sexta-feira, novembro 29, 2013

Hungria, a "Democracia no vermelho"



Em Junho de 2012, já lá vai mais de um ano, escrevi neste espaço um texto sobre a Hungria em que dizia, entre outras coisas:


"... a Hungria, que faz parte da União Europeia desde 2004, é um país muito bonito e Budapeste, a sua capital, que se estende por ambas as margens do Rio Danúbio, possui um património cultural e histórico muito rico. Para além disso, a Hungria é um país com grande tradição musical. A sua música popular serviu de inspiração a grandes compositores, desde Liszt a Bartók.

Mas nem a música nem a grandeza das belas pontes (a mais conhecida das quais é a magnífica Ponte das Correntes), nem os edifícios como o Castelo de Buda e o Parlamento e todos os demais cartões postais da capital magiar conseguem “apagar” aquilo em que a Hungria se está a transformar. Num Estado absolutista que tem como pano de fundo uma crise e a negociação de um resgate com o FMI, e a tornar-se num país onde a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa e política, a independência judicial e os direitos das minorias estão a ser varridos. A crise e as ameaças dos credores são, como sempre acontece, um terreno fértil para o populismo de políticos como o Primeiro-Ministro e líder do Fidesz, o partido conservador de centro-direita, Viktor Orbán"
 
Aquilo que já era verdade há ano e meio piorou de tal forma que foi agora aprovado pela Comissão Europeia um relatório elaborado pelo euro deputado português Rui Tavares em que a CE suspendeu todas as negociações com a Hungria até que o país reponha o Estado de Direito.

Pela primeira vez na história da União Europeia (UE), um Estado-membro é acusado de violar os valores europeus. Na verdade, o Governo húngaro impôs limitações à liberdade de expressão, nomeadamente na Comunicação Social, afastou juízes incómodos e enfraqueceu o Tribunal Constitucional. Criminalizou os sem-abrigo, que retirou das ruas mais frequentadas da Capital Húngara, e permite que organizações de extrema direita persigam, matem e destruam bens de judeus e ciganos. Acções iguais às que tiveram lugar no tempo de Hitler, a quem a Hungria se juntou.

E os horrores desses tempos levados a cabo pelos nazis húngaros são recordados, por exemplo, no "Monumento dos Sapatos" (foto acima), localizado na margem do rio Danúbio, em homenagem às vítimas do Holocausto judeu. Os sapatos eram um bem escasso e caro, e por isso antes de assassinarem os judeus e jogá-los no rio, os seus algozes tiravam os seus sapatos. Às vezes, amarravam casais de judeus e disparavam contra um deles, fazendo que o baleado acabasse por arrastar o outro para o fundo do rio, como uma âncora.

A Hungria, os seus cidadãos e a Europa não necessitavam, nem mereciam, a actual política húngara.


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