quinta-feira, julho 22, 2010

Paciência de Job

Costumo dizer de mim mesmo que tenho uma “paciência de Job”. Não é pretensiosismo, acreditem, mas acho-me muito tolerante e com grande paciência para aturar certas coisas, provavelmente na mesma linha da heróica paciência de Job, um homem justo que teria vivido no tempo dos patriarcas.

Claro que a minha paciência não é permanente e não contemporizo com todas as situações. Reconheço, contudo, que, relativamente a amigos meus, é incomparavelmente maior do que a deles. E aqui poderia pedir o testemunho de gente que eu cá sei …

Mas esta conversa não se destina a falar de mim. O que eu quero dizer é que numa destas tardes em que eu desafiava o tempo, numa imensa zona de refeições de uma grande superfície, à espera de … alguém – imbuído da tal paciência de Job de que falava – fui reparando nas pessoas que iam (ao longo das horas) povoando as mesas próximas.

E vi como os jovens empregados e passantes iam utilizando a sua hora de almoço. Como tinha tempo, observava as suas posturas e a sua forma de estar à mesa. Nem me escaparam os tiques mais evidentes, como um rapaz bem engravatado (mas com necessidade absoluta de arranjar urgentemente uma boa assessora de imagem) que de 30 em 30 segundos olhava para o relógio mas que, desconfio, não estava objectivamente a ver a quantas andava.

Vários foram aqueles que entre cada garfada, pegavam no telemóvel e tentavam uma ligação ou mandavam uma mensagem. Uma refeição inquieta, pensei, onde os alimentos se ingeriam sem mastigação porque o tempo não é elástico e havia pressa em comunicar com os amigos com mais uns SMS’s.

Assisti a uma mãe jovem que estava acompanhada de duas filhas, uma teria uns seis anos anafados e a outra não teria mais de três. Mãe e filhas atacavam com entusiasmo uma piza enorme, movidas pela fome, seguramente, mas sobretudo pela gulodice que estava bem patente no olhar das miúdas. Mas o que mais me impressionou foi o ar da mãe. Por um lado, satisfeita por proporcionar às filhas o desejado (e quiçá prometido) pitéu mas, por outro, preocupada com as montanhas de gordura da piza, que ela sabia não ser a melhor refeição para as crianças. Terrível dilema aquele. Tive vontade de lhe dizer “Oh mulher, dias não são dias, isso é apenas um almoço, não se sinta tão culpada …”.

Podia contar-vos outros casos mas a crónica já vai longa. A terminar, deixo-vos uma sugestão. Em lugares públicos, olhem em redor e vejam se lobrigam uns seres com ar de boas pessoas mas com aspecto meio esquisito e totalmente atento. Se os virem, cuidado, podem ser os tais que têm “paciência de Job”.

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