segunda-feira, março 19, 2012

Uma obsessão?

Não creio que “preocupado” seja o termo mais adequado para expressar o que senti ao ler, na semana passada, que Otelo Saraiva de Carvalho defendia que “as forças armadas, em nome do povo, poderão resolver o problema da perda de soberania de Portugal, derrubando o Governo”.

Não é a primeira vez que o Coronel Otelo, um dos “Capitães de Abril” e peça fundamental do movimento militar que fez cair o regime anterior, sugere que é necessário que haja um novo 25 de Abril porque, segundo ele, “os limites de submissão em relação à Alemanha já foram ultrapassados e as Forças Armadas deveriam actuar, mesmo que contra um Governo eleito democraticamente”.

Compreendo que Otelo sinta alguma nostalgia dos tempos revolucionários em que foi um dos protagonistas, mas os tempos do “poder popular” já lá vão e uma acção (deste tipo) das forças militares em democracia não é a mais ajustada. Das suas palavras pode ficar a impressão que a força é a única solução para que as coisas mudem mas é bom recordar que em 1974 havia uma ditadura e em 2012, em democracia, os que lá estão são eleitos pelos cidadãos.

Por isso digo que as declarações de Otelo não me deixaram propriamente preocupado. Porém, em tempos que são muito difíceis e com tanta gente revoltada e desesperada, afirmações deste jaez podem ser perigosas. Nunca se sabe se alguém, em nome da resolução dos problemas que nos afectam, pode levar por diante algo que, mais tarde, se possa virar contra nós. E essa foi uma experiência que já vivi e não quero ver repetida.

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