quinta-feira, junho 20, 2013

As definições ...



A propósito do post que publiquei ontem e da forma abstrusa como são feitas muitas das normas que nos regem, quero contar-vos uma história que ajuda a perceber a ineficácia de muitos projectos públicos que se traduzem, inevitavelmente, em gastos desnecessários e perda de tempo dos efectivos envolvidos.

Por circunstâncias que não vêm ao caso, fui indigitado para integrar um grupo de trabalho destinado a criar legislação específica para uma área do denominado 3º. sector. De todos os componentes desta equipa eu sou o único VOLUNTÁRIO. Os demais elementos pertencem a instituições públicas, sendo todas as despesas custeadas pelo dinheiro dos contribuintes.

Estamos a trabalhar na elaboração de um documento que pretende uniformizar a legislação aplicável aos equipamentos sociais. Até aqui, tudo bem. Porém, o que me fez confusão logo na primeira reunião a que assisti, foi o tempo que se perdeu com a inutilidade de certos debates que, na prática, vão resultar em nada. Dou um exemplo: na citada reunião que durou 7 horas, estivemos cerca de hora e meia a elencar tipificações possíveis de utilizadores para, mais tarde, definir os respectivos perfis. Coisas como quem deve ser considerado beneficiário, utente, cliente ou, pasmem-se, cliente terminal. Por exemplo, uma pessoa que receba um cabaz de alimentos de uma instituição é um utente ou um beneficiário? E porque não, apenas, um carenciado? Qual é o verdadeiro interesse desse tipo de definições, sobretudo em instituições com estruturas mal dimensionadas ou com parcos recursos humanos? Nenhum, na minha opinião. Apenas serve para "mostrar trabalho" e produzir uns quantos dossiers normativos que irão enfeitar as estantes das instituições.

Como que a propósito - e para nos desanuviar os espíritos - recordo um texto que li há tempos que dizia mais ou menos isto:
 


"Quem sou eu?


Nesta altura da vida já não sei mais quem sou ... Vê só que dilema !!!
Na ficha de qualquer loja sou CLIENTE, no restaurante FREGUÊS, quando arrendo uma casa sou INQUILINO, nos transportes públicos e em viatura particular sou PASSAGEIRO, nos correios REMETENTE, no supermercado (e lojas também) sou CONSUMIDOR. Nos serviços sociais sou UTENTE. Para o estado sou CONTRIBUINTE, se vendo algo importado sou CONTRABANDISTA. Se revendo algo, sou VIGARISTA, se não pago impostos sou SONEGADOR, se descubro uma maneira de pagar um pouco menos, sou CORRUPTO. Para votar sou ELEITOR, para os sindicatos sou MASSA SALARIAL, em viagens TURISTA , na rua caminhando PEDESTRE, se passeio, sou TRANSEUNTE, se sou atropelado ACIDENTADO, no hospital PACIENTE. Nos jornais viro VÍTIMA, se leio um livro sou LEITOR, se ouço rádio OUVINTE. A ver um espectáculo sou ESPECTADOR, a ver televisão sou TELESPECTADOR, no campo de futebol sou ADEPTO. Na Igreja católica, sou IRMÃO. E, quando morrer... uns dirão que sou ... FINADO, outros ... DEFUNTO, para outros ... EXTINTO, para o povão ... MAIS UM QUE DEIXOU DE FUMAR ... Em certos círculos espiritualistas serei ... DESENCARNADO, os evangélicos dirão que fui ... ARREBATADO...


E o pior de tudo é que, para os governantes sou apenas um IMBECIL !!! E pensar que um dia quis ser EU. SIMPLESMENTE".
 
 
 
 

Pergunto, pois, querer-se-á mesmo definir tudo? E a resposta é: sim, mas p'ra quê?



1 comentário:

olavretni disse...


Ainda perguntas o porquê de se definir tudo. Olha para estas duas leis em vigor nos "States":

- as mulheres solteiras que saltam de pára-quedas aos domingos podem ser presas.

- é ilegal estar vendado enquanto se conduz um veículo.

Queres coisas mais despropositadas?

O problema é terem que ser os cidadãos a pagar todos os custos das tais "cabecinhas pensadoras"