sexta-feira, junho 29, 2012

Meu tempo é quando …


Um bonito poema de Vinicius de Moraes – “Meu Tempo é Quando”

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.


A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.


quinta-feira, junho 28, 2012

Hoje temos pão-de-ló … com ou sem hífenes


Portugal perdeu a meia-final do campeonato europeu de futebol. Lamento o desaire (até por que jogámos bem e portámo-nos lindamente em toda a competição) mas isso não nos impede de brindar. Pelo contrário, como se costuma dizer, deve-se beber quando se festeja qualquer coisa e deve-se beber também quando se está deprimido ou se tem alguma contrariedade, como foi o caso.

Hoje, porém, vamos substituir a bebida pelos doces. O efeito psicológico é idêntico e, a sua ingestão, não nos inibe de conduzir, se o quisermos fazer. E, no que à doçaria diz respeito, não serão certamente as alterações ao novo acordo ortográfico que me farão mudar de hábitos. Pois se até nem na escrita vou mudar …

Pois voltando aos doces, o facto de o AO determinar o fim dos hífenes ele não me obriga a deixar de gostar – e de comer – do toucinho-do-céu (ou do toucinho do céu), do mil-folhas (ou do mil folhas) ou – e deste não prescindo mesmo, até por que é menos doce - do pão-de-ló (ou pão de ló, na sua versão de além-Atlântico). Seja o pão-de-ló de Margaride, de Alfeizerão, de Ovar, de Arouca ou de outra qualquer localidade. E confeccionados pelo método tradicional ou nas modernas bimby.

Desde que levem ovos, farinha de trigo e açúcar, com hífenes ou sem eles, cá estou para acarinhá-los. Quero dizer, para comê-los. Ah, e viva Portugal.

quarta-feira, junho 27, 2012

A Hungria


Temos andado demasiado preocupados com o grave problema da Grécia (cada vez mais difícil de resolver), com o que vai dar a aparente alteração de política em França, com a evolução das economias espanhola, italiana e até da holandesa que não andam nada famosas e com a escalada da extrema-direita por essa Europa. Daí que poucos tenham estado atentos ao que se passa na Hungria.

Ora a Hungria, que faz parte da União Europeia desde 2004, é um país muito bonito e Budapeste, a sua capital, que se estende por ambas as margens do Rio Danúbio, possui um património cultural e histórico muito rico. Para além disso, a Hungria é um país com grande tradição musical. A sua música popular serviu de inspiração a grandes compositores, desde Liszt a Bartók.

Mas nem a música nem a grandeza das belas pontes (a mais conhecida das quais é a magnífica Ponte das Correntes), nem os edifícios como o Castelo de Buda e o Parlamento e todos os demais cartões-postais da capital magiar conseguem “apagar” aquilo em que a Hungria se está a transformar. Num Estado absolutista que tem como pano de fundo uma crise e a negociação de um resgate com o FMI, e a tornar-se num país onde a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa e política, a independência judicial e os direitos das minorias estão a ser varridos. A crise e as ameaças dos credores são, como sempre acontece, um terreno fértil para o populismo de políticos como o Primeiro-Ministro e líder do Fidesz, o partido conservador de centro-direita, Viktor Orbán.

E é uma pena que tudo isto esteja a acontecer. A Hungria, os seus cidadãos e a Europa não necessitavam de mais esta preocupação.

terça-feira, junho 26, 2012

Mais do mesmo?


Recordam-se que ainda no passado dia 23 de Maio, eu escrevia neste espaço “preparem-se para mais austeridade”? É que nessa altura o Ministro das Finanças rejeitava a ideia de que o Governo tivesse que adoptar novas medidas de consolidação orçamental, pelo que, não haveria – assegurava ele - mais austeridade este ano. Contudo a OCDE, que tem um feitiozinho que faz favor, já dizia que Portugal não iria cumprir as metas previstas. E não é que parece que adivinharam?

Pois é, foi divulgado esta sexta-feira pela Direcção-Geral do Orçamento que há uma quebra de 5,9% no montante recolhido através de impostos indirectos (IVA, por exemplo), até 31 de Maio, embora tivesse havido um ligeiríssimo aumento nos impostos directos (IRS e IRC) de 0,3%. Esta quebra nas receitas – que tanta gente avisou que iria acontecer e que o Governo teimosamente ignorou - torna bem mais complicado o objectivo de alcançar o défice previsto para 2012, de 4,5%.

A preocupação aumenta, claro, tanto mais que já não pode haver recurso a receitas extraordinárias e as privatizações também não servem para atenuar o défice deste ano. Então, como vai ser?

Não sei se alguém já percebeu qual será a solução, mas quando se ouviu o Primeiro-Ministro dizer que ainda é cedo para falar em mais medidas de austeridade, penso que toda a gente ficou arrepiada só de imaginar o que aí vem.



segunda-feira, junho 25, 2012

Afinal, para que serve a ERC?


Até agora preferi não comentar o caso das alegadas pressões do Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, sobre os jornalistas do Público. Achei melhor esperar pelo veredicto da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), embora já adivinhasse qual seria a deliberação.

O que diziam as notícias que iam saindo é que Relvas, em tom irado, teria ameaçado promover um blackout informativo pessoal e de todo o Governo ao jornal Público e que teria ameaçado divulgar na Internet um dado da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, responsável pela cobertura jornalística do chamado “caso das secretas”. Mas, depois de feitas as investigações necessárias, pouco se conseguiu provar. Era a palavra de um contra a palavra de outros. Perdão, era palavra do Ministro contra a palavra de duas jornalistas. E, assim, a ERC concluiu que “houve pressões inaceitáveis do ministro Miguel Relvas sobre o Público mas não houve pressões ilícitas e que não se verificou a existência de um condicionamento da liberdade de imprensa”. Portanto, tudo como dantes no quartel-general em Abrantes.

Este caso foi um primeiro teste à nova ERC e todos concordarão que este organismo não se saiu lá muito bem. Na votação de três votos a favor e dois contra, prevaleceu a vontade emanada dos partidos a que os senhores e senhoras reguladores pertencem, já que ninguém tem dúvidas que a ERC é um instrumento que está ao serviço dos governos e das maiorias. E se assim é, e por que já vimos o mesmo filme noutras ocasiões, voltamos a ter as mesmíssimas dúvidas de sempre. Ou seja, se não se consegue ter uma opinião isenta sobre um assunto, para que serve realmente a ERC? Melhor seria que a questão fosse julgada pelos tribunais.

O mais curioso é que o Presidente da ERC, Carlos Magno, antes de ser nomeado para o cargo, sempre manifestou dúvidas sobre a utilidade da ERC tendo, contudo, aceite ser seu Presidente. Pois agora, depois deste desastrado parecer, quando foi questionado se ainda mantinha essas dúvidas, respondeu que estava a reflectir sobre a sua posição. Estranho, não é?

sexta-feira, junho 22, 2012

O comando da TV

No passado dia 20 de Maio morreu o “pai do comando (de televisão) à distância”, o engenheiro americano Eugene Polley. Uma invenção que data de 1955 mas que só entrou nos hábitos dos portugueses décadas depois.

Daí a admiração: então se durante anos não tínhamos essa maquineta maravilhosa, nem tão-pouco sonhávamos que ela existisse, como é que se conseguia mudar de canal (mesmo havendo só dois) ou baixar ou levantar o som do televisor?

Na minha casa era o meu filho que, sem adivinhar os porquês, assumia o papel de comando de televisão. Para o Miguel, pequenito ainda, aquilo era uma brincadeira constante e para nós, refastelados no sofá, um descanso. E é incrível como todos vivíamos felizes naquela época dos dois canais a preto e branco e com o total desconhecimento daquela palavra mágica que viríamos a descobrir muitos anos mais tarde que dá pelo nome de “zapping”. E, completamente inimaginável nos dias de hoje, era a forma como, sem o comando da TV - o ceptro do poder soberano – sabíamos perfeitamente quem detinha a autoridade de poder mudar da RTP1 para a RTP2 ou vice-versa.

Esquisitos tempos aqueles!

quinta-feira, junho 21, 2012

Até que enfim que alguém percebeu que é necessário reduzir os salários (!!!)


Chamada de atenção: a taxa de desemprego na Grécia anda na casa dos 22% e não 8% como indica o quadro.

Para início de conversa peço-vos que atentem no quadro acima onde se pode observar os níveis de salário mínimo e taxa de desemprego em alguns países europeus (dados do Eurostat relativos ao 1º. trimestre de 2012).

E então, o que é que acham? Espero que não me respondam que, afinal, há países que ainda estão em pior situação do que o nosso … Quero mais.

É verdade que estamos ali pelo meio da tabela mas o nosso salário mínimo (recorde-se que 11% da população ganha o salário mínimo) está bastante abaixo dos países que nos antecedem e, nomeadamente, dos que se posicionam nos primeiros seis lugares onde também se encontra a Irlanda que é um dos países intervencionados. Aliás, até a própria Grécia, que está metida em piores lençóis do que qualquer outro país, está acima de nós. Estamos, portanto, mal. Exactamente como acontece com a nossa taxa de desemprego que é a terceira pior da tabela dos 19 países em análise.

Perante este posicionamento, e não desejando que a nossa economia consiga sair do estado em que se encontra suportada em baixos salários - qual China - como encarar as vozes que defendem que os salários devem ser reduzidos em Portugal? Baixar ainda mais? É claro que estou a pensar em António Borges, conselheiro deste Governo e, também ele, um “quase ministro” que parece ter ganho no ano passado qualquer coisa como 225 mil euros livres de impostos. O mesmo Borges que afirmou há dias que “a diminuição de salários não é uma política, é uma urgência …”

Vergonhoso! O mínimo que se exige é que haja um pouco mais de respeito por quem vive com tão pouco e a quem asfixiam cada vez mais, em prol de uma melhoria - para os cidadãos e para o país - que tarda a chegar.



quarta-feira, junho 20, 2012

Programa de luta contra a fome – interpretações simplórias que carecem de um esclarecimento

Ontem recebi uma mensagem que dizia: “Nada é o que parece! Senão veja: Decorreu há dias mais uma acção, louvável, do programa da luta contra a fome, mas...., com os dados completos, façam o vosso juízo! Recolha em hipermercados, segundo os telejornais, 2.644 toneladas! Ou seja 2.644.000 Quilos. Se cada pessoa adquiriu no hipermercado 1 produto para doar e se esse produto custou, digamos, 0.50 Euros, temos que 2.644.000 kg x 0,50 € dá 1.322.000 Eur (1 milhão, trezentos e vinte e dois mil euros), total do que as pessoas pagaram nas caixas dos hipermercados. Verdade? Mas os verdadeiros necessitados, os que passam fome, nem metade receberam. Quem ganhou então com o “negócio”(???); o estado 304.000 Euros (23% iva), o hipermercado 396.600 Euros (margem de lucro de cerca de 30%). Nunca tinhas reparado, tal como eu, quem mais engorda com estas campanhas...”


Aposto que a maioria das pessoas que recebeu este texto – que associou evidentemente à recente campanha do Banco Alimentar Contra a Fome - pôs-se logo a fazer contas e concluiu que as pessoas a quem se destinavam os alimentos ficaram bastante lesadas como muitíssimo lesados ficaram todos os que, solidariamente, quiseram contribuir. Até por que as contas parecem estar bem-feitas.

Só que, neste caso, não faz qualquer sentido saber a quanto dinheiro correspondem os quilos recolhidos nem, tão-pouco, quais são as margens de lucro ou o montante do IVA. O que interessa, na verdade, é que foram doados generosamente 2 644 toneladas de produtos e as mesmíssimas 2 644 toneladas desses produtos foram, estão ou vão ser entregues a famílias carenciadas.

E se é verdade que nem os supermercados nem o Estado prescindiram dos seus direitos (e isso é uma conversa para uma outra oportunidade) o que acontece nas campanhas do BA é que não se recebe dinheiro, recolhem-se, tão-somente, produtos alimentares para serem entregues a quem mais necessita.

Por mor da verdade, esta é a explicação que tinha que ser dada.

terça-feira, junho 19, 2012

A verdadeira explicação sobre o novo acordo ortográfico

Há muito que se sabia que o “novo acordo ortográfico” iria trazer vantagens para alguém. Não era, certamente, a uniformização da escrita portuguesa que motivava os mentores de todo este processo. Ainda por cima para obrigar países que, embora tenham o português como língua oficial, são habitados por milhares de pessoas que não sabem escrever nem falar a língua de Camões. Adivinhavam-se os interesses inconfessados de alguns, só não se sabia bem que tipo de interesses eram esses e a quem se destinavam. Pois agora eles foram postos a nú pelas palavras (que transcrevo, com o devido respeito, do blogue “Fio de Prumo”) de Charles Kiefer, um conhecido escritor brasileiro.


"... No entanto, no campo estratégico, nos movimentos de longo prazo, o Brasil terá grandes vantagens, tanto que os outros países da CPLP resistiram por mais de uma década ao acordo. Mas quais são essas vantagens estratégicas? A primeira delas, e talvez a mais importante, é a possibilidade de o Brasil conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em que sentido, indagarão os céticos? O que a unificação científica tem a ver com o CS? Ocorre que, com a unificação, os falantes de língua portuguesa serão aumentados bastante, já que se somarão os habitantes de todos os oitos países. Hoje, na hora de se produzirem documentos, há uma torre de babel entre os nossos países. São clássicas, e cómicas, as situações na ONU na hora das atas, dos documentos, das produções de acordos comerciais em que o funcionário do órgão pergunta: Escreveremos em português de Portugal ou do Brasil? Após o acordo, toda a documentação será exarada num mesmo sistema ortográfico. Isto, para efeitos práticos e legais, significará que o português unificado representará mais de 250 milhões. Como o Brasil é o país económica e populacionalmente mais poderoso do conjunto da CPLP, nossas chances de ingressar no CS aumentam exponencialmente. Se algum brasileiro supõe que ombrear com EUA, Rússia, França e Inglaterra não tem importância política, económica, social e histórica deveria fazer, urgentemente, um cursinho de Direito Internacional. Fazer parte do Conselho Permanente da ONU ajudará até ao vendedor de pipocas da esquina, ao plantador de laranjas, ao professor universitário, à empregada doméstica. Até os grevistas do Cpergs terão melhores argumentos ao defenderem melhorias salariais aos que professores que ensinam uma das mais importantes línguas do planeta. A segunda vantagem estratégica do Acordo Ortográfico é que ele torna o Brasil o maior fornecedor de bens e serviços ligados aos setores de comunicação, educação e informática dos oitos países. Dados preliminares anunciam algo em torno de 400 milhões de dólares por ano em ganhos diretos para o avançado parque editorial brasileiro, por exemplo. Dos oito países, o Brasil tem as editoras mais poderosas, as maiores e mais avançadas gráficas, o melhor e mais competente parque industrial na área dos produtos informatizados. Se eu fosse um escritor moçambicano ou português, faria passeata contra o acordo! Mas sou brasileiro e por isso não me filio ao partido dos descontentes, dos críticos e de todos que acreditam que língua e poder não são coisas que se conjugam".

Para quem ainda tinha dúvidas, acho que este texto é suficientemente esclarecedor.




segunda-feira, junho 18, 2012

Precisamente … as energias alternativas ou os sonhos delirantes de José Sócrates

Miguel Sousa Tavares criticava no Expresso, do último sábado, o facto de Portugal ter abandonado todos os projectos de energias alternativas – eólicas, solar e biomassa – tudo "sonhos delirantes” de Sócrates, pelo que continuaremos a depender totalmente (ou quase) de energia importada e dos combustíveis fósseis que poluem e que custam uma fortuna ao país.

Realmente o ex-Primeiro-Ministro só podia estar louco ao pensar que podia substituir o petróleo que nos custa os olhos da cara por matérias-primas que temos em abundância – sol, vento e mar – e que são de borla. Por isso se compreende (?) que o actual Governo tenha posto um ponto final ao manifesto delírio que permitiu, por exemplo e entre outras coisas, a criação do parque fotovoltaico da Amareleja, em Moura, o maior em todo o mundo, que representou um investimento de 261 milhões de euros e que permite produzir a energia suficiente para abastecer mais de 30 mil casas portuguesas e evita a emissão de 89 mil toneladas anuais de Dióxido de Carbono (CO2).

Porém, o que me espantou, foi saber que a Alemanha (o poderoso motor da Europa), ao arrepio do que nós estamos a fazer, vai investir três biliões de euros até 2022 no desenvolvimento de energias alternativas. Precisamente no sol, vento, ondas e biomassa. Precisamente naquilo que constava nos planos do “irresponsável José Sócrates”. Precisamente numa área em que fomos pioneiros e que, uma vez mais, não tivemos o discernimento suficiente para darmos um salto em frente rumo a um futuro que se adivinhava promissor.


sexta-feira, junho 15, 2012

Arquitectos bons e baratos



Vi um anúncio num jornal (que já corre também pelas redes sociais) que é aquilo a que se pode chamar o dois em um. Pretende-se arranjar arquitectos excelentes (com mestrado, bons conhecimentos de inglês e francês falado e escrito, conhecimentos de desenho 3D e de AutoCAD e, ainda, de design de interiores) e baratos (remuneração de 500,00 euros por mês). Tudo isto para trabalhar com um contrato de 6 meses numa empresa de comércio a retalho de mobiliário e artigos de iluminação, das 09h30 às 19h30.

Noutros tempos elaboravam-se pedidos de emprego à medida de candidatos que já estavam escolhidos antecipadamente. Agora vai-se ainda mais longe. Devido às dificuldades que atravessamos, goza-se (e essa é a palavra certa) com as pessoas ao publicarem este tipo de anúncios. Certamente que vão aparecer candidatos, afinal existem contas para pagar. Mas não deixa de ser um novo tipo de escravatura.



quinta-feira, junho 14, 2012

Tudo pr’a rua … já!

A resposta à falta de condições em Portugal – desemprego, precariedade e maus salários – aliada ao apelo constante dos responsáveis para que os cidadãos emigrem, aí está. Setecentos médicos e enfermeiros estão a ser recrutados para ir trabalhar para França onde os espera melhores horários, melhores salários (o dobro do que ganham cá) e progressão na carreira.
E as coisas estão-se a precipitar. Depois do Secretário de Estado da Juventude dar o mote ao indicar a emigração aos jovens que não conseguissem arranjar trabalho por cá foi o próprio Primeiro-Ministro que apontou a porta de saída aos professores e até lhes traçou a rota: os países de língua portuguesa e, em especial, Angola e Brasil (curiosamente o Governo Brasileiro logo fez saber que não está a importar docentes). Entretanto, o poderoso Ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, sem admitir, contudo, que estava a aconselhar a emigração de tantos portugueses, não deixou de dizer que “estes emigrantes são uma fonte de orgulho e demonstram que sempre que os portugueses têm uma visão universalista têm sempre sucesso". E, insaciável, o mesmo Relvas enfatizou há dias que a estratégia das Universidades deve ser formar talentos para emigrar (!!!!!). Esta última afirmação de Relvas foi a cereja no topo do bolo. Dar como normal que os contribuintes paguem a formação dos jovens para que, mais tarde e por falta de condições em Portugal, eles vão aplicar o que aprenderam noutros países.

Por essas e por outras é que aí há tempos o social-democrata Paulo Rangel sugeriu a criação de uma agência nacional para ajudar os portugueses que queiram emigrar. Está tudo esquematizado. Em nome da incapacidade de quem nos governa e de uma agenda ideológica que já não escondem.
E, vendo bem, esta emigração desenfreada poderá trazer muitas “vantagens” para o Governo: haverá menos desempregados e menos subsídios de desemprego, mais (eventualmente) remessas de emigrantes e uns bons milhares de pessoas a menos nas manifestações de rua, dos “indignados” aos da “geração à rasca”.
Uma estratégia “do vai-te embora” que é, no mínimo, sinistra.
Subscrevo, por isso, o que li algures “mandar para fora os que não cabem no país é uma declaração de impotência que não fica bem a um Governo. Um executivo que aconselha a emigração não acredita no seu país”.

quarta-feira, junho 13, 2012

O Passeio de Santo António


Hoje, dia 13 de Junho, dia de Santo António, nada melhor do que o conhecido poema (um pouco longo mas sempre belo) de Augusto Gil:

"O Passeio de Santo António"

Saíra Santo António do convento,
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento.
Um cândido sermão sobre o pecado.

Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando…

E andando, andando, viu-se num outeiro
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, bem puxadas.

Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo

O luar, um luar claríssimo nasceu
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.

Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais…
Os rouxinóis ouviam-se distantes.
O luar, mais alto, iluminava mais.

De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito;
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia…o coração no peito.

Sem suspeitarem que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
- Oh frei António, o que foi aquilo?...

O santo erguendo a manga do burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
- Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada…

Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, frei António? Ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho…

- Tu não está com a cabeça boa…
Um passarinho a cantar assim!...
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,

Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais,
…Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!

E voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: _Jesus,
São horas…
E abalaram p’ró convento.

terça-feira, junho 12, 2012

Tranquilamente … temos um processo disciplinar às costas

Está por saber se vamos, ou não, ser multados pela reentrada tardia em campo (depois do intervalo) da nossa selecção de futebol no jogo com a Alemanha. Por razões que ainda não conhecemos, a nossa selecção não compareceu à hora certa e zás, a UEFA, que é quem manda nestas coisas, decidiu a abertura de um processo disciplinar a Portugal pelo atraso no pontapé de saída da segunda parte.

Na próxima quinta-feira se saberá a decisão da UEFA e pode ser que, até lá, se consiga apurar se o motivo do atraso se deve a uma qualquer indisposição de um jogador, a uma chamada telefónica que não tivesse sido possível desligar, às últimas fumaças de uma cigarrada ou à má interpretação da equipa ao conhecido lema do treinador Paulo Bento “Vão tranquilos …”.

Resta-nos a consolação que se formos mesmo multados - e a ser verdade a versão adiantada pelo Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Humberto Coelho, de que o dinheiro que está a ser gasto foi-nos dado pela UEFA (contrariando o que veio a público anteriormente) - o montante da multa será entregue à mesma UEFA para pagar o castigo. Volta, afinal, para o sítio de onde saíu.

E enquanto esperamos - “tranquilamente …” - temos um processo disciplinar às costas que era completamente desnecessário.

segunda-feira, junho 11, 2012

Pacíficos até quando?

Há dias Pedro Passos Coelho lembrou-se de tecer os mais rasgados agradecimentos à paciência dos portugueses tão fustigados pela austeridade. Foi simpático (?!) da parte dele mas os portugueses já não têm pachorra para continuar a ouvir o PM e os seus Ministros. O que os cidadãos querem mesmo são políticas que incentivem o bem-estar e o emprego, a continuidade do serviço nacional de saúde e uma educação capaz. Por outras palavras, dispensamos os agradecimentos, queremos é acções concretas. A paciência tem limites e, um ano depois deste Governo ter tomado posse, a resposta da generalidade dos portugueses à pergunta se estamos melhores agora do que nessa altura é um rotundo NÃO.

Miguel Torga escreveu “É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados”.

Pacíficos até quando?


quarta-feira, junho 06, 2012

A nossa selecção de futebol a caminho da vitória …


Pronto, a nossa selecção de futebol já está na Polónia onde vai disputar o Europeu da modalidade. Embora, os últimos jogos não tenham corrido lá muito bem e não se veja na equipa aquele entrosamento (agora até parecia um comentador a sério) e aquela confiança que eu gostaria, desejo, sinceramente, que tudo corra bem, se possível que ganhem a taça.

Mas o que me trás ao assunto é a dinheirama toda que se vai gastar – e é muita mesmo – com esta participação. Dir-me-ão que estar presente é relevante, somos dos melhores do mundo na matéria e é um sinal de prestígio. Talvez. Mas eu recordo que outras empreitadas (estou a pensar em obras públicas, mas não só) não foram avante por que – simplesmente – não havia dinheiro.

É que só em despesas com o hotel, Portugal vai gastar qualquer coisa como 33 000 euros por dia. Bem acima do que vai gastar a comitiva espanhola – 4 700 euros diários – selecção espanhola que é justamente a actual campeã da Europa e do Mundo. E a pergunta é inevitável: por que é que vamos gastar oito vezes mais do que os campeões? Será que vamos levar muito mais gente do que o necessário ou o hotel que nos vai hospedar é infinitamente superior ao de “nuestros hermanos”? Ou, ainda - e é uma hipótese que nem sequer me passa pela cabeça - alguém vai meter ao bolso umas massas valentes?

De qualquer forma, e eu que até gosto de futebol e, obviamente, torço pela nossa selecção, acho que se gasta demasiado dinheiro (mesmo tendo em conta os patrocínios) com os futebóis, sobretudo quando existem severos cortes orçamentais para as outras actividades.

A terminar, e esperando que o nosso país possa continuar a gastar – todos os dias – 33 000 euros no hotel até ao dia 1 de Julho, sinal que tínhamos conseguido chegar à final, quero deixar um pensamento muito positivo para os feitos futebolísticos que iremos alcançar contra ventos e marés. Os nossos pequenos génios do pontapé na bola estão preparados e a confiança, ainda que discretamente, anda no ar.

Um último apontamento para o convite do capitão da equipa portuguesa, Cristiano Ronaldo, feito ao Presidente da República, que os recebeu:

“Em nome da Selecção entrego-lhe esta camisola, e convidamos você para ir assistir a um jogo, tá?".

Tá! Tá tudo dito. Boa sorte!



terça-feira, junho 05, 2012

Equidade?


Por mais voltas que se dê, vamos sempre parar ao mesmo. E já começa a ser aborrecido estar a falar continuamente em situações que se vão conhecendo, umas atrás das outras. Desta vez a notícia veio escarrapachada nas páginas dos jornais:

“Os políticos obtiveram um aumento remuneratório médio mensal dez vezes (DEZ VEZES) superior à média dos funcionários da Administração Central: entre salário e suplementos, o rendimento médio mensal dos membros do Governo e dos deputados cresceu de 5 370 euros, em Outubro de 2011, para 5 661 euros, em Janeiro deste ano, uma subida de 5,4%. Já o ganho médio de todos os trabalhadores da Administração Central registou, no mesmo período, um aumento de 0,5%, com o vencimento recebido no final do mês a subir de 1 745 para 1 754 euros”.

Vão uns e vêm outros e a sem-vergonhice continua. Já poucos acreditam nas palavras dos políticos que juram lutar por uma repartição mais justa dos sacrifícios. A troika, os mercados, as conjunturas internacionais e outras justificações deixaram de fazer sentido quando continuamos a observar que as receitas mais duras são aplicados aos de sempre. E a palavra que nos vem à mente é: EQUIDADE! Será que não consta no dicionário dos políticos?

PS: Já agora esclareçam-me: não era em 2012 que os salários da função pública iam ficar congelados?


segunda-feira, junho 04, 2012

Menu de luxo na Assembleia da República


Quando no passado dia 26 de Abril eu vociferava aqui contra o despautério dos restaurantes de luxo da Assembleia da República, embora revoltado, não tinha ainda conhecimento detalhado dos pormenores que estão subjacentes ao negócio da restauração na “Casa da Democracia”. Já se sabia, então, que se come lá bem e barato e que tem os tais dois restaurantes de luxo onde se paga quase nada. Mas passava-nos completamente ao lado algumas das especificações constantes no Caderno de Encargos do concurso público aberto para fornecer a restauração ao Parlamento.

Exigências, como por exemplo, a de servir perdiz, porco preto alimentado a bolota e lebre ou, ainda, pratos com bacalhau do Atlântico, pombo torcaz (achei delicioso e elegante esta do pombo torcaz) e rola. Mas o caderninho de encargos não esqueceu, evidentemente, o café que deverá ser de 1ª qualidade e as quatro opções de whisky de 20 anos e oito de licores. Quanto ao vinho, são exigidas 12 variedades de verde e 15 de tintos alentejanos e do Douro.

É também especificado que o mesmo prato não deve ser repetido num prazo de duas semanas. É justo! Estar sempre a comer o mesmo também cansa.

E a ser verdade esta notícia que foi publicada na imprensa, o que me choca verdadeiramente (e penso que aos portugueses) é que continue toda esta festança, de forma desavergonhada e sem consideração pelos contribuintes que continuam a pagar os menus e as mordomias da Assembleia da República. Dá até a impressão de estarem a gozar connosco.



sexta-feira, junho 01, 2012

Aluguer e arrendamento


Por todo o lado se vêem placas a anunciar o “aluguer” de apartamentos. Ouvem-se, a miúde, pessoas (muitas delas reconhecidamente cultas) afirmarem que vão “alugar” uma casa para viver ou para férias. E é capaz de não ser exactamente assim.

Porque, vejamos: Qual a diferença entre arrendamento e aluguer?

Tecnicamente, denomina-se por arrendamento quando a locação versa sobre imóveis e aluguer quando incide sobre bens móveis. Arrenda-se uma casa e aluga-se um carro, por exemplo. E sendo os apartamentos/casas/escritórios bens imóveis eles devem ser arrendados e não alugados. Certo?

É que chego a ter a sensação que sempre que digo que uma casa se “arrenda”, há quem me olhe de lado como se eu estivesse a dizer uma grandessíssima asneira. E, porque não estou, isso irrita-me!