quarta-feira, março 27, 2013

Os juízes decidiram, está decidido!


Provavelmente muitos já se terão esquecido da questão que opunha, desde 2007, o Estado à empresa organizadora do III Salão Internacional Erótico de Lisboa e da Feira Sex07. Recordo que nessa altura os espectáculos, as provas desportivas e outros divertimentos públicos - incluindo os de carácter pornográfico - tinham o IVA à taxa reduzida. Porém, o Estado, por razões de puro decoro ou simplesmente porque achou que poderia sacar mais umas massas nos eventos erótico/pornográficos, que são muito concorridos, resolveu reclamar 76 mil euros por considerar que este tipo de espectáculos não se encaixava bem junto dos outros. Claro que diferendo teve que ser resolvido pela justiça.

O Tribunal de Primeira Instância deu razão à empresa e a Relação confirmou a sentença anterior. Sem prejuízo do que vier a ser decidido num eventual recurso para o Supremo, temos que, para já, o Estado tem que aceitar que este tipo de actividade - em termos fiscais - está no mesmo patamar dos demais.

Goste-se ou não (destes espectáculos e das decisões proferidas), os juízes decidiram, está decidido! Mas o que achei mais interessante no acórdão foi a justificação do Tribunal para a sentença:

"As actividades de feira são apenas uma forma de atrair público para a verdadeira finalidade do evento: a venda de bens e serviços pelos expositores. Situação que, independente da temática do evento, pode ser sexo ou um salão automóvel".
 
 

terça-feira, março 26, 2013

Condescendência para com os políticos? Porquê?



Lembram-se de ler há pouco tempo uma notícia em que mais de metade dos pilotos (portugueses e não só) admite ter adormecido, por fadiga, durante o voo? Então, toda a gente ficou preocupada. Daí que se começasse imediatamente a discutir a uniformização da legislação sobre horas de voo pela Agência Europeia de Segurança Aérea.

Os pilotos não podem dormir enquanto comandam ... mas às vezes ...

E quando sabemos que, por negligência, um cirurgião, deixou morrer um paciente ou esqueceu qualquer material cirúrgico dentro do doente após terminada a cirurgia? Não ficamos revoltados e não tentamos que aquele médico seja imediatamente afastado da sua actividade?

Os médicos enganam-se mas ... não podem.

Curiosamente com os políticos somos muitíssimo mais transigentes. Dizemos mal deles nas conversas entre amigos nos cafés e zangamo-nos com as medidas que tomam porque as achamos desajustadas e injustas. Mas pouco mais fazemos. E quando questionamos, por exemplo, porque é que o actual Governo não acerta uma previsão, uma meta que seja, obtemos (como eu li) uma resposta vinda de um Professor Catedrático de Economia: "Porque somos humanos, não somos deuses".

É a resposta mais abstrusa que já vi e que não pode desculpar os políticos da incompetência e da impreparação que muitas vezes demonstram. Se não aceitamos os erros de aviadores e de médicos (só para citar estas duas profissões), que são humanos como os demais, porque somos tão condescendentes para com os políticos que dão cabo da vida de cidadãos e países? Só porque os seus erros não matam? Não matam mas vão corroendo a paciência e a saúde das pessoas.
 

 

segunda-feira, março 25, 2013

No país das petições


Nunca como agora, com a utilização da internet e das redes sociais, as petições tiveram tão ampla divulgação. Por dá cá aquela palha "inventa-se" uma petição a favor disto ou contra aquilo. Há mesmo sítios específicos na net onde se podem criar ou consultar petições.

As (várias) que na última semana fizeram mais ruído foram as petições sobre a contratação do ex-primeiro-ministro José Sócrates pela televisão pública.

Os que não o querem ver nem pintado na televisão do Estado, acusam-no de gestão danosa, dizem que ele é o principal arquitecto do descalabro político/económico (e o verdadeiro ladrão) do país. Já os seus indefectíveis, sustentam que Sócrates foi um dos melhores políticos de Portugal e que ele tem todo o direito de ser comentador político da RTP.

Não sei se será boa ideia pôr os políticos encartados na pele de analistas políticos. Por definição um analista analisa e um político marca a sua agenda e faz propaganda. Genericamente é assim. E isto aplica-se a Sócrates bem como a todos os ex-governantes e ex-líderes partidários que já hoje têm lugar cativo nas televisões como comentadores.

Para mim, esta história das petições cheira-me a folclore. O balanço das governações depende da avaliação de cada um. Há em todas elas pontos fortes e pontos fracos e num estado democrático as contas são acertadas ou em eleições ou na dissolução de um Governo pelo Presidente da República, de acordo com a Constituição. Petições ou quejandas pouco acrescentam. E, porque respeito a liberdade de expressão e de escolha, acho que há sempre lugar para quem queira aparecer, gostemos nós deles ou não. E, depois, há sempre a possibilidade de mudar de canal ou desligar a televisão.
 
 

sexta-feira, março 22, 2013

Ser pessimista é ...


 
Os primeiros versos do poema de Florbela Espanca, "Ser Poeta", começa exactamente por:

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!"

Da mesma forma (embora sem o sentido poético de Florbela), bem se poderia afirmar que ser pessimista é (ou pode ser) a chave da longevidade. E isto porquê? Porque, num estudo alemão agora publicado se conclui que "os mais pessimistas sobre as perspectivas de felicidade futura vivem mais tempo e em melhor estado de saúde do que aquelas que são optimistas. As pessoas mais velhas que esperam um nível de satisfação limitado sobre a sua futura situação pessoal vivem mais tempo do que aquelas que imaginam um futuro cor-de-rosa".

Claro que são vários os pressupostos que sustentam a tese destes investigadores da Universidade Friedrich-Alexander de Nuremberg, mas dá-nos um certo alento pensar que o pessimismo generalizado dos cidadãos, pode ser a chave para uma maior longevidade. Quanto a mim, como estou muito pessimista quanto ao futuro terei, certamente, mais uns bons anos de vida pela frente. Haja força para resistir.

 

quinta-feira, março 21, 2013

A corrida aos Bancos no Chipre



Pela primeira vez na história do Euro o resgate financeiro de uma nação impôs como garantia uma taxa dos depósitos nos bancos, que oscila entre os 6,75% para depósitos inferiores a 100.000 euros e 9,9% aplicável aos restantes. Porém, o Parlamento cipriota não aceitou essa decisão, mesmo correndo o risco de lançar o país na bancarrota e, eventualmente, ter que sair do euro.

Aconteceu no Chipre e sobressaltou todos os países do euro. Sossegados que estávamos com os discursos sobre a protecção das poupanças dos depositantes dos sistemas bancários, ficámos em transe quando assistimos aos cipriotas correram em desespero para os multibancos para tentar salvar algum do seu dinheiro. Uma acção capaz de ter réplicas noutros países. E andámos nós tão preocupados com os "riscos sistémicos" que poderiam resultar de uma eventual falência do BPN. Tanto que o nacionalizámos, com todos os prejuízos que daí resultaram.

A medida (como contrapartida da aprovação do resgate) não foi decidida pelo Governo de Nicósia (foi imposta pelo Eurogrupo) e põe a nu que, para os eurocratas de Bruxelas (indiferentes às regras democráticas), vale tudo e que não há qualquer respeito pelos direitos das pessoas.

E agora, que confiança podemos ter nos sistemas bancários/financeiros? Qual a sua estabilidade, que riscos e perigos podem advir de tais sistemas? A confiança, a pouca que ainda restava, parece ter sido definitivamente quebrada.

Segundo li, muitos economistas pensam que taxar os depósitos que os cidadãos europeus confiaram aos seus bancos não é uma carta fora do baralho nos programas de assistência financeira das economias do euro. Portugal incluído.

Embora sabendo que o Chipre, tem um sistema bancário maior do que a própria economia (ainda por cima com um ingrediente suplementar: a lavagem de dinheiro da máfia russa), a partir de agora não sei se teremos que repensar qual será a melhor maneira de guardar as nossas parcas poupanças.

 

quarta-feira, março 20, 2013

Chega!



Estamos fartos da hipocrisia destes Governantes que têm posto de pantanas este pobre país. Chega! E já não pegam as desculpas com os erros do passado e, especificamente, com a desastrosa governação dos governos socialistas. É que desde que este executivo tomou posse tudo tem desabado rapidamente como um castelo de cartas e não se vêem medidas que possam inverter a situação, a curto ou a médio prazo.

Depois dos incitamentos à emigração (de jovens e menos jovens) e de afirmar insistentemente que as crises podem ser uma janela de oportunidades, Passos Coelho diz agora que na reforma do Estado as rescisões com funcionários públicos são "uma oportunidade e não uma ameaça para uma requalificação da administração". E tão certo está do que pretende fazer, que foi já definido por onde vai começar: os trabalhadores das categorias de assistente operacional e de assistente técnico serão os primeiros alvos das rescisões. Precisamente aqueles que ganham menos e que sustentam o funcionamento do Estado.

Tretas! O que percebemos, afinal, é que a refundação e o redimensionamento da administração pública mais não são que puro despedimento de funcionários.

E o desemprego sobe, sobe, sobe. Até onde?

Como escreveu Lobo Antunes "As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa (nós, os cidadãos) somos incapazes de enxergar a capacidade purificadora destas medidas".

terça-feira, março 19, 2013

O verdadeiro défice ...



Ainda sobre Vítor Gaspar (de quem os cronistas e humoristas tanto gostam, calcula-se porquê), ao ouvi-lo no discurso que aqui referi ontem, lembrei-me dos "relatórios e contas" de muitas empresas: o relatório para as Finanças (por causa dos impostos a pagar), o relatório para a Banca (por causa dos investimentos) e o relatório da empresa (em princípio, o que espelhava a verdade das suas contas).

E recordei-me disto porque Vítor Gaspar revelou no tal discurso que houve três valores de défice em 2012: 4,9% (para a troika), 6,6% (para INE/Eurostat) e 6% (saldo orçamental sem efeitos pontuais).

A verdade, porém, é que o Ministro das Finanças apenas nos quis confundir. Ele sabe bem, e nós sabemos também, que o que conta verdadeiramente é o défice em contabilidade nacional que foi, como se viu, de 6,6%, bem longe dos 4,5% previstos.

Para quê estas habilidades? Ainda por cima vindas de uma pessoa que era vista como rigorosa e competente e que, portanto, merecia toda a credibilidade. Será que ainda merece?

 

segunda-feira, março 18, 2013

No bom caminho? Que raio de conversa é essa?



Na conferência de imprensa em que comunicou os resultados da sétima avaliação da troika, o ministro das Finanças anunciou (e agravou) as perspectivas para a economia portuguesa para este ano. O PIB cairá 2,3%, muito acima das previsões de 1% definidas no Orçamento do Estado, o desemprego (oficial) deverá chegar aos 18,2%, atingindo nos últimos meses a barreira dos 19% e o défice público para este ano passará de 4,5% para 5,5%.

Perante tantas previsões falhadas, Vítor Gaspar continua a dizer-se preocupado mas que "continuamos no bom caminho". No bom caminho? Mas que raio de conversa é essa se tudo está a desabar em cima de nós? Os sacrifícios para os portugueses são cada vez maiores e os resultados pioram a olhos vistos. Perante mais este "falhanço colossal" da receita aplicada, Vítor Gaspar deveria ter terminado o seu discurso com uma simples frase: "Por tudo isto, obviamente, apresento a minha demissão do Governo".

Recordo que, há uns tempos (em 2010), Passos Coelho dizia: “Se nós temos um Orçamento e não o cumprimos, se dissemos que a despesa devia ser de 100 e ela foi de 300, aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa também têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos e pelas suas acções”.

De facto, ele disse isso mas ... já esqueceu!
 
 

sexta-feira, março 15, 2013

Ouvindo Beethoven


De José Saramago, "Ouvindo Beethoven"

Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juízo até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
que a presa de registro, o verso acta.


Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas.

quinta-feira, março 14, 2013

Cuidemos da saúde ... façamos férias



Noutras épocas, quando ainda nos era permitido sonhar, em Março, mais coisa menos coisa, começava-se a pensar em férias. Projectavam-se destinos ou ansiava-se, simplesmente, por tempos de lazer, que passavam muitas vezes por umas semanas de praia. Hoje as coisas estão mais difíceis, a falta de dinheiro obriga-nos a outras prioridades e as férias foram secundarizadas, quando não esquecidas.

Mas o Mundo não pára e, recentemente, realizou-se a Feira de Turismo na FIL e, em breve, será a vez da Abreu mostrar o seu pacote turístico para 2013/2014. Temos que voltar a sonhar em fazer de férias até porque, para além do lazer e da cultura, ir de férias faz bem à saúde.

É isso mesmo que conclui um estudo britânico que comparou a saúde das pessoas que fizeram férias com a daqueles que ficaram em casa e continuaram a trabalhar.

Segundo o estudo, "ir de férias é benéfico porque contribui para a redução da pressão arterial, alivia o stress, melhora a qualidade do sono e, em última instância, rejuvenesce o nosso corpo". Esmiuçando, a pressão arterial daqueles que foram de férias diminuiu 6%, ao passo que a dos trabalhadores que se mantiveram nos seus escritórios subiu 2% durante o mesmo período. A qualidade do sono das pessoas que descansaram num país estrangeiro melhorou 17%, ao contrário do que aconteceu com a outra metade do grupo, na qual se observou uma diminuição na ordem dos 14%. A capacidade de recuperar do stress aumentou 29% naqueles que foram de férias mas registou-se uma quebra de 71% nos que ficaram em casa. As férias contribuíram, ainda, para que o grupo que viajou assinalasse uma diminuição significativa nos níveis de glicose no sangue, o que contribuiu para a redução do risco da diabetes e obesidade e melhoria do humor e dos níveis de energia.

E então, o que é que estamos à espera para melhorar a saúde e voltar a sonhar?

quarta-feira, março 13, 2013

Descobri-te, La Féria ... foste tu!




Li recentemente uma entrevista concedida por Filipe La Féria ao "Económico", já em Novembro do ano passado e descobri que foi ele o verdadeiro culpado por termos Passos Coelho à frente do actual Governo.

A certa altura perguntava o jornalista: "Preferia ter Passos Coelho a cantar numa das suas peças ou no Governo?"

E a resposta de La Féria foi: "Acho que ele era mais feliz se fosse cantor. Ele é um bom cantor. Eu fui o culpado, de facto, de ele agora ser primeiro-ministro (risos). Ele concorreu para fazer o "My Fair Lady" e eu escolhi outro. Porque ele é barítono e o outro era tenor. Mas Pedro Passos Coelho teve dúvidas sobre que carreira devia seguir... contou-me que havia um congresso do PSD no Coliseu. E em vez de ir para o Coliseu, foi para a audição.

Bingo, finalmente sei quem tu és, La Féria. "A partir de agora, doravante e pró futuro" nunca mais porei os pés num espectáculo teu. O homem (o Passos) pode até ter uma boa voz mas a "cantiga" dele não me convence. E tu sabes do que é que eu estou a falar. Afinal, também tu te queixas das más políticas (especificamente as da cultura) ...

 

terça-feira, março 12, 2013

É uma pena ... uma padaria histórica em risco de destruição


 
Já aqui escrevi diversas vezes que me sinto muito mais tranquilo desde que existe a ASAE. Apesar das recentes notícias sobre as aldrabices dos compostos alimentares à base de carne, as regras que, nas últimas décadas, foram implementadas para a melhoria das condições sanitárias dos alimentos que consumimos, só podem deixar-nos mais descansados.

Porém, não exageremos na fórmula. Como costumo dizer, regras em demasia fazem-me azia e, em nome de tanta segurança, podem destruir-se, pelo exagero, outras coisas igualmente importantes.

É o caso de uma padaria Art Déco - uma autêntica raridade - que existe em Lisboa desde 1933, cujo balcão, intacto e em óptimas condições, em pedra lioz e mármore, pode ter de ser destruído por não ser refrigerado.

A padaria, da autoria do engenheiro Pedro Nunes, está intacta e é revestida de azulejos da famosa Fábrica Lusitânia, com motivos Art Déco, incluindo dois painéis ovalados retratando o fabrico de pão e criados especificamente para este estabelecimento. Os mosaicos do pavimento, os estuques do tecto e a frente de loja com montras em caixilharias de ferro são outros elementos decorativos que representam o período Art Déco.

Modernidade sim, mas com conta, peso e medida. Por isso se pede bom-senso e que as novas leis da Segurança Alimentar não sejam cegas e indiferentes a esta delapidação artística da, muito provavelmente, única Padaria Art Déco que resta na capital, com este nível de autenticidade e qualidade artística.
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, março 11, 2013

Descer o salário mínimo? Só podem estar a gozar ...


 
Ainda na quarta-feira passada eu escrevia aqui que Passos Coelho se mantém "firme e hirto" na linha que traçou quando se tornou Primeiro-Ministro e não se desvia um milímetro que seja dessa linha, mesmo estando a coisa a correr mal.

Certamente por isso é que no último debate quinzenal que se realizou na Assembleia da República, afirmou que "aumentar o salário mínimo nem pensar". Pelo contrário: "Quando um país enfrenta um nível elevado de desemprego, a medida mais sensata que se pode tomar é exactamente a oposta", concluiu. Ao ouvir isto pensei ter percebido mal. Estaria ele a insinuar que se deveria baixar o já baixo salário mínimo? Estava, porque logo a seguir afirmou: " ... foi isso que a Irlanda fez, ou seja, baixou o salário mínimo nacional".

O que ele não disse, mas toda a gente sabe, é que o salário mínimo em Portugal é de 485,00 euros (embora pago 14 vezes por ano corresponda a 565,63 €) e o da Irlanda é de 1 462 euros (mesmo depois de já terem feito a tal redução), portanto, bem mais alto do que o nosso. A não ser que Passos Coelho queira comparar o nosso salário mínimo aos que são praticados na Roménia (157 euros) ou na Letónia (287 euros).

Passos justifica a sua recusa em considerar qualquer aumento, no facto de uma eventual subida poder provocar mais desemprego. Contrárias, porém, são as opiniões de todos os parceiros sociais, incluindo os patrões (CIP e CCP) que admitem discutir o assunto.

É bem visível a linha ideológica defendida pelo actual Governo. E os seus gurus de serviço, à cabeça dos quais figura sempre o inefável António Borges, opinam, claro está, que o valor actual do salário mínimo (os "imensos" 485 euros) deve ser mantido como está, mas - acentuando a posição - refere que o combate ao desemprego podia ser mais eficaz se os vencimentos fossem reduzidos. A mesmíssima coisa que defende o Primeiro-Ministro.

Borges, o consultor do Governo pago generosamente pelos contribuintes, acaba por habilidosamente "dourar a pílula" ao dizer que "ninguém quer um país de gente pobre". Não sei é se ele não estará a pensar apenas em si próprio.


quinta-feira, março 07, 2013

O "entroikado"



Sempre achei ridículas as iniciativas que têm por objectivo único fazerem parte do Guiness ou aquelas "invenções" que não servem rigorosamente para nada.

Tal como achei desnecessária aquela votação recente organizada pela Porto Editora, em que foi escolhido o adjectivo "entroikado" como a palavra que melhor representa o ano de 2012. Bem, e o que é que ganharam com isso a nossa língua e os portugueses? Nada!

Mas foi essa a palavra escolhida (que nem sequer consta no nosso dicionário), superando os vocábulos “desemprego” e “solidariedade”, essas sim, já existentes na nossa língua. Com o "entroikado" a rapaziada pretende transmitir que foi "obrigada a viver sob as condições impostas pela troika" ou "que está numa situação difícil". Enfim, "que está tramada, que está lixada".

Segundo li, há especialistas que destacam a musicalidade da palavra, a sua força e expressividade. Não acho nada disso e, para mim, a sua utilização é apenas mais uma moda que passará com o tempo. Admito que traduza o sentimento geral que se vive no país, mas não me parece que seja suficiente para que tenha sido tão utilizada em textos escritos e em publicações periódicas, impressas e digitais, em 2012. Tão-pouco que tivesse tão grande impacto na utilização quotidiana dos portugueses que a leve à integração no nosso vocabulário. Pelo menos, aqui, no "Por Linhas Tortas" não me recordo de o ter utilizado uma vez que fosse. Desculpem lá!

quarta-feira, março 06, 2013

Quando um Nobel da Economia não entende certas opções ...



Tantas vezes citado por políticos (quando as suas teses lhes eram convenientes), Paul Krugman, Prémio Nobel de Economia em 2008, parece ter sido esquecido quando, recentemente, disse "não entender a paixão europeia pela austeridade", acrescentando até que "defensores da austeridade estão a parecer cada vez mais insolentes e delirantes".

E nós que temos sofrido na pele essa insolência delirante traduzida em medidas de austeridade severas, sempre revistas e aumentadas, já há muito que tínhamos percebido - até pelos resultados que são anunciados - que esta obsessão pela redução do défice não nos tem conduzido a lugar algum. Ou antes, tem. À recessão e ao desemprego - que são cada vez maiores - e à debilidade da economia.

Mesmo assim, mesmo depois do próprio FMI ter feito um impressionante "mea culpa" quando admitiu ter subestimado os danos infligidos pela austeridade, o Governo de Passos Coelho segue "firme e hirto" com os propósitos traçados desde que tomou posse, caminhando cegamente na direcção do abismo.

E nem sequer é necessário ter ganho um Nobel de Economia para se compreender que aquilo que Paul Krugman afirmou: "As nações que impuseram políticas de austeridade severas sofreram crises económicas profundas; quanto mais severa a austeridade, mais profunda foi a recessão" é uma verdade absoluta.

terça-feira, março 05, 2013

APRE! sem-vergonha tem limites


 
Vai ser hoje apresentado em Lisboa o "Movimento dos Reformados Indignados - (MRI)" que se propõe "tomar posição face à situação de profunda crise social vivida pelo país e aos ataques que o Governo está a fazer aos reformados". O MRI está, também, "contra a famigerada taxa CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade), que constitui um instrumento de espoliação dos reformados e pensionistas". Mais, o movimento adianta, ainda, que "os ataques que estão a ser feitos aos reformados bancários, retiram-lhes diariamente os instrumentos sociais de sobrevivência, fustigando-os com taxas e impostos incomportáveis para a classe".

Até aqui tudo bem. É mais um movimento de defesa dos reformados (grupo que vai crescendo velozmente) a juntar-se ao APRe - Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados, que já vai fazendo o seu caminho.

Porém, fiquei extremamente chocado quando li que o MRI vai ser presidido pelo ex-presidente do Banco Comercial Português (BCP), Filipe Pinhal, em conjunto com o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários.

Qualquer reformado, bancário ou não, tem bastas razões para se sentir revoltado com os cortes que está a sofrer mas, Filipe Pinhal não é um reformado qualquer. Foi afastado do BCP depois do escândalo das "offshores" do próprio banco (foi condenado e está a ser julgado o recurso) e, ao que se sabe, recebe uma reforma milionária.

Filipe Pinhal pode até sentir-se indignado por ter sofrido cortes na sua reforma, mas aconselharia o bom-senso que, atendendo ao seu passado e à pensão privilegiada que aufere, o melhor teria sido ficar calado. É que há reformados e ... reformados.

APRE! foi o que me apeteceu exclamar. APRE como expressão designativa de espanto, irritação, impaciência ou repulsa e não o da sigla da Associação de Reformados, que essa termina com "e" pequeno.

 

segunda-feira, março 04, 2013

"Tava" tanta gente ...




Era uma multidão imensa quando cheguei. E continuou a engrossar com gente vinda de todo o lado, numa alegria tensa que mostrava determinação, revolta, raiva, desespero e vontade de mudança.

Não gosto muito do nome do principal movimento que promoveu a manifestação: "Que se lixe a troika". Questão de pormenor, talvez, e que não invalida que a dita se lixe mesmo. Mas preferia um nome mais sonante, mais criativo. E porque não "Que se lixe o Governo"? Ou que se lixe alguém que não sejam sempre os mesmos?

Mas, dizia, era de facto uma manifestação "colossal". Cerca de meio milhão (há quem jure que seriam oitocentos mil) de almas só na manifestação de Lisboa (um milhão e meio em todo o país). Uma "maré cheia" de gente, como li algures. E, por serem tantos, não estranhei não encontrar nem o Passos Coelho nem o Miguel Relvas, nem qualquer outro elemento do executivo. Certamente que estariam por lá, mergulhados na multidão, se calhar com o Passos empunhando um cartaz a dizer mal do Relvas e, este, envolto numa faixa que deitava abaixo o Passos. Mas vi muitos dirigentes políticos da oposição e dos movimentos sindicais e, até, um dos militares de Abril. Mas, à minha volta vi, sobretudo, muitos jovens e outros bem menos jovens para quem o presente é extremamente difícil o futuro uma incógnita. Passei por uma pessoa que segurava um cartaz onde se lia "Sem Presente e Sem Futuro" e que me fez pensar que eu bem poderia levantar um cartaz onde se lesse a minha própria vivência "Com Um Passado Sofrido, Sem Presente e Sem Futuro". Vi muitos desempregados, vi e ouvi famílias inteiras a clamar por mudanças, por melhor saúde, por mais oportunidades de emprego (sem que seja necessário procurá-lo noutros países), por melhor justiça, por menos impostos, por menos austeridade. Vi pessoas desfilando pelas ruas, convictas dos apelos que faziam e dos cartazes que levantavam, enquanto, aqui e ali, se juntavam às palavras de ordem ou entoavam os versos, sempre exaltantes, de "Grândola, Vila Morena".

E todas estas pessoas percorreram ordeiramente as ruas, dando sinais ao Governo, à troika e à Europa que alguma coisa tem que mudar e rapidamente. E se quem nos governa ainda necessitava de sentir o pulsar dos cidadãos, a resposta dada foi clara. Passos Coelho tinha desvalorizado a iniciativa, mas tenho esperança que o mote "O Povo é quem Mais Ordena", cantado vezes sem conta durante a manifestação, o tenha feito reflectir.

 

sexta-feira, março 01, 2013

Um exemplo de político



Eu sei que o escândalo de corrupção que rebentou em cima do Primeiro-Ministro espanhol Mariano Rajoy não passa, por enquanto, disso mesmo, de um escândalo. Mas confirmando-se, ou não, essas suspeitas o certo é que são muitos os políticos que entram (ou que se põem a jeito) em certos esquemas e, daí, acreditar-se cada vez menos em quem entregamos a condução dos nossos destinos.

Por isso, quando há uns tempos li no El Mundo um artigo sobre José “Pepe” Mujica, de 77 anos e Presidente do Uruguai, onde se considerava que era o Presidente mais pobre do mundo, torci o nariz cheio de dúvidas. Logo num país de uma região onde os níveis de corrupção tomam proporções gigantescas? Mas não quis tirar conclusões precipitadas e “googlei” (como agora se diz) para tirar isso a limpo.

De facto o Presidente do Uruguai parece ser uma excepção. Vai para o trabalho todos os dias a guiar o seu modesto automóvel de 1300 c.c. de cilindrada (que vale mil dólares), fazendo o trajecto desde a sua pequena habitação (o seu único património para além do carro), localizada nos arredores de Montevideu, onde vive com a mulher. Recebe um salário de 12,5 mil dólares como Presidente, fica apenas 1,25 mil para os seus gastos e doa o restante, cerca de 90%, a pequenas empresas e a Organizações Não-Governamentais. E isso dá-lhe para viver? “Este dinheiro chega-me, tem que chegar porque há outros uruguaios que vivem com menos – costuma dizer”. De referir, ainda, que a sua mulher, senadora da República, também doa uma boa parte do seu salário.

Apesar de ser Presidente de um dos países mais importantes da América do Sul, José “Pepe” Mujica e a esposa levam uma vida espantosamente simples. Aliás, ele é um homem simples. Nunca usa gravata (sempre casaco e camisa branca), convive com os amigos de sempre e não tem contas bancárias nem dívidas. Um homem de sólida formação, de convicções fortes, que lutou pela democracia contra a ditadura, foi preso e é hoje presidente eleito do país.

A sua residência presidencial, o Palácio Suarez Reyes, onde se realizam as reuniões do Governo, já deu guarida a pessoas sem-abrigo e a residência de Verão do Governo, em Punta del Este, foi vendida ao Banco Estatal que o transformará em escritórios e espaço de cultura. O dinheiro da venda será, por decisão de Mujica, integralmente aplicado na construção de moradias populares e de uma escola agrária.

Costuma dizer-se que “ao serem eleitos, os Presidentes fazem uma espécie de renúncia pública da sua liberdade”. No caso de Mujica isso não aconteceu. Embora sujeito a fanatismos ou ódios políticos, continua a andar sem segurança. Também por isso, admiro a sua coragem e as suas convicções. Afinal, ele lutou toda a vida e sempre arriscou a sua segurança e a da própria família por elas. Porquê mudar agora?

São pessoas como esta que nos transmitem alguma esperança no futuro. E certamente que o mundo seria um lugar bem melhor se outros políticos tivessem a grandeza e a seriedade de José “Pepe”Mujica.