é a forma, a roupagem, a apresentação da coisa.


Uma simples marmelada, se apresentada numa embalagem de plástico é apenas mais uma marmelada. No entanto, se dentro de um frasco com um design sugestivo e vestido com um lacinho a condizer, passa à categoria de marmelada gourmet. A mesma marmelada mas apresentada de um outro jeito e, claro, com um outro preço.


Até já há vinhos gourmet. E águas, calculem, as águas que jorram das mesmas fontes mas que são engarrafadas em recipientes vulgares ou em garrafas sofisticadas. Lá dentro, porém, a água é rigorosamente igual.


Chegou-se ao ponto – a loucura tomou conta da rapaziada – de já haver quem compre casas só porque têm varandas gourmet. Se não perceberam, eu repito, varandas gourmet que são assim como … não sei bem explicar.


Balelas, puro snobismo. Experimentem os “experts” da nossa praça fazer uma prova cega dos produtos, um normal e outro gourmet, e vejam se conseguem distingui-los. Claro que não. Não, não conseguem diferenciá-los. Como não conseguem dizer, depois de os saborear, qual a “flute” que contem Moet & Chandon e a que tem o nosso Murganheira. Como não conseguem fugir à fúria incontrolada da moda que os empurra para os tais artigos gourmet.


Calculem que um outro dia numa loja gourmet de um centro comercial, vi uma desprotegida banana, uma reles e pequeníssima banana da Madeira com uma etiqueta ao lado a dizer “Banana Gourmet”.


Oh meus amigos, poupem-me!

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Sócrates, “o atum”

Já chamaram todas as coisas ao homem, disseram dele cobras e lagartos, implicaram-no em processos, uns atrás dos outros. O que é que querem mais, o que mais vão inventar para o crucificar?


TUDO. As mentes perversas não estão completamente satisfeitas e foram, desta vez, um pouco mais além. Fizeram de Sócrates (o primeiro-ministro, o José) “atum em posta”. Triste fado! Ter que acabar enlatado em óleo vegetal, ainda que em caixa de abertura fácil. Quem poderia imaginar tal crueldade?


Tanta gente, acreditem. Agora, para além de marcas tradicionais como o Tenório e o Ramirez (este último tão apreciado que chegaram a ser encontradas latas de conserva na despensa de Hitler) também podemos encontrar no comércio o “atum em posta Sócrates”.


“Melhor a morte que tal sorte”, digo eu. Mal por mal antes associá-lo ao homónimo ateniense que foi um dos fundadores da actual Filosofia Ocidental. Teria, pelo menos, maior glória.






terça-feira, janeiro 19, 2010

Urgentemente


Eugénio de Andrade (1923 – 2005), pseudónimo de José Fontinhas, é um dos grandes poetas portugueses.



Um belo poema de Eugénio de Andrade, “Urgentemente”



É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.

É urgente inventar a alegria,
Multiplicar as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
Permanecer.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

A Portugal ou ao Estado?

Não tive oportunidade de ler o artigo de Medeiros Ferreira publicado no Correio da Manhã da última quinta-feira mas, através de um blogue que costumo acompanhar, deduzi que a ideia que ele propunha para o combate ao endividamento do nosso país é, espero não estar a dizer algum disparate, levar os portugueses a investir as suas poupanças em certificados de aforro ou num qualquer outro produto de dívida pública.


E porquê? Basicamente porque as notações das agências de rating não têm sido favoráveis e o crédito que Portugal consegue no exterior está cada vez mais caro e difícil de obter. Então, porque é que Portugal não começa a pedir empréstimos aos próprios portugueses através da emissão de dívida pública? Nomeadamente de certificados de aforro ou de obrigações do tesouro, com taxas atractivas que possam superar as dos depósitos a prazo bancários. Seria uma forma viável de fugirmos um pouco aos financiamentos externos e a um preço porventura bem mais em conta.


Mas, atenção, a ideia de Medeiros Ferreira era, segundo penso, que os portugueses emprestassem a Portugal e não ao Estado que, reconheçamos, não tem dado grandes provas no que concerne à gestão das massas públicas. A tal ponto, que já há quem considere que o Estado “não é uma pessoa de bem”.


Acho a ideia óptima, sou até capaz de fazer um esforço para tentar arranjar uns trocos para ajudar o meu país mas, antes, gostaria que alguém me esclarecesse duas questões:


- Afinal qual é a diferença entre emprestar a Portugal ou ao Estado? Portugal não é um Estado, uma Nação que tem um Governo cujas instituições administram o bem público? Se emprestarmos dinheiro a Portugal quem é que o vai gerir, qual o Ministério, Instituto ou Fundação que o vai administrar? O tal empréstimo a Portugal não se transformaria, na prática, num empréstimo ao Estado?


- E como iria reagir a banca (a quem os Governos tanto temem e veneram) - face à debandada dos depósitos a prazo que tem em carteira - à nova opção de poupança dos portugueses? Que contrapartidas exigiria aos seus clientes e ao Estado (ele, uma vez mais)?






sexta-feira, janeiro 15, 2010

Desassossegos


Hoje vou ser politicamente incorrecto e, de certeza, ignorante. E tudo porque não me entra na cabeça que uma pessoa que é ameaçada e roubada e que, em legítima defesa, responde para proteger a sua integridade e os seus bens, seja acusada de crime e se arrisque a ir parar à choldra.



Foi o que aconteceu, há dias, a um certo ourives que viu invadida a sua loja por um grupo de meliantes e que teve a “infeliz” ideia de resistir às ameaças e ao roubo do ouro que tinha para venda. Reagiu com a sua caçadeira aos tiros disparados pelos assaltantes e atingiu um dos bandidos que veio a falecer.



O que sobressai desta história é que a quadrilha em questão fez um assalto, ameaçou, roubou a ourivesaria e dois carros por carjacking e o Ministério Público acusou os quatro patifes por três crimes de roubo agravado e posse de arma proibida, ficando três em prisão preventiva e um em prisão domiciliária.


Já o pobre ourives foi acusado de homicídio privilegiado, um crime previsto na lei para os casos em que a actuação surge num estado de “emoção violenta e desespero” e que é punível com prisão entre um a cinco anos.


E a minha estupefacção é tal que me interrogo como deverei agir se um dia vier a ser assaltado ou puserem em risco a minha vida, dos meus familiares ou amigos? Deverei ficar quietinho à espera que os malandros sejam apanhados e condenados a uma pesada pena … suspensa, ou posso pensar - se tiver coragem e meios suficientes para tanto - em dar uma valente sova a esses indivíduos?


Como disse, não me conformo com este tipo de situações. Pessoas que não pediram para ser assaltadas, molestadas, violentadas a serem condenadas a penas que, no limite, podem ser mais pesadas ainda das que as dos próprios assaltantes e agressores.


E vocês, meus amigos, não ficam inquietos?


quinta-feira, janeiro 14, 2010

Desencontros de palavras


Chiste é uma daquelas palavras de que eu gosto e que, certamente, será incluída no rol de uma secção de palavras especiais, caso um dia me proponha a fazê-la.


E lembrei da palavra porque me recordo quando, noutros tempos, se oferecia, por exemplo, um sabonete, ainda que muito perfumado e bem engalanado de laçarotes, a pessoa que recebia o presente dizia, como chiste, como pilhéria (outra palavra que poderá fazer parte da tal lista): “Sabonete, hum … estás a insinuar que não costumo lavar-me?”


Era uma graça que fez escola e que se tornou habitual em certa época mas que não significava nada mais do que isso – uma graça. Porém, os “desencontros” de palavras sempre foram muito comuns e não perderam a actualidade. Se bem me lembro, já aqui escrevi sobre os tão banais desencontros de palavras, bem demonstradas pelo cumprimento “Viva, como está?” em que a resposta é, quase sempre, “Então, viva como está?”.


Hoje, ouvi outra situação que me pareceu bem demonstrativa desse desencontro ou da simples distracção das pessoas. Ia a passar quando ouvi duas senhoras, já em fim de conversa, a despedirem-se: dizia uma “Dona Ermelinda tenha um muito bom ano” ao que a outra respondeu “Muito obrigada, um bom fim-de-semana também para a Senhora”.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Pobreza e Desperdício

Há anos que faço voluntariado e conheço razoavelmente o nível de pobreza (alimentar e não só) que atinge cada vez mais pessoas no nosso país. E sei também que ao mesmo tempo que existem pessoas comprovadamente carenciadas, continua a haver muito desperdício.


Vejo isso no dia-a-dia mas, mesmo assim, fico chocado quando são publicados na imprensa os números que reflectem essa mesma miséria e aquilo que não se faz, e devia fazer, para minorar a injustiça social.


Em Portugal, em 2009, o Banco Alimentar Contra a Fome apoiou instituições que distribuíram ajuda alimentar a 267 mil pessoas, mais 18 mil do que no ano anterior.


E, enquanto essas pessoas – e o número está a aumentar assustadoramente - necessitam tanto dessa ajuda, continua a verificar-se o desperdício de alimentos em boas condições de consumo que vão parar ao lixo onde muitos vão depois vasculhar, tentando assegurar a sua sobrevivência.


A falta de legislação específica para a doação de bens por parte das empresas e a ausência de consciência social de uma boa parte do tecido empresarial, preocupado como está com questões que têm a ver com a sua própria continuidade, são os principais factores apontados para a existência desta situação. Os excedentes de produção, aqueles bens que não chegam a ser comercializados, são para os agentes económicos apenas lixo enquanto que, se devidamente encaminhados, seriam fundamentais para outros.


Segundo as Nações Unidas mais de 50% dos produtos alimentares produzidos no mundo não são vendidos e acabam por ser deitados fora. O suficiente para alimentar cerca de 50 milhões de pessoas.


É urgente encontrar soluções. Estados, organizações não-governamentais, a sociedade, cada um de nós, todos temos a obrigação de tentar dar a volta a esta calamidade. Não se pode continuar a assistir ao desperdício diário de alimentos quando tantos continuam a preencher e a engrossar o denominado “mapa da fome”.



terça-feira, janeiro 12, 2010

Melhor do que ser Ministro …



Diz-se por aí – e os exemplos são tantos que é capaz de ser verdade – que melhor do que ser Ministro é ser Ex-Ministro.


Na política nacional, o caso mais recente tem como protagonista a Ex-Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que foi nomeada por José Sócrates para presidir à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, uma instituição de prestígio que visa fomentar as relações entre Portugal e os Estados-Unidos, promovendo o desenvolvimento económico, social e cultural português.


Não quero comentar a nomeação. Pretendo apenas registar o facto e dizer que embora não veja em Maria de Lurdes Rodrigues um perfil especialmente talhado para o cargo, ela saberá naturalmente estar à frente da instituição e com muito menos problemas e preocupações como as que a atormentavam quando tutelava o Ministério da Educação.


Lá por fora o panorama não é diferente. Soube-se agora que o Ex-Primeiro-Ministro inglês Tony Blair vai ser o próximo assessor do grupo de luxo Louis Vuitton, controlado pelo empresário francês Bernard Arnault. Não se preocupem, portanto, com a eventual situação financeira difícil de Blair. Não é caso para tanto. Tony Blair é já assessor do Banco JPMorgan Chase, do qual recebe 2,2 milhões de euros anuais e também assessor do Zurich Financial onde factura 555 mil euros por ano, fora os elevados valores que recebe pelas palestras que dá. E ele deve ter muitas coisas para dizer.


Portanto, meus Caros, melhor do que ser Ministro é ser Ex-Ministro ou Ex-Primeiro-Ministro. Não têm dúvidas, pois não?


Se, entretanto, souberem de alguma assessoria para um ex-trabalhador, agradeço que me avisem.


segunda-feira, janeiro 11, 2010

Afinal de contas …


Apesar das imensas preocupações com o deficit e com o endividamento externo parece que, afinal, o nosso país não está tão mal como isso. Segundo a revista “Internacional Living” e de acordo com padrões como o custo de vida, cultura e lazer, saúde, liberdade e segurança, Portugal é o 21º melhor país para se viver, numa lista de 194, melhor classificado até do que – pasmem-se - o Reino Unido, a Grécia, o Mónaco, a Suécia, a Polónia e o Japão. Os três países que estão no topo da classificação são a França, a Austrália e a Suíça.


A revista assegura ainda que Portugal dispõe de um dos melhores climas e é considerado um país livre, muito seguro e dono de um excelente sistema de saúde.


A verdade, porém, é que esta honrosa classificação, em que o nosso país obteve 73 pontos em 100 possíveis, apenas menos 9 pontos do que a vencedora França, não nos garante um melhor nível de vida nem nos deixa mais confiantes quanto a uma melhor justiça e educação ou um menor desequilibro entre ricos e pobres. No entanto, transmite-nos uma visão que vem de fora para dentro e que nos indica que nem tudo é mau por cá, como tantas vezes julgamos (“ah! isto só em Portugal” ou “se fosse noutro país …”) e que temos muitas coisas boas que nem sempre valorizamos.


E, reparem, que nos critérios tidos em conta pela “Internacional Living” não foram incluídas sequer coisas tão importantes como a gastronomia (vinhos e comidas do melhor do mundo) e a simpatia, hospitalidade e generosidade das nossas gentes.


Afinal de contas …

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Optimista?


Algumas pessoas têm-me perguntado quais são as minhas expectativas para o ano que agora se iniciou. Se estou, ou não, optimista quanto ao nosso futuro colectivo, já que algumas das crónicas aqui publicadas parecem dar a ideia de algum pessimismo. E a minha resposta é clara – apenas tento ser realista. Limito-me a analisar o que vejo, e aquilo que julgo ver, e o que concluo é que não tenho grandes razões para estar optimista.


Apesar disso, considero que sou, como diz a canção, um “optimista céptico”.


O mais certo, porém, é admitir que me revejo mais naquilo que Albert Schweitzer, teólogo, músico, filósofo e médico alsaciano (1875 – 1965) dizia ser o seu sentir:


A quem me pergunta se sou pessimista ou optimista,

respondo que o meu conhecimento é de pessimista,

mas a minha vontade e a minha esperança são de optimista”

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Ou tudo ou nada …


Ao ler as declarações recentemente proferidas por Cristiano Ronaldo, não pude deixar de pensar como, também o futebol, a vida é injusta. Glorificam-se os avançados que marcam golos, adoram-nos como Deuses porque são eles que contribuem definitivamente para o triunfo das suas equipas e raramente se enaltecem os defesas que dificultam o avanço dos adversários e, menos ainda, os guarda-redes que tentam impedir que os avançados contrários marquem golos. Sim, porque os avançados do outro lado também atiram para o golo.


E naquilo que deveria funcionar como uma equipa, afinal um todo, com glórias e derrotas conjuntas, o que normalmente acontece é que se louvam os avançados e culpam-se os que não marcam golos. Enfim, injustiças da vida.


Quanto às tais declarações do nosso geniozinho do pontapé na bola, resta destacar que a sua ambição passa apenas por “voltar a ganhar a Bola de Ouro” e a ser “o melhor futebolista da história”.


Assim é que é falar. A ser-se ambicioso não devemos ficar pelas meias tintas, deve-se querer o máximo. Como dizia a minha mãe “ou tudo ou nada, mulher do diabo”.



quarta-feira, janeiro 06, 2010

O Novo Acordo Ortográfico - Aviso

2010 foi o ano definido pelo Governo para o início do novo acordo ortográfico. Para se começar a escrever conforme o acordado, digo eu, muito embora me pareça que a maioria das populações dos vários países que assinaram o acordo, não faça a mínima ideia disso. Eu sei da intenção, mas desde já aviso que não tenciono cumpri-la, pelo menos nos tempos mais próximos. A não ser que qualquer inspecção (aqui já deveria ter escrito “inspeção”) do Ministério da Cultura a tanto me obrigue.


Mas estas mudanças escritas a que eu - felizmente em muito boa e numerosa companhia - tenho manifestado discordância, deviam ter sido iniciadas logo na primeira edição do Diário da República deste ano. Pois não foram. O texto do DR veio, todo ele, em português vernáculo, daquele que se usava no longínquo ano de 2009 e, portanto, cheio de erros ortográficos, face à nova realidade.


Penso que a confusão vai generalizar-se e os erros vão ser mais que muitos. O que, de resto, pode trazer até algum benefício. É que vai ser difícil saber quem é que dá erros de ortografia à luz do novo acordo ou, simplesmente, quem os dá porque nunca soube escrever correctamente.


Ao fim e ao cabo, há males que vêm por bem.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Pobreza e exclusão social


2010 é o Ano Europeu da Luta Contra a Pobreza e Exclusão Social. Este é o ano em que, supostamente, vai haver um maior empenhamento dos governos para actuar contra este flagelo que cresce vertiginosamente. Em cada ano, um milhão de novos pobres junta-se aos já existentes. É urgente que sejam tomadas medidas realmente eficazes para dar condições de vida dignas a tantos seres humanos, a começar pela criação de mais e melhor emprego.


No nosso país existem cerca de dois milhões de pobres. Um em cada cinco portugueses é pobre ou vive no limiar da pobreza.


Portugal vai gastar 700 mil euros para colocar o tema na agenda. Temo, porém, que colocar na agenda não baste. É preciso mais, muito mais.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Esperança para 2010


Ora bem, aqui estamos de novo, no início de mais um ano que, temos esperança, nos vai trazer tudo aquilo que mais ansiamos.


E bem necessitamos que nos aconteçam coisas boas. Não basta ouvir o Primeiro-Ministro dizer insistentemente que tem esperança em nós – nos portugueses e no país – que confia nas nossas capacidades e na vontade que nos assiste para vencer os desafios, é preciso algo mais. É urgente que descubramos petróleo algures no país e é imperioso que as políticas consigam vencer a aparente (?) letargia em que nos encontramos e que parece estar a atirar-nos para o abismo.


Enquanto isso não acontece, resta-nos a esperança, a tal que é a última a morrer, que a crise vá ser definitivamente afastada e que a economia comece a crescer a sério. Há já pessoas que acreditam nisso. Um bom exemplo desses crentes é o do Presidente da Câmara de Paredes que se prepara para comemorar condignamente o primeiro centenário da implantação da República e, para isso, vai erigir um mastro gigantesco onde ondulará uma enorme bandeira nacional que seja visível a 30 quilómetros de distância.


O porém, é que essa bandeirinha (que é bastante grande) vai custar aos munícipes qualquer coisa como um milhão de euros.


Dir-se-á que atendendo à data que se pretende comemorar e da visibilidade que dará ao concelho, o investimento até é justificável. Não sei. Apesar de só se ir gastar um reles milhão de euros a dúvida que baila na cabeça de muita gente é a de saber para que é serve realmente uma obra de pura fachada.


A ser verdade que as autarquias se debatem com imensa falta de recursos e a ir por diante o projecto de senhor Presidente, não nos admira mesmo nada que muito em breve o mesmo autarca venha a solicitar a possibilidade de se endividar junto da Banca para fazer face a umas outras despesas com obras de saneamento ou arruamentos.


Enfim, o dinheiro não é tudo e a comemoração de um novo centenário só se realiza daqui a muito tempo.