quinta-feira, março 31, 2011

Os máximos históricos

Antigamente, quando eu ouvia falar em máximos históricos pensava, por exemplo, em coisas como Aljubarrota onde as tropas portuguesas derrotaram as castelhanas. Ou pensava nas vezes que os nossos atletas subiram ao primeiro lugar do pódio em Jogos Olímpicos. Ou, ainda, nos vários portugueses que conquistaram Prémios Nobel. Para mim, esses é que eram os “máximos históricos”.

Hoje navegamos em outras águas, porventura muito mais “agitadas” do que aquelas que os nossos navegadores enfrentaram quando partiram à descoberta do mundo. E a expressão “máximo histórico” tem agora um significado diferente e é usada todos os dias. Não pelos feitos heróicos alcançados pelos nossos compatriotas mas porque os juros dos empréstimos contraídos por Portugal não param de subir.

E, de máximo em máximo, em breve chegaremos à bancarrota final.



quarta-feira, março 30, 2011

Portagens, multas e pagamentos … pesados

Há uns anos, a propósito do aumento das portagens, gerou-se um movimento que levou os automobilistas a fazerem os seus pagamentos com moedas de baixo valor. Recordo-me que para pagar uns quantos euros, os desgraçados dos portageiros eram obrigados a contar as montanhas de moedas que lhes eram entregues. Era uma espécie de vingança que se fazia contra o Governo e cujo efeito recaía em cima dos pobres funcionários.

Mais recentemente foram os representantes da Associação Académica de Coimbra que, como forma de protesto contra o novo regime jurídico das instituições do Ensino Superior, demoraram mais de uma hora a pagar a portagem em Alverca. E fizeram-no exemplarmente pagando o custo exigido com cinquenta mil moedas de um cêntimo, no culminar de uma marcha lenta que só terminou na Assembleia da República.

Pois desta vez conhece-se a história de um cidadão, arquitecto de profissão, que estacionou o carro onde não podia e a Polícia Municipal do Porto passou-lhe a multa respectiva, pela infracção propriamente dita e pelo reboque da viatura. Pois o senhor arquitecto “arquitectou” a forma de cumprir integralmente as suas responsabilidades e pagou a quantia de 75 euros. Só que usou moedas de um e dois cêntimos dentro de um saco que pesava nada menos de 16,125 quilos.

As portagens e as multas já são pesadas. Mas o que dizer destas formas de pagamento?




terça-feira, março 29, 2011

Souto Moura, o nosso Nobel da Arquitectura

Quando as agruras provocadas pelos “nossos problemas” nos asfixiam faz-nos bem podermos sentir orgulho de nós e dos nossos. Foi o sentimento que experimentámos quando soubemos que o arquitecto Eduardo Souto de Moura foi distinguido com o Prémio Pritzker, considerado o Nobel da Arquitectura. Ainda por cima por se tratar de um prémio americano que é concedido a um arquitecto de um pequeno país desconhecido, arrumado a um canto da Europa e que tem sido ultimamente muito falado pelas piores razões.

Souto Moura, discípulo de Siza Vieira – também ele galardoado com o Pritzker em 1992 – ganhou este prémio pelo seu “rigor e precisão” bem patenteados no conjunto das suas obras. O mercado municipal de Braga, a ponte Dell'Accademia, em Veneza, a reconversão do Convento de Santa Maria do Bouro numa pousada, em Amares, e o Estádio Municipal de Braga são alguns dos seus principais projectos.

Não se trata de um nacionalismo bacoco. Trata-se tão-somente da mais genuína sensação de vaidade de ver atribuído – por decisão unânime do júri - o prémio mais importante da arquitectura (a nível mundial) a um português.


segunda-feira, março 28, 2011

O Precipício

Peço desculpa a quem veio aqui na última Sexta-Feira e não encontrou o “texto do dia” (quando o “produto” é bom a freguesia aparece, não é?). Faltei nesse dia e a justificação é simples. Estava (e ainda estou) a digerir o chumbo do PEC feito pela Oposição na Quarta-Feira. Mesmo já se estando à espera que o fizesse – eu próprio o tinha escrito na crónica que aqui publiquei nessa mesma Quarta – acho que ainda tinha a esperança que isso não acontecesse. Não, em particular, pela saída deste Governo e deste Primeiro-Ministro mas por que se adivinhavam uma série de outras preocupações que a queda do Executivo viriam acrescentar às já existentes.

Embora haja vários responsáveis não me interessa, neste momento, discutir quem são os culpados por esta crise política e pelas suas consequências. O que sei é que é o país e os seus cidadãos que vão sofrer com isso. Talvez aos senhores políticos lhes tenha escapado essa minudência, mas o que verdadeiramente deveria estar em causa é, tão-só, o país e os cidadãos e não as suas querelas políticas e os seus ódios pessoais.

E a resposta ao derrube do Governo veio de imediato. Aliás, não era difícil de prever. As nossas amigas agências de rating trataram de nos descer dois níveis na cotação (e ameaçam mais para breve), os juros da dívida subiram para números históricos e os “donos” da Europa puxaram pelos seus galões e admoestaram-nos. E se já estávamos mal, mais enfraquecidos ficámos.

Pronto, temos agora um Governo de Gestão, umas eleições à vista e um Governo que será empossado e que, independentemente da sua cor política, irá executar na íntegra o PEC 4 reprovado - com umas medidas adicionais e mais penalizadoras - que a Senhora Merkel já determinou.

E o pior é que todos os cenários que se desenham sobre a constituição do futuro Governo não conseguem tranquilizar-nos nem sequer permitem vislumbrar a possibilidade de uma maioria sólida no Parlamento. Há nos nossos políticos demasiados ressentimentos e falta de respeito. Sente-se que, muitos deles, zelam apenas pelas suas carreiras e pelos partidos que os apoiam e esquecem o fundamental. Que são os nossos representantes e, como tal, têm que trabalhar em prol do país e de quem os elegeu.

Estávamos à beira do precipício. Agora, já só falta um empurrãozinho.


quinta-feira, março 24, 2011

Artur Agostinho

Nasci 30 anos depois de Artur Agostinho. Cresci com a sua companhia e habituei-me à sua presença. Primeiro através da rádio e, mais tarde, do cinema e da televisão. Os relatos de futebol deixavam-me com o ouvido colado ao transístor e a emoção e a clareza com que “narrava” as partidas faziam-me seguir as jogadas e “ver” os meus ídolos como se estivesse no próprio campo.

Apresentou inúmeros concursos na televisão (ainda hoje se recorda o “Quem sabe, sabe”, o primeiro concurso a sério da RTP), foi apresentador de tantos e tantos espectáculos e dos famosos “Serões para Trabalhadores”, que eram feitos ao vivo e retransmitidos pela Emissora Nacional, em que também animava os espectadores contando anedotas. Foi aquilo a que se chamava na altura uma “vedeta da rádio”, o que não o impediu de ser reconhecido noutras actividades que também abraçou. Fez informação desportiva e publicidade, foi actor, escritor e entrevistador.

Artur Agostinho morreu aos 90 anos mas a sua cabeça tinha a lucidez e as capacidades dos 50.

Era uma figura popular, um homem bom, simpático, excelente comunicador e de quem gostávamos. Vamos sentir a sua falta.

quarta-feira, março 23, 2011

É hoje!

A confirmarem-se as previsões de que a nova versão do PEC - muito provavelmente já aprovada pela União Europeia e pelo Banco Central Europeu - terá a reprovação dos partidos da oposição com assento na Assembleia da República, hoje é o dia em que o Governo começa a fazer as malas para se ir embora e em que se vislumbram no horizonte próximo novas eleições. Não terá que ser assim, é certo, mas esse é o cenário mais provável, apesar dos insistentes apelos proferidos por respeitáveis figuras da nossa República.

Vamos, pois, gastar uma pipa de massa com as eleições, vamos assistir a uma campanha eleitoral muito “emocionante” e cheia de acusações de uns contra os outros e em que as alocuções vão conter muitos “É mentira” e “Vocês, sim, foram irresponsáveis por …” e vamos chegar, enfim, ao novo Primeiro-Ministro que trará (???) a salvação às nossas contas públicas e ao endividamento externo e que, sobretudo, fará dos portugueses uns tipos finalmente felizes. A não ser que Sócrates seja substituído por Sócrates, o que pode vir a acontecer. Aí, gastou-se a massaroca desnecessariamente e tudo segue o seu curso normal.

Mas, meus Amigos, mesmo que o vencedor seja outro, é bom que moderem as vossas expectativas. Penso que ninguém acredita que o novo Governo, seja ele de que partidos ou coligações forem, vai trazer no curto/médio/muito médio/longo prazo quaisquer benefícios aos cidadãos. Estamos de tal forma atolados em dívidas que só para pagar os juros e, talvez, algum capital, teríamos que produzir bastante mais e não vejo bem como isso poderá acontecer. Por outro lado a recessão económica e a falta de confiança dos hipotéticos investidores não nos dão grandes esperanças que o emprego aumente e que a nossa vida melhore.

É hoje. Como diz a canção, “Hoje é o primeiro dia …”. Vamos ver.

terça-feira, março 22, 2011

Realidade e Ficção

A reflexão de hoje não tem a ver necessariamente com a situação política que se vive em Portugal. De qualquer forma, temos como certo de que a realidade é, pura e simplesmente, a existência de factos. A ficção, por outro lado, será a fábula, a invenção.

Mas onde é que está a fronteira entre ambas? Qual melhor retrata as fantasias, as injustiças e a felicidade que poderão estar contidas numa ou noutra?

A frase não é minha mas é a que melhor encontrei para definir a situação:

“A diferença entre a ficção e a realidade é que a ficção tem que fazer sentido!”.

segunda-feira, março 21, 2011

Quando eles não se preocupam com os problemas do país


Estamos em vésperas de saber se o Governo de Sócrates sempre vai cair. E, se cair, existem já desenhados vários cenários possíveis de um novo Governo que venha a resolver a crise política instalada. O que para mim continua a ser um mistério é saber quem é que vai ter a coragem de derrubar o Governo, justamente numa fase em que se falharmos aquilo com que nos comprometemos com a Europa poderemos cair num buraco sem fundo. Mas adiante …

O que me trás cá hoje são os alegados motivos para afastar o Primeiro-Ministro, insistentemente aduzidos pelos partidos da oposição e por milhares de cidadãos comuns. E eles (os motivos) são tantos que nem me atrevo a enumerá-los. Apenas vou referir (por que me convém para prosseguir este texto) a acusação que fazem a José Sócrates de lhe interessar apenas a estratégia pessoal e partidária e de não se preocupar com os problemas do país. Coisa pouca e … repetidamente vista através dos tempos.

Recordo o episódio acontecido em finais do século dezanove, em plena monarquia, quando os republicanos acusaram o Rei D. Carlos precisamente de não se preocupar com os problemas do país. Pois Sua Alteza, num gesto magnânimo digno da Sua Alta Majestade, tomou uma iniciativa que, de certo modo, pretendia contrariar os seus opositores – doou uma parte da renda que lhe estava atribuída.

Enfim, as crises os buracos orçamentais e as “incompreensões” perante os governantes atravessam épocas e até regimes políticos. E sempre com um protagonista sofredor comum: os cidadãos.

PS: D. Carlos, na sua mensagem, não utilizou o novo acordo ortográfico.

sexta-feira, março 18, 2011

Mário Crespo e os blogues

Num dos seus últimos escritos, o jornalista Mário Crespo disse ser frequentemente abordado por pessoas que lhe pedem que escreva nos seus blogues. Ele ouve-os apenas e presumo que lhes negue qualquer texto uma vez que afirma:

“… Porque não vale a pena. Não serve para nada. Normalmente o que os blogues contêm não passa de enunciados do que é óbvio, pontilhados com escolhas mais ou menos rebuscadas de insultos pouco imaginativos. O que se faz num blogue é gritar impropérios contra a ventania de inverno no Cabo da Roca. Pode aliviar momentaneamente a raiva e a insegurança da impotência repetida. Mas acaba por causar uma inflamação na garganta e ninguém nos ouve … a verdade é que o que se faz num blogue tem tanto efeito social como 872 anos depois da fundação de Portugal descobrirmos que somos uma nação voltada para o mar …”

Claro que estou em desacordo com Mário Crespo no que concerne à utilidade dos blogues. Há blogues e blogues. Cada um tem os seus âmbitos e objectivos, há os bons e os maus, os que, de facto, são meros veículos das frustrações e desencantos daqueles que os escrevem mas existem também os que nos dão textos muitíssimo bem elaborados e poemas que nos fazem vibrar as almas.

Quanto ao “não servirem para nada” (na sua opinião), penso que é um sentimento demasiado redutor. Servem muitas vezes para propagar ideias, dar a conhecer causas, contar histórias e divulgar cultura.

No caso do “Por Linhas Tortas”, este foi o espaço que escolhi para publicar comentários (de política ou de cidadania), interrogações e indignações, relatos, desabafos, ficção, poesia. E assim continuarei até decidir o contrário.

Uma coisa vos posso assegurar. Se o encontrar, não pedirei a Mário Crespo que se dê ao incómodo de escrever no meu blogue “Porque não vale a pena. Não serve para nada”.

quinta-feira, março 17, 2011

Portugal – a falência

A crise política que se avizinha, a descida do “rating” da nossa República decidida ontem pela Moody’s e o ping-pong a que se assiste diariamente sobre se vem ou não vem o FMI fazem-nos pensar que estamos à beira do fim. Aliás, já se antevê que o precipício – a falência - está mesmo diante de nós.

Aquietem-se, contudo, as almas mais perturbadas por que nem tudo está perdido - a bancarrota não é o fim do mundo. Para que saibam, em média, em cada ano, há um país que fica sem dinheiro para pagar as suas dívidas. Em pouco mais de 200 anos registaram-se 290 crises bancárias e 70 bancarrotas. E não pensem que isso só aconteceu a países pobrezinhos como o nosso. A Espanha, neste espaço de tempo, faliu 14 vezes, a França 4 vezes em cem anos e a poderosa Alemanha 6 vezes.

E nós? Pois Portugal já faliu 7 vezes. Comparativamente com os nossos vizinhos espanhóis estamos até numa situação bem confortável, embora por lá, ao que dizem, ainda se consiga viver melhor do que por cá.

E para os que já têm alguns aninhos lembrem-se do que aconteceu em 1976 em que a nossa falência esteve eminente e só nos safámos graças ao Dr. Mário Soares e às suas influências na Europa. E recordem-se dos loucos anos 80 em que o FMI se instalou de armas e bagagens cá em Portugal para nos impor uma receita que foi extremamente violenta - grande desvalorização do escudo, galopada da inflação para quase 30%, aumento dos impostos e o crescimento do desemprego. Não foi nada fácil.

Mas nada de angústias extemporâneas. É preciso ter esperança. As coisas vão-se resolver, só não sei como … nem quando.

quarta-feira, março 16, 2011

Onde está a racionalidade?

Na situação actual do país e dos seus desesperados cidadãos gostaria de saber se por acaso se justifica que:

- todas as actividades desportivas – incluindo as desenvolvidas nos ginásios - estejam sujeitas à taxa máxima do IVA (23%), quando os praticantes de golfe apenas pagam 6% de imposto? Ou que

- os proprietários dos iates de luxo paguem o gasóleo a 80 cêntimos o litro enquanto que a generalidade dos outros utilizadores têm que suportar o combustível a 1 euro e quarenta cêntimos?

São perguntas a que ninguém quer responder. O que sabemos, isso sim, é que pela fruta e pelos produtos hortícolas desembolsamos 23% de IVA e o congelamento das pensões baixas vai vigorar em 2011, 2012 e 2013 (até ver).

Por acaso percebem isto? Que raio de racionalidade é esta?

terça-feira, março 15, 2011

Camionistas, o “Déjà Vu”

Andamos sempre à volta da velha questão: Será que é possível que alguns (sempre os mesmos) consigam arranjar “argumentos tão convincentes” que derrotem sistematicamente quem se lhes opõe? Que forças são essas? É que, enquanto idosos e desempregados não têm forma de se fazerem ouvir (a não ser por umas quantas arruadas que, na prática, de pouco valem), existem corporações que são tão poderosas que os efeitos dos seus protestos podem afectar seriamente o país.

Como perceberam estou a falar concretamente dos camionistas (dos patrões dos camionistas, melhor dito) que pararam na primeira hora de segunda-feira, e por tempo indeterminado, por não terem ainda sido aceites as suas reivindicações, nomeadamente, as compensações pela subida do preço dos combustíveis e pelo pagamento das ex-SCUTS.

Depois dos bloqueios que fizeram em 2008 que quase fizeram parar o país, e por acharem pouco o que então lhes foi concedido pelo Governo – aumento das deduções fiscais no custo dos combustíveis e redução das portagens no período nocturno - voltam agora à luta ameaçando (de novo) paralisar o país.

Aí está o efeito das decisões (mal) tomadas a partir de 1986 (recordo que Cavaco Silva era na altura o primeiro-ministro). Ou seja, investiu-se sobretudo nas estradas em detrimento do transporte ferroviário e marítimo. Resultado? Ficámos na mão de quem controla o comércio de transportes rodoviários em Portugal. E, como de costume, eles exigem e o Estado - nós contribuintes - paga.

segunda-feira, março 14, 2011

“Geração em Luta”

Não me juntei aos muitos mil que desfilaram na Avenida da Liberdade em Lisboa no último sábado mas, provavelmente, fiz mal. Como o apelo tinha sido feito em nome da “Geração à Rasca”, entendi que, pela idade que tenho, já não faria parte dessa Geração. Ainda assim, devia ter ido. Se bem que ache o “À Rasca” uma expressão um tanto ou quanto grosseira. Mas isso são detalhes.

A verdade, meus Amigos, é que pertenço a uma geração que está perfeitamente enquadrada no espírito dos que agora se sentem à rasca. É certo que quando entrámos no mercado de trabalho não havia nem falta de empregos nem precariedade laboral mas, em compensação, havia uma guerra que matava e deixava muitos jovens destruídos quer física quer psicologicamente e que desfazia as perspectivas de vida de famílias inteiras. E o que dizer de quem viveu as agruras de uma ditadura que, ao menor sinal de contestação, encarcerava e torturava sem qualquer apelo? Quanto à exploração, não é fenómeno novo. Passámos por isso e sofremos também.

E chegámos aqui, a um tempo em que julgávamos ser de tranquilidade. Mas não, voltaram muitas das “velhas” preocupações e inquietudes pela nosso futuro e pelo dos nossos filhos. Afinal, estudaram, preparam-se melhor e estão diante de um buraco de que não se consegue avaliar a profundidade. Um desespero tamanho e sem soluções à vista.

A minha Geração sente-se, pois, atingida pelo corte das pensões, pelo aumento dos impostos e, sobretudo, pela frustração de ver os nossos filhos sem trabalho e sem esperança. Como não havemos de nos rever na “Geração em Luta” (gosto mais desta designação, deixem lá o “à rasca”)?

Tenho, porém, uma outra preocupação. No sábado houve manifestações e desfiles que mostraram o descontentamento reinante. Mas eu pergunto, acham que isso basta? Pensam mesmo que, pelo facto de protestarem, os governantes vão ser substituídos de imediato e que todas as políticas vão mudar de repente de maneira a fazerem “chover” empregos bem remunerados? Sabemos que as coisas não funcionam assim.

Depois do último sábado toda aquela energia, bem patenteada por jovens de várias gerações, deveria ser aproveitada para continuar a lutar – dentro e no respeito das normas democráticas - por um futuro melhor. Como? É uma questão que nos compete decidir.


sexta-feira, março 11, 2011

Fala!



“Fala!” de Alexandre O' Neill

Fala a sério e fala no gozo
fa-la p'la calada e fala claro
fala deveras saboroso
fala barato e fala caro

Fala ao ouvido fala ao coração
falinhas mansas ou palavrão

Fala a miúda mas fala bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Fala franciú fala béu-béu

Fala fininho e fala grosso
desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar
fala com elegância muita e devagar.

quinta-feira, março 10, 2011

A Paródia

Foi, no mínimo, inesperado. Eu que nos últimos anos não tenho assistido aos Festivais da Canção por que os achava enfadonhos e falhos da qualidade mínima exigível, a este, e por mero acaso, vi-o todinho, de uma ponta à outra. E quando, no meio de bocejos, deparei com uns tipos que eu conheço vagamente porque costumam gozar com tudo e com todos, despertei definitivamente e prestei a atenção devida.

Os “Homens da Luta”, Neto e Falâncio (e mais uns quantos amigos), saltaram a terreiro para, no seu jeito habitual, interpretarem “A Luta é Alegria”, uma canção que bem poderia (poderá) ser de intervenção, muito ao jeito do saudoso PREC e que se destinava simplesmente (ou talvez não) a animar a malta e a acordar as plateias da sonolência provocada pelas outras canções concorrentes mais ou menos chochas e descoloridas.

E cumpria-se o programa. Analisadas as formas estéticas e musicais pelo júri nacional, a “A Luta é Alegria” quedava-se algures pelo lado de baixo da tabela, com a dita alegria entregue apenas aos seus intérpretes. A certa altura porém …ouviu-se a voz de um povo que em troca de chamadas a 0.60€ mais IVA votou massivamente no grupo que empunhava um megafone e uns cartazes mais ou menos “revolucionários”. E porque o povo é quem mais ordena, a canção ganhou.

Apesar da vontade popular, de imediato surgiram as críticas e os temores. “Parece mentira, eles vão representar Portugal na Alemanha, o que é que a Europa vai pensar de nós?” Sosseguem que ninguém vai pensar pior de nós do que já pensa agora. A verdade é que já não nos têm em grande conta e aquilo é só um concurso. Quanto ao que for dito, eles não vão entender patavina, quanto à performance podem pensar que nós até somos uns tipos alegres apesar de estarmos à beira da bancarrota.

A canção pode não ter uma qualidade musical por aí além, mas a verdade é que há anos que nos queixamos dessa mesma falta de qualidade. Ou será que ficámos incomodados por alguém ter tido o desplante de nos apresentar uma canção política, quando muito de protesto? Não creio em nada disso, acho-a mais uma canção de mera irreverência, de contestação à política (à política de uma forma geral, tanto a feita pela direita como pela esquerda) em que já ninguém acredita e ao desespero dos cidadãos pelo sentimento de tantas promessas falhadas desde a revolução dos cravos. Ou até, talvez, uma contestação ao próprio festival. Acima de tudo é uma canção bem-disposta e até razoavelmente construída do ponto de vista musical. Mas é sobretudo uma canção de troça, de gozo, de paródia interpretada pela dupla humorista e rebelde que nasceu, faz tempo, na SIC Radical. Nada mais!

quarta-feira, março 09, 2011

O Carnaval das tolerâncias


Não sei se já vos aconteceu mas comigo sucede muitas vezes sentir-me bem-disposto num momento e, logo de seguida, completamente “em baixo”. Se calhar é da idade ou … das aberrações desta vida.

Então não é que ouço os políticos dizerem, nomeadamente os que nos governam, que o país tem que ter maior produtividade para ser mais competitivo e, por outro lado, quando se vislumbra a possibilidade de haver uns dias de folga adicionais, vá de fazer uma “ponte” e lá vamos nós cantando e rindo? Claro que me passo. Sobretudo quando é o próprio Governo que promove esses diazinhos de férias a mais.

Para além da gracinha de vermos as crianças mascaradas (que muitas vezes satisfazem mais os pais do que os próprios rebentos) digam-me lá o que é que justifica que se conceda uma tolerância de ponto aos trabalhadores da função pública e dos institutos públicos, tanto mais que a terça-feira de carnaval até nem consta na lista dos feriados obrigatórios estipulados por lei?

Eu sei que a folga sabe muito bem mas, meus caros, ouçam o que os distintos economistas se fartam de avisar: estamos num país que tem uma economia tão débil que só uma ajuda divina será capaz de salvá-lo.

Porém, nós que somos crentes mas acima de tudo folgazões, achamos que é melhor não ligar a esses dois dias seguidos de trabalho que se perdem - a terça (devido à tal tolerância) e a segunda (porque se fez uma ponte que é para isso que elas servem). Depois logo se vê.

Será que estamos a pensar em direitos adquiridos ou em estratégia política? É que – dizem - há eleições à vista … e não convém facilitar. Lembrem-se do que aconteceu há alguns anos com Cavaco Silva, quando quis acabar com a terça de Entrudo e empurrar os feriados para os fins-de-semana mais próximos. Por “coincidência” nas eleições que se realizaram a seguir, foi apeado.

sexta-feira, março 04, 2011

Bica e pastel de nata sujeitos a factura. Agora é que vai ser …

Há muito que defendo que os prestadores de serviços devem passar facturas. E faço-o naturalmente em nome da equidade que deve existir entre os cidadãos. Fará algum sentido que eu tenha que pagar todos os impostos possíveis e imaginários e um restaurante, por exemplo, só os pague pelas 50 refeições que, presumivelmente, serviu num dia quando, na verdade, foram servidas 150? Daí que, mesmo não necessitando das facturas, não prescinda nunca de as pedir em qualquer estabelecimento. É verdade que muitos deles já as fornecem espontaneamente mas ainda se ouve com frequência aquela pergunta irritante “E vai desejar factura?”. E eu desejo sempre porque acho que toda a gente deve pagar os impostos devidos.

Como o país necessita desesperadamente de aumentar as receitas, do IVA neste caso, foi avançado agora pelo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que o Governo pretende avançar rapidamente com a obrigatoriedade de todos os sectores de actividade passarem facturas". Até que enfim. Só tenho dúvidas se o controlo a aplicar será exequível. Há uns anos, lembro-me que as facturas da restauração apresentadas pelos cidadãos eram dedutíveis em sede de IRS mas parece-me que o Governo não irá abrir mão dessa receita na totalidade.

Restaurantes e cafés estão agora na mira da factura obrigatória. E o que acontecerá com os técnicos das reparações de automóveis ou de electrodomésticos quando fazem os orçamentos e levantam a questão “Quer com ou sem IVA”? Bem, aí há que ponderar. É que, por exemplo, num arranjo de 500 euros, 115 euros de IVA já pesa um bocado e, se o não pagarmos, já dá para ir jantar a um bom restaurante onde – fatalmente – iremos pedir factura.
Deu para perceber?

quarta-feira, março 02, 2011

É urgente! Queremos mais e mais canções de protesto


Para aqueles que não são muito amigos de ouvir música é bom que (pelo menos) tenham consciência que ela serve para alguma coisa além, naturalmente, de poder fazer estremecer as paredes da casa ou pôr os vizinhos à beira de um ataque de nervos quando o som tem uns quantos decibéis a mais.

A música alimenta e enriquece o espírito, faz-nos sonhar e, quantas vezes, tem o condão de nos despertar para certas realidades da vida. Como no caso das chamadas músicas de intervenção, que parecem ter voltado à ribalta e que julgávamos terem sido arquivadas após os tempos da ditadura e da gloriosa época do PREC. Já aqui nos referimos aos Deolinda e àquela super-super “canção de protesto” – “Parva que sou” - que se tornou o hino da geração actual. Pois parece que resultou (e não levou muito tempo … convenhamos). Apesar dos versos apenas expressarem “Porque isto está mal e vai continuar, já é uma sorte eu poder estagiar” o Governo já anunciou a interdição dos estágios profissionais não remunerados.
Acho muitíssimo bem. A exploração da rapaziada é chocante e é inaceitável. Há muito que medidas deste tipo deveriam ter sido tomadas. Porém …

Porém, há a necessidade urgentíssima de ecoar pelas salas e pelas praças deste país e, também, pela Assembleia da República, outras canções de protesto e de desespero que lembrem aqueles que são menos jovens mas que são igualmente ignorados ao perderem prematuramente os seus empregos e lançados numa situação que não desejaram e sem qualquer tipo de apoio.

E, já agora, para os idosos e para os pensionistas, cuja luz ao fundo do túnel jamais verão e que não têm associações nem sindicatos que defendam os seus direitos e acalmem as suas angústias. Também para esses é necessário que se soltem canções de protesto, murmuradas/interpretadas pelos Deolinda, pelos Manuela ou pelo Chico dos Anzóis. Tanto me faz.