terça-feira, dezembro 06, 2011

“Suite 605”



Para aqueles que ainda têm dúvidas sobre o que é realmente a zona franca da Madeira (depois de anos a quererem convencer-nos do contrário), sugiro que leiam o livro que o economista João Pedro Martins, especialista em comércio internacional, publicou recentemente. “Suite 605” conta a história secreta de centenas de empresas que cabem numa sala de 100 m2”, instalada no paraíso fiscal da Madeira. Um espaço do tamanho de um mosaico de cozinha atribuído a cada uma dessas empresas fictícias (onde multinacionais coabitam com empresários portugueses) cuja verdadeira actividade se traduz na fuga aos impostos e ao branqueamento de capitais, de forma legal. A chamada “burla legal”.


Segundo o autor há “um ninho de corrupção na Madeira e um viveiro do crime organizado onde a elite corrupta que capturou a economia e o poder político se recusa a pagar impostos”. Mas diz mais, “as máfias russas e italianas estão lá a lavar dinheiro … perante a complacência das autoridades portuguesas, uma responsabilidade que é imputada transversalmente a vários políticos da Madeira e do Continente”.


Contudo, quando se levanta a questão sobre o que é que sucederia se acabasse o offshore da Madeira, a resposta recorrente é que seria um desastre. Mas não é assim. Com tanta aldrabice, o PIB está inflacionado e, assim, o que acontece é que Portugal perde para além de credibilidade, cerca de 500 milhões de euros de fundos comunitários. Quanto à Madeira, com 30% da população a viver abaixo do limiar da pobreza, não tem acesso a fundos comunitários nem a verbas do OE exactamente porque o PIB da Região está também muito inflacionado.


Há dez milhões de milhões de euros que estão estacionados em paraísos fiscais (na Madeira e por todo o mundo). É muito, muito dinheiro.


Em “Suite 605” põe-se o dedo na ferida. Continua, porém, a faltar a coragem política para se acabar com este crime organizado.


1 comentário:

Anónimo disse...

Curioso é o facto do livro não se encontrar à venda nas grandes superfícies... Será que a censura está de volta?