sexta-feira, maio 31, 2013

No próximo fim-de-semana lá estaremos ...




Como de costume, nestas épocas de Campanhas do Banco Alimentar, cá estou eu a lembrar que no próximo fim-de-semana é tempo de mostrarmos a nossa solidariedade para com quem vive em situação de grave carência alimentar.


Em Dezembro de 2012, os Bancos Alimentares Contra a Fome recolheram em Portugal, 2.914 toneladas de géneros alimentares. Todos esses produtos foram distribuídos a 2.373 Instituições de Solidariedade Social, que os entregaram a cerca de 373 mil pessoas com carências alimentares comprovadas, sob a forma de cabazes ou de refeições confeccionadas


Um estudo do Banco Alimentar e da Universidade Católica confirma um aumento da pobreza e são cada vez mais os que pedem ajuda para comer.

Por isso lá estaremos de novo para, dentro das nossas possibilidades, mostrar que a solidariedade dos portugueses é ainda maior do que a crise que nos afecta a todos. E, por pouco que seja, esse pouco pode fazer toda a diferença.

Recordamos a forma como pode participar:

Campanha Saco (nos supermercados) – 1 e 2 de Junho

Campanha Ajuda Vale (também nos supermercados) – 1 a 9 de Junho

Campanha on-line BA - 17 de Maio a 9 de Junho

E lembrem-se que no próximo sábado se comemora "O Dia Mundial da Criança". Para além do afecto e de uma eventual lembrancinha, aquele pode ser o momento ideal para explicar aos mais miúdos o significado de "partilha" e de "solidariedade". Como se costuma dizer, "de pequenino é que ...

Contamos consigo. "Alimente esta ideia".
 
 

quinta-feira, maio 30, 2013

Afinal, em que ficamos?




Ontem, no mesmo dia e quase à mesma hora em que Vítor Gaspar garantia, na Comissão Eventual para Acompanhamento das Medidas do Programa de Assistência Financeira a Portugal, estarem corrigidos "os principais desequilíbrios macroeconómicos" e cantava aleluias por Portugal ter conseguido regressar aos mercados mais cedo do que o previsto, a OCDE publicou um relatório em que afirmava que o governo português dificilmente conseguirá cumprir as novas metas para o défice orçamental acordadas na sétima avaliação da troika.

Mais, a OCDE considerava que o fraco crescimento e as medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional tornarão improvável o cumprimento das recentemente revistas metas para 2013 e 2014.

Na verdade, prevê-se que economia contraia este ano -2,7% (face aos -2,3% previstos pelo governo e pela troika) e que a recuperação no próximo ano seja apenas de 0,2% (face aos 0,6% do governo e da troika). Na frente orçamental a instituição coloca em 6,4% do PIB a previsão para o défice orçamental este ano e em 5,6% em 2014, valores significativamente acima dos 5,5% e 4% definidos pela troika na sétima avaliação.

Por isso, tão preocupados que estamos com o (mau) estado em que o país se encontra, com todos os índices a derraparem - desemprego a subir, falências a crescerem, dívida externa a subir e mais todos os outros indicadores a descambarem - temos bastos motivos para nos interrogarmos. Afinal, em que ficamos? Gaspar, qual esfinge (repararam que ele perdeu a atitude serena de há uns tempos e já se mostra mais irritadiço?), garante que agora é que é ... agora é que vai ser, por já estarem corrigidos os principais desequilíbrios macroeconómicos. Mas, por outro lado, a OCDE e muitos analistas nacionais e estrangeiros dizem que isto vai de mal a pior.

Repito, afinal em que ficamos? Quando é que nós vamos sentir os efeitos dessa correcção (se a houver) ontem anunciada pelo Ministro das Finanças? E em que é que isso se vai traduzir no nosso dia-a-dia?
 
 

quarta-feira, maio 29, 2013

Mais um a rejeitar o novo acordo ortográfico




A coisa está a compor-se. É cada vez maior o número de pessoas que rejeitam as regras da "embrulhada" que ficou conhecida pelo "novo acordo ortográfico".

Ainda no ano passado, o Presidente do Centro Cultural de Belém, Vasco Graça Moura, considerou inconstitucional a resolução aprovada em Janeiro de 2011 pelo Conselho de Ministros, ordenando que o Acordo Ortográfico fosse adoptado por todos os serviços do Estado e entidades tuteladas pelo Governo. Disse na altura "o Acordo Ortográfico não está nem pode estar em vigor". Daí que ficou decidido que o CCB não ficaria obrigado ao cumprimento da nova ortografia.

Agora foi a vez do Juiz Rui Teixeira, aquele que conduziu a instrução do Processo Casa Pia, colocado no Tribunal de Torres Vedras, que não quer receber pareceres técnicos sociais escritos ao abrigo do novo acordo. O magistrado enviou, em Abril, uma nota à Direcção Geral de Reinserção Social onde se podia ler:

"fica advertida que deverá apresentar as peças em Língua Portuguesa e sem erros ortográficos decorrentes da aplicação da Resolução do Conselho de Ministros 8/2011 (...) a qual apenas vincula o Governo e não os tribunais".

Perante um pedido de esclarecimento da DGRS, Rui Teixeira respondeu:

"'a Língua Portuguesa não é resultante de um tal «acordo ortográfico» que o Governo quis impor aos seus serviços ... nos tribunais, pelo menos neste, os factos não são fatos, as actas não são uma forma do verbo atar, os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso ... a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário"
Ah, valente! É que eu também achava que um cágado sem assento não era exactamente o animal que nós conhecíamos. Agora, um juiz pôr isso por escrito é obra. Tiro-lhe o meu chapéu!

terça-feira, maio 28, 2013

Nunca houve tão poucos Ministérios ... disse ele



Numa crónica publicada no Expresso há duas semanas o jornalista Fernando Madrinha recordou que o actual governo quando tomou posse anunciou, ufano, que este era o Governo mais pequeno de que há memória com, apenas, 11 ministros. Porém, o orgulho de há dois anos tem vindo a definhar. Agora, já são 12 Ministros que com o conjunto de Secretários de Estado perfaz o número de 51 governantes, apenas menos quatro do que o último Governo de Sócrates. Mas mais importante do que comparar o número de pessoas existentes neste e no anterior executivo, o que me parece relevante é saber que só a trabalhar directamente para os Ministros e Secretários de Estado existem 810 colaboradores. Muita gente, não é?

Mas o que ainda me chamou mais a atenção na crónica de Fernando Madrinha foi ele ter recordado uma reportagem da SIC - que muitos terão visto - em que uma Ministra dinamarquesa mostrava os seus colaboradores directos: apenas meia dúzia de pessoas e só uma, o assessor político, foi nomeada por si. As restantes eram residentes que fazem o seu trabalho independentemente do Governo que esteja no poder.

Mesmo tendo em conta que a população da Dinamarca é aproximadamente metade da portuguesa, mesmo assim, o número de pessoas afectas aos dois Governos é completamente desproporcionado. Basta comparar as seis que trabalham no Gabinete da Ministra dinamarquesa com, por exemplo (para só citar um caso), o número de trabalhadores que colaboram com o recém-nomeado Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional que levou para o Gabinete 13 pessoas e os seus 4 Secretários de Estado mais 30.

Não me atrevo a pôr em causa a necessidade de ter que haver tanta gente. Limito-me, tão-só, a constatar os números ...
 
 

segunda-feira, maio 27, 2013

Afinal, já nem do Presidente podemos falar mal ...




Toda a gente conhece aquele texto (originário do Brasil mas perfeitamente adaptável ao nosso país) que tem corrido pela net e que diz mais ou menos o seguinte:

"Na época da ditadura podíamos namorar dentro do carro sem o perigo de sermos mortos por bandidos. Mas, não podíamos falar mal do presidente.

Podíamos comprar armas e munições à vontade, pois o governo sabia quem era o cidadão de bem, quem era o bandido e quem era o terrorista. Mas, não podíamos falar mal do Presidente.

Podíamos namorar a recepcionista sem correr o risco de sermos processados por assédio sexual”. Mas, não podíamos falar mal do Presidente.

Não usávamos eufemismos hipócritas para fazer referências a raças, credos ou preferências sexuais e não éramos processados por discriminação. Mas, não podíamos falar mal do presidente.

Podíamos tomar nossa redentora cerveja no fim do dia de trabalho para relaxar e dirigir o carro para casa, sem o risco de sermos jogados à vala da delinquência, sendo preso por estar “alcoolizado”. Mas, não podíamos falar mal do Presidente.

Podíamos ir a um bar, em qualquer bairro da cidade, de carro, de autocarro, de bicicleta ou a pé, sem nenhum medo de sermos assaltados, sequestrados ou assassinados. Mas, não podíamos falar mal do presidente.

Hoje, em liberdade, a única coisa que podemos fazer … é falar mal do presidente!"

 

Afinal, parece que já nem do Presidente podemos falar mal ... que o diga Miguel Sousa Tavares que, numa entrevista ao Jornal de Negócios, se deixou levar pelo entusiasmo (e se calhar pela revolta) e afirmou:
"Beppe Grillo? 'Nós já temos um palhaço. Chama-se Cavaco Silva'".
 
Excedeu-se, como o próprio já reconheceu publicamente, em ofender a figura do Presidente da República ("Acho que o Presidente e o Ministério Público têm razão, reconheço que não devia ter dito aquilo. Fui atrás da pergunta", disse.

Entendo, por isso, que as suas palavras justifiquem a instauração de um processo. No entanto, muitos entenderão que o cidadão Cavaco Silva tem feito muito pouco para merecer o respeito que é devido ao Presidente da República. Até por que, neste caso, percebe-se claramente que o "insulto" de Sousa Tavares ao chamar-lhe palhaço, foi, naturalmente, proferido em "sentido político" e directamente à pessoa de Cavaco, não do Presidente.

O que espero é que nesta democracia que, às vezes, mostra tantas fragilidades, se torneie o artigo 328.º do Código Penal (prática do crime de Ofensa à honra do Presidente da República) e prevaleça o bom-senso. E que, já agora, se tenha em devida conta o equilíbrio necessário entre o direito da protecção do bom-nome defendida pelo Código Civil e a liberdade de expressão consignada na Constituição.
 
 

sexta-feira, maio 24, 2013

"Poema de Amor para Uso Tópico" de Nuno Júdice




Poeta, ensaísta e ficcionista português - Nuno Júdice (1949) - foi recentemente galardoado com o XXII Prémio Reina Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca.

O prémio reconhece o conjunto da obra poética de um autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição relevante para o património cultural partilhado pela comunidade ibero-americana.

 

 

"Poema de Amor para Uso Tópico"
de Nuno Júdice

 

Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,
voz incerta de rosa.

 

quinta-feira, maio 23, 2013

Só p'ra inglês ver?




Devo confessar que simpatizo com o Ministro Álvaro Santos Pereira. Parece ser boa pessoa, embora um tanto ingénuo. Veio de um outro país que está a anos-luz da realidade portuguesa e quer - pelo menos dá a sensação disso - fazer coisas, quer mostrar obra. Só que, os problemas estruturais e os diversos lobys têm dificultado muito o seu trabalho. Ainda assim e apesar da economia (é bom recordar que ele é o Ministro da Economia) estar num caos, lá se tem aguentado sempre naquela posição de "remodável" mas cuja remodelação ainda não se concretizou. E já lá vão dois anos.

Pois o Álvaro lá vai andando, sempre de sorriso em riste, tentando "inventar" coisas que o Passos Coelho e o Gaspar teimam em não aprovar. Mas ele não desiste.

Assim, anunciou no Parlamento que vai haver cortes nos carros e nos motoristas em todos os Ministérios e em empresas, institutos e organismos tutelados por si. Só em 18 das empresas estão alocadas 72 viaturas para outros tantos administradores. Em média, cada um destes automóveis custou 42 mil euros aos cofres públicos e gastam, também em média cada um deles, 3700 euros anuais em combustível.

Há quem diga que a poupança conseguida com estas medidas nestas 18 empresas - menos de 3 milhões de euros - são coisa de pequena monta e que representa apenas, por exemplo, 0,1% do buraco criado pelos "swaps" nessas mesmas empresas tuteladas pelo Ministro. Mesmo assim (e dos swaps poderemos falar noutra ocasião) considero que esta iniciativa de Álvaro Santos Pereira é corajosa e que, de alguma forma, visa moralizar a gestão da coisa pública.

Pode-se até considerar que os cortes nos carros do Estado são só "p'ra inglês ver", mas os chamados consumos intermédios têm que ser reduzidos da forma mais drástica possível para que os contribuintes não sejam chamados - uma vez mais e sempre - a suportar novos impostos. Como afirmou o Ministro trata-se de uma questão de respeito pelo dinheiro dos contribuintes. E, digo eu, por respeito aos próprios contribuintes.
 
 

quarta-feira, maio 22, 2013

Uma outra forma de "ir aos mercados"




Quando ontem falava de empréstimos, não pude deixar de pensar no meu amigo Osvaldo. Conheci-o ainda na primária e desde sempre lhe observei uma característica: gostava de pedir emprestado. Melhor, "empresta ... dado". Começou em criança pelas sandes e bolachas e o seu rumo foi delineado sempre pela pedinchice.

Assim, fiquei banzado quando me disseram que ele se tinha mudado para um apartamento de um prédio de luxo, no centro da cidade. Devia estar bem de vida, de outro modo como é que poderia pagar tudo aquilo?

Com a franqueza de quem se conhece há muito, perguntei-lhe de chofre logo que o encontrei. "Então, pá, ganhaste o euromilhões? Ouvi dizer que moras num andar chiquérrimo ...

O Osvaldo, ajeitou o nó da gravata e com a mesma desfaçatez que sempre lhe conheci, respondeu-me de pronto:

"É verdade, moro num prédio lindíssimo de 20 andares com quatro fracções por piso e três estabelecimentos comerciais no r/c. Tudo gente rica, já se vê. E já lá estou a morar há quase três anos. Conheço-os a todos e são todos grandes amigalhaços meus".

Mas esperto como é, percebeu o que eu queria realmente saber e também não fugiu à resposta: "Como sou amigo de todos, organizei um plano para pedir dinheiro emprestado a uns e a outros, de modo a que eu possa pagar o que devo a quem já pedi e ainda ficar com umas boas massas para pagar os meus luxos. Só tenho que ter o cuidado de pedir, por exemplo, a vizinhos do 1º andar e, ao mesmo tempo, a uns do 5º e do 10º, de modo a que nenhum desconfie da coisa. Estás a perceber?".

Retorqui: "mas assim, vais-te endividando cada vez mais ..."

"É verdade" respondeu, "mas desde que eu cumpra os prazos de pagamento, quem é que se vai importar com isso. É pá, põe os olhos nos nossos governantes ..."
 

 

terça-feira, maio 21, 2013

Voltámos aos mercados


Há duas semanas voltámos aos mercados e foi um sucesso. E depois? Sei bem que ter acesso aos mercados permite-nos voltar a ganhar a liberdade financeira perdida e que sem a confiança dos investidores estaremos destinados a nunca mais ter dinheiro para o que quer que seja. Mas a "simples" emissão de dívida pública que correu tão bem e que até pode resolver os nossos problemas mais imediatos, seguramente não resolve os de médio e longo prazo. Enquanto não decidirmos que o caminho tem que passar - inevitavelmente - pelo crescimento, e para isso são necessárias medidas concretas que ainda ninguém viu, o mais certo é andarmos de emissão em emissão, empurrando os problemas (e os empréstimos) com a barriga para um dia, lá mais para a frente, alguém ter que, inevitavelmente, os pagar.

É que o regresso aos mercados é uma consequência e não a causa da crise.

 

segunda-feira, maio 20, 2013

Banif` - à "boa gestão", uma excelente recompensa ...





O caso que comento hoje é apenas um que veio nos jornais (muitos outros estarão no segredo dos deuses) e que representa bem a incompetência, a ligeireza e o despudor com que se tratam os dinheiros públicos.

Sabe-se que o Banif recorreu aos fundos públicos de recapitalização, tendo o Estado lá metido 1100 milhões de euros. Ou seja, como não detinha o dinheiro suficiente para cumprir os rácios a que era obrigado, pediu-nos - ao Estado, portanto, a nós cidadãos - que interviéssemos dando-lhes dinheiro. O Banif é pois um banco intervencionado e o Estado português passou a deter 99,2% do banco.

Independentemente de julgarmos oportuna (ou não) essa intervenção, o pior foi quando soubemos que - apesar da aflição em que se encontrava e de ainda estar vivo porque nós o salvámos - que uma administradora (Conceição Leal, na foto acima) que era a responsável da delegação no Brasil (de onde o Banif, apesar de ter uma operação muito pequena, vai sair porque a coisa correu bastante mal) recebeu, em 2012, um prémio de gestão de 533,7 mil euros, a que juntou 448,6 mil euros de salário, num total de 982,3 mil euros. O triplo do que ganhou o próprio presidente do banco e mais, muito mais, de qualquer outro banqueiro em Portugal.

Um banco em que metemos tanto do nosso dinheiro a pagar um prémio milionário a uma administradora cuja gestão é, no mínimo, questionável. Só podem estar a gozar connosco.

Percebem, agora, porque é que se têm que fazer "cortes" nos salários e pensões dos funcionários do Estado e dos pensionistas e reformados?
 
 

sexta-feira, maio 17, 2013

A "Inspiração Divina"




Diz-se que Cavaco Silva fala pouco mas, quando fala ...

Lembram-se de quando ele, numa visita aos Açores, disse:

“Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante”.

ou de quando desabafou sobre as suas reformas miseráveis?

ou, ainda, quando numa visita em que o "povão" reclamava as difíceis condições de vida e os seus baixos salários e pensões, puxou a mulher por um braço e disse: "Esta é a minha senhora. Esta senhora trabalhou a vida toda e sabe qual é a reforma dela? Não chega a 800 euros por mês ... portanto, depende de mim, tenho de trabalhar para ela. Mas como ela está sempre ao meu lado e não atrás, merece a minha ajuda".

Brilhante, digo eu. Ainda que me esforçasse muito nunca conseguiria uma tirada destas ...

Pois bem, há dias, referindo-se aos efeitos positivos da aprovação da sétima avaliação da troika para Portugal, declarou que se tratou de “inspiração de Nossa Senhora de Fátima”. E confirmou: "Penso que foi uma inspiração da Nossa Senhora de Fátima. É o que a minha mulher diz”.

Já não nos chegavam as frases inspiradoras de Cavaco ... agora, até a primeira-dama já dá palpites ...
 
 
 

quarta-feira, maio 15, 2013

As "prioridades" do Conselho de Estado




Marques Mendes já tinha anunciado a convocação do Conselho de Estado. Marcelo Rebelo de Sousa também já tinha sugerido que tal iria acontecer. E sendo ambos Conselheiros de Estado e tendo informação privilegiada, sabia-se que a coisa estava para breve. Irá realizar-se na próxima segunda-feira dia 20 de Maio.

Uma convocatória original, sobretudo se pensarmos que:

- os citados conselheiros (e outros tantos que são mais próximos do Presidente) já sabiam desta reunião há algum tempo enquanto outros, nomeadamente Mário e Soares e Manuel Alegre, só foram avisados depois de toda a imprensa ter revelado o facto;

- o Conselho, ao contrário do que se poderia prever, irá debater as "Perspectivas da Economia Portuguesa no Pós-Troika, no Quadro de uma União Económica e Monetária Efectiva e Aprofundada". Isto é, a preocupação vai centrar-se nos eventuais cenários daqui a um ano como se, no momento, nada de anormal se passasse.

Julgava eu (e mal, pelos vistos) que a convocação de um Conselho de Estado só se fazia quando algo de muito grave acontecia no país. Mas Cavaco Silva, distraído como sempre, nem sonha que a coligação está moribunda e dificilmente sairá desse estado, que os reformados andam às aranhas sem saber o que vai acontecer às suas pensões, que a taxa de desemprego sobe todos os meses, que a economia está um caos, que diariamente há empresas que encerram portas e que toda esta crise que nos afecta está a pôr os cidadãos à beira não de um ataque de nervos mas de um enlouquecimento total.

Eu sei que no dia em que acabar o programa de ajustamento, acaba-se o financiamento oficial e teremos que nos voltar para os mercados para continuar a pedir mais dinheiro. Por isso temos que nos preparar (e com tempo) para essa situação. Mas, caramba, estamos a um ano de lá chegar. E que tal se arranjássemos soluções para os problemas gravíssimos que temos - AGORA - para resolver?. É que corremos o risco de não haver Portugal quando a troika se for embora...
 
 
 

terça-feira, maio 14, 2013

Terrorismo de Estado?




O funcionalismo público sempre foi uma garantia de emprego para sempre. E, durante décadas, um motivo de orgulho para quem servia o Estado.

Os tempos agora são outros e ser funcionário público, ao invés da segurança de outrora, começa a ser uma profissão de risco. Veja-se, por exemplo, o novo regime de "requalificação" dos funcionários, que substitui o ainda actual sistema de mobilidade. Quais as intenções do Governo já anunciadas?

Embora se insista que tudo se vai passar apenas se houver rescisões por mútuo acordo, o que de facto vai acontecer é que vão escolher uns quantos milhares de funcionários (não se sabe quantos, todos os dias é lançada uma nova versão sobre o número de funcionários públicos a despedir), nomeadamente os menos qualificados, metê-los na tal coisa chamada "requalificação" ou "mobilidade " (ou o que quiserem chamar-lhe ...) e mantê-los assim durante 18 meses. Nos primeiros 6 meses receberão dois terços do seu salário, 50% nos 6 meses seguintes e nos últimos 6 apenas 33,4%. No final do tempo ou serão recolocados no serviço público (e não vão ser seguramente) ou têm duas hipóteses, qual delas a melhor: ou ficam ligados ao Estado mas sem vencimento ou rescindem o seu contrato, recebem uma indemnização e não têm direito a subsídio de desemprego.

Se isto não configura a situação de despedimento, puro e duro, do que é que estamos a falar? De "terrorismo de Estado", conforme alguns já lhe chamam?
 
 

segunda-feira, maio 13, 2013

Medos e incertezas



A técnica é conhecida e utilizada há muito. Quando os Governos querem implementar qualquer coisa - sobretudo difícil - divulgam essas medidas através de vários meios para que possam avaliar como a população vai reagir. Se mal, recua-se um pouco e a medida (má) que vier, será saudada como "do mal o menos". Se com resignação ou indiferença, "paciência, podia ser pior". Ou seja, vão atirando o barro à parede a ver se pega.

O actual Executivo não só não fugiu à regra como a ampliou e recriou. Vai anunciando e desdizendo sucessivamente as medidas previstas através de Ministros e Secretários de Estado, a ponto de já não sabermos exactamente o que nos vai acontecer. Passos Coelho tira medidas da cartola, Paulo Portas jura que não está de acordo com algumas delas e Hélder Rosalino (o Secretário de Estado da Administração Pública) atira mais achas para uma fogueira que já ninguém controla. Tudo numa encenação maquiavélica de um plano para confundir e manipular a opinião pública. A confusão é geral. E de probabilidade em probabilidade vamos discutindo os casos, vamos tentando ler nas entrelinhas e descobrir inconstitucionalidades e incompetências e vamos ficando, cada vez mais, com medos e incertezas.
 
 

sexta-feira, maio 10, 2013

Um só beijo?



Se bem que eu continue a preferir um bom abraço a um bom beijo (beijo social e/ou de amizade, entenda-se) em matéria de beijos muito haveria para dizer. Acho mesmo que o assunto daria uma boa tese de mestrado.

Fui educado por uma família tradicional em que o cumprimento mais comum era a da troca de um par de beijos. Convenhamos que alguns eram muito mal dados. A maioria deles eram dados no ar e não na face, como seria de desejar. Mas havia os outros, os que senhoras (quase sempre as senhoras e, sobretudo, as mais idosas) adoravam: o beijo repenicado (o chamado chocho), ou o beijo lambuzado ou, pior do que todos os outros, aqueles em que "espetavam" os pelitos pontiagudos que se tinham esquecido de tirar. E isso chateava-me.

Mas o normal era, de facto, os dois beijos. Quando me comecei a relacionar com senhoras de um estrato social aparentemente superior ao meu comecei a verificar que a forma normal de cumprimento era apenas de um beijo. Quantas vezes fiquei de cara pendurada à espera do segundo beijo que nunca viria. É a etiqueta, é chique, pensei na altura. O facto é que muitas vezes fiquei extremamente desconfortável quando dava conta que o beijo solitário me deixava de cara à banda.

A tradição portuguesa sempre foi a de dar dois beijos. No entanto, sabe-se que depois da nobreza se ter refugiado em Inglaterra, no tempo das lutas liberais, de lá veio o comedimento saxónico do beijo único – mais simples, mais elegante, mais rápido.

Referia há pouco que um só beijo é uma questão de etiqueta, de ser chique. Mas o que dizer dos franceses (querem um povo mais chique que os franceses?) que se mimoseiam não com um, nem com dois mas com três beijos? Às vezes com quatro, um é que não. Mas também na Holanda onde o hábito é darem três beijos. Bem pode dizer-se que cada país e cada cultura tem gestos e costumes que lhe são próprios.

Certamente que também já passaram por isto, compreendem, portanto, a minha angústia. Angústia e desespero que aumentam quando, em certos casos, as mesmas pessoas distribuem beijos únicos a alguns e a outros dão generosamente dois beijos. É a confusão total na minha cabeça. Alguém merece isto?

A não ser que se adopte definitivamente pelo simples aperto de mão. Evitar-se-iam, assim, muitos embaraços ...


 

quinta-feira, maio 09, 2013

O "desenrasca"



Na vida nada é linear. Andamos constantemente a lamentar que a rapaziada já não tem valores morais e que - já vi isso escrito por aí - vivemos hoje cada vez mais “enjaulados” numa sociedade sem rosto. Conversa, digo eu, porque quando damos de caras com uma pessoa que se mostra (muito) "solidária" com os seus amigos, a tal sociedade - nós - castigamo-la sem dó nem piedade.

Foi o que aconteceu a Domingos Oliveira, ex-Presidente da Junta de Freguesia de Perelhal, em Barcelos, que confessou ter "desenrascado" amigos com dinheiro da Junta. Este homem, como se percebe, amigo do seu amigo, que esteve 33 anos na Junta, 30 dos quais como Presidente, confessou em tribunal ter utilizado dinheiros públicos para resolver problemas pessoais e para "desenrascar" amigos, mas garantiu que já devolveu tudo. Só que o Ministério Público, eterno desconfiado, acusa o ex-autarca dos crimes de falsificação de cheques e peculato e de, alegadamente, se ter apropriado de quase 115 mil euros.

Ora, o que sucedeu, segundo o Digníssimo ex-representante do povo, é que o dinheiro foi usado não só para ultrapassar "circunstâncias" da sua vida, nomeadamente relacionadas com o divórcio, mas também para "desenrascar" amigos. Contudo, como se sabe, a vida e as suas circunstâncias, por vezes, pregam-nos partidas. Tal como certos amigos a quem ele socorreu e que ficaram a dever, tendo que ser o ex-Presidente a repor a massa.

Para além do facto das contas da Junta terem sido manifestamente manipuladas (termo eufemístico para dizer falsificadas) em 2005, 2006 e 2007, ficam por esclarecer algumas dúvidas. Nomeadamente:

- Durante os 30 anos em que Domingos Oliveira foi Presidente da Junta, eleito pelo PSD, nunca ninguém suspeitou das "habilidades" do Sr. Presidente? Nem nunca foram feitas auditorias às contas da Junta de Freguesia?

- Poder-se-á - ou não - enquadrar o desvio do dinheiro dos cofres da Junta, especificamente aquele que serviu para "desenrascar" os tais amigos, como uma acção solidária? Não me parece.

Pelo que, a moral da história só pode ser: temos que ter um olho no burro e o outro no ... ladrão.


quarta-feira, maio 08, 2013

Esta noite dormi mal ...





É verdade, esta noite tive uma insónia daquelas. Não preguei olho a pensar numa frase que li algures:

"Governo fez em dois anos o que ninguém fez nos últimos 15"

Então eu que tanto critico o Governo por não fazerem as coisas (ou fazerem-nas mal), nunca me tinha apercebido que este Executivo só em dois anos conseguiu mais do que outros fizeram em quinze?

Dei voltas e voltas na cama mas a minha inquietação só sossegou quando me levantei e fui buscar o jornal de onde eu tirara aquela frase. As poucas linhas da notícia confirmavam o título. É que o número dos sem-abrigo e mendigos em Lisboa terá triplicado no último ano. Só na Estação do Oriente, há noites em que dormem dentro da gare, mais de cem pessoas.

E pelo andar da carruagem, os números poderão vir a ser bem piores em breve. Situação que, pela certa, não tirará o sono a algumas pessoas ...


 

terça-feira, maio 07, 2013

De costas voltadas ...



Fazendo ambos parte do mesmo Governo de coligação, o mínimo que se esperava é que as medidas saídas desse mesmo Governo fossem anunciadas apenas pelo Chefe do Executivo. Mas não, como somos um país cheio de originalidades, o Primeiro-Ministro (e Presidente do maior partido da coligação) fez a sua comunicação ao país na sexta-feira às oito da noite (uma declaração de guerra, como lhe chamaram alguns) e o Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros (e Presidente do partido minoritário da mesma coligação) deu uma conferência de imprensa no domingo. Dois porta-vozes do mesmo Executivo que ainda por cima mostraram que não estão de acordo em coisas fundamentais.

E a forma e o conteúdo dos dois discursos foram completamente diferentes. Passos Coelho foi frio e demasiado vago enquanto que Paulo Portas teve um discurso bem elaborado, consequente, claro e inteligente. Como disse no domingo Marcelo Rebelo de Sousa, um era um programa de televisão a preto e branco e outro era a cores.

Ambos tinham sobre si a necessidade de apresentar qualquer coisa que permita que a sétima avaliação da troika seja (finalmente) positiva. Só que Passos se limitou a debitar um mero conjunto de medidas transversais de limitação de custos que vão agravar ainda mais (se forem avante) a economia, o desemprego e a situação dos cidadãos. Já Portas assumiu que está contra a taxa sobre as pensões, anunciada pelo Primeiro-Ministro na sexta-feira. E sobre este novo imposto anunciado por Passos sobre os pensionistas (que será para sempre e que constitui o mais desumano de todos os impostos e uma quebra de solidariedade entre gerações), Paulo Portas comprometeu-se a procurar medidas alternativas que substituam a nova contribuição sobre as pensões, porque, afirmou, "Quero, queremos todos, uma sociedade que não descarte os mais velhos". E o líder do CDS foi mais longe: assumiu uma frontal divergência com o PSD e dirigiu palavras muito duras à troika.

Resta-nos, agora, aguardar se a intervenção de Portas terá alguma consequência prática, se os partidos de oposição e os parceiros sociais conseguem alterar o que quer que seja e de saber qual a opinião de Bruxelas sobre mais este pacote violentíssimo de austeridade. Para já fica-nos a tal originalidade dos dois discursos e a certeza que a vida da coligação navega em águas muito revoltas.


segunda-feira, maio 06, 2013

Os "ses" e a inconsistência governamental



 
 
Ainda se lembram dos tão falados 4 mil milhões que o Estado tinha absoluta necessidade de "cortar", só não se sabia bem onde? Pois bem, esqueçam esses 4 mil milhões que já não chegam para satisfazer os nossos compromissos. Com as desculpas do chumbo do Tribunal Constitucional e outras, o Governo anunciou na semana passada que vai avançar com medidas de consolidação orçamental que ascenderão pelo menos a 6,5 mil milhões de euros até final de 2016.

Notem que este "pelo menos" é relevante porque pode muito bem acontecer que ainda haja necessidade de que os "cortes" vão bastante mais além. Coisa que, aliás, não nos surpreende, já estamos tão habituados a que nenhuma previsão seja cumprida. Esta pode ser só mais uma.

Mas é igualmente relevante que este anúncio de um corte mais crescido, que consta no DEO - Documento de Estratégia Orçamental - tenha sido desenhado com base em "ses": se a procura externa subir, se o preço do petróleo baixar, se as taxas de juro de curto prazo estabilizarem, se o euro continuar a par do dólar, se as exportações aumentarem, se o consumo interno aumentar ... se, se, se ... incertezas atrás de incertezas.

Para além do documento ter por base tantas suposições e de ser um tanto ou quanto vago e de vigência superior à do actual Governo, achei estranho que fosse completamente contraditório com um outro documento - Estratégia de Crescimento Económico - apresentado pelo Ministro da Economia uns dias antes.

Uma inconsistência governamental que já vai sendo costumeira.