segunda-feira, novembro 05, 2012

"Ai aguentam, aguentam"



Tradicionalmente, em Portugal, os banqueiros costumam ser discretos. Aparecerem pouco, falam pouco e, quando o fazem, são muito prudentes nas suas afirmações. Porém, Fernando Ulrich, o Presidente do BPI é exactamente o contrário. Opina com frequência, aparece muitas vezes em debates e conferências e não perde uma ocasião para dizer o que pensa (mesmo que isso o prejudique e à sua Instituição). Só que os portugueses começam a ficar fartos das suas ideias.

Ainda no passado dia 24 de Outubro aqui dávamos conta daquela ideia peregrina de Ulrich de acolher no seu Banco umas centenas de trabalhadores que seriam pagos pelo Estado e, agora, numa resposta à pergunta se os portugueses teriam capacidade para poderem aguentar mais austeridade, teve a desastrosa (no mínimo) expressão "ai aguentam, aguentam". Logo de seguida comparou a nossa situação com a que se está a viver na Grécia, dizendo "na Grécia o desemprego já está em 23,8% e chegará aos 25,4% no próximo ano. Apesar disso, os gregos estão vivos, protestam com um bocadinho de mais veemência do que nós, partem umas montras, mas eles estão lá, estão vivos”.

Fernando Ulrich não estava a ironizar. Ali notou-se pura insensibilidade.

Cada vez mais temos consciência (com excepção destes senhores que não conhecem bem a realidade deste país e dos seus cidadãos) que já não aguentamos mais. Saberá Fernando Ulrich que um trabalhador que ganha agora 1 000 euros de salário bruto mensal passará a receber 635 euros já a partir de Janeiro de 2013 (menos 39%)? Ou que a um "ricalhaço" que aufira agora 2 000 euros lhe será sacado 44,93% e passará a ganhar - ainda assim uma enorme quantia - 1 151,43 euros?

Do alto do pedestal com que nos mira, de tão longe que está de nós, por certo que não terá consciência disso.


 

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