quinta-feira, julho 28, 2011

Uns dias de férias



Como é habitual, fazemos aqui a nossa pausa para férias.
O blogue volta em 31 de Agosto, dia em que o “Por Linhas Tortas” faz anos. Estaremos aqui para festejar a data.
Fiquem bem.
Té já!


quarta-feira, julho 27, 2011

Até que enfim!



Não é todos os dias (aliás, é raríssimo) que um Ministro se disponha a ir a um aeroporto para receber uns quantos portugueses que se destacaram numa competição lá fora. A exemplo, aliás, do que acontece com a maioria da população que, de uma forma geral, se está nas tintas para aqueles que, nas várias actividades, conseguem atingir a excelência fora (e dentro) de fronteiras. A excepção resume-se aos adeptos do futebol que raramente deixam os seus créditos por mãos alheias, isto é, enchem as zonas de chegada dos aeroportos para saudar os seus clubes, nomeadamente a rapaziada do norte que tem tido muito mais razões para festejar do que os do sul.


Como referi, não é normal que um Ministro vá receber uma equipa (ou uma personalidade) vencedora numa competição internacional. Mas às vezes o improvável acontece. Há dias o novo Ministro da Educação e Ciência – Nuno Crato - recebeu no aeroporto de Lisboa a comitiva que concorreu às Olimpíadas Internacionais de Matemática. Uma equipa fantástica que conseguiu uma medalha de ouro e duas de bronze. Feito inédito e valoroso de que nos devemos orgulhar.


E devemos, também, aplaudir, a presença do Ministro. Se para alguns a sua atitude é considerada populista, para mim, ela representa o reconhecimento oficial de um governante que quis publicamente dar o devido relevo ao mérito daqueles jovens. É um estímulo que lhes deve ter sabido bem e que demonstra que, cá no burgo, ainda há quem se preocupe com outras coisas para além do futebol. Até que enfim!


terça-feira, julho 26, 2011

Vivó luxo



Fiquei embasbacado quando ouvi no último domingo na sua habitual crónica da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa denunciar que o Ministério da Cultura tinha um apartamento em Veneza para albergar convidados do Estado. Sobretudo, adiantou, aquando da Bienal de Veneza.


O que só prova que o facto de andarmos literalmente de mão estendida à caridade internacional e de, nós contribuintes, sermos sistematicamente sobrecarregados de impostos, não impede, ainda assim, que apresentemos uma fachada de alguma prosperidade. Ou seja, “Está-se bem”, na versão mais moderna ou “Pobretes mas alegretes” como se dizia dantes.


Com que então, um apartamento na maravilhosa Veneza para acolher as distintas personalidades que vão visitar a Bienal de Veneza, a exposição internacional de arte que se realiza desde 1895, de dois em dois anos. Perante isto só me ocorre dizer “Vivó luxo”.


segunda-feira, julho 25, 2011

Poupar? Perante isto continuam a pedir-nos para poupar?



Claro que não se pode confiar em tudo o que é veiculado pela net e, por isso, tenho sempre o maior cuidado em reencaminhar os mails que recebo e abstenho-me de tecer grandes comentários a certos assuntos, sobretudo aqueles que nos causam mais admiração ou maior revolta.
Porém, às vezes, a coisa é mesmo a sério, como aquele que agora veio a público e está a ser amplamente divulgado nas redes sociais, nos blogues e através de mails. A presidente da Assembleia da República - Assunção Esteves – atribuiu a Mota Amaral, na qualidade de ex-presidente do Parlamento, um gabinete, uma secretária, um BMW 320 e um motorista.
Diz o despacho publicado no Diário da República, II Série-E – Número 1, de 24 de Junho de 2011:


“Ao abrigo do disposto no artigo 13.º da Lei de Organização e Funcionamento dos Serviços da Assembleia da República (LOFAR), publicada em anexo à Lei n.º 28/2003, de 30 de Julho, e do n.º 8, alínea a), do artigo 1.º da Resolução da Assembleia da República n.º 57/2004, de 6 de Agosto, alterada pela Resolução da Assembleia da República n.º 12/2007, de 20 de Março, determino o seguinte:
a) Atribuir ao Sr. Deputado João Bosco Mota Amaral, que foi Presidente da Assembleia da República na IX Legislatura, gabinete próprio no andar nobre do Palácio de São Bento;

b) Afectar a tal gabinete as salas n.º 5001, para o ex-Presidente da Assembleia da República, e n.º 5003, para a sua secretária;

c) Destacar para o desempenho desta função a funcionária do quadro da Assembleia da República, com a categoria de assessora parlamentar, Dr.a Anabela Fernandes Simão;

d) Atribuir a viatura BMW, modelo 320, com a matrícula 86-GU-77, para uso pessoal do ex-Presidente da Assembleia da República;

e) Encarregar da mesma viatura o funcionário do quadro de pessoal da Assembleia da República, com a qualificação de motorista, Sr. João Jorge Lopes Gueidão;

Palácio de São Bento, 21de Junho de 2011
A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção Esteves”


Assim, tal e qual. Esta é a prova provada de que a nossa Assembleia da República, não aplica a si própria a contenção que o governo tem vindo a impor aos portugueses. E o que os portugueses não conseguem entender - e ainda que as leis permitam que as benesses atribuídas às 2ªs figuras do Estado (mesmo quando deixam o cargo) - é que essas leis não sejam imediatamente revogadas, dado o estado actual do país. Tanto mais que é o erário público que suporta esses custos.


Apesar dos “sinais”, como aqui comentávamos há dias, isto não vai lá só com viagens em turística e com a possibilidade de se trabalhar sem gravata. Não, é preciso mais …


sexta-feira, julho 22, 2011

Anomalias do Amor



Eugénio de Castro (1869 – 1944), foi considerado, na sua época, pela crítica em geral como um poeta modesto. No entanto, teve um grande contributo na renovação da literatura em Portugal, aproximando-a das modernas concepções europeias.


De Eugénio de Castro “Anomalias do Amor”


Velhinhos há de coração ardente,
Como há mancebos de alma encanecida;
Cedo anoitece para uns a vida
E para outros não tem fim o poente.


O moço para o amor indiferente
É campa de si mesmo, arrefecida,
E o velho, que ama com paixão dorida,
Dentro do peito um prisioneiro sente.


Um leva o coração, de neve cheio,
Arde o outro em chamas rútilas, inquietas,
E ambos, descalços, vão pisando as brasas…


Qual merece mais dó? Sábios, dizei-o:
O moço que só anda de muletas,
Ou o velho que ainda quer ter asas?



quinta-feira, julho 21, 2011

Uma coisa é a corrupção e outra o amor pelo Glorioso


Há muito que se sabe das “ligações perigosas” entre a indústria farmacêutica e a classe médica, onde a tão badalada corrupção se materializa através de viagens e fins-de-semana em estâncias turísticas (algumas em lugares distantes e paradisíacos e muitas vezes a pretexto de congressos científicos ou acções de formação), cheques-prenda, consolas ou até mesmo “dinheiro vivo” entregue em sobrescritos. Tudo isso e muito mais oferecido a médicos como contrapartida da prescrição dos medicamentos oriundos dos vários laboratórios. Quanto mais embalagens forem receitadas, maior será o valor da contrapartida. E, assim, neste esquema em que não há culpados, lá se tem vivido, com alegria e impunidade. Mas isso já nós sabíamos e condenávamos, e embora seja crime, parece que nos habituámos à ideia.


Agora a novidade é que foram apanhados alguns clínicos que em troca das tais prescrições aceitaram bilhetes para jogos internacionais do Benfica e as respectivas estadas em Lisboa. E este facto – o de virem assistir aos jogos do Glorioso - altera tudo. É que o favorzito, neste caso, nunca poderá ser considerado um crime mas antes a manifestação mais forte de fervor nacional. Provavelmente os senhores doutores pensarão “Ah, é pr’a ir ver o Benfica, então vou receitar uma caterva dos vossos medicamentos”. E, por esta ser uma boa razão, constitui uma atenuante de peso, caso algum mal intencionado advogado se lembre de colocar uma acção contra esse distinto médico benfiquista. Não concordam? É que uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa.

quarta-feira, julho 20, 2011

E se Portugal vendesse o ouro?



Com a escalada do preço do ouro nos mercados internacionais nos últimos dias, logo se equacionou a hipótese de Portugal vender as suas reservas de ouro para amortizar a dívida que tem. Uns (cá de dentro), por pura ignorância dos acordos entre o Banco Central Europeu e os Bancos Centrais dos vários países, outros (os de lá de fora e, sobretudo, os alemães), a colocarem mais lenha na fogueira e a defender que deveríamos vender mesmo o nosso ouro antes de pensar em receber o empréstimo (a ajuda) já combinada com as instâncias internacionais.


E a verdade é que tendo o nosso país uma quantidade apreciável de ouro (382,5 toneladas que faz de nós a sétima nação do mundo com maior reserva de ouro) parece da mais elementar sensatez desfazermo-nos das barras de ouro para liquidarmos as nossas dívidas e acabar com os nossos problemas. Parece mas não é.


E não é por duas razões básicas. A primeira, porque o ouro é propriedade do Banco de Portugal e não do Estado e, portanto, se fosse vendido, o lucro era do BdP que, quando muito, distribuiria, mais tarde, os dividendos ao patrão-Estado. A segunda é que, mesmo que o nosso ouro valha agora 11,6 mil milhões de euros não chega nem de longe para cobrir a nossa dívida pública que é de 159,6 mil milhões de euros e um défice de 14,9 mil milhões.


Daí que, mesmo que isso fosse possível, para quê alienar uma reserva que não iria resolver coisíssima nenhuma? O que faz sentido, isso sim, é que o Estado mude de atitude e promova o necessário para reactivar o seu tecido produtivo a fim de gerar riqueza. Enquanto isso, irá agindo pelo lado da receita fácil, isto é, vai continuar a lançar mais impostos sobre os cidadãos.


Portanto, vão-se preparando para mais impostos que, fatalmente, chegarão e esqueçam a pergunta “e se Portugal vendesse o ouro?”. Como se disse, além de não poder, isso não resolveria os nossos problemas. E, já agora, esqueçam também a velha frase “vão-se os anéis mas fiquem os dedos” porque mesmo que se vendessem os anéis (o ouro), ficaríamos com os dedos (neste caso, as dívidas) ligados a um futuro nada risonho.


terça-feira, julho 19, 2011

“Souvenir de Portugal”



Para ser franco não me impressionou por aí além o facto de uma fabriqueta nacional comprar produtos lá fora para, depois, os vender aos turistas como “Produto de Portugal”. Fiquei indignado, isso sim, quando há uns anos se soube que alguns países andavam a produzir o nosso “vinho do Porto” de uvas que nasciam lá nas suas terras quando o verdadeiro “Porto” é legitimamente um vinho natural e fortificado, produzido exclusivamente a partir de uvas provenientes da região demarcada do Douro, em Portugal. E não é despiciente a forma como é utilizada a palavra “exclusivamente”.


O que se passa com este “produto algarvio” é que a empresa da zona de Torres Vedras que vai comprar a granel os figos secos à Turquia e o miolo de amêndoa aos Estados Unidos (por serem mais baratinhos) embala-os, depois, da mesmíssima forma como sempre se fez no Algarve e vende o produto final como um “Souvenir de Portugal”. Só não se sabe em que parte do mundo foram comprar os cestos e os celofanes.


Poder-se-á dizer que se está a vender gato por lebre. É verdade que sim, mas a verdade também é que o produto (a sua criação) é tradicional cá da terra e provavelmente dá trabalho a alguns portugueses que trabalham na tal fabriqueta. E não deixa de ser também uma lembrança de Portugal, o país onde os estrangeiros (e se calhar os nacionais) adquiriram a mercadoria. Ainda assim, e para aqueles que se mostram mais indignados com a “marosca”, apetece-me perguntar se nunca compraram uma peça de roupa ou de artesanato num determinado país que, mais tarde e depois do regresso a casa, verificaram ter sido feita na China ou na Índia?


O que se questiona verdadeiramente é se em vez de irem comprar a matéria-prima lá fora não o poderiam ter feito cá dentro, no próprio Algarve … terra de maravilhosas praias e de figueiras e amendoeiras. Quanto mais não fosse por uma questão de nacionalismo, num tempo em que o país tanto necessita da ajuda de todos nós.

segunda-feira, julho 18, 2011

Poupanças imprescindíveis?

Quando os Governos tomam posse os cidadãos costumam mostrar alguma condescendência para com quem chega, o período de tempo a que normalmente se chama o “estado de graça”. Com isso, dá-se alguma folga aos novos governantes para que tenham tempo para conhecer os dossiers e os cantos à casa para, só depois, começarem a actuar. Porém, devido à situação em que se encontra o país, este Governo não tem direito ao tal “estado de graça”. As soluções têm que aparecer e já. Mas que soluções, e a que preço? Vejamos duas delas:

1 - Assunção Cristas, responsável pelo super Ministério da Agricultura, Mar e Ordenamento do Território entrou a matar. Para conseguir reduzir as despesas do Ministério, direccionou a sua atenção para o ar condicionado. Assim, e para manter frescos e operacionais os funcionários sem gastar demasiada energia, decidiu que os homens poderão trabalhar sem gravata enquanto que as senhoras poderão envergar trajes um pouco mais ligeiros. O ar condicionado vai continuar ligado mas não poderá estar acima dos 25º. Contudo, para além do aspecto ambiental da medida, fica por saber que ganhos significativos se irão conseguir? Ao que confessou a Ministra, nem ela tem noção disso, pelo que se prevê que, nos próximos meses, para que se registe ainda maior poupança, os homens possam vir a vestir camisolas de alças à camionista e elas bikinis e, claro está, todos eles devem calçar havaianas. Tudo em prol duma factura de energia com valores mais baixos.


2 – Como foi anunciado o Governo encolheu, tem menos Ministérios e um dos que desapareceu e foi substituído por uma Secretaria de Estado foi o da Cultura. Mau sinal, digo eu. Embora os dinheiros devam ser canalizados para sectores considerados prioritários (e a cultura não é seguramente um deles) é pelo menos preocupante que venha ser dada menor atenção às várias iniciativas culturais do país. Preocupação que se tornou ainda maior quando ficámos a saber que o Secretário de Estado da Cultura – Francisco José Viegas – é o único dos três Secretários de Estado que dependem do Primeiro-Ministro que não tem direito a assistir às reuniões do Conselho de Ministros. Não sendo uma desconsideração pelo Secretário de Estado (e acredito que não seja) por que é que a Cultura está impedida de se sentar na mesa do poder? Terão medo que ele fale mesmo sobre cultura ou será apenas para poupar o custo de uma cadeira?


sexta-feira, julho 15, 2011

“Derrapagens”

A notícia já nem surpreende mas, de qualquer forma, regista-se. Então não é que, em dois anos, quatro administradores dos Correios de Portugal (CTT) percorreram, nos carros que lhes estão atribuídos (três Audi e um Mercedes), o número total de quilómetros previstos para quatro anos?

Claro que não se põe em causa as necessidades absolutas de se deslocarem – em serviço – mais do que tinham previsto, tanto mais que a empresa (ou parte dela) faz parte do plano de privatizações anunciadas e, por isso, há muitas voltas a dar. Quando muito pode-se é questionar se o planeamento foi bem pensado.

E questiona-se, também, a razão que leva a empresa a suportar os 12 900 euros adicionais de combustível quando o regulamento interno dos CTT estabelece que os demais funcionários são obrigados a pagar do seu bolso sempre que a quilometragem permitida do seu carro de serviço é excedida.

E a pergunta parece óbvia, porque é que a aplicação das regras relativas a “derrapagens” (já que falamos de carros) é diferente quando se trata de administradores ou de outros empregados?


quinta-feira, julho 14, 2011

Sinais

Sempre achei que as palavras têm uma grande força, um significado próprio, que podem dar, se bem aplicadas, maior realce ao que se pretende transmitir. Quer as palavras ditas quer as escritas. Da mesma forma que em política os sinais dados pelos diversos agentes (no governo ou fora dele) constituem indícios, linhas de orientação daquilo que se propõem fazer. Bem ou mal.


Vem isto a propósito do recente anúncio do Primeiro-Ministro em reduzir ou terminar com certos privilégios que os membros do Governo têm tido até agora. Passos Coelho determinou, por exemplo, que os Ministros deixem de ter direito a carro para uso pessoal (fins-de-semana ou deslocações privadas) e que acabem os cartões de crédito para despesas de representação. Como já tinha decidido, também, que os membros do Governo iam começar a utilizar a classe económica em viagens aéreas dentro da Europa.


Para muitos, medidas como estas não passam de pura demagogia. Para outros, elas são perfeitamente inúteis já que não nos vão tirar da situação difícil em que nos encontramos. Mas, lá está, são os tais sinais (espero que estes sejam bons), que vêm ao encontro de uma vontade que a todos nós assiste há muito. Que o exemplo venha de cima, como que a transmitir que não são apenas os do costume a suportar todos os sacrifícios.


terça-feira, julho 12, 2011

Palíndromo, Tautologia e Cª. Lda.



Ah pois é. A língua portuguesa é tão complexa que, às vezes (muitas vezes), nos deixa completamente boquiabertos.


Eu que sei quase tudo, confesso que não fazia a mínima ideia que houvesse um palíndromo nem, tão-pouco, uma tautologia, termos que, à primeira vista, parecem-me coisas do período paleolítico ou quejando.


De qualquer forma e por via das dúvidas consultei o dicionário e lá estavam as duas palavras - altaneiras, vivas e resplandecentes - como que a troçar da minha cara à banda por tamanha ignorância. Especificando …


Palíndromo – Adjectivo – Diz-se da palavra ou da frase em que o sentido é o mesmo, quer se leia da esquerda para a direita quer da direita para a esquerda.
Exemplos de palavras:
OVO – OSSO – RADAR
De frases:
A DROGA DA GORDA
A TORRE DA DERROTA
O GALO AMA O LAGO
Resumindo um palíndromo é uma palavra ou uma frase que se lê da mesma maneira da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda.

Já a Tautologia é um substantivo feminino que significa a repetição inútil da mesma ideia.
Exemplos:
Subir para cima
Acabamento final
Todos foram unânimes
Criação nova
Ou seja, repetições que são perfeitamente dispensáveis.

Bem, por hoje o caldo de cultura está dado. Fiquemo-nos, então, por aqui antes que haja uma “surpresa inesperada”.
Ohps!!! Será que existirá alguma surpresa esperada?


segunda-feira, julho 11, 2011

Somos LIXO ?????????????????


Bem sei que o comentário feito pelo José ao post publicado na última sexta-feira se integrava num outro contexto, mas à sua pergunta “Unanimidade é coisa que exista?” quase que sou obrigado a responder que sim, que existe, pelo menos em relação à reacção portuguesa e europeia à descida do rating de Portugal para uma categoria considerada "lixo". Classificação essa que nos deixou muito abalados. Ninguém gostou que nos considerassem LIXO! Aliás, esta foi, indiscutivelmente, a palavra mais utilizada na semana passada e, quem sabe, se não será a que mais peso terá nos próximos tempos em Portugal e lá fora.

Na verdade, foi violenta a reacção da maioria dos políticos, dos economistas e da generalidade das pessoas ao considerarem que se tratou de uma medida injustificada face aos compromissos que assumimos com a troika e face às medidas duras já anunciadas pelo recém-empossado governo com maioria parlamentar. Para a maioria dos cidadãos, houve arrogância e análise superficial e ignorante por parte da agência de notação.

Pode até ter havido todas essas coisas mas o que, quanto a mim, está por detrás de tudo isto são os interesses (os ganhos) dos clientes destas agências (e delas próprias) que assentam num princípio bem definido “quanto mais um país e as suas grandes empresas correrem o risco de não pagar, mais estes senhores ganham”. Como disse José Gomes Ferreira num comentário recente “só os ingénuos é que podem pensar que estas descidas de rating têm a ver com critérios puramente técnicos”. Portanto, e sejamos claros, existe especulação pura e dura. Isto, claro está, para além da guerra suja entre o euro e o dólar, em que o primeiro se valoriza consistentemente em relação à moeda americana e, portanto, há que, de uma vez por todas, dar cabo do euro através da liquidação dos alvos mais fáceis, para já a Grécia, a Irlanda e Portugal. E não julguem que estou para aqui a magicar uma teoria da conspiração, porque ela – a conspiração - existe mesmo.

No meio da tormenta, em que parece que toda a gente anda enjoada mas onde ninguém toma medidas, houve uma acção levada a cabo pela agência de publicidade BBDO Portugal a que achei imensa piada. Em protesto contra o corte de notação que nos classificou em “lixo”, os criativos da BBDO encheram um saco de lixo verdadeiro e enviaram-no pelos correios para a sede da Moody’s, nos Estados Unidos. Todo o processo foi gravado em vídeo que está disponível no YouTube - http://www.youtube.com/watch?v=Y3hnH1ezHzY – que é acompanhado pela música 'Fuck You', de Cee Lo Green. Uma nota final para a última imagem do vídeo. Uma frase, uma mensagem bem conseguida, em minha opinião:

“Working to improve our rating

Assinada: Portugal”

sexta-feira, julho 08, 2011

Nada me faltará

Penso que todos, e de todos os quadrantes políticos, são unânimes na admiração que tinham por Maria José Nogueira Pinto. Sempre a considerei uma mulher íntegra e de convicções que, independentemente das ideologias, lutava por aquilo em que acreditava. Ela morreu. Presto-lhe uma singela homenagem transcrevendo a última crónica que escreveu, publicada no Diário de Notícias. Uma crónica de grande dignidade e coragem:


“Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.
Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.
Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.
Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.
Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.
Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.
Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.
Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.
A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.
Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.
Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.”


quinta-feira, julho 07, 2011

Uma idosa teve direito a um acréscimo de 1 euro por mês na sua pensão

A história que vos recordo hoje, está na ordem do dia e só prova, a quem dúvidas tivesse, que o Estado é pessoa de bem. Conta-se em duas palavras.


Joana Sampaio é uma senhora de 88 anos que vive na freguesia de Delães, perto da Marinha Grande. Por ter toda a vida trabalhado na agricultura recebe agora uma merecida e generosa pensão de … 299 euros. Mas a Segurança Social, sempre atenta, informou a senhora que teria direito a receber o chamado Complemento Solidário de Reforma, bastando para isso que iniciasse um processo de candidatura que devia incluir as declarações de IRS dos seus seis filhos. Nada mais fácil, pois, para poder acrescentar aos seus rendimentos o simpático montante de 1 (um) euro. Leram bem, a D. Joana poderia assim, de um momento para o outro, receber de mão beijada e sob sugestão da própria Segurança Social, mais 1 euro todos os meses. Mas …


Como em outras histórias, esta também tem um lamentável mas. Como se não fosse, já de si, ridícula a verba atribuída, a Segurança Social só efectuará o pagamento quando o valor atingir um mínimo de cinco euros. Quer dizer, de cinco em cinco meses vai ser enviado um chorudo cheque de 5 euros. Uma fortuna. Se bem que, após ter iniciado o processo de candidatura, em Fevereiro de 2008, ainda não tivesse recebido qualquer cheque. Quer dizer, regras são regras mas o raio das burocracias às vezes tem destes imponderáveis.


De qualquer forma, apraz-me registar duas coisas: a primeira é que, como já referi, o Estado, mesmo em contenção, não esquece os seus cidadãos e, a outra, é que o mesmo Estado está atento aos exageros que os cidadãos cometem quando o dinheiro abunda. Daí que dê mas parcimoniosamente. Como neste caso, em que algum responsável de pacotilha deve ter pensado: “D . Joana tome lá mais um euro por mês mas cuidado, não se alambaze”.


quarta-feira, julho 06, 2011

As falsas receitas médicas

Há dias quando conversava com um médico amigo falei-lhe, à laia de provocação, no caso das falsas receitas médicas, do crime de milhões de euros que está ainda a ser investigado. Ele não me deu grande saída, disse que em relação às vinhetas elas são facilmente falsificáveis mas percebi que a situação não lhe era confortável porque toda a classe médica estava sob suspeita, ele incluído.

Sobre a fraude em si mesma espero que os peritos consigam chegar a conclusões mas, como cidadão, não posso deixar de me espantar com a inexistência de controlos ou, a existirem com a sua falta de eficácia que permite que aconteçam coisas absolutamente extraordinárias, como por exemplo, a de um só médico ter passado 2400 receitas por mês, ou seja, 120 por cada dia útil, num total de 32 mil por ano.

Falha de controlo essa que admite também que médicos partilhem o mesmo número de cédula profissional, ou que médicos tenham 3 cédulas profissionais com números diferentes ou, ainda, que médicos que já morreram continuem a passar receitas. E o que dizer das vendas de medicamentos fictícias a doentes já falecidos?

Um conjunto de ilegalidades que levam a que, só em 2010, a fraude tenha atingido nada menos do que 40% da despesa do Estado com medicamentos. É obra.

Mas se não pretendo usar a ironia para realçar a magnífica performance de um médico que, só à sua conta, consegue prescrever 120 receitas por dia nem para me dizer perfeitamente atónito com a capacidade de clínicos já falecidos que continuam a passar receitas, quero, todavia, manifestar a minha mais profunda indignação por constatar que este tipo de fraudes continua a verificar-se apesar da existência de sistemas informáticos sofisticados. Até quando?

terça-feira, julho 05, 2011

Uma alforreca chamada Passos



Acredito que todos saibam o que é uma alforreca. O que não sei é se saberão quem é João Gonçalves, o actual adjunto político de Miguel Relvas, o Ministro dos Assuntos Parlamentares. Eu não sabia, confesso.

Pois João Gonçalves é o autor de um blogue muito conhecido que escreve umas coisas um tanto ou quanto “inconvenientes” e que lhe poderiam causar alguns amargos de boca. Neste caso, porém, não se deu mal.

Vejamos, então, alguns dos comentários (que transcrevo do Expresso desta semana) que fez sobre o actual Primeiro-Ministro:

Quando há nove meses Passos Coelho apresentou uma proposta de revisão constitucional, João Gonçalves escreveu: “Insensível ao curso da realidade, tal qual uma alforreca perdida com a mudança das marés e das correntes. Passos deu à costa com um tema perfeitamente escusado, mal explicado e sem o menor interesse. Passos já vai na terceira ou quarta oportunidade e ainda não conseguiu uma primeira boa impressão. Palpita-me que tem um lindo futuro atrás dele”.
Em 2010, depois de ver uma entrevista de Passos Coelho à RTP, Gonçalves desabafava: “dói-me a tola. Passos provoca enxaqueca porque aquilo é Sócrates sem os anos de palco que Sócrates leva … oscila entre o velho cacique da jota e o antigo candidato à Câmara da Amadora, numa gravitas que cheira a falso”.
Numa outra entrevista em Dezembro de 2009, comentou: “Reparem na clareza dos lugares-comuns facilmente parafraseáveis por um qualquer Secretário de Estado da nomenclatura de Sócrates. Reparem na subtileza digna de um mediano treinador de futebol”.

Ao longo dos tempos, João Gonçalves foi bastante agressivo com Pedro Passos Coelho e com o próprio Miguel Relvas, de quem agora depende. Mas a verdade é que a vida dá muitas voltas e os “encontrões” que Passos Coelho levou do bloguista parecem não o ter ofendido, nem sequer quando lhe chamou alforreca. Afinal as alforrecas vivem no mar e Portugal é um país de marinheiros …

segunda-feira, julho 04, 2011

Necessito ver resultados. Só a mudança de tom não chega



Já se via por aí muita gente a bater palmas ao novo Governo. Provavelmente pela forma discreta como se organizaram, pela juventude dos seus membros que deixava antever a ausência de vícios que se conheciam aos anteriores e, sobretudo, pela esperança de uma mensagem que apontasse para uma maior transparência. A tal “verdade ao povo” que o povo tanto ansiava.

Mas as palmas têm vindo a diminuir desde o debate do programa de Governo que foi efectuado na Assembleia da República na semana passada. Não porque esse primeiro encontro tivesse sido marcado por toda aquela crispação a que nos habituámos nos últimos anos. Ao contrário, houve uma calma e uma civilidade muito grande e uma enorme mudança de tom. Possíveis, penso eu, pela expectativa da oposição mas, também, pela postura que os novos ministros apresentaram. Muitos deles tão serenos que pareciam pedir desculpa por estarem ali.

Mas, então, por que é que as palmas têm vindo a abrandar? Principalmente porque a mudança de tom não é, por si só, suficiente e as “mentirinhas” que já conhecíamos a outros executivos começaram a aparecer. Pois não foi este Primeiro-Ministro que garantiu há poucos meses que, a aumentar os impostos só o faria sobre aqueles que penalizassem o consumo e nunca os dos rendimentos? Pois foi e aí está, preto no branco, o imposto extra sobre o subsídio de Natal que vai afectar uns largos milhões de portugueses. Na senda de Guterres, de Durão Barroso e de Sócrates, também Passos Coelho prometeu e não cumpriu.

Mas há uma coisa que me deixa ainda mais perplexo. Como justificar que se tenha aberto uma crise política e derrubado um governo a pretexto de que o famosíssimo PEC 4 não resolvia os problemas do país e, nomeadamente, com o argumento de que não havia motivos para que um pacote daqueles viesse a castigar ainda mais os portugueses? E o que se verifica, é que a nova maioria, uma vez no poleiro, apresenta um programa (chamemos-lhe PEC 5) que responde ao memorando assinado com a troika (pudera, tinha que ser) mas é ainda mais arrojado e mais penalizador para os cidadãos do que o outro que tinha sido rejeitado.

Até agora, o único apontamento positivo (se é que se pode considerar assim) consiste na mudança de tom. Aparentemente há mais serenidade e maior abertura para responder aos adversários mas, quanto ao resto, fico à espera. É que eu, ao contrário de muito boa gente, não costumo avaliar as pessoas apenas pela simpatia ou pela escolha das gravatas ou dos adereços que utilizam. Necessito ver resultados e esses (para além do 13º) ainda levam algum tempo a chegar. É que a procissão ainda vai no adro…


sexta-feira, julho 01, 2011

A minha tragédia




Do poeta português Al Berto (1948 – 1997) “A minha tragédia”


Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minh’alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!

Ó minha vã, inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!...

Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!

Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...