segunda-feira, novembro 15, 2010

Os habilidosos


Embora as estatísticas vão alternando de semana para semana ao sabor do número de empresas que vão fechando, as últimas que foram divulgadas dão conta que o Distrito de Portalegre é onde se regista maior carência alimentar e o concelho de Mesão Frio onde há mais desemprego.

Para o comum dos cidadãos parece que uma coisa deveria ser a consequência da outra mas, ao que parece, nem sempre é assim.

Mas o que hoje chamou a minha particular atenção foi o desemprego em Mesão Frio, onde existem 400 desempregados no concelho, cerca de 12,2% da população. Mas será que há, de facto, desemprego ou os desempregados, pura e simplesmente, não querem trabalhar?

Fiquei boquiaberto ao assistir ao programa “Linha da Frente” exibido na última semana na RTP, quando uma psicóloga do Gabinete de Inserção Profissional afirmava sem papas na língua:
“Uma cláusula que fazem logo na primeira entrevista é que não querem trabalhar ao fim-de-semana e, se for um trabalho que englobe umas horas nocturnas, tipo dez da noite, nove e meia ou por turnos, não querem. Se for longe de casa é impensável. As pessoas quando se vêm inscrever o que pedem são cursos de formação profissional, em que a bolsa seja considerável e perto de casa. Se for um curso um bocadinho longe já não querem… As mulheres inscritas não procuram nem esperam trabalho. Sabem que por aqui têm acesso a um curso de formação profissional que não requer esforço físico, que pode durar um ou dois anos e com bolsas entre os 200 e 500 euros, não raras vezes acima de um ordenado mínimo nacional. E podem acabar um e começar outro”.

Palavras para quê? Mais claro do que isto é impossível. Afirmações que, de certo modo, vêm dar razão às teorias que um certo líder de um partido da oposição faz questão de repetir até à exaustão. Demagogias à parte, acabamos por ter que lhe dar razão nesta matéria.

Mas cuidado. É perigoso generalizar e o que se passa em Mesão Frio pode não corresponder ao que acontece noutras zonas do país. É absolutamente necessário que haja rigor na análise das situações e que se actue caso a caso. Podemos até perceber que haja razões para que as pessoas não aceitem certos trabalhos mas não devemos condescender com o laxismo que se instalou na nossa sociedade. E, sobretudo, não podemos confundir os habilidosos, os “falsos desempregados”, com os muitos milhares de cidadãos que procuram desesperadamente uma ocupação, perto ou longe de casa, com horários certinhos ou não, fora ou dentro das habilitações académicas e da preparação profissional que possuem.

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