terça-feira, março 23, 2010

E tudo continua na mesma


A velha questão dos pais ralharem repetidamente aos filhos pelas mesmíssimas razões de sempre deve-se, tão-somente, ao facto dos filhos persistirem em fazer aquilo que lhes dá na gana a contragosto dos progenitores. Ou seja, na prática está mal, ralha-se, os petizes não ligam peva e continua tudo na mesma.


É o que também acontece quando inúmeras personalidades (nós próprios aqui no “Por Linhas Tortas”também fazemos parte do grupo), teimam em manifestar a revolta que nos vai na alma perante os salários obscenos de certos gestores. Ninguém nos ouve ou lê e tudo continua na mesma.


Refiro-me, naturalmente, aos gestores públicos porque, dos particulares - embora aufiram rendimentos muitíssimo acima dos demais portugueses - é uma coisa que tem a ver apenas com quem manda nas empresas, patrões e/ou accionistas.


O que me incomoda à séria são aqueles senhores que gerem empresas públicas e em que está em causa o dinheiro dos contribuintes. Salários altíssimos, mordomias exageradas e prémios igualmente altos e a maior parte das vezes injustificáveis. E não me venham com aquela desculpa abstrusa de que tem que ser assim porque temos que reter os melhores gestores em Portugal. Acham que o ex-Administrador da PT, Rui Pedro Soares, uma pessoa sem currículo, um dos muitos que vivem à sombra dos partidos, merecia o milhão e meio que ganhava? Ou que os Administradores da PT deveriam ter um prémio de desempenho de 12 salários e que, agora, em nome da crise, do PEC ou da vergonha que alguns sentem, vão ficar, apenas, - coitados – com um bónus de uns míseros seis meses de salários?


Reconheçamos que os políticos, de uma forma geral, são mal pagos (depois há a questão de saber se alguns deles merecem aquilo que ganham, mesmo sendo pouco). Não se questionam os (poucos) gestores que são pagos a peso de ouro, como aconteceu a Paulo Macedo quando foi para Director-Geral dos Impostos porque se reconhecia nele características fundamentais para o bom desempenho do cargo. Que ele provou ter.


O que se põe em causa é a forma indiscriminada e injusta como são nomeados estes gestores públicos e a panóplia de benesses a que têm direito, independentemente se merecem ou não. Para além de, naturalmente, ter que se interrogar se é justa a disparidade de vencimentos entre o que uns quantos ganham e o que recebe a esmagadora maioria da população, ainda por cima num país em crise que vai voltar a pedir os maiores sacrifícios aos mesmos de sempre. É injusto, não é?





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