quarta-feira, junho 30, 2010

O tremendo embuste


Esta é mais uma crónica em que proponho que não se fale de futebol. Não sendo eu treinador de bancada nem, tão-pouco, grande conhecedor da arte de bem jogar, que mexe com tácticas e estratégias que não domino, contento-me em ser um observador do fenómeno que se deixa levar por puros instintos racionais.


É por isso, agora que acabou o sonho lusitano de vir a conquistar o Mundial da África do Sul, ainda cheio de tristeza por assistir ao naufrágio dos nossos “navegadores” aos pés de um Adamastor chamado Espanha, que eu achei que tinha chegado a hora de pedir aos meus concidadãos para abrirem um pouco mais os olhos para a realidade.


Viram, por acaso, neste jogo com a Espanha, um jogador que já foi considerado o melhor do mundo, que recebe muitos milhões pelos seus contratos, que já tem a sua figura em cera no Museu da Madame Tussauds em Londres e que continua a ser idolatrado por multidões até ao absurdo? Sim, estou a referir-me ao CR7, ao Ronaldo, ao Cristiano, ao Cristiano Ronaldo, ao tal que disse que agora é que ia ser, que ia “explodir” neste mundial. Pois é claro que o viram. Pelo menos deram com ele quando toda a equipa cantava o hino nacional. Todos não. O Cristiano Ronaldo não abriu a boquinha uma só vez, provavelmente para não se cansar, quem sabe se por desconhecimento da letra do hino, quiçá porque aquilo que era comum a todos os seus colegas (onde se incluía o luso-brasileiro Pepe) – a “raça”, o querer, a firme vontade de servir – não lhe caber por inteiro.


Depois, quando o jogo começou, devem tê-lo perdido algures, nunca mais ninguém o viu em todo o campo. Nem neste jogo nem nos outros que tem feito ao serviço da selecção. Os fantásticos golos e as extraordinárias jogadas que protagonizou ao serviço do Manchester e do Real Madrid nunca serviram de modelo para outras tantas em representação de Portugal.


E viram-no, finalmente, quando saiu apressado pela zona de entrevistas rápidas, respondendo com ar enfadado que as perguntas deveriam ser endereçadas ao treinador Carlos Queiroz. Uma resposta cheia de insinuações – quais farpas afiadas - próprias de uma pessoa de mau carácter que não sabe perder. Logo ele que é o capitão da “equipa de todos nós”.


Daí a minha estupefacção em assistir à continuada glorificação de um jogador de quem dizem ser mago e que, se calhar por isso mesmo, sempre nos deu ilusão em vez de futebol. Mas a isso eu não chamo magia, chamo embuste.







terça-feira, junho 29, 2010

Só queria compreender …


É já no dia 1 de Julho que entrarão em vigor as novas taxas do IVA. Em todas elas registar-se-á um aumento de 1% pelo que, a partir da próxima quinta-feira, teremos 6% na taxa mínima, 13% na intermédia e 21% na taxa máxima.


Embora satisfeito por, desta forma – pagando mais – poder contribuir ainda mais empenhadamente para combater a crise, gostaria apenas, se não fosse muito incómodo, que me explicassem duas coisas. Se é que alguém está interessado nisso …


1 – Por que razão o Nestum vai pagar a taxa máxima quando a Cerelac será taxada pela mínima? Estamos a falar de duas papas, não é? Então por que é que pela primeira se vai pagar 21% e pela segunda 6%? Haverá alguma racionalidade nisto?


2 – Fará algum sentido que produtos como as bolachas Maria e Torrada e o papel higiénico vão pagar 21% enquanto que outros produtos tão essenciais (diria mesmo fundamentais) à vida das famílias –como o “foie gras” e os patés - pagarão apenas 12%?


Desculpar-me-ão, só queria compreender …





segunda-feira, junho 28, 2010

De novo, o “Novo Acordo Ortográfico”


Tem sido penosa a leitura do Expresso do último sábado. Não pela falta de artigos e crónicas com interesse, mas pela grafia que o semanário decidiu passar a adoptar (adotar, é que é) a partir deste número – a do novo acordo ortográfico. Com as honrosas excepções (exceções, claro está) de Miguel Sousa Tavares e José Cutileiro que continuam a escrever de acordo com a “antiga ortografia”


Já por diversas vezes aqui tenho manifestado a minha discordância por termos “embarcado” nesta aventura cujo interesse é, no mínimo, duvidoso. Os países que falam o português sempre se entenderam ao longo dos anos e não foram certamente as especificidades próprias da escrita de cada país que nos impediram de ler os seus textos nem de celebrar acordos e tratados. Isto é, nunca houve problemas com esse facto (quero dizer, fato).


A partir de agora a coisa vai ser mais complicada. É que estamos a falar da alteração da forma de escrever de, nada menos, 3 900 palavras. É obra! Daí a minha lentidão em ler o Expresso. Quantas vezes parei numa palavra por julgar ter detectado (o certo será detetado) um erro ortográfico ou por ter achado que a interpretação do que estava a ler não fazia sentido. E o voltar a reler as muitas linhas cansou-me.


A indignação já não me serve para nada, o acordo está celebrado e até 2014 tem mesmo que estar implementado no nosso país. O que não me impede de continuar a escrever tal como o fazia até agora. Por isso, meus caros companheiros, peço a vossa compreensão para esta forma de prosseguir a minha luta pela língua que é a nossa e de que não temos que nos envergonhar. E não me venham com a velha história de que a língua é dinâmica e que a minha teimosia não passa de um saudosismo bacoco. A esses argumentos eu poderia responder com uma dúzia de outras razões igualmente válidas, o que não vou fazer, para os não maçar.


A partir do início deste Verão (perdão verão) certamente começarei a ter mais trabalho nas minhas leituras habituais mas, no “Por Linhas Tortas”, e até ver, vai continuar-se a escrever como se escrevia até aqui. Não por teimosia, tão-somente por princípio.


quinta-feira, junho 24, 2010

Duas histórias


A primeira história é a de um senhor que era contabilista numa empresa e, quando se reformou, decidiu que queria ser voluntário numa instituição. E para fazer o quê? Responderão que queria dar continuidade à sua experiência de contabilista, certo? Não, errado, o senhor, já com uma idade respeitável e com as articulações a pregarem-lhe partidas, não queria o aconchego de uma cadeira no escritório a fazer uma coisa que ele bem sabia. O que ele almejava mesmo era ser varredor do pátio. E, apesar das insistências dos responsáveis da instituição para o demover da ideia, prevaleceu a sua vontade. É varredor.


Bem diferente é a outra história, a do inglês Michael Carroll. Em 2002 ganhou 11 milhões de euros na lotaria. Oito anos depois, gasto todo o dinheiro, encontra-se em dificuldades para sobreviver e quer que lhe dêem de volta o seu lugar de varredor. E diz, agora, que aquele foi o melhor emprego que teve na vida. Pena foi que não tivesse consciência disso quando ganhou a fortuna.


Enfim, estas são duas histórias de “varredores”. Distintas uma da outra mas, ambas, dão que pensar.

quarta-feira, junho 23, 2010

Um exemplo estimulante

Duas notas prévias:


1 – Só por uma questão de agenda não publiquei antes esta crónica;

2 – Para que conste, não conheço pessoalmente o senhor sobre quem hoje escrevo nem sou militante ou simpatizante do partido a que ele pertence.


Dito isto, devo confessar que fiquei deveras surpreendido – em sentido positivo, note-se – com o gesto do eurodeputado do Bloco de Esquerda, Rui Tavares.


Pois este senhor, que ganha cerca de 7 500 euros, decidiu retirar 1 500 euros do seu salário mensal para atribuir bolsas a quem se candidate, bastando para isso a apresentação de um projecto numa qualquer área não definida de antemão.


E a decisão sobre o vencedor, vai ser do próprio Rui Tavares. Ele vai doar o dinheiro a quem achar merecedor, desde que, o candidato não seja funcionário do Parlamento Europeu, da Assembleia da República ou do seu próprio partido. E, embora não visse essa indicação explícita, suponho que o prémio também não será atribuído a quem seja seu familiar.


Um gesto exemplar e de grande significado que tenho o prazer de dar, aqui, o devido destaque.

terça-feira, junho 22, 2010

Falemos, então, de futebol

Vários Amigos têm querido saber porque é que aqui no “Por Linhas Tortas” não se escreve mais sobre futebol, ainda por cima agora que a nossa selecção está a disputar o Mundial de Futebol. E a resposta é simples. Não acham que já chegam os milhentos comentadores, analistas e especialistas que preenchem tempos sem fim nos longuíssimos espaços que as televisões e a restante comunicação social dedicam ao assunto?


Já sabemos de cor tudo o que pensam os treinadores e jogadores da selecção, sabemos também as opiniões dos que pertenceram a selecções anteriores ou mesmo aqueles que nunca tiveram a habilidade ou oportunidade de serem convocados. Já se escreveu tudo sobre as estratégias e tácticas adoptadas pela nossa selecção e pelas restantes. Para quê estar-vos a incomodar mais sobre aquilo que penso sobre esta importantíssima (e fundamental) matéria?


De qualquer forma, quero esclarecer que gosto muito de futebol e que é natural que, acabada a nossa participação na África do Sul, possa vir a tecer um comentário que, antevejo, seja extraordinariamente inteligente.


Hoje, porém, ainda que tenhamos goleado a Coreia do Norte, não vou falar de futebol propriamente dito mas de um outro aspecto que também está relacionado com o futebol.


Refiro-me, em concreto, aos “vendedores de cromos” de jogadores de futebol que já existiam quando eu era criança. Lembro-me de ter feito colecções (embora algumas não conseguisse conclui-las), muitas delas bem interessantes e didácticas (recordo, por exemplo, as “Raças Humanas”) mas, claro, que também dos bonecos da bola.


Os cromos repetidos (alguns desesperadamente repetidos e outros muito difíceis de encontrar) eram ansiosamente trocados entre os amigos e procurados justamente nesses vendedores que ainda hoje se encontram junto à estação do Rossio e noutros pontos da cidade.


Num destes dias, já se jogava o Mundial na África do Sul, passei por lá e vi uma pequena multidão atarefada a comprar/trocar os “bonecos da bola” munidos, evidentemente, com as indispensáveis listas dos que faltavam às colecções.


A fotografia que aqui se publica mostra o “Manel dos Cromos”, um dos mais conhecidos do ramo, que se dedica ao negócio desde 1974. Uma das pessoas que, ao longo dos anos, têm tornado possível o sonho de milhares de jovens e de adultos.


segunda-feira, junho 21, 2010

José Saramago

Morreu José Saramago. Se calhar para a maioria dos portugueses Saramago é, apenas (?), o primeiro escritor de língua portuguesa que recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Por nunca terem lido qualquer das suas obras (de leitura e interpretação nem sempre fácil) e por nunca terem entendido o seu pensamento filosófico, a memória que terão dele será tão-somente a de um comunista puro e duro que, no pós-25 de Abril, foi implacável para com os seus adversários políticos.


Tanto mais que a imagem que se tinha dele era a de um homem arrogante, muito convencido de si, um tipo pouco ou nada simpático. Cruzei-me com ele uma vez, ombro a ombro, na Bertrand do Chiado e achei isso mesmo, que era um pedante de corpo inteiro. No entanto, quem o conhecia pessoalmente, considerava-o humilde e afável, sobretudo a partir de determinado momento da sua vida. Li hoje algures que “houve um Saramago antes de Pilar Del Rio, a esposa, e um outro Saramago depois e com Pilar”.


De qualquer forma nunca confundi o homem com a sua escrita. A sua obra - fundamental e reconhecida internacionalmente - ficará como a marca de um grande pensador e escritor.


Na última mensagem que Saramago escreveu no seu blogue, na véspera da morte, chamava a nossa atenção para a ausência de filosofia na sociedade, que traz como consequência a falta de poder reflexivo e, consequentemente, das ideias que diferenciam o homem dos outros animais.


“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”.


Já num outro texto publicado no final da última semana, lembrava como é necessário “viver” a vida até que o fim da nossa existência chegue de facto.


“Acho que todos nós devemos repensar o que andamos aqui a fazer. Bom é que nos divirtamos, que vamos à praia, à festa, ao futebol, esta vida são dois dias, quem vier atrás que feche a porta – mas se não nos decidirmos a olhar o mundo gravemente, com olhos severos e avaliadores, o mais certo é termos apenas um dia para viver, o mais certo é deixarmos a porta aberta para um vazio infinito de morte, escuridão e malogro”.


Concordo com as palavras que a Ministra da Educação, Isabel Alçada, proferiu ontem quando se referiu à "luminosidade" da obra de Saramago, uma obra que, sublinhou, ficará para ser estudada e desfrutada por todos.

sexta-feira, junho 18, 2010

“O ensino do Português”


Desculpem voltar ao tema mas, já agora, termino a semana a falar novamente sobre o ensino. Isto porque foi lançado nos últimos dias um ensaio – O ensino do Português – da autoria da investigadora e professora de português, Maria do Carmo Vieira.


Num texto desassombrado e, prevejo eu, a suscitar muitos “ódios”, a autora critica duramente o baixo nível de exigência do actual sistema de ensino e, sem pejo, aponta o dedo aos professores, aos sucessivos governos e às escolas.


“A escola não pode permanecer tal como está, porque já bateu fundo – e não só em relação ao ensino do português, mas em várias outras matérias. Estamos a ensinar na base daquilo que é fácil, do que não exige esforço, nem trabalho. Estamos a fomentar gerações e gerações de alunos que não pensam, nem sequer sabem falar ou escrever”.

Directa, Maria do Carmo Vieira, vai mais longe. Afirma que “os exames tal como estão concebidos não surtem qualquer efeito do ponto de vista da aprendizagem e os programas escolares são medíocres, sem fio condutor nem objectivo”.

Quanto aos professores é assertiva. “Os professores têm que ter competência científica e autoridade em vez de ser o “bom camarada” em que muitos se tornaram”. Mais, segundo a autora deste ensaio “É preciso insistir na formação dos professores: não sabem escrever, não sabem pensar…”

"O ensino do Português", promovido pela Fundação Manuel dos Santos (dirigida por António Barreto) é um livro muito interessante e que merece a leitura atenta e a reflexão de pais, de pedagogos, de políticos e de todos os que comungam a ideia de que a base de tudo está na educação.

quinta-feira, junho 17, 2010

Tabuadas? … Sim!

Na crónica de ontem falávamos de música e do seu ensino. Hoje volto ao tema do ensino mas da matemática. E, em concreto, refiro-me ao ensino/aprendizagem das contas, da tabuada, enfim.


Aviso prévio. Não, não estou a dirigir esta crónica a alguém em especial. NÃO, juro que não estou!


O problema é que, hoje em dia, quase ninguém sabe as tabuadas. Dir-me-ão, e para que é que serve saber quantos são 9x7 ou 8x8 quando as calculadoras o fazem muito mais rapidamente e sem que tenhamos que desenvolver qualquer esforço mental.


Pois eu acho que saber as tabuadas faz toda a diferença. Na minha opinião, a memorização daquela lengalenga dos 2x2=4 (e por aí adiante), a disciplina e a própria estrutura do estudo agiliza o raciocínio matemático dos jovens. Por outro lado, e não menos importante, indicia que estudar e aprender exige esforço, dedicação e persistência, coisas que estão na base das nossas vidas e que poderão levar-nos a um sucesso futuro. A noção de facilitismo e de falta de rigor no ensino da matemática (e de outras disciplinas) foram sendo transmitidas a sucessivas gerações e deram o resultado que está à vista.


Ainda há pouco tempo li um artigo do Professor Medina Carreira que dizia, nomeadamente, “… eu estava num supermercado, numa bicha para pagar, e estava uma rapariga de umbigo de fora com umas garrafas, e em vez de multiplicar « 6 x 3 = 18 », contava com os dedos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... Isto não é ensino... é falta de ensino, é uma treta! É o futuro que está em causa!”


Pois se por cá se considera que aprender as tabuadas, as do um, do dois, do três … e a dos dez parecem já não fazer sentido, na Índia, os estudantes são obrigados a saber de cor as tabuadas até aos 19. Por acaso já imaginaram ter que responder de imediato e sem calculadora quantos são 19x17?

quarta-feira, junho 16, 2010

A música, um prazer para o espírito



Em alguns países da Europa Central sente-se a presença da música em cada lugar. Grandes compositores nasceram por aqueles lados e o orgulho que esses povos sentem nos seus músicos vê-se na quantidade de conjuntos e de solistas que tocam nas ruas das principais cidades.


Não admira, por isso, que na Hungria, por exemplo, nos quatro primeiros anos de escolaridade haja disciplinas obrigatórias de música. De aprendizagem da música, de um instrumento e, principalmente, do gostar e entender a música. Não nos surpreendemos, portanto, de que com tais princípios, os jovens comecem desde muito cedo a tocar e a frequentar os concertos que se realizam quase diariamente um pouco por todo o lado.


Aqui em Portugal não há tradição nesta matéria. Houve excepções, certamente, e uma delas, recordo, foi o maestro José Atalaya que durante algum tempo promoveu encontros com os mais jovens onde, com o suporte de uma orquestra, ensinava a ouvir e a trautear música clássica de Betthoven, Mozart, Liszt, Strauss e tantos outros.


Pena foi que essas experiências não tenham prosseguido, pelo menos de forma consistente. Com as condições climáticas que temos, seria muito agradável encontrarmos em algumas ruas e praças das nossas cidades grupos, orquestras ou mesmo solistas a tocar boa música. Seria, certamente, um prazer para o espírito.






terça-feira, junho 15, 2010

Onde é que eu já vi este filme?


A Islândia já foi considerado um país rico e com um alto nível de vida. Só que às vezes, de um momento para o outro, algo corre mal e vai tudo por água abaixo. Primeiro, foi o subprime americano que deu cabo das economias de quase todo o mundo e, como foi o caso, levou a Islândia à falência.


Depois, e como vingança, a Islândia deu luz verde para que o seu vulcão Eyjafjallajokull entrasse em erupção forte, de molde a que as cinzas se espalhassem por uma boa parte da Europa e fossem afectar as economias dos outros países. “Toma para não se ficarem a rir …”, devem ter pensado os islandeses. Ainda por cima, a obrigaram a rapaziada a pronunciar o nome do vulcão o que, convenhamos, não é nada fácil, Eyja … ou lá que é.


Agora a ilha nórdica, virtualmente falida e acossada pelos credores internacionais, achou que tinha chegado a hora de mostrar ao mundo que os tempos estavam a mudar. Longe do estereótipo antigo de que o povo islandês era sombrio e frio, foram muito mais longe. Como? Com a vitória nas eleições autárquicas de um partido cujo programa eleitoral se baseou em três propostas fundamentais: a construção de uma Disneylândia, a compra de um urso polar para o jardim zoológico da capital e a distribuição gratuita de toalhas. Nem mais.


“O Melhor Partido”, assim se chama o partido vencedor, conquistou o eleitorado com uns retumbantes 34,7%. Porém, não se sabe ainda se vai efectivamente assumir o mandato, dado que o resultado obtido pode ter representado apenas o descontentamento dos islandeses pela governação que os levou à situação em que se encontram.


De qualquer forma, se o partido humorista pegar nas rédeas da governação vai querer cumprir a principal promessa eleitoral que o líder do partido, o comediante Jon Gnarr, propalou até à exaustão durante a campanha:


“Vamos prometer o dobro dos outros partidos e cumprir o mesmo: nada!”


Onde é que eu já vi este filme?


segunda-feira, junho 14, 2010

Fins-de-semana graaaaaandes …..


Então, ficaram satisfeitos com os feriados destas duas semanas? Sim, eu sei que ficaram. Bem vistas as coisas, um feriado à quinta-feira dá, pelo menos, quatro dias de descanso com apenas um diazinho de férias. E no caso de quererem ir a algum lado – cá em Portugal, já se vê, porque há que ter em conta a sugestão do Sr. Presidente da República – com oito dias de férias conseguem baldar-se ao trabalho nada menos do que 14 dias. Está bem, já sei que houve os fins-de-semana, mas a verdade é que estiveram aqueles dias todos despreocupados e a gozar dos bons salários que auferem, gastando uns poucos dias das vossas preciosas férias. Sortudos!


Quem parece não gostar tanto desta brincadeira dos feriados que proporcionam as “pontes” são os patrões. E, convenhamos que, em alguns casos, têm motivos para isso. A justificação de que qualquer paralisação de trabalho é causa de perda de produtividade, embora não passe de teoria, não deixa, porém, de conter alguma verdade.


Mas, como em tudo na vida, as coisas que são boas para uns são más para outros. O ideal seria arranjar-se um meio-termo e aqui é que está o busílis:


- Portugal tem 14 feriados nacionais, mais três do que a média da União Europeia, sabendo-se que o descanso destes três dias custa, por dia, 37 milhões de euros. Uma pipa de massa.


- As “tolerâncias de ponto” e as “pontes” também são muitas, pelo que os portugueses podem contar por esta via com 22 dias para além das férias a que justamente têm direito.


Daí a vontade, já prevista no Código de Trabalho mas ainda não regulada, de “empurrar” os feriados de meio da semana para o dia útil mais próximo do fim-de-semana, à excepção do Natal e do Ano Novo, o que já acontece noutros países.


Enquanto se trocam argumentos - falta de produtividade versus direitos adquiridos – e não chega a tal regulamentação que venha alterar este estado de coisas, o melhor é gozarmos os festejos dos santos populares com muita sardinha assada e manjericos. E, claro está, começar já a planear o próximo fim-de-semana graaaaaande ….. Como se costuma dizer “Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”.





quarta-feira, junho 09, 2010

Falando de pobrezas


Li há dias algures "Um país onde se admite a possibilidade de taxar o subsídio de Natal, ou mesmo acabar com ele, mas que gasta de dinheiros públicos para TGV, altares, estádios de futebol, frotas milionárias para gestores públicos, reformas obscenas a quem trabalha meia dúzia de anos ou nem tanto, etc... é um país pobre, de facto. Mas de espírito, antes de mais”.


Subscrevo a afirmação. Mais, revolto-me com a ideia.

Porém, para além desta pobreza (moral e sem ética) existe a outra, a do dia-a-dia, a que sabemos existir sobretudo para os idosos, os desempregados, os sem-abrigo, para todos aqueles a quem a vida foi madrasta e que vemos espelhada nas estatísticas dos que não têm que comer.

A média diária de pessoas que são ajudadas pelo Banco Alimentar ronda as 285 mil. Destas, "33% são crianças" e "mais de 40%" idosos.

Isabel Jonet, presidente do BA, “recusa falar em fome, separando a realidade portuguesa da que existe nos países onde a subnutrição é a principal causa de morte. Prefere aludir a "carências alimentares”, porque, apesar de tudo, as crianças são apoiadas pelas instituições". Mas os casos não deixam de ser graves, já que muitas crianças só comem o que recebem dessas instituições, fazendo apenas uma refeição por dia”.

Uma pobreza que aumenta a cada dia que passa.

Mas ainda há as outras pobrezas, a “envergonhada” e a dos “novos pobres”, onde estão incluídos todos aqueles que, embora trabalhando, não lhes chega o dinheiro para cumprir os seus compromissos quanto mais para comprar comida.

Acho demagógico o agitar de bandeiras de que “quem não trabalha é por que não quer ou não sabe gerir o que tem”. Haverá desses, sim senhor, mas muitíssimos mais não trabalham porque, simplesmente, não há trabalho, porque a precariedade, a exploração e a discriminação são uma realidade, a qual, fatalmente, leva à pobreza.

E, obviamente, estas formas de pobreza entristecem-me, preocupam-me e revoltam-me.

terça-feira, junho 08, 2010

Totalmente inaceitável!


Apesar do país estar a abanar por tudo o que é sítio e de se proclamar aos quatro ventos que a economia está um caos, entendo que há imperativos de solidariedade que não podemos negar a quem necessita, ainda que isso vá pesar no nosso débil orçamento.


O auxílio humanitário, o envio de tropas ao abrigo de acordos internacionais, a contribuição para ajuda de programas específicos – alimentar, de criação de infra-estruturas e outros - tudo isso é justificado pela solidariedade que devemos aos demais países, mesmo que o dinheiro escasseie.


Porém, a noticiazinha despercebida a um canto de jornal, que dava conta que Portugal vai financiar na totalidade as obras de uma aldeia olímpica para os Jogos Africanos de 2011 que se vão realizar em Maputo, essa eu não compreendo de maneira alguma.


Os 114 milhões que vamos dar não se destinam a construir escolas, hospitais ou a projectos de carácter científico ou social. São apenas para se fazerem umas casitas que irão albergar uns quantos desportistas durante um curto período. E, nisto, não vejo sentimentos de generosidade nem de solidariedade que possam sustentar tal oferta, a não ser que haja contrapartidas. Mas, dessas, se existirem, ninguém adiantou o que quer que fosse.


Numa altura em que os contribuintes portugueses estão tão desesperados, sem ânimo e com pouquíssimas perspectivas quanto ao futuro, este apoio é totalmente inaceitável. Ou não?

segunda-feira, junho 07, 2010

A “teimosia” de querer ser solidário



Alguns Amigos admiraram-se de eu não vos ter “desafiado” a participar na campanha de recolha de alimentos do Banco Alimentar Contra a Fome que se realizou no fim-de-semana de 29 e 30 de Maio. É verdade, desta vez, a primeira em muitos anos, não escrevi uma letra que fosse sobre o assunto, apenas, e só, porque não me encontrava no país. Mas sei que, mesmo sem o minha “provocação”, as pessoas estiveram atentas ao chamamento desta obrigação cívica - que é de todos - a favor de quem mais necessita. E a prova é que nesta campanha foram recolhidas 2 006 toneladas de géneros alimentares, mais 3,9% do que tinha acontecido na campanha de Maio de 2009. Apesar de todas as dificuldades e crises, os portugueses insistem em dizer presente. Na verdade, já não me surpreendo!


Mas a generosidade e a solidariedade não se manifestam apenas nas campanhas do Banco Alimentar. Felizmente! Muitas vezes vêem de onde menos se espera, de pessoas que, elas próprias, são extremamente carenciadas.


Ainda há dias ouvi num frente-a-frente da SIC-Notícias a Arquitecta Helena Roseta referir um caso de uma senhora que vivia com muitas dificuldades num bairro pobre de Lisboa e que, apesar disso, deu guarida – abrigo e comida – a uma mulher que vivia na rua com o filho.


É por estas e por outras que eu costumo dizer que há gente que “teima” em ser solidária.

quarta-feira, junho 02, 2010

Punição com mão pesada, já!


Uma coisa que me irrita profundamente é gastar uma pipa de massa para fazer umas férias assim um bocadinho mais ambiciosas e, depois, mal acabado de chegar, não ter tempo de usufruir as boas lembranças dessas férias porque alguma coisa veio perturbar esse bem-estar.


Foi o que me aconteceu agora quando li que a Inspecção-Geral da Administração Local detectou que estavam a ser atribuídos prémios e promoções a funcionários das autarquias sem que, para isso, tivessem tido qualquer avaliação, como determina a lei.


Ao arrepio do que se encontra determinado, certos dirigentes autárquicos entenderam “oferecer” uma série de benesses indevidas, desbaratando assim de forma irresponsável os dinheiros públicos e mostrando uma inequívoca e profunda falta de respeito pela lei e pelos contribuintes.


Por isso, e para esta gentalha, não se pode exigir menos do que uma punição exemplar.

terça-feira, junho 01, 2010

O país ainda não tinha fechado


Depois de uns dias passados no exterior e perante a gravíssima conjuntura económica e social que pairava sobre nós quando parti, confesso que estava com receio de não poder regressar devido à possibilidade do país ter, entretanto, fechado.


Tanto mais que nos lugares por onde andei a informação era praticamente inexistente ou inteligível porque a linguagem, como diria o professor Marcelo, “não lembra nem ao careca”. Por isso, logo que pus o pé em solo pátrio, corri para casa – como se tivesse que ir regar as plantas do FarmVille no Facebook – para tentar saber as últimas de algum telejornal tardio. E as notícias não podiam ser melhores. As manchetes destacavam as afirmações do Cristiano Ronaldo, mergulhavam nos mais ínfimos e inacessíveis enredos da selecção nacional de futebol e enaltecia a transferência multi-milionária de Mourinho. Estava, portanto, tudo na mesma.


Os meus pensamentos mais pessimistas de que a situação financeira do país tivesse piorado, de que tivessem sido decretadas medidas ainda mais severas para os pobres cidadãos (os mesmos de sempre que acabam por ter que pagar todas as crises, ainda que nada – ou pouco - contribuam para elas) ou que, no limite, Portugal tivesse saído no mapa por se ter verificado uma nova investida das empresas de rating ou, pior ainda, por já ter chegado ao ponto de ter entrado decididamente em falência, não chegaram a verificar-se. O país ainda não tinha fechado.