sexta-feira, janeiro 28, 2011

Beba café mas … com cuidado

Para aqueles que se costumam interrogar sobre o perigo que a ingestão do café possa causar à saúde – eu que sou um fiel amante do mesmo – diria que se tomado com equilíbrio, ele só faz bem. Excluindo, naturalmente, os casos em que doenças específicas assim o desaconselhem.

Mas vejam só. A cafeína de duas ou três bicas por dia fornece a energia e o alento intelectual necessário para que possamos enfrentar os maiores desafios do dia-a-dia. Mais ou menos, já se vê. Só é preciso não abusar e é fundamental que se beba com cuidado.

Cuidado em todos os sentidos, saliente-se. Por exemplo, cuidado para não acontecer o mesmo que ao piloto de uma companhia aérea norte-americana que entornou inadvertidamente o cafezinho sobre o painel de controlo que, por sua vez, accionou o alarme de sequestro.

Calculem a confusão que se deve ter gerado. O aparelho que voava de Chicago para Frankfurt teve que aterrar de urgência no aeroporto mais próximo para resolver uma situação que, afinal, nem sequer tinha acontecido.

Por analogia com um conhecido slogan da prevenção rodoviária bem se poderá dizer “se pilotares um avião não bebas … café”.

Sim, por que pior (muito pior) do que o café ser derramado nos instrumentos de um avião só um avião cair numa chávena de café.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

As leis, os dirigentes e a impunidade


Receio tornar-me chato por abordar, uma vez mais, este tema. Na verdade, não é a primeira vez que aqui critico o incumprimento generalizado das leis. A começar pelos cidadãos e pelas empresas que não cumprem as suas obrigações mas indigna-me ainda mais quando os prevaricadores são altos dirigentes do país que deveriam ser os primeiros a dar o exemplo.

Como aconteceu no caso de uma lei de 2005 que determina que as aplicações financeiras das empresas públicas devem ser feitas exclusivamente dentro do Tesouro. E é esse o procedimento dos respectivos gestores? Não, essas aplicações vão direitinhas para a banca comercial.

Portanto, a lei existe mas, a exemplo do que acontece vezes de mais no nosso país, ela foi tão bem pensada que se esqueceram da chamada legislação sancionatória - aplicável a quem prevarica - que só foi feita em meados de 2010. “Esquecimentos” que permitem que se branqueiem cinco anos de irregularidades bem como as responsabilidades de quem gere essas empresas. Aliás o Tribunal de Contas chegou a sugerir que esses gestores fossem demitidos mas, como a lei é recente, o Governo achou por bem não actuar.

E este incumprimento não é um pormenor. Muitas das leis são habilidosamente torneadas e só em pouquíssimos casos os gestores faltosos são sancionados quer política quer criminalmente. “Dura Lex Sed Lex”? Não, de todo …

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Triste-Feia e … Pobre




Não fazia a mínima ideia que aquela rua por onde passei tantas vezes tinha o nome de “Triste-Feia”. Singular designação, no mínimo, mas certamente com uma história.

E a verdade é que, segundo apurei, há uma lenda que deu nome à rua. Ao que se conta, moravam naquele local três irmãs. Duas delas de aparência normal e a terceira de feições pouco agradáveis à vista dos rapazes que, quando passavam, fugiam comentando: “que focinho de porca”, ou ainda “que medonha seresma”.

A rapariga até era simpática mas, de facto, para mal dos seus pecados, era feia. E, por isso, triste. E daí, sabe-se lá, ter ficado sozinha na vida. Estava sempre sentada à porta, numa melancolia doente.

Porém, depois de morrer, ninguém a esqueceu. De tal modo que a população quis homenageá-la, dando à rua em que viveu, não o seu nome mas a denominação dos atributos que lhe eram mais evidentes - ser feia e triste. E assim aquela artéria passou a chamar-se “Triste-Feia”.

Só não consegui descobrir se ela era pobre. Se foi, quedaram-se pelo estigma de ser feia e triste. É que na placa bem poderia ler-se “Triste, Feia e Pobre”.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Saiu-nos cara a campanha para a Presidência

E pronto. Já lá vão a pré-campanha, os debates, as arruadas, os comícios, os cartazes e bandeirinhas, a propriamente dita campanha eleitoral, a votação e já temos o novo Presidente que, por acaso, é o mesmíssimo que já lá estava. E ficámos satisfeitos? Não, não estou a falar da pessoa que ganhou, isso tem a ver com as convicções de cada um. Perguntava se estavam satisfeitos com o facto de para podermos assistir a todo este trolaró o Estado ter desembolsado quase doze milhões de euros. Doze milhões, repito!

É que é difícil de aceitar que, sempre que há uma campanha eleitoral, se esbanje tanto dinheiro que, certamente, devia ter melhor utilização. Reparem que eu não estou a sugerir que o melhor seria não haver eleições. Longe disso, sou republicano, amo a democracia e acho indispensável que o povo seja chamado a escolher os seus representantes. Não vejo é necessidade deste folclore todo a que já poucos ligam e quase nada acrescenta. Ainda mais numa campanha para a Presidência da República. Então, o que fazer?

Quanto a mim, o custo da democracia deveria ser repensado. O recurso à internet, os debates na televisão pública e os sítios de cada candidato deveriam ser mais do que suficientes para esclarecer o povo. Já todos percebemos que os actuais métodos cativam muito pouco e a prova está na campanha que acabámos de viver. Não serviu para nada e gastou-se dinheiro de mais.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Um "cê" a mais


Enquanto a isso não for obrigado, não utilizarei aqui no blogue a nova grafia imposta pelo Novo Acordo Ortográfico (não confundir com “A cor do horto gráfico”). Não por teimosia mas por coerência. Continuo a achar que a maior parte das alterações não faz qualquer sentido nem acrescenta qualquer evolução à nossa língua quer para nós portugueses, nem para os outros povos que a falam. Houve, então, interesses que levaram a este resultado? Penso que sim. Mas adiante.

No entanto, nesta minha posição, não estou só. Aliás, estou muito bem acompanhado de personalidades reconhecidas do meio académico e intelectual que se têm manifestado repetidamente contra o Acordo ao longo dos últimos anos.

É o caso de Manuel Halpern, jornalista, escritor e crítico literário que escreveu o delicioso texto que gostaria de partilhar convosco e que passo a transcrever:
“Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.”

Em consciência, digam lá se eu tenho ou não razão para continuar a escrever de acordo com ortografia antiga?

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Às vezes os comentários são “perigosos”


Muitas vezes confunde-se a simples opinião com o ataque pessoal. Não estar de acordo com alguém não significa que estejamos a atacar pessoalmente, apenas quer dizer que não se concorda com as ideias de outrem ou a forma como elas são levadas à prática. Tão simples como isso. Porém, nem todos pensam desta maneira.

Vejam o caso que foi relatado há dias pela imprensa. Um pintor da construção começou a ser julgado pelo crime de difamação por ter feito um comentário sobre Alberto João Jardim. O cidadão participou um fórum on-line e à questão “Acha que AJJ vai abandonar o cargo em 2011?” o homem teve o “desplante” de responder “Oxalá! Essa coisa de defender madeirenses é tudo treta, ele defende mas é alguns madeirenses: subsidiodependentes, empresários gananciosos que tudo querem ganhar à custa dos que pagam impostos”.

Perante isto, hediondo de delito de opinião, como poderia reagir o Presidente do Governo Regional. Obviamente mover a respectiva acção judicial contra o “criminoso”.

Esta história fez-me recuar uns trinta e tal anos quando um simples sussurro era mais do que suficiente para nos mandar directamente para a prisão.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Se calhar a água da torneira não é suficientemente boa para os deputados …

Quando se pedem tantos sacrifícios aos cidadãos e se fala insistentemente na redução da despesa do Estado, pareceu-me fazer todo o sentido a iniciativa de uns quantos deputados de um grupo parlamentar para que na Assembleia da República passasse a ser servida água da torneira (em jarro) em vez de água mineral. Tanto mais que a qualidade da água da Companhia é reconhecidamente de boa qualidade. Gostei da iniciativa e pensei (ingenuamente) que os nossos representantes no Parlamento estavam a dar um sinal claro de que certos privilégios sem sentido estavam a desaparecer. Afinal, quando nós queremos beber água engarrafada pagamos.

Mas não, por proposta da Secretária-Geral da AR (aceite pelo respectivo Conselho de Administração), invocando argumentos que poucos perceberão, foi determinado que a água que será servida aos senhores deputados continuará a ser mineral. E a mais importante das razões aduzidas (e aquela que eu não entendo mesmo) é que se a troca proposta fosse avante, a poupança gerada seria, em 2011, apenas de 7 500 euros. Pouca coisa para tão grande “sacrifício”.

Espero, contudo, que outros departamentos do Estado não tenham o mesmo tipo de raciocínio. É que, como diz o adágio, “grão a grão enche a galinha o papo” e é (também) de pequenas poupanças, feitas aqui e ali, que se conseguem equilibrar os orçamentos.

terça-feira, janeiro 18, 2011

“A tradição continua a ser (mais ou menos) o que era”


Embora tanta vez se diga que “a tradição já não é o que era”, eu achava que ainda havia tradições “à maneira antiga”. A da ceia do Natal, por exemplo. É mesmo a mais paradigmática, aquela que ao longo dos anos e dos desvios mais ou menos significativos da fé de cada um e do desmultiplicar das famílias que se vão formando, a consoada continua a ser a festa (a reunião) da família. Nem que seja uma vez por ano, aquela é a noite da família, do bacalhau, dos fritos, do bolo-rei (embora aqui haja particularidades gastronómicas que não convergem) e da troca de prendas, trazidas antes pelo Menino Jesus e agora, com a função delegada, pelo Pai Natal.

Mas o que eu não sabia mesmo é que a noite de 24 de Dezembro é hoje em dia uma das mais rentáveis do ano em bares e discotecas. Ao que parece, cumprida a “formalidade” do jantar e das prendas, os jovens (e não só) saem para ir arejar e beber uns copos com os amigos. Virou moda trocar o serão familiar por uma noite de convívio fora de portas.

Do mal, o menos. Prescinda-se, então, da tradição de ficar em casa com a família mas preserve-se, pelo menos, o hábito do jantar e, já agora, das prendinhas que devem vir embrulhadas de afectos.

Voltemos à frase com iniciámos esta crónica para actualizá-la: “A tradição continua a ser (mais ou menos) o que era”.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

A reforma da mulher do candidato não chega aos 800 euros


Em Ponte de Lima, em plena acção da campanha eleitoral que está a decorrer, um candidato à Presidência da República foi interpelado por uma idosa que lhe pediu ajuda para conseguir uma reforma, embora reconhecesse que nunca tinha descontado qualquer importância. Querem saber se houve uma palavra de esperança, de conforto ou de genuíno interesse pela situação da senhora? Pois muito bem, a resposta dada foi a seguinte:

“Esta é a minha senhora. Esta senhora trabalhou praticamente a vida toda. Sabe qual é a reforma dela? Não chega a 800 euros por mês. Foi professora em Moçambique, em Portugal, nunca descobriram a reforma dela. Portanto depende de mim, tenho de trabalhar para ela. Mas como ela está sempre ao meu lado e não atrás, merece a minha ajuda”.

Os meus Amigos acham este tipo de resposta normal? Não é, pois não? É que foi dada por um candidato a Presidente da República que, por acaso, já é Presidente da República há cinco anos. Palavras para quê?


sexta-feira, janeiro 14, 2011

Esquecimentos


Certamente que já vos aconteceu ter lapsos de memória. Sucede a todos. Esquecimentos momentâneos de nomes, datas ou situações, nada de muito importante. Diria mesmo que isso é comum, embora isso aconteça mais a uns do que a outros.

Até é natural (e frequente) a partir de determinada idade (não digo qual que é para não ficarem preocupados). Faz parte do processo de envelhecimento.

Mas o que é preocupante mesmo é a falta de memória para determinados factos que mais parecem ser de conveniência.

Como o que aconteceu ao recém-demitido Presidente dos CTT, Estanislau Mata Costa. Então não é que este senhor, que antes tinha sido quadro da PT, recebia dois ordenados, um de Presidente dos Correios (15 000 euros) e outro pelas suas anteriores funções na PT (23 000 euros), empresa com a qual fez um acordo de suspensão de contrato, embora “estranhamente” sem perda de remuneração.
Enquanto durou este lapso de memória - cerca de dois anos – recebeu quase 40 mil euros por mês até que uma auditoria da Inspecção-Geral de Finanças descobriu que ali havia coisa. Uma coisa que pode até ser legal (?) mas que do ponto de vista ético é altamente reprovável.

É caso para pensar que há “esquecimentos” providenciais.


quinta-feira, janeiro 13, 2011

Conservem o lado bom das coisas


O ano que agora começou não vai ser fácil. Aquietem-se, contudo, os que nos lêem, porque para anúncio das desgraças que aí vêem (incluindo a possível entrada em Portugal de um diabo chamado FMI), já bastam os políticos, os economistas, os analistas, os jornalistas e outros quejandos. Aconselho-os, pois, como terapia contra todos esses males, que passem a olhar de uma outra forma para as coisas a que hoje não dão grande valor. Pelo menos para evitar que venham mais tarde a admitir que “eram tão felizes e não sabiam”.

Curiosamente, uma sugestão que foi feita pelo agora cessante embaixador britânico em Lisboa, Alexander Ellis, que propõe, como contrapartida ao pessimismo reinante na nossa sociedade, que reflictamos sobre as coisas boas que existem no nosso país e que ele gostaria que nunca mudassem. Por exemplo:

“- A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para o benefício de todos.

- O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta, não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas com uma sopa, um prato quente etc., tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.

- A variedade da paisagem. Não conheço outro país onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.

- A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.

- O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.

- A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim-de-semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.

- Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.

- As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem-feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.

- A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.”

Como vêem, temos boas condições para resistir. Com dificuldade, admito, mas, ainda assim, mais do que suficientes para vencer. FELIZ 2011!

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Quando eu nasci


Durante as férias natalícias fiz anos. É uma data que teimo em celebrar e da qual, garanto-vos, não pretendo desistir tão cedo. Que querem, manias de gente que insiste em gostar de aniversariar e de receber os cumprimentos (e abraços) dos amigos. E não me venham com a velha história de que isso é coisa de crianças por que, de facto, não é. Algo muda, naturalmente, com o passar dos anos, sobretudo pela ausência das pessoas que já partiram, mas os afectos continuam. E eu dou muito valor a isso.

Mas, hoje, sou eu que vos trago uma prenda. A propósito de aniversários, eis um belo poema de José Régio, “Quando eu nasci”


Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Mourinho, um “orgulhoso português”



Já vão longe os tempos em que me emocionava quando via a bandeira portuguesa a ondular num mastro de qualquer cidade estrangeira.

Também me emocionei quando, anos depois, vi o Carlos Lopes e a Rosa Mota subirem aos mais altos lugares dos pódios das maiores competições internacionais de atletismo. Emocionei-me de novo quando ouvi José Saramago discursar em português ao receber o Nobel da Literatura. Tornei a emocionar-me há horas ao assistir à consagração de José Mourinho ao ser eleito pela FIFA o melhor treinador do ano.

E, desta vez, não foi apenas pelo facto de ser um compatriota a conquistar tal prémio, ele que de facto teve em 2010 uma caminhada tão gloriosa que conquistou tudo o que um treinador de um clube de futebol pode ambicionar ganhar. Não, a minha emoção foi sobretudo por ele ter feito um curto mas significativo discurso em … português (tal como o fizera Saramago) e ter afirmado convicto que falava em português por que era um “orgulhoso português”.

José Mourinho voltou a ser o “Special One” e, momentaneamente, deixámos de falar em “mercados” e em crise. Que mais poderíamos desejar?

Sei lá porquê, fui lembrar-me de uma pergunta feita há meses pelo jornal espanhol “Marca”:

“Qual a diferença entre Deus e Mourinho?” E a resposta óbvia e inteligente foi dada na hora:

“Deus nunca se sentiu Mourinho”.

Para bom entendedor …

segunda-feira, janeiro 10, 2011

1000 posts publicados



Neste início de ano tenho o gosto de publicar o post número mil do “Por Linhas Tortas”. É um número redondo, bem sei, que provavelmente pouco dirá a quem nos acompanha mas que é importante para mim. Desde logo por que já são muitos mas, sobretudo, por que representam, de algum modo, a minha “teimosia” em continuar. E a verdade é que nunca pensei chegar tão longe.

Apesar de este blogue ser generalista (tento, quanto possível, escrevinhar sobre assuntos variados, seria muito mais fácil se se tratasse de um blogue temático), nunca senti a angústia de me faltar um tema. A velha história do jornalista frente à sua máquina e o vazio da folha por escrever. Quem sabe se por imaginar que isso pudesse vir a acontecer, recebi, logo no início, uma mensagem em que um Amigo me dizia:

“Lá virá o tempo em que por falta de melhor tema/assunto se discutirão estes magnos problemas”.

E a que problemas é que se referia este meu Amigo? É que ele achava que a palavra “Despretensiosa” que estava a usar em determinada frase, ficaria mais graciosa e elegante se em vez de usar um s, antes se escrevesse com um c, pelo que a palavra ficaria a ser “Despretenciosa”.

Não tenho quaisquer preferências por uma ou por outra forma, se bem que a segunda – Despretenciosa – ainda não exista oficialmente na nossa língua. E, ao que sei, o novo acordo ortográfico também não alterou a situação. Fico, portanto, na dúvida se a palavra, como pretendia o meu Amigo, ficaria mais graciosa e elegante se escrita com um c.

Incapaz de opinar por uma das duas, decido-me, no entanto, pelo modelo que é hoje oficialmente aceite, isto é “despretensiosa”, não correndo assim o risco de me chamarem a atenção por ter cometido um imperdoável erro ortográfico.

E, em jeito de remate, já que estamos a falar de palavras que têm – ou poderiam vir a ter – cês, deliciem-se com este pequeno poema de um autor conhecido pelo pseudónimo de “Romântico Analfabeto”


E disse o piloto à sua amada
“eu escreveria o seu nome
mil vezes no céu com o
rasto do meu jacto,
Cecília,
Se não fosse tão difícil
Fazer a cedilha”