segunda-feira, novembro 26, 2012

As reflexões de Cavaco Silva


Não há volta a dar. Há pessoas que têm graça e outras que não o conseguem, ainda que se esforcem muito para lá chegar. Raul Solnado, por exemplo, aparecia em cena e, sem dizer uma palavra, punha toda a gente a rir. Ricardo Araújo Pereira é outro bom exemplo de alguém que é naturalmente engraçado. Quando aparece todos esperam rir ... e riem.

Cavaco Silva é exactamente o oposto. Não é um comediante e não tem graça natural. Mas isto não é trágico. O preocupante (e o que o torna ridículo) é que, não tendo esses atributos, ainda assim, teima em ser engraçado.

Ainda há dias, no habitual discurso da entrega de prémios de jornalismo, Cavaco Silva, numa espécie de "stand up", disse:

"Todos sabem que o silêncio do Presidente da República é de ouro, hoje a cotação do ouro foi 1.730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de Setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: "tê, ésse, u" (TSU)"

 
Falava, claro está, sobre o seu (ensurdecedor) silêncio sobre os vários assuntos graves que estão a acontecer na nossa sociedade E comentou:


"Até aqui, boa parte dos portugueses pensava que o Presidente da República estava a meditar, a reflectir sobre a próxima visita a Portugal da senhora já bem conhecida de todos, amada por muitos, a que carinhosamente os portugueses chamam de troika, outros estariam a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre se o aumento de impostos era enorme ou gigantesco, outros pensariam que o Presidente da República estava a reflectir sobre os novos apoios que a chanceler Merkel podia trazer para Portugal na sua próxima visita ao país e outros poderiam estar a pensar que o Presidente da República estava a reflectir sobre o que fazer relativamente às pressões de vinte corporações e mais de cem individualidades para que ele enviasse o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional, outros estariam a pensar que o Presidente estaria a reflectir sobre o consenso político que foi possível estabelecer entre as forças políticas do arco da governação sobre a forma de realizar a reforma das funções do Estado, outros podiam estar ainda a pensar que o Presidente estava a reflectir sobre se a transmissão televisiva dos jogos de futebol em canal aberto fazia ou não parte da definição de serviço público de televisão, mas agora, depois de ter quebrado o meu silêncio, os portugueses dirão que afinal ele estava apenas a reflectir sobre a forma de evitar a sua presença na cerimónia de atribuição dos prémios Gazeta do Clube de Jornalistas".

E a terminar: "peço-vos o favor de não relatarem a minha presença aqui e se forem inquiridos, digam que eu nada disse. Comprometo-me a não escrever sobre isto na minha página do Facebook".


Um discurso monótono, muitíssimo longo e num tom supostamente irónico. Mas nada teve de ironia, Cavaco foi simplesmente ridículo. Uma tristeza! Já ouvi dizer por aí que a forma que usou tende a imitar a do Presidente Americano que costuma dizer umas graças em alguns dos seus discursos. Só que Barack Obama tem graça e as suas piadas costumam surtir efeito. O que não é o caso de Cavaco Silva.


 

2 comentários:

Vexata disse...

Desta vez não escapas, não podia estar mais em desacordo contigo, porque, dizes: - "não tem graça natural.", devias dizer -"não tem graça nenhuma";
dizes: - "o seu (ensurdecedor) silêncio", devias dizer - "o seu (confrangedor) silêncio";
dizes: - "num tom supostamente irónico", devias dizer - "num tom idiotamente irónico".

Desculpa lá, é o peso da democracia e dos "esclarecidos votantes", incluindo os idiotas que aos magotes encontramos diáriamente por ai, e lá o poseram!
É que, já estou como o Jardim, eu nem conheço o Silva, para lhe enviar por engano uma palma.

- Senhor, livrai-nos do tipo!

demascarenhas disse...


Vexata, apanhaste-me!

Ainda por cima venceste - por sagacidade ou pelo espírito natalício que está a chegar - qualquer assomo de resposta ao teu comentário, ao implorares "Senhor, livrai-nos do tipo!". É que eu subscrevo esse pedido.

Abraço.