sexta-feira, junho 28, 2013

Atrás de mim virá quem bom de mim fará ...


 
Se eu, cidadão comum, em amena cavaqueira com os amigos, comentar o que quer que seja, certamente que não virá grande mal ao mundo. Outra coisa, e bem diferente, se passa quando um político que ainda não chegou ao poder, começa a dar palpites "abalizados e categóricos" sobre matérias que, um dia, quando for Governo, vai, seguramente contrariar. Daí que seja raro o cumprimento de promessas eleitorais, independentemente dos candidatos ou da cor política que tiverem.

Lembram-se quando José Sócrates andou numa roda viva por países com quem habitualmente não tínhamos grandes negócios? Recordam-se como se dizia mal do homem porque estava a negociar com ditadores da pior espécie, do Kadafi ao Chávez? Claro que havia quem percebesse que ele estava a tentar novos mercados, países para onde pouco exportávamos mas que queriam comprar os nossos produtos e nós bem precisávamos do dinheiro deles. Sócrates foi "apedrejado" em praça pública quando exportou para a Venezuela o "nosso" Magalhães ou quando tentou equilibrar a nossa balança comercial com a Líbia, de onde importávamos cerca de 1500 milhões de euros, maioritariamente petróleo, e apenas exportávamos produtos no valor de dez milhões de euros. isso foi considerado na altura um crime de lesa-pátria. Malandro do tipo.

Mudaram-se os tempos, mudaram-se os protagonistas mas mantiveram-se as vontades. Então não é que o tal regime ditatorial venezuelano, agora já sem Chávez mas com o seu delfim e sucessor Nicolás Maduro, continua a ser um parceiro estratégico para Portugal? O Presidente Maduro esteve há pouco tempo no nosso país e foi recebido, com pompa e circunstância, por Passos Coelho (é difícil de acreditar, não é?) com quem celebrou acordos comerciais no valor de 6 mil milhões de euros.

Dá vontade de perguntar: então, em que é que ficamos? Aquelas pessoas pouco recomendáveis de quem Passos dizia horrores e com quem Sócrates tinha a lata de negociar, tornaram-se agora confiáveis?

quinta-feira, junho 27, 2013

Ora agora digo eu, ora agora dizes tu ...


Até que poderia ser divertido. Um jogo em que o intuito seria descobrir contradições entre o que dizem os diferentes Ministros, do mesmo Governo, sobre as mesmas matérias e numa mesma altura. Um passatempo do género "descubra as diferenças". E certamente que teríamos muito com que nos entreter mesmo sem necessidade de ter grande perspicácia.

Ainda há poucas horas, o Primeiro-Ministro Passos Coelho, no Parlamento, respondia a uma Deputada dos Verdes que o Governo está a trabalhar para que os impostos baixem. Disse mesmo que gostaria que fosse para o ano ou mesmo ainda nesta legislatura, mas não mostrou grande entusiasmo que isso viesse a suceder. "Com toda a franqueza, não tenho muitas esperanças que isso aconteça", confessou.

Na véspera, também no Parlamento, o Ministro das Finanças Vítor Gaspar, contente como estava com os números da execução orçamental (vá lá saber-se porquê) considerava que face à melhoria do pagamento de impostos e, por via disso, ao aumento da receita fiscal, admitia baixar taxas de impostos para contribuintes cumpridores. É verdade que Gaspar não disse quando mas, digo eu, é capaz de estar a dar uma falsa esperança à rapaziada.

Mas já estamos fartos, há muito, de tantas falsas esperanças e de tantos incumprimentos de promessas assumidas . É tempo de se decidirem. Baixam ou não os impostos?

quarta-feira, junho 26, 2013

As "ex-Scut" - primeiro implementa-se e depois logo se vê ...



Espanto-me (e indigno-me) sempre que sei que o Estado (uma designação demasiado genérica que parece não responsabilizar alguém) não estuda devidamente os projectos que quer levar por diante e os põe em marcha sem acautelar todos os pormenores, muitos deles absolutamente indispensáveis.

Um exemplo disso foi o que se passou quando pensaram em colocar pórticos nas "ex-Scut" (auto-estradas sem custos para o utilizador). A ideia era de portajar quem por lá circulava e ... mãos à obra que é preciso arranjar dinheiro.

Só que ... não se fizeram as contas necessárias. Para além de só em 2012 se ter despendido, em apenas quatro das concessões, 76,7 milhões relativos aos custos com a instalação de pórticos de cobrança de portagens, sabe-se agora que os pórticos têm elevados custos de manutenção. Cerca de um terço das receitas das portagens não chega aos cofres do Estado, porque fica para pagar o próprio serviço. Por cada 5 euros de portagens, só 3,30 euros chegam à Estradas de Portugal. Os restantes 1,70 euros são gastos a pagar a aparelhagem técnica e humana de cobrança de portagens.

Outro aspecto significativo é a dificuldade que a empresa pública tem em controlar os pagamentos dos automobilistas, não sabendo, portanto, se recebe todas as portagens ou se há desvios. Daí que o novo sistema de cobrança de portagens que a Estradas de Portugal está a desenvolver para as ex-Scut preveja a instalação de pórticos em todos os nós de acesso (entrada e saída), de modo a aumentar as receitas da empresa e minimizar a fraude.

Resta saber se mais uns quantos milhões que se vão investir em breve irão ter - efectivamente - retorno para o Estado.

terça-feira, junho 25, 2013

Em Portugal tudo é contestado? Sim, e ainda bem ... vivemos em democracia



O novo Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro tem bom ar e, se calhar por causa disso, tem suscitado alguma simpatia. No entanto, ele chegou há pouco a estas lides e ainda não deve ter percebido bem o que é governar em democracia. E mostrou isso mesmo quando na semana passada afirmou que "um dos grandes problemas em Portugal é que tudo é contestado". E acrescentou, "contra factos não há argumentos".

Mas olhe que não, Sr. Ministro, em democracia é natural que os cidadãos questionem as medidas que são implementadas pelos Governos quando as consideram injustas e/ou desadequadas. Mais, exigem que os Governos expliquem de forma clara e atempada porque as tomaram.

Até por que, se existem divergências entre as partes, o que é normal é que debatam os seus pontos de vista até conseguirem chegar a uma solução pelo menos satisfatória. Com mais ou menos tácticas políticas é absolutamente natural que os portugueses contestem quando não estão de acordo com o que lhes querem impor e não se resignem facilmente à ideia de "contra factos não há argumentos".

Será bom recordar que democracia vem da palavra grega “demos” que significa povo. Nas democracias, é o povo quem detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo. As democracias, embora respeitem a vontade da maioria, devem proteger escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.

É uma chatice? Claro que é ... mas é assim.

segunda-feira, junho 24, 2013

Apanhou um papel e ... comeu-o



Um dos assuntos mais caricatos destes últimos dias foi o facto de Luís Carito (na fotografia), o vice-presidente da Câmara de Portimão, ter tirado um papel das mãos de um inspector da Polícia Judiciária e o ter engolido, durante uma busca realizada à sua residência. O episódio foi interpretado pelo Ministério Público como uma perturbação do inquérito e, por isso, prendeu-o preventivamente. A validade do documento em termos de prova estava a ser analisada pelos inspectores quando Luís Carito o agarrou e o engoliu.

Pensava que cenas destas só aconteciam em filmes de espionagem.

No cerne desta investigação há toda uma alegada teia de influências, de ajustes directos e favorecimentos a "empresas amigas", incluindo uma pertencente à companheira de Luís Carito. A Câmara (a de maior endividamento per capita do país) - através de empresas municipais, nomeadamente a Úrbis - foi lesada em vários milhões de euros. Consultorias várias, o projecto de uma Cidade do Cinema que nunca saiu do papel, o pagamento de fogos de artifício, várias transferências duvidosas para o Portimonense e outras artimanhas supostamente ilegais fez voar, sem justificação aparente, muito dinheiro dos cofres da CMP para outras empresas. A investigação indicia suspeitas de corrupção, branqueamento, administração danosa e participação económica em negócio. Crimes, em suma.

Quanto ao aspecto marginal da coisa - o homem ter roubado o papel ao polícia e o ter engolido (ao papel) - se não foi uma manifestação de desespero por se julgar vítima de injustiça, então foi a prova que o documento era altamente comprometedor para ele. E isso não o vai ajudar. Mas, confesso, quando li a notícia, não pude deixar de pensar na canção do Zeca: "Eles comem tudo, eles comem tudo ..."

sexta-feira, junho 21, 2013

Mário-Henrique Leiria




Mário-Henrique Leiria (1923 - 1980) foi um escritor surrealista português.


 
"Rifão Quotidiano", um poeminha de Mário-Henrique Leiria




"Rifão Quotidiano",

 

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece


quinta-feira, junho 20, 2013

As definições ...



A propósito do post que publiquei ontem e da forma abstrusa como são feitas muitas das normas que nos regem, quero contar-vos uma história que ajuda a perceber a ineficácia de muitos projectos públicos que se traduzem, inevitavelmente, em gastos desnecessários e perda de tempo dos efectivos envolvidos.

Por circunstâncias que não vêm ao caso, fui indigitado para integrar um grupo de trabalho destinado a criar legislação específica para uma área do denominado 3º. sector. De todos os componentes desta equipa eu sou o único VOLUNTÁRIO. Os demais elementos pertencem a instituições públicas, sendo todas as despesas custeadas pelo dinheiro dos contribuintes.

Estamos a trabalhar na elaboração de um documento que pretende uniformizar a legislação aplicável aos equipamentos sociais. Até aqui, tudo bem. Porém, o que me fez confusão logo na primeira reunião a que assisti, foi o tempo que se perdeu com a inutilidade de certos debates que, na prática, vão resultar em nada. Dou um exemplo: na citada reunião que durou 7 horas, estivemos cerca de hora e meia a elencar tipificações possíveis de utilizadores para, mais tarde, definir os respectivos perfis. Coisas como quem deve ser considerado beneficiário, utente, cliente ou, pasmem-se, cliente terminal. Por exemplo, uma pessoa que receba um cabaz de alimentos de uma instituição é um utente ou um beneficiário? E porque não, apenas, um carenciado? Qual é o verdadeiro interesse desse tipo de definições, sobretudo em instituições com estruturas mal dimensionadas ou com parcos recursos humanos? Nenhum, na minha opinião. Apenas serve para "mostrar trabalho" e produzir uns quantos dossiers normativos que irão enfeitar as estantes das instituições.

Como que a propósito - e para nos desanuviar os espíritos - recordo um texto que li há tempos que dizia mais ou menos isto:
 


"Quem sou eu?


Nesta altura da vida já não sei mais quem sou ... Vê só que dilema !!!
Na ficha de qualquer loja sou CLIENTE, no restaurante FREGUÊS, quando arrendo uma casa sou INQUILINO, nos transportes públicos e em viatura particular sou PASSAGEIRO, nos correios REMETENTE, no supermercado (e lojas também) sou CONSUMIDOR. Nos serviços sociais sou UTENTE. Para o estado sou CONTRIBUINTE, se vendo algo importado sou CONTRABANDISTA. Se revendo algo, sou VIGARISTA, se não pago impostos sou SONEGADOR, se descubro uma maneira de pagar um pouco menos, sou CORRUPTO. Para votar sou ELEITOR, para os sindicatos sou MASSA SALARIAL, em viagens TURISTA , na rua caminhando PEDESTRE, se passeio, sou TRANSEUNTE, se sou atropelado ACIDENTADO, no hospital PACIENTE. Nos jornais viro VÍTIMA, se leio um livro sou LEITOR, se ouço rádio OUVINTE. A ver um espectáculo sou ESPECTADOR, a ver televisão sou TELESPECTADOR, no campo de futebol sou ADEPTO. Na Igreja católica, sou IRMÃO. E, quando morrer... uns dirão que sou ... FINADO, outros ... DEFUNTO, para outros ... EXTINTO, para o povão ... MAIS UM QUE DEIXOU DE FUMAR ... Em certos círculos espiritualistas serei ... DESENCARNADO, os evangélicos dirão que fui ... ARREBATADO...


E o pior de tudo é que, para os governantes sou apenas um IMBECIL !!! E pensar que um dia quis ser EU. SIMPLESMENTE".
 
 
 
 

Pergunto, pois, querer-se-á mesmo definir tudo? E a resposta é: sim, mas p'ra quê?



quarta-feira, junho 19, 2013

Fiquei completamente esclarecido com este ... esclarecimento


Chegou-me às mãos o magnífico documento que reproduzo, chancelado pelo Governo de Portugal - Secretário de Estado da Administração Pública.
Leiam-no e vejam como - "quando bem feita" - pode ser clara uma orientação.
 
 
 
Se ficaram com dúvidas, contactem-me ...


terça-feira, junho 18, 2013

O melhor é esperar sentado ...




Exultaram aqueles que leram na imprensa que o Governo se preparava para avançar com uma proposta para eliminar a "taxa de audiovisual" na factura da electricidade. Um valor que custa a cada consumidor de electricidade 2,25 euros por mês, com o propósito único de financiar a RTP.

A abolição desta taxa - criada pelo Governo de Durão Barroso - é há muito reclamada. Sobretudo porque é cobrada a todos os consumidores de electricidade, independentemente de terem ou não aparelhos televisivos (incluindo escadas de condomínios onde, certamente, não existem aparelhos de TV), de se tratar de casotas de campo para apoio agrícola ou, ainda, pura e simplesmente, por não se querer visualizar os canais da RTP.

Como nos acostumámos a que o Governo diga hoje uma coisa e amanhã o contrário, se for caso disso, o melhor é esperarmos com calma. É certo que o Governo anunciou a probabilidade da extinção da taxa mas o Secretário de Estado da Energia - do mesmo Governo - logo se apressou a declarar que o Executivo não tem prevista a discussão de qualquer proposta em relação à taxa do audiovisual.

Mas melhor do que isso, porém, foi o governante - depois de assegurar que o assunto nem sequer estava na agenda política e sem querer comprometer-se com a eliminação pura e simples da contribuição audiovisual - ter adiantado a hipótese desse pagamento poder vir a ser retirado da factura eléctrica. Ou seja, para que não se possa reclamar de um subsídio cruzado entre os consumidores de electricidade e os de telecomunicações, bem pode acontecer que deixemos de pagar da forma a que estamos habituados para vir a pagar de uma outra maneira. Mas que teremos que continuar a pagar, parece não haver dúvidas ...

segunda-feira, junho 17, 2013

CTT - "Continua tudo torto ..."



Antigamente, quando se queria falar mal dos Correios/CTT, costumava dizer-se "continua tudo torto", como que uma "tradução/má-língua" simplista da sigla CTT (Correios, Telégrafos e Telefones). Passados tantos anos, mas por motivos diferentes de então, parece que podemos voltar a utilizar a expressão.

Durante décadas os CTT acumularam prejuízos. Depois de sucessivas reestruturações a empresa começou, finalmente, a dar lucro e a entregar dividendos de milhões ao accionista único, o Estado. Por isso é difícil entender que tendo-se tornado uma empresa rentável, se queira agora vendê-la só porque pode render uns quantos milhões de euros que poderão tapar um qualquer buraco do nosso orçamento.

O Governo tudo está a fazer - fechar estações e dispensar funcionários - para tornar mais aliciante a venda da empresa e poder encaixar os tais milhões. Mas os CTT não deveriam ser encarados como uma simples empresa transaccionável. Há toda uma história por detrás, uma relação muito forte com a população, estabelecida através dos anos e em que a confiança e a proximidade constituem os elos mais fortes. Sobretudo com as pessoas idosas ou do interior. É nos Correios que muitos acorrem para pagar as suas contas, receber as suas pensões e reformas e procurar a voz amiga que com eles estabelece relações de afecto.

O facto em si mostra, no mínimo, insensibilidade. Mas há algo mais preocupante.

Embora ainda não esteja aprovado o modelo de privatização, já foi escolhido o banco que vai assessorar o Governo no negócio de privatização, o J.P.Morgan, a mesmíssima instituição norte-americana que, ainda há pouco, o Governo ameaçara com um processo em tribunal pela venda a empresas públicas nacionais de produtos tóxicos, os tão falados swaps, que causariam perdas potenciais na ordem de várias centenas de milhões de euros.

São polémicas que nos confundem (e revoltam). Não será caso para voltar a dizer que "continua tudo torto"? Ou será melhor, de uma vez por todas, reconhecer que Portugal está completamente nas mãos dos senhores do dinheiro?

sexta-feira, junho 14, 2013

Vidas difíceis ...



Ao aproximar-se da mesa do restaurante onde almoçávamos não a reconheci de imediato, talvez porque não envergava aquele avental que lhe servia de farda quando trabalhava lá.

Com a chegada da crise, ela foi dispensada e fez-se à vida, trabalhando a espaços dentro da mesma área, sem contratos e, em muitos casos, só sabendo na véspera se, no dia seguinte, iria ser necessária. Agora, aos cinquenta e poucos anos, estava de novo desempregada.

"Mas tem subsídio de desemprego ...", arriscámos. Não, não tinha, nem nunca descontou. Ao princípio porque ninguém a tinha alertado para as vantagens de efectuar descontos que a protegessem no futuro e, quiçá, porque os salários eram muito baixos. Depois, porque só foi conseguindo trabalho na condição de não fazer qualquer desconto nem haver compromissos escritos.

Este é um dos aspectos negros da economia paralela (que provavelmente tem aumentado na nossa sociedade) que rouba a dignidade a quem quer trabalhar.

Contudo, apesar das dificuldades, percebi nela um olhar de esperança, uma resignação inconformada, uma vontade grande de viver e de continuar a superar os obstáculos que lhe apareçam pela frente. Mas para além da coragem vai precisar também de muita sorte ...

quarta-feira, junho 12, 2013

Gato escondido com o rabo de fora ...



Faltam poucos dias para a realização da cimeira do G-8 na localidade de Fermanagh, na Irlanda do Norte.

Já se sabe que os protestos não vão faltar, como sempre acontece. Mas esta reunião dos "donos do mundo" tem uma particularidade. É que, para esconder os efeitos da crise que também se instalou por aqueles lados, as autoridades britânicas gastaram mais de 350 mil euros em fachadas falsas de lojas.

O objectivo, claro está, é criar a ilusão de que as lojas fechadas devido à crise estão abertas e em plena actividade e que, portanto, o país está a funcionar e continua a cheio de oportunidades para quem o visita e quer investir.

Porém, e apesar destas "boas intenções", parece que a mentira não agradou lá muito a grande parte da população que considera a medida um desperdício de dinheiro que esconde a real dimensão das dificuldades económicas vividas na região.

E são capazes de ter razão. A mentira costuma ter a perna curta e desta encenação bem se poderia dizer que se trata de "gato escondido com o rabo de fora ..."

terça-feira, junho 11, 2013

O raio da chuva deu cabo do investimento




Ainda há dias escrevi aqui sobre aquela rábula infeliz de Vítor Gaspar em que pedia simpatia pelas difíceis semanas que tinha vivido ... como adepto do Benfica. Percebeu-se que o homem quis fazer graça mas a graça saiu-lhe completamente ao lado. É o jeito de Gaspar, quiçá fruto de ter vivido lá fora muito tempo e ter "apanhado" o humor anglo-saxónico que tem qualquer coisa de "nonsense", que o torna tão peculiar, chamemos-lhe assim.

Agora, na discussão do Orçamento Rectificativo, teve uma tirada que arrepiou quem o ouviu: "a contracção do PIB português, que segundo o INE foi de 4% no primeiro trimestre, foi motivada, em parte, pela quebra do investimento na construção. O investimento foi adversamente influenciado pelas condições meteorológicas do primeiro trimestre que afectaram a actividade da construção.”

Ou seja, o Ministro das Finanças justificou a quebra na actividade económica com as más condições meteorológicas vividas na primeira metade do ano.

Mas Vítor Gaspar estava imparável naquele dia. É que o mesmo Orçamento Rectificativo revela que o Governo quer garantir mais um milhão e meio de euros com as infracções ao Código da Estrada. Por outras palavras, há que aumentar as receitas das infracções rodoviárias. Multar, multar, multar, é a palavra de ordem. Multar até, quem sabe, quem nunca foi multado.

O "humor de Vítor Gaspar" deixa-nos desconcertados. Ou será que ele fala mesmo a sério?

sexta-feira, junho 07, 2013

"Nevoeiro"



"Nevoeiro", de Fernando Pessoa



Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!


 

quinta-feira, junho 06, 2013

Ao ponto a que chegámos ...




Começamos a ficar fartos de leis mal feitas, injustas, inconstitucionais e desadequadas à realidade do país que somos. Salta à vista a incompetência do Governo. E, para cúmulo da pouca-vergonha, já temos também gestores de empresas públicas que não obedecem às determinações do Governo.

Como aconteceu com o caso dos falados "swaps tóxicos". Seis empresas públicas foram envolvidas neste processo, com perdas potenciais elevadas - Metro de Lisboa (1131,4 milhões), Metro do Porto (832,6 milhões), EGREP (174,5 milhões), CP (140,6 milhões), Carris (116,5 milhões) e STCP (107,2 milhões).

Pois bem, face a este enorme prejuízo para o Estado, o Governo decidiu - e anunciou-o publicamente - que ia demitir os gestores que aprovaram esses mecanismos financeiros considerados especulativos. E, pasmem-se, os gestores foram mesmo despedidos? Não!

É que o Governo ao decidir esta medida, por impulso ou por outro motivo qualquer, esqueceu-se de um pequeno pormenor: o Governo não tem poder para os afastar sem justa causa. E como do ponto de vista legal está longe de se saber quem são os responsáveis pelos actos de gestão negligentes, os gestores "não aceitaram" o convite para se demitirem. Ponto!

Portanto, e em resumo, o Governo ia demitir os gestores das seis empresas públicas e eles recusaram-se a sair. O mais curioso, porém, é que o Orçamento Rectificativo para este ano, apresentado no Parlamento pelo Executivo, prevê o reforço dos empréstimos e dotações de capital às empresas públicas que contam para o défice. Para pagar o quê? Justamente para permitir a liquidação dos contratos de swap subscritos nos últimos anos.

Ao ponto a que chegámos ... se não fosse triste era, ou não, motivo para uma gargalhada?

quarta-feira, junho 05, 2013

A porta da rua é a serventia da casa ...




A rápida deterioração da situação económica na Europa, sobretudo nos países do sul, com as graves consequências no desemprego e na falta de perspectivas para o futuro, leva a que muitos jovens emigrem. Mas não só os jovens ...

Factores de vária ordem levaram a esta situação desesperante que uma classe política, por incompetência, interesses inconfessados ou ideologia não soube responder devidamente.

Em Portugal a taxa de desemprego oficial é de 17,8% e o desemprego jovem situa-se nos 42,5%. e, em Itália, o desemprego está um pouco acima dos 12% e o desemprego jovem é superior a 40%. Mas enquanto, no nosso país, Passos Coelho e Vítor Gaspar incitam à debandada da rapaziada para outras bandas que por cá não se safam, o Chefe do Governo italiano, numa carta publicada no jornal La Stampa, pede desculpa aos jovens que foram "forçados a emigrar" e reafirma que a prioridade do Governo é travar a saída de jovens.

Embora em ambos os países se verifique uma emigração maciça de jovens, é interessante analisar como o mesmo problema é encarado de forma diversa pelos dois Executivos. Por lá, pedem-se desculpas e assegura-se que vão ser adoptadas medidas para livrar o mercado de trabalho dos seus pesos e injustiças, para conseguir emprego estável para os jovens e para apoiar a Itália que inova. Por cá, limitam-se a apontar a porta de saída ...
 
 

terça-feira, junho 04, 2013

Não há duas sem três ...




Depois de, por duas vezes, o Tribunal Constitucional ter considerado inconstitucionais leis do Governo de Passos Coelho, o TC declarou na semana passada inconstitucionais todas as normas respeitantes ao estatuto das comunidades intermunicipais e da transferência de competências do Estado para as autarquias locais. A proposta, um dos pilares da reforma administrativa local, que o ex-ministro Miguel Relvas pôs em curso e que foi, aliás, uma das suas principais bandeiras políticas enquanto integrou o Governo de Passos Coelho, caiu por terra. Mas, ao invés das anteriores, este parecer de inconstitucionalidade foi aprovado por unanimidade pelos juízes do TC.

Está-me cá a parecer que apesar de Passos ter admitido muita gente para o seu "pequeno governo", ainda estão a faltar uns quantos assessores que percebam alguma coisa de leis que não colidam com a Constituição. É que já começa a ser preocupante assistir-se, frequentemente, à rejeição por inconstitucionalidade, das leis aprovadas pelo actual executivo e pela maioria parlamentar que o apoia.

Para além do facto em si, fica a curiosidade de Relvas já ter saído do Governo mas o Governo ainda não se ter livrado dele.

segunda-feira, junho 03, 2013

O humor de Vítor Gaspar




A verdade é esta, há pessoas que têm graça e outras que não têm, por muito que se esforcem. Obama, por exemplo, faz humor e é engraçado. Já Cavaco Silva tenta fazer graça e riem-se dele.

Vítor Gaspar também não fugiu à tentação de fazer humor em público. Ainda esta semana, na forma peculiar que lhe conhecemos (embora desta vez com uma expressão bem mais risonha do que o habitual) disse:

"Quero pedir a vossa simpatia pelas difíceis semanas que tenho vivido ... como adepto do Benfica. Esta questão de perder sucessivamente por 2 a 1 , em alguns casos depois do tempo regulamentar é, de facto, uma provação que merece toda a simpatia".

Mesmo sendo Gaspar um benfiquista confesso, este género de "stand up" (sentido, porventura) não se encaixa no perfil do Ministro das Finanças. Constituiu, pois, uma rábula infeliz.

Ironias e humores à parte, o mínimo que se esperava de uma pessoa que tem ajudado o país a afundar-se com as suas políticas abstrusas e cálculos sistematicamente errados, é que ele pedisse aos portugueses alguma simpatia pelas difíceis semanas em que tem vivido ... ao tentar inverter, por exemplo, os cortes brutais que tem feito nos salários e pensões. Mas não, o problema de Gaspar, o seu mal-estar, deve-se não ao sofrimento e às agruras por que têm passado os cidadãos, mas ao facto do seu estômago não aguentar um final de época menos feliz do seu clube do coração.

Tenha dó!