quinta-feira, maio 31, 2012

As reavaliações do IMI


Soube-se a semana passada que os funcionários das Finanças que estão a reavaliar os valores patrimoniais de imóveis estão a cometer erros grosseiros. Basicamente por que não vão aos locais e fazem as avaliações dos prédios urbanos com base nos dados constantes das matrizes prediais e das plantas dos imóveis detidos pela Autoridade Tributária e Aduaneira ou em dados fornecidos pelos municípios e, também, com recurso a fotografias e croquis extraídos do Google Maps e de outras plataformas da net. Mas é difícil perceber como conseguem determinadas informações, como, por exemplo, o ano da construção do prédio, que nem sequer consta na planta.

E o resultado desta falta de rigor traduz-se na quantidade de casos em que, depois da avaliação, os valores do IMI triplicam e, em alguns, chegam a ser 20 vezes mais. É incrível!

Claro que os contribuintes têm sempre a opção de contestar os novos montantes. Podem pedir uma segunda avaliação que, a preço de tabela, lhes custará 204 euros. O problema é que estão a surgir casos em que os encargos são o triplo daquele montante e até - devido a uma alteração que passou despercebida no Orçamento do Estado para 2012 - podem mesmo chegar a 3.060 euros.

À possibilidade de contestação dos cidadãos contrapõe-se a “extorsão” – a palavra é mesmo essa - de valores exorbitantes sempre que os responsáveis das Finanças consideram que o processo em questão tem uma complexidade elevada.

Ao fim e ao cabo, achou-se uma forma perfeita de desincentivar os pedidos de reavaliação e de se cumprir a lei. O que eles "inventam" ...

quarta-feira, maio 30, 2012

“Que força é essa, que força é essa …?”


Perante os resultados absolutamente extraordinários conseguidos na campanha do Banco Alimentar do último fim-de-semana não pude deixar de pensar nos versos da canção do Sérgio Godinho
“Que força é essa, que força é essa que trazes nos braços, que força é essa amigo …”

É espantoso como, uma vez mais, numa época de evidente contracção do rendimento disponível das famílias, assistimos à já costumada solidariedade dos portugueses. Assisti ao vivo a dezenas de pessoas, algumas de aspecto bem humilde e a quem se percebia não abundar o dinheiro a entregar generosamente a sua contribuição. Ou a pessoas idosas que se deslocaram a supermercados, propositadamente e com sacrifício físico, com o único intuito de oferecer o saquinho de alimentos para quem mais necessitasse.
“Que força é essa, que força é essa que trazes nos braços, que força é essa amigo …”, não me canso de ouvir.
Esta é a minha gente!

Um aumento de 13,7% relativamente à campanha de Maio do ano passado é obra. Tudo graças ao empenho de milhares de voluntários que ajudaram a levar por diante esta empreitada e, reforço uma vez mais a ideia, à generosidade de muitos portugueses que justificaram plenamente o lema da campanha: “melhor que a crise que nos bate à porta é a solidariedade dos portugueses”.

Como disse a Presidente do BA, Isabel Jonet, “Por causa da crise, os portugueses uniram-se, mobilizaram-se e mostraram que, porque confiam, estão dispostos a, de uma forma coesa, dar um sinal de esperança”.

Concordo. Foi, de facto, um sinal de esperança. Mas não podemos ficar por aqui. É necessário que outros sinais, vindos de outras instâncias, sejam igualmente dados. Sem generosidades mas com justiça e consideração pelas pessoas. Faço-me entender?

sexta-feira, maio 25, 2012

“Outra”

"Outra", um poema de António Botto


Se fosses luz serias a mais bela
De quantas há no mundo: - a luz do
dia!
- Bendito seja o teu sorriso
Que desata a inspiração
Da minha fantasia!

Se fosses flor serias o perfume
Concentrado e divino que perturba
O sentir de quem nasce para amar!
- Se desejo o teu corpo é porque tenho
dentro de mim
A sede e a vibração de te beijar!

Se fosses água - música da terra,
Serias água pura e sempre calma!

- Mas de tudo que possas ser na vida,
Só quero, meu
amor, que sejas alma!

quinta-feira, maio 24, 2012

Novamente o acordo ortográfico …


Há quem admita que no novo acordo ortográfico não fazem qualquer sentido as consoantes que não se leem. Contudo, o assunto é polémico.

Ainda há dias no Diário Económico li um texto de Luciano Amaral que referia:
"O Acordo Ortográfico baseia-se num princípio contraditório: uniformizar a partir da fonética. Ora, precisamente, a fonética divide mais do que unifica. É por isso que os portugueses devem passar a escrever 'receção' mas os brasileiros continuam com 'recepção', o mesmo acontecendo com 'exceção' e 'excepção', e muitas outras. A escrita portuguesa e a brasileira não vão ficar unificadas. No final, em termos estritamente ortográficos, o Acordo não é bom nem mau, ou pelo menos é tão mau como o que existe. É mau porque inútil e desnecessário: não resolve nada e unifica pouco. E sobretudo é mau por introduzir confusão onde os escreventes de português tinham já encontrado alguma estabilidade. Com tanta coisa para nos preocupar, ainda faltava começar a dar erros sem na verdade os dar”.

Concordo em absoluto com a análise de Luciano Amaral: o acordo é inútil, desnecessário e gera confusões.

Até o próprio Cavaco Silva, na visita que está a fazer a Timor-Leste, confessou:

“Todos os meus discursos saem com o acordo ortográfico mas eu, quando estou a escrever em casa, tenho alguma dificuldade e mantenho aquilo que aprendi na escola”.

Está tudo dito!

quarta-feira, maio 23, 2012

Preparem-se para mais austeridade

Sei bem que as promessas da generalidade dos políticos não são para levar a sério. Pelo contrário, quando prometem qualquer coisa o melhor é ficar atento por que, regra geral, eles fazem exactamente o contrário. “Gato escaldado de água fria tem medo”, como se costuma dizer.

Ainda recentemente o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, rejeitou a ideia de que o Governo tenha que adotar este ano novas medidas de consolidação orçamental. Se bem entendi Gaspar, o que ele disse é que não haverá mais austeridade este ano. Palavra de Ministro.

Pois é, só que agora a OCDE diz que, apesar de Portugal ter feito uma grande consolidação orçamental em 2011 e que este ano ainda vai ser maior, todo esse esforço não vai impedir que o PIB português vá encolher 3,2 por cento este ano e volte a cair 0,9 por cento em 2013. Números que são mais pessimistas que as previsões feitas pelo Governo de Passos Coelho. E mais prevê a OCDE: Portugal não vai cumprir qualquer das metas previstas pela coligação que nos governa.

Se estas projecções da OCDE se concretizarem, lá vão aparecer novas medidas de consolidação orçamental para além das previstas no programa da 'troika'. O que quer dizer, esqueçam as promessas feitas por Vítor Gaspar e preparem-se para mais austeridade.

E eu que pensava ter ouvido algures que já não seria possível sobrecarregar mais o pobre cidadão …

terça-feira, maio 22, 2012

O coiso


Quase todos os dias tropeço na figura do Ministro Álvaro Santos Pereira. E nem sempre pelas melhores razões, convenhamos, pese embora - e peço-lhes que acreditem - eu até simpatize com o homem. Só que ... é capaz de não estar muito talhado para a função que ocupa. Acho até que ele deve estar muito arrependido de ter deixado para trás a sua vida confortável no Canadá. Mas isso, provavelmente, nunca se saberá.

Agora voltou a cair nas bocas do mundo quando, na Assembleia da República, chamou ao desemprego o “coiso”. De certeza que não era bem isso que quereria dizer mas foi, de facto, o que disse. E logo pegaram no “coiso” do Álvaro.

E o que é que ele disse ao certo?
“O desemprego tem que ser uma preocupação de todos nós. E todos nós temos que trabalhar em conjunto, sindicatos, patrões e partidos para conseguirmos ultrapassar este coiso”.

E é a tal coisa, se fosse eu - que não sou conhecido e que não tenho responsabilidades políticas nem governativas – que proferisse aquela frase, não provocaria qualquer impacto. Mas, caramba, o Álvaro não é uma pessoa qualquer, é Ministro e tem a obrigação de pensar e estruturar correctamente as suas intervenções.

E a questão do desemprego – estamos a falar em cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas, não em coisas – não é um coiso qualquer.

Ainda há dias tinha aqui referido que a comunicação não é um ponto forte deste Governo. Aqui está mais uma prova …

segunda-feira, maio 21, 2012

De derrota em derrota …


Depois de já este mês a CDU, o partido conservador alemão, da chanceler Angela Merkel, ter sofrido mais uma derrota nas eleições regionais realizadas na Renânia do Norte-Vestfália, no último sábado a senhora Merkel voltou a perder, ou melhor o clube do seu país, o Bayern de Munique, não conseguiu ganhar, ao jogar em casa a final da Champions, frente à equipa inglesa do Chelsea.

Para além destas derrotas, a chanceler Merkel, conhecida pela Senhora Europa, perdeu também há pouco “l’amitié” de Nicolas Sarkozy, que foi substituído na Presidência da República pelo socialista François Hollande, de quem poderá não ter a mesma cumplicidade do anterior presidente gaulês.

Ainda é cedo para se saberem as consequências que poderão advir para a Europa desta sequência de desaires. Estamos a navegar em mares demasiado revoltos e imprevisíveis e, portanto, resta-nos, por ora, a constatação destas derrotas de Angela Merkel e da Alemanha. Quanto ao resto, teremos que esperar e eu acho que não será por muito tempo …

sexta-feira, maio 18, 2012

“Péra aí!”


Embora estas questões do trabalho tenham mais a ver com o Ministro da Economia (o nosso Álvaro, Ministro da Economia e do Emprego), a verdade é que quem mais dá a cara, não pelo trabalho em si mas pelo desemprego, é Pedro Mota Soares, titular da pasta da Solidariedade e da Segurança Social. Esforçado como parece ser, tem afirmado insistentemente que "O desemprego é o maior problema do Governo". E acredito que seja mesmo uma das suas maiores dores de cabeça.

Contudo, as preocupações excessivas, toldam-nos muitas vezes as ideias. Então não é que Mota Soares vai propor aos parceiros sociais que “se possa acumular o subsídio de desemprego com rendimentos de trabalho”?

“Péra” aí! Mas afinal, o subsídio de desemprego não é para quem está desempregado? Então, como podem os desempregados acumular o seu subsídio de desemprego com rendimentos de trabalho, se eles estão desempregados? Ou, virando as coisas ao contrário, como é que um trabalhador pode juntar aos seus rendimentos de trabalho o subsídio de desemprego, se ele está a trabalhar?

A ideia é capaz de ter algum fundamento, mas a explicação que foi dada à populaça é completamente abstrusa. Como se tem verificado (com muita frequência, nos últimos tempos), a comunicação não é, de facto, um ponto forte deste Governo.

quinta-feira, maio 17, 2012

Burro velho não aprende línguas


É frequente ouvirem-se ditados ou provérbios populares que corporizam todas as experiências vivenciadas pelo povo ao longo de séculos e que acabam por “fazer lei”. Costuma-se até dizer, para os justificar, que “O povo é sábio”. Às vezes, digo eu.

Por exemplo, quando se diz que “Burro velho não aprende línguas” a ideia é que a inteligência e a aprendizagem não são possíveis a partir de determinada idade. Porém, as muitas histórias conhecidas mostram à saciedade que nem sempre é assim.

Vejam o caso de um australiano - Allan Stewart - que obteve o mestrado em Ciências Clínicas e Medicina Complementar aos 97 anos de idade mas que, em 2006, quando tinha já uns provectos 91 anos, se formou em Direito.

E o que achei deveras interessante quando lhe perguntaram sobre o que faria a seguir, ele que já possuiu duas outras licenciaturas, ter respondido bem-humorado: “agora vou descansar mas a seguir … veremos”.

Esta vivacidade e esta vontade de viver e de continuar a aprender são bem a prova que nem sempre os ditados são verdadeiros.


quarta-feira, maio 16, 2012

Ai do que eu me fui lembrar


Quando há dias ouvi, numa audiência da Comissão Parlamentar do Orçamento, o Ministro das Finanças afirmar – daquela forma pausada que lhe conhecemos - que “a opolítica de verdade é para mim uma convicção absoluta" e, logo a seguir, enfatizar, como que soletrando:
“Eu não minto, eu não engano e eu não ludibrio”.

juro que me lembrei da famosa frase proferida pelo então candidato à presidência dos Estados Unidos (e depois eleito Presidente) George Bush pai, que queria acentuar devidamente a promessa eleitoral de não aumentar os impostos se fosse eleito:

“leiam os meus lábios: nenhum novo imposto"

Claro que Bush, uma vez na presidência, aumentou mesmo os impostos. Mas isso é o que geralmente acontece: as promessas eleitorais são uma coisa, o depois das eleições é outra.

Quanto a Vítor Gaspar, não tenho (ainda) motivos para duvidar da sua honradez. Acredito mesmo que não minta, não engane nem ludibrie. Mas que achei curiosa a maneira como se expressou, lá isso achei. Parecia querer dizer “Ouçam o que vos digo, leiam o que os meus lábios afirmam”.

Isto de ter memória é no que dá …

terça-feira, maio 15, 2012

Encerrados para obras


Nos últimos tempos são cada vez mais as lojas que “fecham as portas”. Um pouco por todo o lado encontram-se montras mais ou menos forradas de papel que vai amarelecendo com o sol e nítidos sinais de abandono onde ainda não há muito se sentia vida.

Nos Centros Comerciais, porém, sobretudo nos de maior dimensão, o encerramento das lojas é camuflado por tapumes que informam: “estamos em obras, abriremos em breve” ou simplesmente “estamos encerrados para obras”.

Há dias, estava parado frente a um desses cartazes e não pude deixar de pensar “Boa, com tantas obras em curso por todo o país, o problema do desemprego na construção civil é bem capaz de estar a baixar”. A não ser que os cartazes não digam toda a verdade …

segunda-feira, maio 14, 2012

Insensibilidade


Nos últimos tempos, quer nas entrevistas que concede quer nos debates na Assembleia da República ou nos lugares onde bota discurso, o Primeiro-Ministro não pára de surpreender os portugueses com declarações infelizes. Umas atrás das outras.

Ainda na última sexta-feira, Pedro Passos Coelho teve este notável desanrincanço: “o desemprego pode ser uma oportunidade para mudar de vida e não tem de ser visto como negativo”. Mais: “Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade».
Tal qual! E não me venham com a velha história de que não foi bem isso que ele queria dizer …

Já é grave que o PM pense assim mas, dizê-lo publicamente, é irresponsável e um acto de profunda insensibilidade. Saberá, por acaso, Passos Coelho o desespero por que passam muitas centenas de milhares de portugueses que querem trabalhar e não conseguem arranjar onde? E terá ideia qual será o sentimento de pais, avós mulheres/maridos que “vivem” também a angústia da procura incessante de emprego sem o conseguir? E o que pensará dos jovens à procura do primeiro emprego ou dos jovens que saltam de trabalho em trabalho sem a mínima segurança do dia seguinte e sem poderem sonhar com uma vida minimamente estável? E será que faz ideia do que sentem homens e mulheres de quarenta ou cinquenta anos que sentiram na pele a restruturação das suas empresas e o despedimento que não esperavam? Terá Passos Coelho a coragem de lhes dizer, olhos nos olhos, que o “desemprego pode ser uma oportunidade para mudar de vida e não tem de ser visto como negativo”?

Mas Pedro Passos Coelho não foi apenas leviano nas suas afirmações. Ele realmente pensa o que disse, tanto assim que, no dia seguinte, voltou a sublinhar “que o desemprego é também uma oportunidade. É preciso retirar o estigma do desemprego”.

Passos Coelho já em tempos nos tinha chamado piegas mas eu acho que, longe de sermos piegas, o que somos mesmo é revoltados. Indignados com um Primeiro-Ministro que – recordo - ainda há um ano considerava que uma taxa de desemprego de 12,4% era um valor extremamente elevado e que vai ver em 2012, segundo as previsões de Bruxelas, passar para os 15,5%. Será que é esta tragédia nacional que Passos Coelho considera uma oportunidade?

sexta-feira, maio 11, 2012

Injustificável


A falta de um anexo do DEO – Documento de Estratégia Orçamental (um novo PEC, mais coisa menos coisa) - suscitou um burburinho danado na Comissão Parlamentar de Orçamento, Finanças e Administração Pública da Assembleia da República, onde o Ministro das Finanças estava a ser ouvido.
 

O bruaá justificava-se porque, sem esses documentos onde são feitas as previsões dos números do desemprego, não valia a pena continuar. E vá de pedir a suspensão dos trabalhos até que chegassem os documentos. Que chegaram algum tempo depois mas … em inglês.
 

Gerou-se nova confusão. De forma veemente o Deputado Comunista Honório Novo protestou: "Vou devolver-lhe estes quadros. Sabe porquê? Porque este documento vem em inglês. Não aceito, não reconheço, recuso que a Assembleia da República aceite como válido um documento em inglês". E zás, devolveu-os mesmo à funcionária do Parlamento.      
 
Vítor Gaspar, no seu tom habitual, educado e lento, ainda pediu desculpa pela situação. E atirou como justificação (esfarrapada, convenhamos) que os quadros estavam a ser traduzidos e que logo, logo, haveria uma versão em português. De resto, disse ainda que os documentos em causa poderiam ser consultados on-line.

Pelos vistos, a moda de comunicar em inglês, tão presente entre os “Amigos” do Facebook, também já se estendeu aos documentos oficiais. Dá até a impressão de que nos esquecemos que a nossa língua oficial é o português. “A minha pátria é a língua portuguesa”, como dizia Fernando Pessoa. Por isso achei fantástica (e eu assino por baixo) a atitude assumida por Honório Novo. Não há documentos em português, então, não há discussão.

Tal como não me convence a mania que se instalou em muito boa gente de remeter para os sítios da internet todos os que pretendem uma informação. Estilo “vá ao nosso site, está lá tudo”.

Não se tratasse de Vítor Gaspar e eu quase que apostava que qualquer outro apaniguado dos partidos do poder afirmaria que a culpa de tudo isto é de José Sócrates e das suas manias de querer ensinar às criancinhas o inglês e a informática.

Há limites para tudo e tem que haver bom senso. Porém, parece que ambos andam arredios …

quinta-feira, maio 10, 2012

Já suspeitávamos …


A frase que achei mais curiosa nos últimos tempos veio da boca de Bagão Félix, o antigo ministro da Segurança Social e do Trabalho e, mais tarde, Ministro das Finanças e da Administração Pública:


“Portugal está melhor, mas os portugueses estão pior”.


Bagão Félix é um homem inteligente mas, agora, só disse aquilo que quase todos já sabem (e sentem) há muito. Embora eu desconfie que o país não estará assim tão bem como ele refere …

quarta-feira, maio 09, 2012

O Bodo II – Então não é que afinal (quase) todos ganharam com o “descontão”?


Ainda sobre a mega campanha de marketing do Pingo Doce, que poderá ter novos desenvolvimentos em breve, uma informação adicional. É que para além dos clientes que se esgadanharam todos naquele dia em busca de produtos a metade do preço, também os funcionários do Pingo Doce, segundo o comunicado da Jerónimo Martins, vão ter um desconto idêntico ao dos “bravos guerreiros” do 1º. De Maio. E por terem sido submetidos a um volume anormal de trabalho ainda irão receber o pagamento desse dia a 500%, só não se sabendo se esse pagamento será integralmente feito em dinheiro ou se inclui uma parte em tempo de descanso, como previsto no contrato coletivo de trabalho do grupo.

Esta foi sem dúvida uma acção em que todos ganharam: o Pingo Doce pela publicidade da marca, os clientes pela baixa dos preços e os empregados das lojas pelos merecidos pagamentos adicionais.

Acho que só os polícias que tiveram que intervir nalguns estabelecimentos onde se registaram incidentes foram esquecidos. E não se sabe ainda se os produtores e fornecedores da grande distribuição (que há muito se queixam do esmagamento das suas margens comerciais) poderão vir a suportar alguns dos custos deste desconto. Finalmente, parece que se esqueceram de cumprir uma lei que trata de uma coisa conhecida por dumping. Mas também não se pode pensar em tudo, não é?

terça-feira, maio 08, 2012

O bodo


Uma semana depois da tão badalada iniciativa dos 50% de desconto do Pingo Doce, continuam no ar as interrogações sobre o que, de facto, se passou. 

Apesar do patrão Alexandre Soares dos Santos ter afirmado que não tinha tido conhecimento da campanha (?), a verdade é que ela aconteceu e exactamente num dia em que, em princípio, não deveria ter ocorrido. Mas isso são contas de um outro rosário que poderemos discutir outro dia. 

A aparente irracionalidade de uma campanha deste tipo (eu achei que o aconteceu foi um tanto ao quanto degradante) puxou pela racionalidade dos cidadãos que viram a oportunidade de, num só dia, poderem equilibrar os seus parcos orçamentos. E para quem não se importou de passar largas horas em filas, em ir de madrugada para as portas dos supermercados ou em enfrentar uns quantos empurrões, ter a possibilidade de comprar por metade do preço foi como uma dádiva dos céus. Também poderemos discutir outro dia se toda esta “bondade” não será paga mais tarde. 

Contudo, muitas perguntas continuam sem resposta. Por exemplo, quem vai suportar o prejuízo dos 11 milhões de euros respeitantes aos 50% do desconto, se o Pingo Doce ou os produtores? Ou se vai haver mesmo uma condenação, se for provado (e parece que já ninguém terá dúvidas sobre isso), que muitos dos produtos foram vendidos abaixo do preço de custo, o que é crime. 

Portanto, das duas, uma. Ou os produtos foram vendidos abaixo do custo ou as margens de lucro não são compatíveis com as declarações fiscais apresentadas. Facto que parece não ter incomodado o Ministro da Economia que disse compreender a situação que, de resto, é comum noutros países. Pois é, Álvaro, mas estamos em Portugal e, aqui, a lei da concorrência estabelece que isso é ilegal.

segunda-feira, maio 07, 2012

Uma fotografia desfocada da justiça …


Como se recordam, o denominado “gangue do multibanco” foi julgado em 2010 e 11 dos 12 arguidos foram absolvidos. Porém, em finais do mesmo ano o Tribunal da Relação mandou repetir o julgamento por entender que o primeiro "foi gravemente lesivo dos interesses e expectativas das vítimas e corrosivo para a imagem de uma Justiça que tem vivido um dos seus piores momentos".
 

Pois bem, repetido agora o julgamento, só quatro dos tais 12 arguidos foram absolvidos de todos os crimes. Os restantes arguidos foram condenados a penas de um ano e tal a mais de oito anos de prisão efectiva.


E o que deixa perplexo qualquer cidadão é que, nos dois julgamentos, os factos imputados aos elementos do gangue serem exactamente os mesmos – roubo de mais de dois milhões de euros em caixas ATM, associação criminosa para roubo e furto de máquinas ATM, com recurso a veículos de alta cilindrada previamente furtados para o efeito – e as provas e os argumentos apresentados também serem os mesmos.
 

Se os juízes desembargadores da Relação consideraram "errado o julgamento de parte significativa das provas levadas a tribunal” e expressaram "incompreensão e perplexidade pela decisão tomada em julho de 2010 por um coletivo de juízes das Varas Criminais, ante a evidência e irrefutabilidade de algumas das provas apresentadas pela acusação feita pelo DIAP”, então, quais as consequências que daí podem resultar?


Os juízes não estão imunes a situações de incompetência, tal qual acontece com os profissionais de outras actividades. Ora, se até os juízes da Relação ficaram estupefactos perante as decisões dos seus colegas no primeiro julgamento, o cidadão comum só pode esperar que sejam imputadas as devidas responsabilidades a quem tomou decisões que os próprios juízes desembargadores acham “incompreensíveis”. Ou não será?

sexta-feira, maio 04, 2012

Monteiro ??? … estás a falar daquele jogador que …


A pergunta que serve de título a esta crónica foi-me feita por um amigo, um tipo que continua a comprar quase todos os diários desportivos que quase só escrevem sobre futebol e a seguir os programas de desporto das televisões que – tal qual os jornais - pouco destaque dão a outras modalidades, mesmo quando os resultados internacionais dos nossos representantes o justificariam.

Mas não, o Monteiro de que falava o meu amigo não é um mas uma Monteiro – a Telma Monteiro – a judoca portuguesa que acaba de ganhar a medalha de ouro, na categoria de 57 Kg, no Campeonato da Europa realizado na Rússia. A mesma atleta que nas anteriores sete participações na prova tinha conseguido três medalhas de ouro, duas de prata e mais duas de bronze. É obra!

É que Portugal, para além da via verde e dos cartões pré-pagos, referidos pelo Presidente da República no discurso do 25 de Abril (um discurso a puxar pela auto-estima dos portugueses já tão em baixo, a auto-estima e os portugueses), tem outros feitos de que se orgulhar. E as oito medalhas europeias de Telma Monteira (em oito campeonatos) é, seguramente, um deles. Parabéns à Telma.

quinta-feira, maio 03, 2012

Ignorância preocupante


Na “Única” desta semana, Clara Ferreira Alves escrevia:
 
 “ … Para a gente que hoje manda em Portugal, o 25 de Abril é uma data que começa a fazer tanto sentido como o 1º. De Dezembro ou o 5 de Outubro. E o salazarismo é um período tão distante da nossa História como as Descobertas e o tempo imperial. A queda de Salazar da cadeira ou de Caetano no Carmo interessam tanto como a tomada de Ceuta ou a construção da fortaleza de Ormuz … “

 Embora estas palavras tenham sido escritas para um contexto diferente, elas bem podiam aplicar-se aos jovens deputados (futuros governantes?) inquiridos por um canal de televisão no dia da comemoração do 38º aniversário da Revolução dos Cravos. A demonstração da falta de cultura geral, nomeadamente, da História Política contemporânea, em que a ignorância é tanta que nem sequer sabiam, menos de quatro décadas depois, quem foram o primeiro Primeiro-Ministro depois de 25 de Abril ou o último Primeiro-Ministro antes dessa data.

Admito até que pensem que isso não será relevante para que venham a ser políticos capazes. Eu não sou dessa opinião e preocupa-me muito que tamanha ignorância (não foi esquecimento, foi mesmo ignorância pura) se manifeste até sobre factos recentes do próprio regime que lhes permitiu ascenderem à condição de protagonistas políticos.

Como refere – e bem - Clara Ferreira Alves no mesmo artigo: “A História de um país é a memória de um país e conhecer a História pode ajudar a não repetir os mesmos erros …”


quarta-feira, maio 02, 2012

O “Primeiro de Maio”





No primeiro “Primeiro de Maio”, em 1974 (o primeiro “Dia do Trabalhor” vivido em liberdade), tivemos alegria e esperança, muita esperança no país novo que despertava.

38 anos depois, existe uma desconfiança generalizada nos políticos, nas políticas e nas instituições.

No primeiro caso houve um 1º de Maio, este ano vivemos apenas o 1º de maio. E a diferença é enorme …