sexta-feira, abril 27, 2012

Ah, pensavam que não era possível? Pois bem, é!


De há muito que as boas práticas mandam que, para se mexer nas nossas contas bancárias (a débito), é necessário que haja a autorização dos clientes. Pela assinatura dos titulares necessários ou pela digitação de uma senha associada ao cliente e à conta. É uma condição assumida quer pelos clientes quer pelos bancos como segurança do normal funcionamento das operações e que expressa a confiança entre os cidadãos e o sistema bancário. Assim, temos a certeza de que as nossas contas só são debitadas quando nós autorizamos, certo? Sim … em princípio. Com excepção do pagamento de portagens e alguns outros (poucos) serviços, para nos “tirarem” dinheiro da conta só com a nossa autorização.
Mas há casos que, às vezes, fogem a essa obrigatoriedade. Como aconteceu na situação que passo a contar:

“uma senhora comprou na Zara uma peça que estava marcada por 9,90 euros. Dias depois reparou que no seu extracto, além da referida importância, a Zara tinha debitado também (sem a sua autorização) outros 3,00€. Contactada a loja recebeu como explicação que, afinal, tinha havido um erro de marcação e que a referida peça custava não 9,90 mas 12,90. Daí que tenham dado ordem à Unicre (a gestora dos cartões) para debitar os tais 3,00 euros. Resta dizer que o Millenium-BCP (o banco da senhora) aceitou o débito. Tudo se passou sem a autorização da cliente”.
O procedimento da Zara parece ser usual. Quando há enganos regularizam mais tarde e a Unicre e o Banco (pelo menos o BCP) aceitam sem discussão, independentemente das verbas em causa. Neste caso foram 3 euros mas podiam ter sido muitos mais.

Como afirmei, a nossa relação com o sistema é baseada na confiança. Acreditamos que as transacções são secretas e a nossa conta só é movimentada a débito quando nós autorizamos. Por isso me indigno quando oiço relatos como este que vos contei em que esses princípios são esquecidos sem qualquer escrúpulo.

Incomoda-me a ideia de ver uma marca (de uma empresa, de alguém) alijar a responsabilidade por um erro que cometeu e de não assumir os respectivos custos. Não me parece que seja uma boa prática comercial nem séria. Incomoda-me também que a gestora de cartões, com um simples telefonema de uma loja, vá à conta de qualquer de nós e retire dinheiro sem que o cliente seja ouvido ou achado. E incomoda-me, ainda, que um banco tenha um sistema informático que permita situações como esta.
A partir de agora teremos que pensar duas vezes se podemos, ou não, ter confiança na Zara, na Unicre e em alguns bancos.

quinta-feira, abril 26, 2012

Na Assembleia da República come-se bem e barato


Não devo ter reparado numa notícia que foi publicada por um matutino no início do ano. Felizmente que, por estes dias, um programa de televisão de um dos canais generalistas, voltou a falar no assunto e, agora sim, eu tomei conhecimento de mais esta escandaleira que subsiste à custa dos impostos dos contribuintes. Eu explico:

Na Assembleia da República existem dois restaurantes de luxo reservados a deputados e aos seus convidados, bares e uma cantina onde vão sobretudo os funcionários da casa. Até aqui não há problema, quem ali trabalha tem mesmo que comer. Nem mesmo o facto de haver dois restaurantes de luxo suscita qualquer questão. Os deputados (que não ganham propriamente uma miséria) são livres de gastar o seu dinheiro onde e como muito bem entendem.

Onde a coisa já cheira a esturro (já que estamos a falar em comida) é no preço que os senhores deputados pagam para se banquetearem nesses restaurantes. Para perceber melhor do que estou a falar, vejamos como é constituído um menu de um almoço buffet de um dos dias da semana:

sopa de cebola, arroz de tamboril com gambas e salsichas em couve lombarda. Mesa de fritos, uma outra vegetariana, mais uma de doces e frutas e outra de queijos”.

Tudo isto por uns módicos 10 euros por pessoa. Suponho que não estarão incluídos os vinhos e espumantes de marca nem os cafés de exóticos aromas. Só faltava essa … Por este preço o cidadão comum só conseguirá comer uma refeição normalíssima num tasco banal sem quaisquer requintes.

E a minha indignação é exactamente essa. Numa altura em que os sacrifícios são pedidos constantemente a uma população já tão castigada, faz algum sentido que os contribuintes continuem a subsidiar as refeições de restaurantes de luxo para pessoas que, de certo modo, já são privilegiadas?

Será que o Conselho de Administração da Assembleia da República, e os deputados que tanto se preocuparam com os custos da Parque Escolar na modernização das escolas, já ouviram falar em equidade de sacrifícios e justiça social?

Estamos em Abril. Talvez seja uma boa altura de recordar ao nosso Parlamento e a quem lá manda, uma das promessas do Abril de 1974: “mais igualdade e melhor repartição dos bens”. E isso, ao que parece não está a acontecer …

terça-feira, abril 24, 2012

Canção tão simples


“Canção tão simples”, um poema de Manuel Alegre




Quem poderá domar os cavalos do vento

quem poderá domar este tropel

do pensamento

à flor da pele?
 

Quem poderá calar a voz do sino triste

que diz por dentro do que não se diz

a fúria em riste

do meu país?


Quem poderá proibir estas letras de chuva

que gota a gota escrevem nas vidraças

pátria viúva

a dor que passa?
 

Quem poderá prender os dedos farpas

que dentro da canção fazem das brisas

as armas harpas

que são precisas?

segunda-feira, abril 23, 2012

O “Movimento Zero Desperdício”


Não podia deixar de mencionar uma iniciativa apresentada na semana passada – o “Movimento Zero Desperdício” - um projecto da Associação Dariacordar que tem por objetivo principal a luta contra o desperdício alimentar. Segundo os responsáveis deste Movimento todos os dias sobram mais de 50 mil refeições (que ninguém aproveita) confecionadas em refeitórios de empresas, supermercados, restaurantes ou escolas que, a partir de agora e progressivamente, vão ser entregues a famílias carenciadas.

Mas se a iniciativa é altamente louvável, o hino (chamemos-lhe assim) que a promove tem que se lhe diga. Interpretado por figuras públicas como Sérgio Godinho, Jorge Palma, Camané e muitas outras, que admiro como pessoas e como músicos, tem uma letra que, no mínimo, é infeliz.

Como considerar, por exemplo, a frase lá cantada

  “O que eu não aproveito ao almoço e ao jantar a ti deve dar jeito, temos de nos encontrar”.

 Entendamo-nos: as palavras têm a sua força, o seu sentido. E estas, escritas, certamente, sem o cuidado devido, fazem-me recuar a tempos ainda não muito longínquos em que a “caridadezinha” e a “esmola” eram características da sociedade em que vivíamos.

Parece um pormenor mas não é. É uma questão de dignidade.

Mas, como costumo dizer, “uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa”. Saudemos, portanto, o novo Movimento. Alguém escreveu algures “Há movimentos que começam com a revolta, com a revolução …”. Este nasceu da vontade, da perseverança e do trabalho de gente concreta que quis dar-se a pessoas concretas.

sexta-feira, abril 20, 2012

O cumprimento salvador

A recente tragédia ocorrida em Armamar em que dois jovens operários entraram numa câmara frigorífica e lá morreram, lembrou-me uma outra história – ao que parece verdadeira – e que se conta desta forma:

“Certo dia, no fim do expediente, um trabalhador da empresa foi inspeccionar a câmara frigorífica. Inexplicavelmente, a porta fechou-se e ele ficou preso lá dentro. Bateu na porta com força, gritou por socorro, mas ninguém o ouviu. Todos já tinham saído e era impossível que alguém pudesse escutá-lo.
Já estava há quase cinco horas preso e debilitado com a temperatura insuportável. Até que, de repente a porta abriu-se e o vigia entrou na câmara e resgatou-o com vida.

Depois de salvar a vida do homem, perguntaram ao vigia:

- Porque foi abrir a porta da câmara se isto não fazia parte da sua rotina de trabalho?
Ele explicou: Trabalho nesta empresa há 35 anos, centenas de empregados entram e saem aqui todos os dias e ele é o único que me cumprimenta ao chegar pela manhã e se despede de mim ao sair.
Hoje pela manhã disse “Bom dia” quando chegou. Entretanto não se despediu de mim na hora da saída. Imaginei que poderia ter-lhe acontecido algo. Por isto o procurei e o encontrei..."

Mesmo que a história não seja verdadeira, é um bom momento para reflectirmos …


quinta-feira, abril 19, 2012

Vai haver subida dos salários?


Desde há algum tempo que Pedro Passos Coelho vem defendendo que os subsídios de Férias e de Natal sejam distribuídos ao longo dos 12 meses do ano. Isto, claro, quando voltarem a ser pagos.

Pessoalmente, não me faz grande transtorno. Se ganhar – e isto é um “supônhamos” – 14 000 mil euros num ano (1 000,00 mensais) ou 1 166,66 em cada mês, o dinheiro de que disponho é rigorosamente o mesmo, sem tirar nem pôr. Mas isso é para mim que sou um tipo organizadinho e que sei fazer contas. Contudo, se tal vier a acontecer, acredito que a maioria das pessoas - e das empresas – possam ficar em transe. Porquê? Genericamente porque estão organizados de uma determinada forma e vai ser difícil alterar o padrão adoptado há muito. E existem razões que o justifiquem. Vejamos:

Relativamente aos particulares, se é facto que o salário mensal pode subir (ficticiamente como se viu), a verdade é que quando chegarem os grandes meses – aqueles em que receberiam os subsídios – não têm os tais ordenados a mais que dava para fazer turismo, pagar uns seguros, o IMI, a revisão do automóvel ou as propinas dos colégios dos filhos, de comprar uns presentes para oferecer ou umas peças de roupa ou, ainda, para resolver umas dívidas pendentes. Claro que, “subindo” os rendimentos mensais, as retenções na fonte de IRS também subiriam mas, no final, tudo seria pouco mais ou menos o mesmo.

Quanto às empresas, aparentemente ficariam com uma gestão facilitada porque o pagamento dos 13º e do 14º meses deixaria de criar os malfadados picos de tesouraria e, este faseamento, permitiria uma gestão de caixa mais equilibrada, com a possibilidade até de poderem fazer algumas aplicações financeiras sempre que chegasse dinheiro fresco proveniente das vendas.

Só que, como referi, era necessário alterar toda a estrutura mental de trabalhadores e empresários e arranjar novos mecanismos de gestão quer das famílias quer das empresas. Implicaria também novos hábitos de consumo e de poupança e a preocupação da retenção de provisões que pudessem suster custos inesperados ou já programados. Mas isso (o que já é muito) não bastará. É necessário não esquecer que há complementos salariais que estão indexados ao vencimento mensal como, por exemplo, os subsídios de turno ou nocturnos, e não me parece que as empresas estejam receptivas à subida dos custos.

O Primeiro-Ministro vai sistematicamente insistindo mas o consenso tarda. Porém, se a coisa for para a frente, não nos resta outra alternativa do que dizer como o Dr. António Vitorino: HABITUEM-SE!

quarta-feira, abril 18, 2012

O conflito de interesses




Quando ouvi a notícia nem queria acreditar. O presidente da Caixa Geral de Depósitos foi nomeado para a presidência da Associação Portuguesa de Bancos. E o que é que isso tem de mal, perguntarão. Nada, respondo. Nada, a não ser o facto da mesma pessoa vir a ser o presidente da Caixa e, simultaneamente, o presidente da APB que, como se sabe, é um lóbi do sector privado. E mais, ao que veio a público, o Eng.º. Faria de Oliveira resolveu optar pelo salário que lhe vai pagar a APB (que é três ou quatro vezes maior do que ganha actualmente) e prescindir, portanto, do salário que aufere como presidente da Caixa. Ou seja, o vencimento de um presidente da Caixa Geral de Depósitos (cujo acionista único é o Estado) vai ser pago pela Associação da banca privada!

Aqui se regista a novidade. É que, no passado, pessoas como João Salgueiro ou António de Sousa, por exemplo, também foram presidentes da CGD e passaram a ser – depois - presidentes da APB. Sublinho: depois, não ao mesmo tempo.

No caso presente, o que me inquieta é o conflito de interesses que a questão suscita. Sentir que, num primeiro momento, o presidente da Caixa está a representar o Banco do Estado e, num momento seguinte, pode estar a defender a Banca privada, cujos interesses não são, regra geral, coincidentes.

E, naturalmente, sem me estar a referir em concreto a Faria de Oliveira, esta simultaneidade de funções pode proporcionar situações mais nublosas como sejam o tráfico de influências, corrupção ou outras. Mas mesmo que isso não aconteça há sempre o problema da ética (ou da falta dela).

Como dizia o João Cravinho há dias: “O simples facto de existir esta situação é em si mesmo prova da existência de uma enorme menoridade moral à frente do País …”


terça-feira, abril 17, 2012

O fumo que incomoda …


Sinto-me perfeitamente à-vontade para comentar o assunto de hoje porque NÂO SOU FUMADOR. Durante muitos anos tive que suportar (muitas vezes sem direito a indignar-me) o fumo dos outros em espaços fechados. Mas eram espaços públicos - restaurantes, aeroportos, locais de trabalho, transportes, onde não se podia fugir à tirania (tantas vezes arrogante) de quem tinha o vício. Por isso rejubilei quando foi decretada a proibição de fumar em espaços fechados. Contudo, e repito, eram ESPAÇOS PÚBLICOS.

Agora esta vontade abstrusa de legislar para que não se possa fumar em automóveis PRIVADOS, desde que neles viagem crianças, parece-me completamente inaceitável. É uma medida que irá intrometer-se na esfera mais privada das famílias. E logo vinda de um Governo que se tem mostrado tão liberal e que quer tirar o Estado de tudo o que é actividade económica. Em contrapartida, acha-se com o direito de intervir num caso como este.

O assunto é polémico, já se vê. Sabe-se que a lei em preparação pelo Executivo é rejeitada até por muitos deputados da maioria. Mas a ser aprovada, tenho muitas dúvidas que seja exequível. Como é que irão montar o sistema de fiscalização? Será que vai haver um agente à esquina da cada rua? O que está em causa, porém, é o modo (e eu não duvido da bondade das intenções) como querem defender as crianças e a sua saúde. Eu acho que esse desiderato se alcançaria mais eficazmente se houvesse adequadas campanhas de informação (sobre os eventuais malefícios do tabaco para a saúde dos fumadores passivos) em vez de se restringir as liberdades de cada um.

Fala-se muitas vezes na Finlândia como exemplo de uma Nação modelo. Pois em 2009 na Finlândia, a população mostrou-se favorável à proposta do Governo para proibir o fumo dentro dos carros em que viajassem menores de 18 anos mas, em Maio de 2010, um comité do Parlamento acabou por travar o projecto, argumentando: “a decisão de fumar no interior de uma viatura é um assunto da esfera pessoal de cada cidadão e por isso não deveria ser regulamentada por uma lei”. Talvez fosse boa altura de olhar para o exemplo daquele país escandinavo.

segunda-feira, abril 16, 2012

A verdadeira explicação da crise


Tenho-me por bem informado. Leio muitos jornais e revistas, não perco programas de debate e de comentário mas, mesmo assim, sou muitas vezes surpreendido por ir encontrar respostas onde menos espero.

Foi o que aconteceu recentemente quando descobri a verdadeira razão do despedimento de um primo meu. É que a justificação que a fábrica onde ele trabalhava tinha falido por causa da crise não me convencia, tão-pouco a que apontava para uma gestão altamente danosa. O certo é que a fábrica faliu mesmo e o meu primo foi para a rua.

A resposta, porém, achei-a numa conferência a que assisti, da boca de um jovem engenheiro. E era esta:

“quando o Lehman Brothers faliu, ele era o dono de um banco no norte da Alemanha, que tinha uma sociedade financeira na Baviera, que, por sua vez comprara uma corretora em Turim, que tinha uma sociedade francesa que adquiriu a maioria do capital de uma sociedade madrilena, que comprou uma fábrica de têxteis em Vila do Conde.

O Lehman Brothers faliu e, com ele, faliu tudo o resto e o meu primo foi despedido a semana passada. O que, diga-se de passagem, é injusto porque ele fazia casacos muito bem”.

Pois é, agora que já sei a verdade, queria encontrar uma solução para ajudar o meu primo. E a única que eu vejo é … comprar o Lehman Brothers …

A partir desta história façam as extrapolações que quiserem para os problemas da crise real …

sexta-feira, abril 13, 2012

Simpático … só isso?


Miguel Sousa Tavares escrevia há dias sobre Pedro Passos Coelho “a grande e visível diferença de Pedro Passos Coelho para José Sócrates é a calma afável do actual primeiro-ministro perante a crispação do anterior … onde Sócrates se irritava Passos Coelho sorri, apenas pedindo que o deixem responder à pergunta … aliás não é difícil simpatizar com PPC: o seu tom nunca é afectado nem grandiloquente, não tem tiques de importância deslocada e, pelo contrário, transmite uma ideia de homem sério, humilde mas seguro de si, repetindo, se necessário, as mesmíssimas coisas, entrevista após entrevista.”

Sou capaz de concordar com MST. Mas, meus amigos, da mesma forma que eu procuro num médico um profissional competente que trate da minha saúde, dum primeiro-ministro (e do seu governo) eu espero que governe de forma eficaz e que consiga escolher as melhores políticas para o país e para os cidadãos.

De que me serve ter um primeiro-ministro simpático, aparentemente humilde, sério e seguro de si se, depois, os resultados são os que sabemos. E, provavelmente, só sabemos da missa a metade …

quinta-feira, abril 12, 2012

O 28 da Carris


Quando ontem me referia à falta de soluções (óbvias) para muitos problemas que existem por aí, estava também a pensar no conhecido eléctrico da carreira 28, aquele que é considerado como um passeio obrigatório pelas ruas da capital. Uma volta desde as colinas à baixa, através das casas pombalinas, das igrejas, das ruas da Lisboa antiga e, sempre que possível, com um olhar sobre o Tejo, sobretudo nos dias de maior luminosidade. Um passeio fundamental para os nacionais e para os estrangeiros que já trazem no seu roteiro de visita uma viagem no “28 da Carris”.

O pior é que nessas viagens também vão outros “passageiros” que não estão ali propriamente para admirar a paisagem - são os carteiristas. Todos os dias são apresentadas queixas de roubos verificados naquele eléctrico. TODOS OS DIAS, repito. E as autoridades já identificaram muitos desses ladrões mas tudo continua na mesma. Porquê?

Não haverá a possibilidade de viajarem ali dois ou três polícias fardados para dissuadir os meliantes? Ou dois polícias à paisana que consigam apanhá-los em flagrante? Ou uma equipa com agentes fardados e à paisana que acabem de vez com a situação?

Como é possível que não se consiga acabar com um esquema que se verifica há anos, com todos os prejuízos daí decorrentes? É absolutamente necessário que a Câmara Municipal de Lisboa, a PSP ou a Polícia Municipal, o exército, o Governo, eu sei lá quem, façam alguma coisa para acabar com os carteiristas do 28.

Se o problema está identificado, se já sabem que os “artistas” são portugueses, romenos e russos e se em muitos casos até se conhecem as personagens, do que é que estão à espera?

quarta-feira, abril 11, 2012

Quando os neurónios não funcionam



Há situações que parecem incontornáveis (e que se arrastam no tempo) mas cujas soluções são aparentemente óbvias. O que nos faz questionar se não seremos os únicos a pensar que a tal solução tão fácil está mesmo ali à mão de semear. E mais, se são tão fáceis de resolver por que é que não se resolvem?
Vem isto a propósito das SCUTS e dos automobilistas que entram no nosso país e que não possuem os identificadores electrónicos para fazer o pagamento automático. Ainda agora, na Páscoa, época em que os nossos vizinhos espanhóis costumam “invadir” as nossas cidades, ninguém se lembrou de criar as condições para que pudessem pagar as portagens de forma natural e simples. E vimos turistas que, nas fronteiras, tiveram que sair dos carros e estar numa fila para utilizar a única máquina existente para poder efectuar o pagamento.
E isto passou-se na Páscoa mas acontece todo o ano, apesar das queixas insistentes do comércio que vê diminuir sistematicamente o número de clientes que vêm sobretudo de Espanha e a quem não é proporcionado um modo fácil de pagar as portagens.
Não consigo perceber como com tantos técnicos, assessores e conselheiros no Governo e nos Ministérios, ainda ninguém conseguiu pensar em facilitar a vida a quem vem até nós usufruir de uns dias de férias (ou em negócios) e deixar por cá uns bons milhares de euros que tanto jeito dão à nossa economia. Como é que, apesar dos avisos insistentes das confederações do comércio e do turismo e das próprias autarquias, ninguém pensou numa solução?
Nós, portugueses, que até inventámos a “via verde”, ficamos com uma estranha sensação que andam por aí muitos neurónios que não funcionam.

terça-feira, abril 10, 2012

O orçamento rectificativo

Alguns amigos que me conhecem bem e que sabem que vou aos arames com “certas coisas” ficaram admirados por eu não ter ainda falado no assunto. E essa “certa coisa” que eu não tinha comentado foi o orçamento rectificativo que o Governo se viu na necessidade de anunciar … três meses depois de ter apresentado o OE para 2012. E, fatalmente, surgem as perguntas:

Então, apenas noventa dias passados e já é necessário apresentar um rectificativo? O Primeiro-Ministro não tem dito que as receitas estão dentro do previsto e as despesas a cair? O que é que se passa, afinal? Será que se esqueceram que as pensões dos bancários agora têm que ser suportadas pela Segurança Social ou, pior (e tememos que o busílis seja mesmo esse), isto está mesmo a descambar e não nos querem dizer a verdade?
O que acho curioso é que esta coligação que nos governa, desancava o ex-Primeiro Ministro José Sócrates porque em Novembro (quase um ano depois da apresentação do OE inicial) apresentou um orçamento rectificativo. Nessa altura, a então oposição, reclamava que o Governo socialista tinha perdido o norte e que o descontrolo das contas era total. Mas tinha passado quase um ano. Enquanto que agora …

segunda-feira, abril 09, 2012

Já está confirmado: a seguir a 2014 virá 2015


Passei uma Páscoa desconfortável. O tempo até esteve bom mas fiquei muito inquieto nos últimos dias com as sucessivas trapalhadas em que o Governo se mete. Aquilo que os governantes dizem mas que (ao que parece) não queriam dizer, os enganos (uns atrás dos outros), as contradições e as nossas más-interpretações (!) do que escutamos das bocas de ministros e secretários de Estado parecem fazer-nos passar por tolos.

Não viram como a decisão de suspender os subsídios de férias e de Natal em 2012 e 2013 já foi revogada e está previsto que a reposição desses subsídios (diz-se que apenas 20% deles) só venha a acontecer em 2015? E ainda assim de forma gradual (???), como admitiu Passos Coelho.

 Isto para já por que, lá mais para a frente, voltarão a pensar no assunto. Dá até a impressão que 2015 será o ano de todas as soluções. Lembro, porém, que em 2015 há eleições.

 Foi, de facto, uma Páscoa desconfortável. Amenizada, contudo, pelo convívio com a família, pela excelente borrego assado no forno à moda do Alentejo e, principalmente, pela frase profética e assertiva de Vítor Gaspar, proferida no Parlamento:

“… o ano de 2015 é o ano imediatamente consecutivo a 2014 ...”

quinta-feira, abril 05, 2012

Rivalidades regionais













Se bem que na maior parte dos casos as razões sejam difíceis de entender, a verdade é que as rivalidades entre cidades continuam a existir e em vários países. Umas vezes por causa do futebol, outras por coisas antigas, tão antigas que já poucos recordam os motivos, outras ainda porque há interesses e poderes que se pretendem manter ou mesmo potenciar. No fundo, todas querem ser a “cidade especial”.

No caso de Braga e de Guimarães, julgava eu que o problema tinha a ver com o futebol. A equipa do Braga disputa este ano o título de campeão da 1ª liga e os vimaranenses, mais arredados dos primeiros lugares, sentem, como dizer, alguma dor de cotovelo quanto se fala em futebóis. Afinal, foi em Guimarães que “nasceu Portugal” mas isso nada tem a ver com a classificação do campeonato. E, a verdade histórica é que esta rivalidade que por vezes roça a violência verbal, quando não física, tem quase mil anos sem que se perceba ao certo os porquês. Uma coisa, porém, estas duas cidades têm em comum: o seu feriado municipal, que se comemora no dia 24 de Julho.

Este ano têm uma outra coisa em comum. Ambas são Capitais Europeias. Guimarães, da cultura e Braga, da juventude. Duas cidades que distam entre si pouco mais de 20 quilómetros, as duas tão cheias de atractivos e potencialidades e que, por coincidência (?), são, em 2012, Capitais Europeias. Um luxo!

Será que alguém pensa que o facto se deve a rivalidades regionais? Quero crer que não.


quarta-feira, abril 04, 2012

Condecorações


Já aqui escrevi uma vez que, um dia, gostaria de ser condecorado. Ainda não sei que razões poderiam estar na base dessa distinção, mas isso é o de menos. Acho que uma condecoraçãozita (a de comendador, por exemplo) me assentaria como uma luva.
Temo, porém, que esse dia não chegue. Tanto mais que se soube agora que José Sócrates se arrisca a ser o único primeiro-ministro (dos 19 governos institucionais em Democracia) a não receber a máxima condecoração (a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo) atribuída por destacados serviços prestados ao país.
Independentemente de se saber se ele prestou, ou não, alguns serviços ao país, e se os mesmos foram bons ou maus, e destacados ou não, parece-me injusto - agora que o homem já perdeu eleições e está exilado (!!!) em Paris – dizer-se que foi ele o culpado de tudo o que nos está a cair em cima da cabeça. Creiam que não é minha intenção promover aqui uma discussão política mas, pelo menos, gostaria que considerassem duas possibilidades:
- que o Governo de Sócrates  possa ter feito algumas coisas boas; e
- que as responsabilidades de todas as eventuais malfeitorias possam ser imputadas a vários Governos e aos respectivos Primeiros-Ministros. PM’s esses que, apesar de tudo, receberam (exceptuando Sócrates) as suas Grã-Cruz, incluindo Santana Lopes que só esteve à frente do Governo uns escassos meses.
A situação preocupa-me, naturalmente. É que não sendo cumprida a tradição de décadas de condecorar (todos) os Chefes do Governo, como vou, então, - eu, um ilustre anónimo e pagador de impostos a horas – acalentar a esperança de um dia poder ser agraciado com uma condecoração?

terça-feira, abril 03, 2012

Menu para executivos

Vejam lá que já nem os gestores de topo conseguem ficar imunes às dificuldades do dia-a-dia. Há até uma proposta de portaria das Finanças que prevê, entre outras coisas, que os gestores dos bancos que usem dinheiro do Estado para reforçar o capital das suas entidades bancárias venham a ter um corte de 50% na sua remuneração fixa e variável. Mais, os vencimentos da maioria dos gestores públicos (vai haver excepções, claro … se calhar, muitas) passam a estar limitados ao do primeiro-ministro. Onde isto chegou …

Não admira, pois, que a restauração – também ela a viver momentos difíceis – tenha lançado imediatamente uma campanha de menus a pensar nos “pobres executivos”, como demonstra a foto hoje publicada que tirei há dias no Centro Histórico de Guimarães.

Sopa, pão e prato, tudo por 7 euros. Junte-se-lhe, opcionalmente, um copo de vinho (ou de água, que sai mais em conta) e um café e pronto. Uma refeição equilibrada por um preço razoável, acessível, por certo, à maior parte dos executivos. Mesmo para aqueles que venham a ter um corte tão significativo nos seus salários.

A vida está dura …

segunda-feira, abril 02, 2012

A filosofia e o humor de Millôr Fernandes

Millôr Fernandes deixou-nos, na semana passada, aos 88 anos. Este homem considerado uma das principais figuras da imprensa brasileira do século XX, foi jornalista, escritor, dramaturgo, tradutor e cartoonista. Mas era, antes de mais, um humorista que marcou a Cultura do seu país no último século. Mas também a de Portugal, onde teve uma participação activa e regular no extinto Diário Popular.

Foi precisamente no DP que descobri Millôr e onde, através dos escritos bem-humorados, comecei a admirar a sua inteligência desobediente, imprevisível e desconcertante. Dele retirei um pensamento que me tem acompanhado durante a vida “Livre pensar é só pensar”.

Nome maior da língua portuguesa, Millôr Fernandes partiu mas ficarão para sempre connosco as múltiplas citações e máximas a que nos habituou, como por exemplo:

- Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.

- Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.

- Não devemos resistir às tentações: elas podem não voltar.

- Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.

- O dinheiro não dá felicidade. Mas paga tudo o que ela gasta.

- Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.