sexta-feira, setembro 28, 2012

Alberto João, sempre ele …



Alberto João Jardim desafiou o Governo de Passos Coelho a ter a coragem de permitir um referendo na Madeira sobre a autonomia da região. Uma vez mais quis agitar o "papão da autonomia". Mas atenção, o que ele queria mesmo era realizar o referendo apenas na Madeira. Ou seja, queria perguntar aos madeirenses qualquer coisa como “se eles (nós, os "cubanos", o Governo da República) não nos derem melhores condições para enfrentar a difícil situação que atravessamos queremos, ou não, ser independentes?”.

Alberto João é capaz de ter arriscado demasiado. Primeiro porque a haver um referendo ele poderia ser a nível nacional e, neste caso, não creio que o resultado fosse ao encontro da pressão que, mais uma vez, está a fazer. Depois, porque mesmo a nível interno as vozes discordantes das suas políticas (sobretudo agora que as dificuldades apertam) têm aumentado.

O desafio pode não ser a melhor estratégia. É que, um dia destes, alguém pode fartar-se e dizer "Muito bem, querem ser independentes? Fazemos-lhes a vontade ...”.
 
 
 

quinta-feira, setembro 27, 2012

Angola – para além das desigualdades, os abusos



Ontem, dia 26, José Eduardo dos Santos tomou posse como Presidente de Angola. No seu discurso, o Chefe de Estado prometeu mais atenção para a juventude e uma melhoria da qualidade de vida dos angolanos.
Angola é um país rico. Porém, os benefícios do crescimento económico do país não são distribuídos por toda a população. Enquanto que muitos, ligados aos sectores político, administrativo e militar enriquecem rapidamente, a maioria da população é pobre e regista-se uma grande desigualdade social, que se tem agravado nos últimos anos.
Se, por um lado, nos habituámos, desde há um tempo, a ver as elites angolanas a frequentar as melhores lojas de marca de Lisboa (salvando-as, em alguns casos, da falência), por outro, não podemos ficar indiferentes aos abusos que vão sendo conhecidos, cometidos por altos funcionários angolanos que utilizam os dinheiros públicos para alimentar os seus vícios privados.
É o caso de Manuel Vicente, putativo sucessor de Eduardo dos Santos como Presidente da República. Sabe-se de há muito que Manuel Vicente tem um gosto refinado por vinhos e conhaques caríssimos. Daí enviar periodicamente a França e a Portugal, um avião executivo (o luxuoso Falcon-900 ou o sofisticado Falcon X-7), como cargueiro para o transporte exclusivo dos seus vinhos e conhaques. Os voos são operados pela VipAir, uma empresa comparticipada pela Sonangol, e não são permitidos passageiros durante as referidas viagens.
Algumas das garrafas de vinho Petrus, adquiridas em Paris, são reservadas apenas a multimilionários. O Petrus 1989 Magnum custa cerca de 9,700 euros, enquanto o Petrus 1990 Magnum atinge os 11,000 euros por garrafa. Já o conhaque habitual de Manuel Vicente, o Rémy Martin Louis XIII, custa em média 2,500 euros, enquanto as garrafas especiais, da mesma marca e também ao gosto do dirigente angolano, custam acima dos 8,000 euros.
É revoltante, temos que convir. Manuel Vicente, que já foi o todo-poderoso Presidente da Sonangol (na qual, ao que consta, constituiu uma fortuna pessoal incalculável e de forma ilícita) mostra-se indiferente às condições de vida da maioria dos cidadãos angolanos. O uso exclusivo de um avião de luxo adquirido com fundos da Sonangol, logo propriedade do Estado, para o transporte de vinhos e conhaque para satisfazer os seus caprichos etílicos é um acto inqualificável de corrupção e esbanjamento de fundos do Estado.
Manuel Vicente nasceu e cresceu pobre mas parece ter esquecido rapidamente as suas origens. Talvez seguindo as pisadas do seu ideólogo – o Presidente José Eduardo dos Santos – que afirmou em público que, quando nasceu filho de um pedreiro e de uma lavadeira, “já havia pobreza em Angola” e a culpa não era nem é sua.
 
Perante isto … resta esperar que as palavras proferidas pelo Presidente - mais atenção para a juventude e uma melhoria da qualidade de vida dos angolanos - se venham a concretizar. Os Angolanos merecem.
 
 
 

quarta-feira, setembro 26, 2012

Beber muito, pouco ou nada …


Dado que este espaço também pretende ter uma componente de utilidade pública, aqui vos deixo uma informação que poderá surpreender alguns mas que considero ter interesse para todos.

À polémica, tantas vezes discutida, sobre a quantidade de álcool que se pode beber – tanto mais que hoje se bebe muito e mal e, sobretudo, os jovens - sem pôr em risco as vidas dos outros e as próprias e sem que se corra o risco de se ser penalizado por excesso de alcoolemia, leiam um extracto de uma interessante entrevista ao Expresso concedida por Rui Tato Marinho, médico no Hospital de Santa Maria e Coordenador do Colégio de Hepatologia da Ordem dos Médicos:

“…deixou-se de falar em mililitros e passou-se a usar o conceito de bebida. Dizemos que uma cerveja é igual a um copo de vinho, a um uísque ou a um shot. O teor alcoólico é diferente mas o tamanho da bebida também, pelo que podem equivaler-se. Por exemplo, um shot tem uma quantidade de álcool muito elevada mas a dose é pequena. Na prática, equivale a uma cerveja …

… a quantidade de álcool que uma pessoa ingere com dez shots é equivalente a dez cervejas, mas dez cervejas são 3 litros … não é fácil nem rápido beber 3 litros. Já dez shots são aí uns 200 mililitros. Por isso, atingem rapidamente uma alcoolemia muito elevada …”

Palavras de especialista!
 
 

terça-feira, setembro 25, 2012

Observatórios ...




Embora estejamos habituados a que a maioria das promessas dos políticos não sejam cumpridas, parece que, finalmente, ainda que de forma débil, se começou a cortar as famigeradas “gorduras do Estado”. Mas há muito caminho pela frente e quase se não ouve falar nos “Observatórios”. Por acaso têm ideia do número de Observatórios que existem no nosso país? Vejam só…

Observatório dos medicamentos e dos produtos da saúde; Observatório nacional de saúde; Observatório português dos sistemas de saúde; Observatório da doença e morbilidade; Observatório vida - só aqui vão cinco sobre a vida, a saúde e a doença;
Observatório do ordenamento do território; Observatório do comércio; Observatório da imigração; Observatório para os assuntos da família; Observatório permanente da juventude;
 
Observatório nacional da droga e toxicodependência; Observatório europeu da droga e toxicodependência; Observatório geopolítico das drogas - mais três para tratar da droga;
 
Observatório do ambiente; Observatório das ciências e tecnologias; Observatório do turismo; Observatório para a igualdade de oportunidades; Observatório da imprensa;
 
Observatório das ciências e do ensino superior; Observatório dos estudantes do ensino superior (dois para o ensino superior);
 
Observatório da comunicação; Observatório das actividades culturais; Observatório local da Guarda; Observatório de inserção profissional; Observatório do emprego e formação profissional; Observatório nacional dos recursos humanos;
 
Observatório regional de Leiria; Observatório sub-regional da Batalha (dois para a mesma região);
 
Observatório permanente do ensino secundário; Observatório permanente da justiça; Observatório estatístico de Oeiras; Observatório da criação de empresas;
Observatório do emprego em Portugal; Observatório português para o desemprego (um para o emprego e outro para o desemprego, faz sentido …);
Observatório Mcom; Observatório têxtil; Observatório da neologia do português; Observatório de segurança; Observatório do desenvolvimento do Alentejo;
Observatório de cheias; Observatório das secas (cheias e secas, estes também se justificam!);
Observatório da sociedade de informação; Observatório da inovação e conhecimento; Observatório da qualidade dos serviços de informação e conhecimento; Observatório das regiões em reestruturação; Observatório das artes e tradições; Observatório de festas e património; Observatório dos apoios educativos; Observatório da globalização; Observatório do endividamento dos consumidores; Observatório do sul Europeu; Observatório europeu das relações profissionais; Observatório transfronteiriço Espanha-Portugal; Observatório europeu do racismo e xenofobia; Observatório para as crenças religiosas; Observatório dos territórios rurais;
Observatório dos mercados agrícolas; Observatório dos mercados rurais (não estarão a exagerar?);
Observatório virtual da astrofísica; Observatório nacional dos sistemas multimunicipais e municipais; Observatório da segurança rodoviária; Observatório das prisões portuguesas; Observatório nacional dos diabetes; Observatório de políticas de educação e de contextos educativos; Observatório ibérico do acompanhamento do problema da degradação dos povoamentos de sobreiro e azinheira; Observatório estatístico; Observatório dos tarifários e das telecomunicações; Observatório da natureza; Observatório qualidade; Observatório quantidade;
Observatório da literatura e da literacia; Observatório nacional para o analfabetismo e iliteracia (e estes ?);
E por aí fora, por aí fora …

Observatório da inteligência económica; Observatório para a integração de pessoas com deficiência; Observatório da competitividade e qualidade de vida; Observatório nacional das profissões de desporto; Observatório das ciências do 1º ciclo; Observatório das ciências do 2º ciclo; Observatório nacional da dança; Observatório da língua portuguesa; Observatório de entradas na vida activa; Observatório europeu do sul; Observatório de biologia e sociedade; Observatório sobre o racismo e intolerância; Observatório permanente das organizações escolares; Observatório médico; Observatório solar e heliosférico; Observatório do sistema de aviação civil; Observatório da cidadania; Observatório da segurança nas profissões; Observatório da comunicação local; Observatório jornalismo electrónico e multimédia; Observatório urbano do eixo atlântico; Observatório robótico; Observatório permanente da segurança do Porto; Observatório do fogo; Observatório da comunicação (Obercom); Observatório da qualidade do ar; Observatório do centro de pensamento de política internacional; Observatório ambiental de teledetecção atmosférica e comunicações aeroespaciais; Observatório europeu das PME; Observatório da restauração; Observatório de Timor Leste; Observatório de reumatologia; Observatório da censura; Observatório do design; Observatório da economia mundial; Observatório do mercado de arroz; Observatório da DGV; Observatório de neologismos do português europeu; Observatório para a educação sexual; Observatório para a reabilitação urbana; Observatório para a gestão de áreas protegidas; Observatório europeu da sismologia; Observatório nacional das doenças reumáticas; Observatório da caça; Observatório da habitação; Observatório Alzheimer; Observatório magnético de Coimbra
Ainda aí estão? Perante a imensidade de Observatórios apraz-me perguntar: mas o que é que toda esta gente tanto observa? E não faltará ainda o Observatório dos Observatórios?
Gaspar, Gaspar, ainda há muito onde ir “cortar” …

segunda-feira, setembro 24, 2012

Os Bons Empregos conseguem-se ao jantar



Há uns anos, numa festa de casamento, encontrei um amigo que já não via há muito. Tínhamos convivido na tropa, ele era oficial de carreira e eu miliciano. Estivemos à conversa e vim a saber que depois de se reformar apenas tinha como ocupação umas quantas reuniões numa instituição de solidariedade gerida por militares na reserva. Achei interessante a actividade desenvolvida por essa instituição e perguntei se não necessitariam de mais um para ajudar. É verdade que nesse tempo não se falava em voluntariado como hoje, mas a minha intenção genuína era, tão-somente, colaborar de forma graciosa. Após breve hesitação, respondeu-me: "o montante de cada senha de presença é X. Interessa-lhe?"

 
Lembrei-me da história quando li há dias no Diário de Notícias um texto de André Macedo intitulado "Os Bons Empregos conseguem-se ao jantar". Nele se relatava um anúncio publicado na "Economist" em que "A Rainha de Inglaterra - na verdade o Ministério das Finanças - acabava de lançar um concurso para o cargo de governador do Banco Central de Inglaterra. O actual governador, Marvyn King, termina o mandato em Junho, é preciso encontrar um substituto e nada melhor do que um anúncio para escolher o mais capaz".

E acrescentava "Não me lembro de uma única oferta de emprego para cargos de topo nacionais. Nem no Banco de Portugal, nem em qualquer regulador, nem sequer em empresas públicas. Julgo até que poderia ser considerado perigoso um anúncio assim. Nós temos outro método de escolha. Resolvemos tudo em segredo, a meio de uma jantarada, e é nessa atmosfera íntima que se estabelece a cumplicidade que garante o êxito de Portugal".
 
Pois é ... o "êxito de Portugal"! Não quer dizer que no Reino Unido não existam, também, casos mais obscuros, mas por cá o costume é saltarem-se etapas, chatices e perdas de tempo com entrevistas e análise dos perfis de candidatos. Afinal, eles são quase sempre os mesmos e nesse "universo" toda a gente se conhece e existe uma permanente troca de favores. Hoje para mim, amanhã para ti e vice versa, num jogo pouco transparente mas que dura inalterável há demasiados anos.
Ah, e antes que me esqueça, não aceitei a proposta da tal colaboração em troca de umas quantas senhas de presença. Não pelo valor das mesmas mas porque, já nessa altura, eu tinha a mania de ter uma coluna vertebral.
 
 
 

sexta-feira, setembro 21, 2012

A boa gestão do tempo



Ouço meio mundo queixar-se de que o tempo voa, que não há tempo para nada. Porém, na maioria dos casos, o que dá a impressão é que não se sabe gerir o tempo da melhor forma.
Um bom exemplo de uma adequada gestão do tempo veio esparramado num relatório da CMVM que apurou que, em 2010, 17 administradores acumulavam, cada um, lugares de gestão em 30 ou mais empresas. O regulador até registou um caso de um gestor (que se sabe agora ser Miguel Pais do Amaral que tinha lugar na administração de 73 empresas.
O tema não é novo nem, tão-pouco, ilegal se o facto se passar em empresas privadas. O que me parece - e larachas à parte - é que tantos cargos de Administração numa só pessoa vai um pouco além do que é normal e razoável. E mais, deixa-me sérias dúvidas que a qualidade de desempenho seja, no mínimo, eficaz. É que, quando se tocam tantos instrumentos de uma só vez …
De qualquer forma, sempre é possível, com critério, organização e rigor, fazer-se um pouco mais e … melhor. Evitando-se, obviamente, os exageros.
 
 

quinta-feira, setembro 20, 2012

NIM ... assim, não me comprometo

Vi há dias na televisão uma entrevista muito interessante com o Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa (que é, também ele, uma personalidade muitíssimo interessante), reitor da Universidade Clássica de Lisboa. Às tantas, e para exemplificar o estado de confusão, de burocracia e de leis mal feitas que emperram o bom funcionamento das instituições deu, com alguma caricatura, um exemplo:

sobre um determinado assunto recebemos um ofício que dizia o seguinte:

1º parágrafo - segundo a lei XXX a Universidade tem que fazer o acto X;
2º parágrafo - segundo a lei YYY a Universidade não pode fazer o acto X;
3º parágrafo - se reconhece que há uma contradição entre os dois parágrafos, o melhor é a Universidade não fazer nada;
4º parágrafo - No entanto, se a Universidade nada fizer também é ilegal.

A situação fez-me recordar uma outra que, há uns anos, se passou comigo. Um colega deu-me a ler um parecer que tinha escrito. Li com atenção as 14 páginas e, no fim, ele perguntou o que é que eu achava.

Respondi-lhe que tinha gostado, que estava muito bem escrito, tinha boas argumentações mas ... mas não se percebia minimamente qual era a nossa posição sobre o assunto.

E a resposta dele foi: "Então está óptimo, podemos enviar".

São duas historietas que parecem ficção mas que correspondem a uma certa forma de estar. Na política, nas empresas, na vida. "Assim, não me comprometo", parece ser o lema de muito boa gente que tem a obrigação, pelos cargos que ocupa, de assumir responsabilidades. Mas, como se vê, o apelo ao NIM é bem mais forte.

quarta-feira, setembro 19, 2012

A diferença que faz toda a diferença

"Taxar os contratos das PPP é uma medida de legalidade muito duvidosa" afirmou o Secretário de Estado dos Transportes. Pode ser. Provavelmente da mesma forma duvidosa que foi legal diminuir o salário mínimo instituído (e fizeram-no), ou como retirar (a minha esmerada educação proíbe-me de dizer roubar) os subsídios aos funcionários e aos privados (e fizeram-no) ou como "sacar" uma valente percentagem aos pensionistas e reformados que alimentaram ao longo dos anos a Segurança Social com os seus descontos (e fizeram-no).

A diferença é que as PPP são poderosas, têm contratos blindados em que é difícil mexer (mas não impossível) sem que o Estado desembolse altíssimas indemnizações, têm escritórios dos melhores advogados, enquanto que os cidadãos comuns têm ... nada. Quando muito, têm o direito de se indignarem.

Diferença muito pouca, que faz toda a diferença.

terça-feira, setembro 18, 2012

Há os empresários e os EMPRESÁRIOS



As medidas impostas pela troika, juntamente com os acrescentos diligentemente efectuados (sem serem exigidos pelos nossos credores) pelo Governo português provocaram uma "colossal" revolta nos cidadãos, que se sentem completamente exauridos com tamanhos sacrifícios.

Apesar de se dizer à boca cheia que a crise não explica nem justifica tudo, os muitos salários em atraso e os muitos despedimentos (de empresas que continuam com condições para laborar), provam o desprezo de certos padrões por aqueles que, em épocas mais favoráveis, os ajudaram a erguer e a fazer prosperar as suas empresas.

Mas há excepções, claro. E hoje menciono duas pessoas que merecem ser reconhecidas pela forma como interpretam a denominada responsabilidade social das empresas e manifestam o devido respeito pela dignidade devida aos trabalhadores.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro, o conhecido empresário de Campo Maior, é um deles. Já afirmou que não haverá cortes salariais nas suas empresas.

Outro é Fernando Torres, o patrão do grupo Torrestir que admitiu repor nos salários dos seus trabalhadores o corte dos 7% do aumento da TSU.

Dois bons exemplos de EMPRESÁRIOS que, certamente, não serão os únicos.

segunda-feira, setembro 17, 2012

O povo esteve nas ruas ...

Toda a gente sabe que a figura de Manuela Ferreira Leite nunca me foi muito cara. Sempre coloquei reservas às políticas que seguiu enquanto Ministra da Educação e, sobretudo, enquanto Ministra das Finanças, muito embora não ponha em causa a sua seriedade política e a sua competência técnica.
Pois bem, perante o discurso de Passos Coelho, anunciando o agravamento da austeridade com medidas (algumas delas já implementadas em 2012, com os péssimos resultados que todos os indicadores mostram), vários foram os políticos de todos os quadrantes (e também todos os parceiros sociais - trabalhadores a patrões - uma verdadeira união nacional contra o Governo) que levantaram as suas vozes. Incluindo a de Ferreira Leite que, como se sabe, pertence ao principal partido da coligação que nos governa.

E de tal maneira que, na última semana, numa entrevista à TVI24, afirmou com todas as letras "Só por teimosia se pode insistir numa receita que não está a dar resultados” e exortou o Governo a arrepiar caminho e os portugueses a fazerem cada um o que tem de fazer para, em consciência, tentar inverter o rumo.

E não podia ter sido mais clara ao afirmar: “Alguma coisa tem de ser ajustada”; “não só não se atingem os objectivos como o país chega ao fim destroçado”; "O Governo actua com base em modelos que estão a ser perniciosos e não têm nenhuma adesão à realidade, sem conseguir explicar onde o país vai estar em 2014, como se salta daqui para o crescimento?”; "O Governo tem uma total insensibilidade social, sobretudo para os reformados".

Afirmações que foram entendidas como um recado aos deputados para alterarem ou chumbarem o Orçamento do Estado e aos cidadãos descontentes e desesperados que não podem fazer muito mais do que se manifestarem e fazerem ouvir bem alto os seus protestos.

Pelo menos desta vez concordei com Manuela Ferreira Leite. E a indignação da antiga Ministra veio ao encontro dos muitos milhares de pessoas que, no sábado passado, se juntaram numa gigantesca manifestação que encheu as ruas das principais cidades do país. Não sei se Ferreira Leite se juntou aos demais manifestantes, como chegou a admitir, mas garanto-vos - porque estive lá - que toda aquela gente, de todas as idades e certamente de vários quadrantes políticos (ou de nenhum) fez sentir vivamente o desagrado pela forma como os governantes nos tratam.

terça-feira, setembro 11, 2012

Vai mais um copo?



Eram quase nove horas da noite (mais precisamente oito e quarenta e nove) da última sexta-feira quando recebi uma mensagem no telemóvel:

"Olha primo, hoje resolvi seguir um conselho que já me deste noutras alturas semelhantes ... estou a beber um copo de vinho".

O tal "conselho" tem a ver com aquilo que se costuma dizer (na brincadeira) quer nas situações de felicidade quer nas de depressão. Em ambas, deve-se beber.

E Passos Coelho tinha anunciado as novas medidas de austeridade há pouco mais de uma hora.

O pior é que o sentimento de revolta e de injustiça começa a ter uma dimensão tal que um só copo de vinho é capaz de não chegar ...

segunda-feira, setembro 10, 2012

Passos Coelho não nos dá descanso ...

Consta que pelas 20 horas da passada sexta-feira se ouviram, na Quinta da Marinha, os sons característicos da abertura de centenas de garrafas de champanhe. Calculo que resultantes da euforia provocada em certas elites pelas novas medidas de austeridade anunciadas pelo Primeiro-Ministro. Medidas que voltam a castigar os mesmos de sempre: os trabalhadores por conta de outrem, os reformados e os pensionistas. Mas que - isto é uma novidade - irão aliviar os impostos (a TSU) aos empresários (e aqui gostaria de separar aqueles que terão um pequeno balão de oxigénio para continuarem a manter as suas empresas, dos grandes grupos que poderão encaixar mais uns milhões). Portanto, mais uma machadada nas condições de vida da generalidade dos portugueses.

E bem pode o Governo jurar que não lançou mais um imposto. Pouco me interessa a semântica usada (para nos tentar enganar ou para agradar ao CDS que - dizem eles -não queriam mais impostos). O que sei é que se trata de mais um agravamento tributário sério e que isso vai afectar a maioria dos portugueses.

Pode a Associação Sindical dos Juízes afirmar que se trata de uma afronta (de um desrespeito) ao Tribunal Constitucional por penalizarem mais uma vez os rendimentos do trabalho (ao arrepio do que dizia o acórdão do TC sobre "uma tal equidade" de sacrifícios), pode o Governo vir a ser penalizado civil e criminalmente por essas medidas, pode ...

Porém, o que nos atormenta é a deterioração das nossas condições de vida, a refinada e continuada mentira política deste Executivo, a sensação de injustiça profunda sentida pelos cidadãos e a resposta à pergunta insistentemente formulada: até quando vamos aguentar?

sexta-feira, setembro 07, 2012

Há Palavras Que Nos Beijam



Há Palavras Que Nos Beijam, a poesia de Alexandre O'Neill

 
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

quinta-feira, setembro 06, 2012

A pergunta que eu gostava de ver respondida


Assumo a minha incapacidade de perceber a questão. Ainda assim, gostava que me explicassem porque razão é que no ano lectivo que vai agora começar, o número de alunos em cada turma irá aumentar 15 a 20%, sobrecarregando, claro está, os professores que têm a missão de os acompanhar e, por outro lado, deixam sem alunos para ensinar 13 mil docentes a quem o Estado vai continuar a pagar o vencimento. Conseguem perceber esta lógica?

Então, pergunto: com tantos professores disponíveis (e pagos pelos dinheiros públicos) não seria possível ter turmas com menos alunos que, supostamente, deveriam ter melhor aproveitamento?

quarta-feira, setembro 05, 2012

A Manta (Rota) de Passos Coelho

Quando ontem eu sugeria que Pedro Passos Coelho teria orientado a sua estratégia para uma vertente mais populista, quiçá a pensar já nas próximas eleições, não pretendi ser, de todo, radical nem embarcar na desconfiança generalizada com que se encaram os políticos. Não quero correr o risco de ser injusto para com quem, como parece ser o caso, apenas quis desfrutar umas férias simples em família, como qualquer outro cidadão. Passos Coelho foi para a praia de sempre – a Manta Rota – alojou-se numa casa modesta e chegou até lá não num carro topo de gama mas num utilitário Opel Corsa.

Mas um Primeiro-Ministro não é, como se entende, uma pessoa exactamente igual às outras. Os elementos da sua segurança fazem parte da sua bagagem, colam-se-lhe à sua sombra e vão para onde ele vai, uns marcando ostensivamente o território, enquanto que outros, mais discretos, seguem-lhe os movimentos. Nada a dizer quanto a isto.

O que me parece um tanto ou quanto desajustado é o facto de enquanto Passos utilizou um Opel Corsa, os seguranças da PSP transportaram-se num BMW série 3, outros agentes à paisana numa Mercedes Vito e os da GNR num jipe Nissan novinho em folha, com ar condicionado e outras comodidades.

É que parece claramente que não joga a bota com a perdigota, não acham?

terça-feira, setembro 04, 2012

Populismos

Odeio pensar em política quando estou de férias. E fico danado ainda mais quando percebo que os políticos nos querem fazer passar por parolos, com ideias e discursos a roçar o popular, destinados, claro está, a “aproximarem-se” um pouco mais dos cidadãos votantes.

O Primeiro-Ministro Passos Coelho depois de há uns tempos ter chamado “piegas”aos portugueses e de ter exortado a rapaziada a emigrar, sentindo que o descontentamento dos cidadãos é cada vez maior, deu uma volta ao discurso político e vá de empregar termos mais amigáveis e populares, a ver se pega.

“Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal”, como afirmou, é uma excelente pérola de retórica que só pode impressionar os mais distraídos. A isto eu chamo populismo. Como dizia Daniel de Oliveira num texto que escreveu sobre este mesmo assunto, “Um bom Governo não sacrifica a sua reeleição em favor do país. Trabalha pelo país e por isso é reeleito”. O resto são balelas.

segunda-feira, setembro 03, 2012

RTP, que futuro?

Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer à RTP. Consta (até ver) que o modelo escolhido pelo Governo para entregar o serviço público de rádio e televisão a privados passará por uma concessão (o Estado continuará a ser o dono mas não fará a gestão) a um ou a vários operadores. E parece que a ideia é de fazer a concessão de todos os canais da RTP menos o canal 2 que, pura e simplesmente, fechará portas.

Para além da aparente (?) inconstitucionalidade da operação (a Constituição impõe a existência de um serviço público de televisão e isso implica um serviço público institucional, generalista, pluralista e independente. E isso são coisas que não podem ser asseguradas por operadores privados que têm, obviamente, outros objectivos) existem muitas interrogações sem resposta.

Ainda em férias, li na imprensa que o orçamento da RTP para 2013 já previa funcionar sem contribuições do Estado (embora se tenha sabido posteriormente que a Administração da RTP reclamou 80 milhões de euros de indemnização compensatória para o próximo ano). Ora, a miraculosa solução encontrada pelo Governo para vender/ceder a RTP parece ser muito atractiva para os investidores. O orçamento da RTP para 2013 prevê custos na ordem dos 180 milhões de euros. Como do lado das receitas 150 milhões de euros virão da taxa audiovisual pagos por todos nós que temos a mania de ter electricidade em casa e mais 50 milhões de publicidade, o investidor que vier a conseguir a RTP terá, à partida, um lucro garantido de 20 milhões de euros sem que tenha que investir um só euro que seja. Isto para já não falar da cedência a privados de uma televisão já montada, com nome no mercado, todas as infra-estruturas a funcionar e pessoal qualificado. Um negócio do outro mundo.

E eu, como, por certo, muitos outros cidadãos, questionamos:

- se no próximo ano o Estado já não vai “meter” dinheiro na RTP o que é que se ganha com este negócio? O que justifica (para além da vontade política do Governo e dos mais que certos interesses de Miguel Relvas e dos seus amigos) que entreguemos a gestão a estranhos de uma marca que nos é tão querida e com a qual nos identificamos?
- se a RTP, for mesmo entregue a privados, irá continuar a haver um serviço público de televisão? Alguém acredita realmente nisso? Ainda por cima se o privado for um estrangeiro?
- se a gestão começar a ser feita pelos privados justificar-se-á que continuemos a pagar a taxa audiovisual (já de si bastante polémica)?
- a quem ficará entregue o “Arquivo da RTP”, um espólio de muitas dezenas de anos da vida colectiva nacional (insubstituível e que não haverá valor que o pague)?

Coisas menores que não terão tirado o sono ao executivo. Faltará ainda o acordo de Bruxelas (que tem uma palavra a dizer), a discussão que os partidos e a sociedade terão que fazer e o parecer do Tribunal Constitucional, a quem o assunto será – ESPERAMOS – enviado por Cavaco Silva.

Resta-nos esperar ... preocupados.