terça-feira, novembro 30, 2010

Eu que me comovo por tudo e por nada



A campanha do Banco Alimentar Contra a Fome que decorreu no último fim-de-semana em muitos supers e hipermercados do país recolheu 3 260 toneladas de alimentos. Um aumento de 30% face ao período homólogo do ano passado. Um balanço que superou em muito as melhores expectativas.

Foi um verdadeiro festival de solidariedade em que muitos milhares de pessoas indiferentes à crise económica (ou exactamente por causa dela) acorreram prontamente à chamada para colaborar com aqueles que mais necessitam. Durante estes dois dias tive a ocasião de observar a forma generosa como quiseram contribuir, chegando mesmo a deslocarem-se propositadamente aos locais só para comprar alimentos destinados à campanha. Pessoas de todas as idades e de condições sociais distintas que, dentro das possibilidades de cada um, se mostraram disponíveis para colaborar E a muitas delas, depois de entregarem os seus sacos de compras, ouvi-as dizer: “Bem hajam pelo vosso trabalho, que Deus vos ajude pelo bem que fazem” ou, simplesmente, “Obrigado”. Tocante, na verdade.

Mas não quero deixar de partilhar duas situações (a que assisti) que achei enternecedoras.
A primeira, a de uma criança dos seus seis anitos que fez questão de oferecer um produto que ela achou ser extremamente importante. Num saco do BA entregou (convicta e orgulhosamente) … uma embalagem de Sugus.

A segunda história foi a de um caixa de supermercado de uma grande superfície que aproveitando a presença de uma voluntária do BA entregou – disfarçadamente - 4 euros para que ela comprasse alguns produtos com que ele pretendia contribuir. A voluntária ainda lhe perguntou por que razão não o fazia directamente mas ele respondeu, como que envergonhado, que não queria dar nas vistas.

É perante casos como estes (e juro que vos podia contar muitas dezenas de outros mais) que me comovo e me curvo. “Eu que me comovo por tudo e por nada”, como dizia o Vitorino.

sexta-feira, novembro 26, 2010

Neste fim-de-semana lá estaremos


A próxima Campanha de Recolha de Alimentos em supermercados e superfícies comerciais, levada a efeito pelo Banco Alimentar, realiza-se no próximo fim-de-semana, dias 27 e 28 de Novembro de 2010.

Milhares de pessoas carenciadas contam consigo!

Participe. Alimente esta ideia.

terça-feira, novembro 23, 2010

Afinal o Governo quer diminuir a despesa


Os comentários políticos e económicos que são feitos em toda a comunicação social, embora dissecados por analistas e peritos muito conhecedores e respeitáveis, pecam muitas vezes por falta de rigor e por não serem inteiramente justos.

Quantas vezes ouviram falar nos últimos tempos que é necessário pôr fim ao despesismo do Estado? Pois bem, se é verdade que a despesa do Estado continua a aumentar, por uma questão de justiça devemos reconhecer que têm sido feitos alguns esforços para se gastar menos.

Como se pôde comprovar, aliás, na semana passada no Congresso das Comunicações, organizado pela APDC, quando o Ministro das Obras Públicas, António Mendonça, e o seu subordinado, o Secretário de Estado Adjunto, Paulo Campos, leram discursos praticamente iguais. Frases, ideias e intenções ditas por um e repetidas mais tarde pelo outro.

E não me venham com a teoria, de resto adiantada pelo Governo, que os discursos “de tão parecidos” mostram como o Ministro e o seu Secretário de Estado comungam das políticas definidas pelo Governo. Bullshit! Tretas!

Para mim, o lapso aconteceu porque, para pouparem umas massas, mandaram embora alguns assessores e os que lá ficaram, por falta de tempo, rabiscaram um único discurso que desse para os dois. A não ser que, e essa explicação também é plausível, que já não haja coordenação no Ministério e eles andem de cabeça completamente perdida. Será?

segunda-feira, novembro 22, 2010

NATO ou OTAN? Decidam-se …

A semana que agora terminou correu bem a Portugal. Depois da cabazada que demos aos espanhóis no encontro das selecções de futebol tivemos a cimeira da NATO que juntou em Lisboa grandes líderes mundiais e que, ao que dizem, foi histórica porque … porque … ora, leiam os jornais e saibam porquê.

Quanto ao futebol estamos falados (e orgulhosos) por sabermos que, pelo menos nos jogos a feijões, aqueles que não contam para os títulos, somos fantásticos.

No que diz respeito à cimeira, gostava de destacar dois aspectos. O primeiro é que apesar de sermos mestres do desenrasca, especialistas em resolver as coisas à última hora, demonstrámos mais uma vez que somos mesmo bons quando nos pomos a organizar qualquer evento. Tudo correu bem e nada falhou. A outra é que embora se temesse violentas situações de conflito, como aconteceu noutras partes do mundo onde se realizaram outras cimeiras, demonstrámos que somos um povo pacífico e que nem mesmo a presença de activistas porventura mais nervosos foi suficientemente mobilizadora para gerar um chinfrim de montras partidas, carros incendiados e lojas vandalizadas. Tudo foi pacífico, mesmo a manifestação Anti-Nato que não teve distúrbios dignos desse nome.

Ainda sobre manifestações, gostaria de dizer que seria desejável que as pessoas só desfilassem quando soubessem minimamente o que estão a protestar e quais os destinatários que pretendem atingir. É que ouvi em várias reportagens televisivas manifestantes dizerem que estavam ali para protestar contra a NATO. Mas quando lhes perguntavam (com ironia mal disfarçada), então e relativamente à OTAN? Respondiam com um vago sentimento revolucionário “Ah, e contra a OTAN também. Abaixo o capitalismo, a NATO e a OTAN”.

É uma pena que nem todos saibam que a Organização do Tratado do Atlântico Norte, também chamada Aliança Atlântica, é uma organização internacional de colaboração militar que responde pelos nomes de

em inglês, NATO – North Atlantic Treaty Organization, e

em francês, OTAN – Organisation du Traité de L’Atlantique Nord

É o mínimo que se exige a quem se manifesta. E como temos uma greve geral à porta, espero bem que todos saibam os motivos da sua indignação. É que as manifestações não são propriamente centros de dia nem passeatas de socialização entre quem se sente só. Há muito mais em jogo para além disso.


sexta-feira, novembro 19, 2010

O amor é lindo

Eu que sou um eterno romântico, sempre achei que o amor, o amor verdadeiro, é uma coisa maravilhosa. Continuo a olhar enternecido para aqueles casais que, tal como as pilhas de uma certa marca, duram, duram, duram.

Mas hoje dou-vos conta de um casal fora do comum. Mark Duffield-Thomas, britânico, e Denise, australiana, já deram o nó 83 vezes. Nem mais. E um com o outro, sublinhe-se.

Já casaram em luxuosos resorts, em praias e piscinas, em cavernas, lagoas e até em masmorras, em países como Inglaterra, Indonésia, Tailândia, Espanha ou Ilhas Maurícias. Sem repetições e sempre com a vontade de surpreender. Mas não só, claro. O casal pretende chegar às 100 cerimónias de casamento e querem (e estão quase a consegui-lo) bater o recorde do Guiness. Isto, claro está (e não menos importante), para além de estarem a promover uma empresa irlandesa de organização de casamentos.

Mas é importante que saibam que Mark e Denise só casaram (pela primeira vez) o ano passado. É que, à velocidade com que renovam os votos, a excentricidade pode tornar-se uma enorme rotina. E aí, ninguém poderá prever se daqui a 17 cerimónias, quando fizerem as cem, essa venha a constituir a antevisão da cerimónia final … a do divórcio.


quinta-feira, novembro 18, 2010

A crise, qual crise?

Há poucas horas assistimos à goleada (4 a 0) imposta pela selecção portuguesa de futebol à sua congénere espanhola. E fê-lo de uma forma alegre, simples e dominadora, jogando com uma determinação a que já nos desabituara. Vencer a Espanha – a actual campeã da Europa e do Mundo - ainda que num encontro particular, faz-nos bem à alma. Somos “hermanos”, é verdade, mas a rivalidade é mais que muita e ninguém gosta de perder nem a feijões.

Foi um jogo frenético e a equipa de todos nós, a mesma (ou quase a mesma) que ainda há meses parecia ter perdido a qualidade que todos sabíamos existir, emergiu poderosa para uma partida de futebol muito bem jogada.

Quatro a zero à Espanha. A resposta (a vingança) à eliminação que a mesma Espanha nos tinha infligido nos oitavos de final do Mundial de Futebol de 2010, há escassos meses na África do Sul.

Perante este banho de futebol, a nossa auto-estima subiu. Pelo menos por umas horas esquecemo-nos dos nossos problemas e da crise. Crise, qual crise?


terça-feira, novembro 16, 2010

Como acreditar?



Há anos que os Governos não se cansam de pedir sacrifícios aos portugueses. Em nome das crises, dos deficits, dos endividamentos externos, da continuação do estado social, das ou dos quaisquer pretextos, a palavra de ordem para o Zé-povinho é “vamos ter que apertar o cinto”. E a receita é sempre a mesma, o aumento da carga fiscal que, invariavelmente, penaliza sobretudo aqueles que menos têm.

Perante aquilo que parece ser uma inevitabilidade, o que se podia esperar em troca era que os sacrifícios também fossem assumidos pelo Estado. Dir-me-ão que falar no Estado assim desta maneira é um bocado vago e que os seus funcionários já vão ter cortes nos salários e aumentos no IRS (para além do IVA que, esse, é para todos). Certo, mas não era aos funcionários que eu me referia. O que estava a pensar era nas contratações que estão agora a ser feitas, de 45 novos funcionários por semana para cargos no Governo e na administração directa e indirecta do Estado, já depois de terem sido anunciadas as medidas de austeridade.
Apesar do último PEC apontar para a contenção da despesa pública, assistimos não ao emagrecimento do Estado mas à sua engorda com o inerente aumento de encargos com o pessoal. Eu sei que o Governo já veio justificar que os que estão a entrar vão substituir os que saem e, muitos deles, já transitam de outros lugares do Estado. Será? Temos bons motivos para desconfiar.

E o que pensar sobre o que veio noticiado na imprensa de ontem sobre as mudanças na tributação, propostas no Orçamento para 2011, que deixam de fora os principais milionários da Bolsa portuguesa? A ser verdade, que explicação haverá?

Mas poderia dar muito mais exemplos. Ainda há dias vi passar um administrador (que eu conheço) de uma empresa pública (que todos conhecemos) num carro topo de gama de uma marca conhecida (e muito cara), acabadinho de sair do stand. Não me contaram, eu vi!

Assim sendo, como aceitar os sucessivos apelos de quem nos governa? E como corresponder a eles, perante o que vamos assistindo? Já quase não conseguimos apertar o cinto … por falta de furos.

Como dizia o outro, “Já basta de realidades queremos promessas”.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Os habilidosos


Embora as estatísticas vão alternando de semana para semana ao sabor do número de empresas que vão fechando, as últimas que foram divulgadas dão conta que o Distrito de Portalegre é onde se regista maior carência alimentar e o concelho de Mesão Frio onde há mais desemprego.

Para o comum dos cidadãos parece que uma coisa deveria ser a consequência da outra mas, ao que parece, nem sempre é assim.

Mas o que hoje chamou a minha particular atenção foi o desemprego em Mesão Frio, onde existem 400 desempregados no concelho, cerca de 12,2% da população. Mas será que há, de facto, desemprego ou os desempregados, pura e simplesmente, não querem trabalhar?

Fiquei boquiaberto ao assistir ao programa “Linha da Frente” exibido na última semana na RTP, quando uma psicóloga do Gabinete de Inserção Profissional afirmava sem papas na língua:
“Uma cláusula que fazem logo na primeira entrevista é que não querem trabalhar ao fim-de-semana e, se for um trabalho que englobe umas horas nocturnas, tipo dez da noite, nove e meia ou por turnos, não querem. Se for longe de casa é impensável. As pessoas quando se vêm inscrever o que pedem são cursos de formação profissional, em que a bolsa seja considerável e perto de casa. Se for um curso um bocadinho longe já não querem… As mulheres inscritas não procuram nem esperam trabalho. Sabem que por aqui têm acesso a um curso de formação profissional que não requer esforço físico, que pode durar um ou dois anos e com bolsas entre os 200 e 500 euros, não raras vezes acima de um ordenado mínimo nacional. E podem acabar um e começar outro”.

Palavras para quê? Mais claro do que isto é impossível. Afirmações que, de certo modo, vêm dar razão às teorias que um certo líder de um partido da oposição faz questão de repetir até à exaustão. Demagogias à parte, acabamos por ter que lhe dar razão nesta matéria.

Mas cuidado. É perigoso generalizar e o que se passa em Mesão Frio pode não corresponder ao que acontece noutras zonas do país. É absolutamente necessário que haja rigor na análise das situações e que se actue caso a caso. Podemos até perceber que haja razões para que as pessoas não aceitem certos trabalhos mas não devemos condescender com o laxismo que se instalou na nossa sociedade. E, sobretudo, não podemos confundir os habilidosos, os “falsos desempregados”, com os muitos milhares de cidadãos que procuram desesperadamente uma ocupação, perto ou longe de casa, com horários certinhos ou não, fora ou dentro das habilitações académicas e da preparação profissional que possuem.

sexta-feira, novembro 12, 2010

O “senhor do adeus”




Com 80 anos morreu o homem que diariamente acenava e enviava beijos às pessoas e aos carros que passavam aqui em Lisboa nas zonas do Restelo (à tarde) e do Saldanha (à noite). Chamavam-lhe o “senhor do adeus”, embora ele afirmasse que era tão-somente o “senhor do olá”.

João Manuel Serra apresentava-se sempre impecavelmente vestido e tinha um sorriso permanente estampado na cara. Era um homem fino, filho de gente abastada, que ”nunca trabalhou nem entrou numa cozinha ou tirou a carta embora gostasse muito de automóveis”, mas que conhecia toda a Europa. Uma pessoa com uma educação acima da média e um apaixonado por cinema. Transportava quase sempre um saco de plástico mas poucos sabiam que lá dentro havia queijo suíço e chocolates de marca.

Quando o destino levou os familiares com quem vivia, João arranjou uma forma de combater a solidão, “essa senhora é uma malvada que me persegue por entre as paredes vazias da casa. Para lhe escapar, venho para aqui. Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente”, disse um dia numa entrevista. Uma maneira diferente de fazer as pessoas felizes e de se sentir, também ele, mais feliz.

Muitas das pessoas que estavam habituadas ao cumprimento de João Manuel Serra vão sentir a sua ausência. Morreu um “Homem de Lisboa” e a cidade vai sentir a sua falta.

quinta-feira, novembro 11, 2010

E a decisão é …

Há pessoas que têm alguma dificuldade em decidir. Quando chega a hora de resolver, bloqueiam e entram em parafuso. O “não sei … o que é que achas?”, ou coisas do género, são ouvidas frequentemente. Se bem que esse tipo de hesitações não trazem consequências de maior. Para além da ansiedade das próprias pessoas, a maioria das vezes fica-se pela pura perda de tempo ou de oportunidades que não voltam mais.

Mas há, de facto, indecisões cujos resultados são inacreditáveis. Como aquele caso de um cidadão britânico, Sam Hashimi, um bem sucedido homem de negócios, divorciado e com dois filhos que, em 1997, decidiu mudar de sexo. Gastou 116 mil euros nas operações necessárias (que resultaram em pleno) e “nasceu” a senhora Samantha Kane, designer de interiores.
Em 2004, apenas sete anos depois, a Samantha deu-lhe uma coisinha, achou que a mudança de sexo era capaz de não ter sido lá grande ideia e pensou com os seus botões que estava já farta das hormonas femininas e do desencanto de ter sexo com homens e decidiu que tinha que voltar a ser homem. Lá gastou mais 29 mil euros, recuperou o que tinha que recuperar e a Samantha tornou-se no senhor Charles.

Vejam o que pode acontecer a quem não sabe muito bem o que quer, alberga alguma confusão mental, é masoquista ou, pura e simplesmente é excêntrico e não sabe o que fazer ao dinheiro.

O porém, contudo, é que Sam/Samantha/Charles nunca mais deixará de exibir os traços da sua feminilidade, por muitas operações que venha a fazer. É o custo de tanta indecisão. Foi-se-lhe o dinheiro mas ficaram-lhe as marcas.

Como (quase) todas as histórias, esta também tem uma moral: É mais barato passar de mulher a homem do que fazer o sentido inverso.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Uma espiral que bem sabemos onde vai dar


A crónica de Fernando Madrinha no Expresso do último sábado começava assim:

“Um país que deve muito mais do que produz num ano inteiro e que precisa de pedir mil milhões todas as semanas para se sustentar não tem que se queixar dos credores; deve dar graças por haver ainda quem lhe compre dívida, se bem que a juros incomportáveis”…

A generalidade dos portugueses sabe que nas economias domésticas há sempre um limite para os gastos. Por exemplo, quem ganhar cem não pode gastar cento e dez. Pelo menos de forma sistemática. Mais, se ganhar cem pode gastar apenas oitenta ou noventa e com o restante deve constituir uma poupança que poderá ser útil em qualquer situação de emergência. Esta deve ser uma preocupação clara, pelo menos em relação aos chamados gastos correntes.

Ninguém (???) em seu juízo vai ao Banco pedir dinheiro para pagar a electricidade, o supermercado ou o passe dos transportes. Normalmente reservamos os empréstimos bancários para outro tipo de bens de média/longa duração e normalmente mais dispendiosos. Como acontece quando compramos casa ou carro. Isso é investimento.

E será que com o país não deveria acontecer o mesmo? Que peçam aos mercados (mau, lá estamos nós a evocar de novo os mercados) crédito para a construção de pontes ou de infra-estruturas, para apoios à criação de frotas pesqueiras ou para actividades produtivas, tudo bem, isso é investimento. Agora, estar a pedir dinheiro (colocar dívida pública, em termos técnicos) todas as semanas para pagar um imenso rol de despesas correntes como, por exemplo, ordenados e juros dos empréstimos que se vão vencendo, isso é de loucos. É uma espiral que bem sabemos onde vai dar. Quero dizer, pelo menos muitos de nós temos uma ideia.

terça-feira, novembro 09, 2010

E ninguém vai preso?

Não fiquei particularmente surpreendido ao saber que duas personagens conhecidas foram agora constituídas arguidas no processo “Operação Furacão”. A investigação e a justiça são lentas mas, às vezes e com o tempo, lá se vão conhecendo alguns dados novos.

O que verdadeiramente me chocou é que uma dessas figuras, António Mota, Presidente da Mota-Engil, fez saber através de uma fonte da empresa que “o grupo pagará o que houver para pagar. Haverá uma discussão técnica, chegar-se-á a um entendimento e paga-se”.


Só isto? Perante uma falcatrua que se descobriu (por pouca sorte do infractor), basta chegar a um acordo (“a uma discussão técnica”) e tudo se esquece? Um crime (de fuga e fraude fiscal) que está devidamente enquadrado pela lei, “esconde-se” pura e simplesmente debaixo de umas multas e ninguém responde criminalmente? Como é possível, que país é este?

segunda-feira, novembro 08, 2010

Não sejamos ingénuos



A visita de dois dias a Lisboa do Presidente chinês, Hu Jintao, poderia significar apenas a vontade de incrementar relações comerciais entre os dois países, como normalmente acontece em visitas de Estado em que Presidentes e Chefes de Governo se fazem acompanhar por uma comitiva de empresários. E, sobre isso, nada haveria a dizer, se bem que a China tenha muito mais a ganhar do que nós. Tanto mais que a valorização do euro face ao yuan favorece claramente as exportações chinesas.

O problema, porém, é que a China, como grande potência económica mundial se propõe comprar mais dívida soberana portuguesa e tornar-se um grande credor de Portugal, a exemplo do que já acontece em relação a muitos outros países (só nos Estados Unidos são credores de dois terços da sua dívida externa).

E é aqui que começa o busílis. Dir-me-ão que tanto faz devermos à China como a qualquer outro país, que neste momento todos os credores são bons, que o dinheiro não tem cor e que necessitados como estamos de mais e mais financiamento externo todo o dinheiro é bem-vindo. Pode até ser. Por um lado, eles estão cheios de dinheiro que pretendem investir, por outro, nós estamos a braços com uma grave crise de liquidez a necessitar urgentemente de um “salvador” que nos compre as emissões de dívida pública. Mas há outros riscos que, mesmo desesperados, não deveríamos correr.

Não se trata tão-só de os chineses nos comprarem – a nós, aos gregos, aos espanhóis, aos italianos, a toda a Europa e a uma boa parte das nações do mundo – dívida soberana. Na verdade, o que todos estamos a hipotecar é a possibilidade de podermos dizer não à China nos mais altos fóruns internacionais.

Não sejamos ingénuos, quando, por exemplo, estiverem em causa a violação dos direitos humanos na China, como acham que vão votar as nações que estão altamente devedoras à grande potência económica da Ásia? Há sempre um preço a pagar.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!

De António Aleixo "Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura"


Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...

Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Fui ao Jardim Zoológico


Se me prometerem que não começam com graçolas foleiras (do tipo “ah, foste lá para ver a família” ou “afinal, já sabes se a zebra tem mais listas brancas ou pretas?”) sou capaz de vos contar que fui há dias ao Jardim Zoológico de Lisboa. Não gozam com isso? Vá, então está bem …

Pois é, há muito tempo que não visitava o zoo e já tinha saudades dos tempos em que ir ao Jardim Zoológico fazia parte das “obrigações” que os pais tinham para com os filhos. Era uma época em que não havia muitas opções e, que me lembre, para além do Zoológico, havia o circo e os passeios de domingo até ao aeroporto para ver os aviões a partir ou a chegar. Pouco mais.

O Jardim está mais ou menos na mesma. É certo que tem o espectáculo com os golfinhos e leões-marinhos mas, estruturalmente, mantém-se igual ao que sempre foi. Talvez um pouco mais descuidado na limpeza e a faltar, na minha opinião, a recriação dos ambientes naturais em que a maior parte dos animais vive quando em liberdade. Dantes não dávamos conta mas hoje conhece-se outros zoológicos onde isso acontece e gostaríamos de ter em Lisboa savanas “à séria” onde os leões, tigres, elefantes e demais espécies pudessem deambular, em vez de assistirmos a animais expostos em espaços descaracterizados ou em jaulas. Enfim!

Mas houve uma coisa que, não sendo nova, continua a indignar-me. A das pessoas insistirem em dar comida aos animais. Os avisos espalham-se por todo o recinto “p.f. não dêem de comer aos animais” e são bem visíveis mas, mesmo assim, os visitantes fingem não ver ou, vendo-os, estão-se literalmente nas tintas para eles e satisfazem os seus pequenos prazeres e os das suas crianças, dando “comida” aos animais, a qual, muitas vezes, não passa de folhas de árvores que apanharam do chão.

Desrespeito pelas normas, incivilidade e maus exemplos. Acções que merecem o nosso repúdio e devem ser devidamente sancionadas pelas autoridades competentes.

Bom, agora que já desabafei, e para quem está interessado em saber se as zebras têm mais listas brancas ou pretas, sempre vos digo que, de acordo com o biólogo Guilherme Domenichelli, da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, as zebras são realmente brancas com listas pretas, e não o contrário. Satisfeitos?

quarta-feira, novembro 03, 2010

“Precisa-se clientes”

Pois é, a crise de novo. E, desta vez a "manifestar-se" num anúncio que não procura canalizadores, empregados de balcão ou pasteleiros. Apenas solicita, de forma clara, clientes que entrem (reparem na ardósia preta das sugestões, no exterior) sem hesitações.

A foto que hoje publicamos foi tirada à fachada de um restaurante nos arredores de Portimão e mostra bem o desespero a que os comerciantes chegaram para continuarem com o negócio.
Esta é a face da economia pura e dura. Onde, mais ou menos a brincar - acho eu que é menos a brincar e muito a sério - se joga o futuro de muitas famílias.






terça-feira, novembro 02, 2010

Poupanças

No último domingo comemorou-se o Dia Mundial da Poupança. Dia que se costuma aproveitar para sensibilizar as pessoas para a necessidade de poupar. Mais uma vez este ano (se calhar com razões acrescidas) fiquei na dúvida se seria legítimo falar em poupança aos portugueses. Logo a nós que andamos a contar os cêntimos.

Como referi num post aqui publicado na quarta-feira passada, a propósito de literacia financeira, em Portugal só uma percentagem diminuta da população consegue poupar. E porquê? Simplesmente porque o seu rendimento não permite. Ou seja, depois de satisfeitas (às vezes nem isso) todas as despesas do mês não resta mais dinheiro. Acabou, não há mais.

A situação, embora preocupante, tem um fait-divers curioso quando se pretende averiguar quem é que, afinal, poupa mais, se os homens ou as mulheres. E os diversos estudos rezam que são eles que, de facto, mais poupam mas elas (que muitas vezes até têm salários mais baixos) suportam uma fatia maior das despesas, nomeadamente com as roupas dos filhos, com as várias prendinhas durante o ano e com outros gastos caseiros.

Enfim, a vida não está fácil e falar de poupanças, mesmo que a propósito do Dia Mundial da Economia, também não é simples. Contudo, é muito importante que comecemos a planear devidamente o orçamento familiar. Se não para acumularmos riqueza, pelo menos para nos precavermos quanto a uma situação inesperada.