quinta-feira, janeiro 13, 2011

Conservem o lado bom das coisas


O ano que agora começou não vai ser fácil. Aquietem-se, contudo, os que nos lêem, porque para anúncio das desgraças que aí vêem (incluindo a possível entrada em Portugal de um diabo chamado FMI), já bastam os políticos, os economistas, os analistas, os jornalistas e outros quejandos. Aconselho-os, pois, como terapia contra todos esses males, que passem a olhar de uma outra forma para as coisas a que hoje não dão grande valor. Pelo menos para evitar que venham mais tarde a admitir que “eram tão felizes e não sabiam”.

Curiosamente, uma sugestão que foi feita pelo agora cessante embaixador britânico em Lisboa, Alexander Ellis, que propõe, como contrapartida ao pessimismo reinante na nossa sociedade, que reflictamos sobre as coisas boas que existem no nosso país e que ele gostaria que nunca mudassem. Por exemplo:

“- A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.

- O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta, não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas com uma sopa, um prato quente etc., tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.

- A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.

- A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.

- O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.

- A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim-de-semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.

- Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.

- As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem-feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.

- A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.”

Como vêem, temos boas condições para resistir. Com dificuldade, admito, mas, ainda assim, mais do que suficientes para vencer. FELIZ 2011!

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