segunda-feira, junho 27, 2011

Não havia necessidade …

Quando Passos Coelho afirmou em tom firme que nas deslocações à Europa ele e o seu governo passariam a utilizar a classe económica dos aviões, o país bateu as mãos de contente e disse “até que enfim, temos um Primeiro-Ministro que começa por dar o exemplo nas poupanças”. Via-se nesta atitude um bom começo. Afinal, pedem-nos permanentemente sacrifícios e sabe bem ver que o exemplo vem de cima.

Só que Passos Coelho se esqueceu dum pequeníssimo pormenor. É que, ao contrário dos tempos da outra senhora em que todas as notícias eram escamoteadas pelo lápis azul da censura, hoje tudo vem a público, mais cedo ou mais tarde. E assim ficou-se a saber que a TAP dispensa os ministros e secretários de Estado de qualquer despesa em deslocações oficiais. O que, de resto, já acontecia com todos os membros do anterior Governo. Ou seja, embora o PM pretendesse mostrar que a moralização e contenção das despesas começava por ele próprio ao trocar, na ida a Bruxelas para participar no seu primeiro Conselho Europeu, a classe executiva pela económica, a verdade é que ele trocou o nada pagar pelo não pagar nada. Poupou zero.

Teria sido um sinal, dirão alguns. Marketing político, digo eu que já estou, há muito, acostumado a esquemas deste tipo. Habituado e farto de viver “na terra dos sonhos”, como na canção do Jorge Palma ou “na terra das trapaças” como sentimos todos nós.

Mas, se querem saber, interessa-me pouco se a rapaziada viaja em executiva ou não. Preocupam-me mais as medidas que vão ser anunciadas em breve e que, essas sim, vão ser o sinal de como vamos sofrer as agruras da austeridade anunciada. O resto é o costumado populismo das afirmações, o entusiasmo de quem se entretém na discussão das coisas pequenas.

Ainda assim, o que se passou, leva-me a colocar duas questões:
1 – Justificar-se-á que a TAP não seja paga pelas passagens dos governantes? Eu sei que o custo sairia dos cofres do Estado para entrar nas contas da TAP (igualmente do Estado). Mas, apesar disso, se tudo se passasse como se o Governo fosse “um cliente normal”, e as verbas fossem imputadas nos sítios certos, estou em crer que haveria maior transparência e rigor nas despesas efectuadas por cada organismo. O controlo seria mais eficaz.
2 – Para que é que Passos Coelho anunciou uma medida que, na prática, já era seguida? Isto é, Passos não poupou dinheiro porque o Governo não paga bilhetes na TAP. Que coisa foi esta, então? É que não havia necessidade …

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