terça-feira, abril 30, 2013

Faz amanhã 39 anos ...



Lembro-me como se fosse hoje. No primeiro 1º de Maio em liberdade fiz parte da enorme multidão de portugueses que saíram às ruas para celebrar o fim da ditadura. A maior manifestação de sempre. Aquela em que houve mais alegria e esperança. Cravos vermelhos floriam por todo o lado nas mãos e nas lapelas de tanta gente feliz. Chico Buarque não poderia ter definido melhor o sentimento de um povo que tinha aderido espontaneamente à revolução do 25 de Abril: "Sei que estás em festa, pá".

Faz amanhã 39 anos e parece que foi ontem. Muitas das nossas ilusões foram-se perdendo pelo caminho. Por um caminho de altos e baixos que, nos últimos anos, tem-nos feito regredir em muitos aspectos. "A paz, o pão, a habitação" de Sérgio Godinho foram sendo esquecidos. Mas a fé inquebrantável dos portugueses, embora significativamente enfraquecida, mantém-se e, no espírito de muitos, ainda soam os versos de Ary dos Santos:

"O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos, isto vai"


segunda-feira, abril 29, 2013

Não há almoços grátis ...



Depois das ondas de juristas e economistas que encheram a Assembleia da República e o Governo, o actual executivo apontou agora baterias para a classe jornalística. De uma assentada, foram nomeados 10 jornalistas - todos do Diário de Notícias - para Secretários de Estado. De estranhar, porém, que a escolha tenha recaído em jornalistas todos pertencentes ao mesmo jornal. Mas como não conheço pessoalmente qualquer deles, dou o benefício da dúvida. Quiseram mudar de vida e arranjar um futuro mais risonho e têm todo o direito a isso.

Mas um deles tem merecido críticas muito violentas - Francisco Almeida Leite. Diz quem sabe que o ex-jornalista do DN, que ainda foi vogal no Instituto Camões e é agora o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, é um perito em intriga, nomeadamente dentro do PSD, onde "levou ao colo" Passos Coelho quando este ainda fazia oposição interna a Manuela Ferreira Leite. Um especialista em múltiplos fretes a Coelho, antes e depois de ele chefiar o Governo, um vulgar e ambicioso moço de recados que há muito deixou de ter o pudor de disfarçar. E diz ainda quem o conhece que, tirando estes "méritos", nada mais há para acrescentar sobre os eventuais atributos políticos e técnicos.

Pergunta-se, então, por que foi ele nomeado? Sabendo-se que não há almoços grátis, a resposta parece óbvia: "Pelo pagamento de favores a quem tanto ajudou o Primeiro-Ministro a lá chegar".

Antes dele, e pelos mesmos motivos, já tinha havido Miguel Relvas. Mas esse, felizmente, já saiu. E estando o actual Governo num estado tão periclitante, pode até acontecer que Francisco Almeida Leite não chegue sequer a aquecer o lugar e siga o mesmo rumo que Relvas.
 
 
 

quarta-feira, abril 24, 2013

Abril de Sim Abril de Não



De Manuel Alegre, "Abril de Sim Abril de Não"

 


Eu vi Abril por fora e Abril por dentro

vi o Abril que foi e Abril de agora
 
eu vi Abril em festa e Abril lamento 
Abril como quem ri como quem chora. 
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
 
Abril que já não é Abril por vir 
e como tudo o mais contradição. 
Vi o Abril que ganha e Abril que perde 
Abril que foi Abril e o que não foi 
eu vi Abril de ser e de não ser. 
Abril de Abril vestido (Abril tão verde) 
Abril de Abril despido (Abril que dói) 
Abril já feito. E ainda por fazer.


 

terça-feira, abril 23, 2013

O atestado médico



 
Na crónica de ontem falei-vos em mentiras e na capacidade de, quantas vezes, fingirmos que a mentira é verdade. E lembrei-me de um texto, que já tem 4 ou 5 anos, intitulado "O atestado médico", escrito por um professor de Filosofia - José Ricardo Costa - que escreve semanalmente para o Jornal “O Torrejano”. Dizia ele:
 
"Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância. Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la?
 
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.
 
O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.
 
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente. Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente. Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.
 
Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados.
 
Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o 'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D. Afonso Henriques, que Deus me perdoe. A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.
 
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas. Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.
 
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio".
 
 

segunda-feira, abril 22, 2013

O país das mentiras ...


 
Na semana passada Passos Coelho convidou António José Seguro para um encontro que visava um possível entendimento político. Apesar do Primeiro-Ministro ter esquecido há muitos meses que Seguro existia e que até era o líder do principal partido da oposição, Seguro compareceu. Em nome de uma eventual reconciliação? Por querer assegurar o reforço da democracia?

À saída, Passos afirmou que a reunião tinha corrido bem e Seguro disse que estava tudo na mesma. Uma bela amostra de uma convergência impossível. É certo que ambos se mostraram disponíveis para o diálogo mas, como se esperava, ambos ficaram irredutíveis nas soluções que cada um defende para combater os verdadeiros problemas do país.

E, afinal, o que é que se ia discutir naquele encontro? Ao que dizem as más línguas, as decisões estavam já tomadas, pelo que, toda a encenação não passou disso mesmo. Um faz-de-conta para mostrar à troika que existe um consenso político em Portugal que assegura o cumprimento das nossas responsabilidades. Uma mentira pegada.

Aliás, uma mentira em que toda a gente fingiu acreditar. Alguns agentes políticos, os média que cobriram toda a história e as cidadãos que ainda tiveram uma réstia de esperança. Mas, repito, todos fingimos acreditar. Por ingenuidade, por boa-fé ou por desespero.
 
 

sexta-feira, abril 19, 2013

Acarinhemos a língua portuguesa - I I I




Para terminar a semana e este tipo de reflexões sobre a língua portuguesa - voltaremos ao tema e não me chamem fundamentalista - queria só dizer-vos que numa conferência em que participei há dias, ouvi, em pouco mais de duas horas vários presentes desenvolverem teses proferindo (com frequência) palavras tão portuguesas como: "follow up", "downsize", "feedback", "meeting" ou "e-mail".

Mas o que mais me preocupa é que essas mesmas pessoas que empregam esses termos nas suas áreas profissionais – e isto diz respeito a uma panóplia imensa de actividades e não só aos informáticos - acabam por utilizá-los, também, na sua vida pessoal.

Vejam os seguintes exemplos:

- informação à agência de viagens de que se pretende fazer um “upgrade” do hotel inicialmente reservado;

- o Gerente/Chefe/Director/o que seja, convoca o seu “staff” para um "briefing" ao fim da tarde;

- proposta para ir fazer compras ao “shopping”;

- lista de vantagens ou inconvenientes das empresas de “outsourcing”?

Será que não podemos dizer as mesmíssimas coisas … em português?

Penso que devemos valorizar mais a nossa língua, que é tão rica. De certeza que existirão palavras e expressões portuguesas para utilizar em substituição dos tais termos estrangeiros.
Porém, há que ter cuidado. É que se falarmos (ou escrevermos) só em português, poderemos correr o risco de que quem nos ouve ou lê, chegue à conclusão de que nós, afinal, não dominamos lá muito bem o assunto que estamos a abordar. Ou, por outro lado, pode acontecer que se falarmos ou escrevermos apenas em português, poderemos dar a ideia a certos “iluminados” de que não estamos muito familiarizados com os termos mais “in” utilizados com frequência por "determinadas elites". Afinal, ninguém quer dar parte de fraco, não é?
 
 

quinta-feira, abril 18, 2013

Acarinhemos a língua portuguesa - I I


A propósito da crónica de ontem sobre a língua portuguesa, não podia deixar de referir uma moda que se instalou por cá há uns anitos, de aulas dadas integralmente em inglês nas nossas Universidades. Parece mentira, não é? Estamos em Portugal, as Universidades são financiada basicamente pelo nosso Orçamento Geral do Estado, os professores são maioritariamente portugueses mas os cursos são dados em inglês.

Chegámos ao ponto de no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, quando numa turma há um aluno estrangeiro que não domina a nossa língua, as aulas passarem a ser dadas em inglês. A língua inglesa está, de facto, a invadir as universidades portuguesas. Nas licenciaturas, nos mestrados e nos doutoramentos. No Técnico, mas também na Nova, na Católica, na do Minho ou no ISEG, há cursos em que a língua nativa não entra.

Para além da captação de alunos (para aumentar as fontes de financiamento) provenientes do Erasmus e de países de mercados como o Médio Oriente, o que se pergunta é "Mas, para além disso, será, sobretudo uma questão de moda?

O assunto é polémico até porque nem toda a gente - mesmo no meio estudantil - está eufórica com a importação da língua de Shakespeare. Segundo li, há até estudantes que deixaram de ir às aulas porque não entendem bem o que lá se diz. E um bom exemplo a contrariar essa moda é o da Universidade de Coimbra que tem 1 000 alunos de outros países (70% dos inscritos são chineses) a frequentar cursos de língua portuguesa. Aliás, a Universidade de Coimbra tem estado empenhada em reforçar o uso da língua portuguesa na sua política de internacionalização.

Mesmo que o objectivo da maior parte das Universidades seja atrair mais alunos de outras paragens que venham compensar os cortes do financiamento público, estão-se a esquecer de milhares de outros estudantes - portugueses, brasileiros, angolanos, moçambicanos, etc. - que menos familiarizados com o inglês, acabam, muitas vezes, por desistir.

Concluindo: sem deixar de constatar como uma mais-valia a maior integração linguística dos formandos, sobretudo em mestrados e doutoramentos, penso que, de certa forma, "estamos a vender", em nome da sustentabilidade financeira das Universidades, a nossa língua e a nossa identidade. Tanto mais que o português é o 6º idioma mais falado no mundo. E já agora digam-me se acham possível que numa Universidade de Tóquio um curso fosse dado integralmente em português só porque um estudante luso tinha decidido ir para lá estudar. Acreditam nisso? E o japonês é apenas o 10º idioma mais falado.

 

quarta-feira, abril 17, 2013

Acarinhemos a língua portuguesa




"... há qualquer coisa em nós de que não gostam
Trazem palavras de outra língua ..."

São duas linhas apenas do poema de Manuel Alegre, "Resgate" (já aqui publicado), que servem de mote para o assunto que ando, há tempos, para partilhar convosco.

Se eu lhes dissesse

"葡萄牙文是我們最大的資產之一,並是非賣品。所以珍惜它!";
ou,
"Португальский язык является одним из наших крупнейших активов и не для продажи. Поэтому хранить его!"

ou, ainda,

"the Portuguese language is one of our biggest assets and is not for sale. So cherish it!",

 
o que é que me respondiam?

Eu sei que tenho os melhores e os mais eruditos leitores do mundo, que dominam fluentemente línguas tão diferentes como o chinês tradicional, o russo ou o inglês. Mas, numa conversa coloquial entre amigos não seria mais natural dizer simplesmente "a língua portuguesa é um dos nossos maiores activos e não está à venda. Por isso, acarinhem-na!"?

Desde sempre que sou defensor que se aprendam várias línguas. É uma questão de valorização pessoal e de necessidade face à cada vez maior globalização que vivemos. Mas, meus Amigos, faz algum sentido que em documentos oficiais internos ou - pesadelo dos pesadelos - nas redes sociais, portugueses dialoguem em inglês? Será que estarão mais seguros nesse idioma ou será, tão-somente, por que acham que escrever em português é uma atitude bacoca? Ao contrário, eu penso que essa necessidade de mostrar os vastos conhecimentos de outras línguas é que demonstra uma parolice pura.

Estudem e pratiquem outras línguas mas não se esqueçam de privilegiar a nossa. É seguramente o nosso maior capital cultural.
 
 

terça-feira, abril 16, 2013

Reformados, pensionistas e jubilados de primeira e de segunda



Se alguém me pedisse para explicar qual a diferença entre um reformado e um jubilado, teria sérias dificuldades em responder. O que sei - e deixo de lado os aspectos etimológico e semântico das palavras - é que reformados, pensionistas e jubilados são pessoas que já deixaram a sua vida activa de trabalho.

Aparentemente, portanto, todos estarão nas mesmas condições. Mas há, pelo menos, uma diferença que faz toda a diferença. Os juízes e os diplomatas jubilados não vão pagar a polémica contribuição extraordinária de solidariedade (CES) que é aplicada aos restantes reformados. Pergunta-se, pois, porque escapam eles ao pagamento do CES? E a única resposta razoável parece ser (para além de uma norma do Orçamento de Estado que contempla esta excepção) que, também no que diz respeito aos reformados, pensionistas e jubilados, existem uns que são de primeira e outros de segunda.

segunda-feira, abril 15, 2013

Senhores, estamos a falar de gente!




Ao mesmo tempo que no Conselho Nacional do PSD, realizado nos últimos dias, se aprovava um voto de louvor ao ex-Ministro Miguel Relvas por "inexcedível lealdade à causa pública" (????????), Passos Coelho anunciava que, por causa do malfadado chumbo do Tribunal Constitucional, o Governo decidira cortar 1 300 milhões de euros aos portugueses, a começar por aqueles que "têm uma vida mais desafogada": os doentes e os desempregados. A uma percentagem significativa da população que já enfrenta montes de problemas mas que, como dizia o outro, "ai aguentam, aguentam" com mais uns sacrifícios em cima. Financeiros, sociais e psicológicos.

Já em Dublin, na reunião dos Ministros das Finanças europeus, Vítor Gaspar tinha revelado que o primeiro dos muitos sacrifícios a impor aos portugueses para responder ao chumbo do Tribunal Constitucional (TC) incidiria sobre os desempregados e os doentes apoiados pelo Estado.
Sublinho, "o primeiro dos muitos sacrifícios a impor aos portugueses".

Mas factos são factos. Se os tipos do TC inviabilizaram um OE "tão bem feito" pelo Governo, havia que ir buscar a "massa" a outro lado. Onde? Ao sítio certo: aos quase 420 mil beneficiários do subsídio de desemprego e aos quase 95 mil que recebem subsídios por doença. Exactamente às pessoas que desesperam por não encontrar um emprego que lhes pague as contas e lhes devolva a auto-estima ou que estão fragilizadas pela doença.

Será que sensibilidade social diz alguma coisa a estes senhores?
 
 

sexta-feira, abril 12, 2013

"Esperança"

Costumo publicar aqui no Por Linhas Tortas poesia de autores mais ou menos conhecidos. Hoje trago-vos um poema de um grande Amigo meu, desconhecido do público em geral mas a quem eu quero homenagear, não só pela amizade mas pelo seu talento enquanto poeta.



Então, de António Carlos Asseiceiro, "Esperança"





"Esperança"

(Olhando os retratos deles ainda novos)

Todos tínhamos tanta esperança, eles, tu e eu…

Tanta da nossa esperança ficou p’lo caminho,

Tanta dessa nossa esperança se esfumou e ardeu,

                                  nada ficou nem um bocadinho,

                                  do que se quis, pensou e viveu,

Do mal casado ao que ficou sozinho

A esperança foi uma dança… mansa!


Que ora se perdeu ou quase morreu!
 
                               Ora não se alcança,
 
Ora nada se tem, ora se tem tudo,
 
                               até… a esperança!...   

quinta-feira, abril 11, 2013

Experiência para quê?



Recordo-me sempre da frase de Sócrates (do filósofo, não a do regressado ex-Primeiro-Ministro) - "Só sei que nada sei" - quando julgo conhecer bem determinado assunto e, depois, acabo por concluir que, afinal, não sabia a coisa tão bem como pensava. Como me aconteceu, há dias, quando soube que um membro do Governo tinha nomeado dois assessores (especialistas). E porquê?

Julgava eu que a grande diferença entre um técnico e um especialista se baseava fundamentalmente na experiência. A ambos é requerida, claro está, a formação académica adequada e a preparação específica para um cargo mas, uma vez alguém admitido, seria espectável que começasse por ser técnico e, depois, pelo menos para alguns deles, com o tempo e a experiência adquirida, pudessem ascender a especialistas. Seria natural que, até por uma questão de maturidade, assim acontecesse.

Mas vivemos numa era onde tudo se passa a uma velocidade estonteante. Daí que os especialistas (sejam lá do que forem) "nasçam" cada vez mais cedo.

Foi certamente por isso que o Secretário de Estado-Adjunto do Primeiro-Ministro, Carlos Moedas, nomeou dois "técnicos especialistas", de 21 e 22 anos, para integrar a equipa de "acompanhamento da execução de medidas do memorando". O Governo justificou as contratações com os "excelentes currículos académicos, o que "lhes confere alguma competência (?)".

Um deles, o de 21 anos, tem uma licenciatura em Economia e um brilhante percurso profissional: "um estágio profissional não remunerado no Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e Emprego, entre Setembro e Dezembro de 2012". Ah, e foi comentador algures e escreveu num blogue.

O outro, com uns tenros 22 aninhos, está a concluir um mestrado em Administração de Empresas e, como experiência profissional orgulha-se de ter também feito um estágio no mesmo Gabinete entre Junho e Agosto de 2011.

Apesar de já em Janeiro deste ano, uma auditoria do Tribunal de Contas aos gabinetes ministeriais questionar "o grau de experiência profissional" dos 164 especialistas até então contratados para os gabinetes ministeriais, já que 15,3% tinham entre 24 e 29 anos, o Governo continua a insistir nestes jovens que se transformam num abrir e fechar de olhos em especialistas, talvez lembrando o ditado "De pequenino é que se torce o pepino" (a letra da canção do Sérgio Godinho diz "De pequenino, de muito pequenino se torce o destino".

Pode até ser que não sejam ainda tão grandes especialistas como isso mas estarão, entretanto, a fazer currículo e a assegurar o futuro.

quarta-feira, abril 10, 2013

Isto é um país fantástico. E animado ...


Isto é um país fantástico. Mal nos ausentamos uns dias e logo acontecem uma série de coisas que nos levariam a escrever crónicas mais ou menos contundentes e que, assim, ficaram por fazer.

De qualquer modo, acompanhámos o chumbo do Orçamento pelo Tribunal Constitucional. Coisa que, de resto, toda a gente adivinhava que iria acontecer. Também aqui no Por Linhas Tortas nos tínhamos referido por diversas vezes a essa mais que provável decisão. E agora, o imbróglio que já era grande tornou-se ainda maior. Há que ir buscar dinheiro a outro lado (adivinhem onde) para colmatar aquele que viria do saque programado.
"Malandros", pensou o Primeiro-Ministro. Os juízes do TC foram os culpados por este problema adicional que não vem nada a jeito. A verdade, porém, é que foi o Governo que voltou a insistir em normas que eram claramente inconstitucionais, tal como fizera no ano anterior. Pela segunda vez consecutiva, um orçamento de Estado é considerado inconstitucional. Duas vezes seguidas? Se não é incompetência, é o quê?
Quanto ao TC só poderá ser acusado de ter prolongado por tempo exagerado a sua análise. Fica-nos, pelo menos, essa impressão.

Soubemos, também, da renúncia ("por não ter condições anímicas para continuar") de Miguel Relvas. Foi uma saída esperada mas demasiado tardia. Na sua última comunicação, enquanto Ministro, não deixou de sublinhar o seu esforçado trabalho para levar Passos Coelho à liderança do PSD e à chefia do Governo. Um discurso em que ficou claro que sem Relvas, a sua ajuda e o seu empenho, Coelho não iria longe. Mas mais do que isso, foi um tipo de afirmação deselegante e desnecessária, muito ao jeito das pessoas sem carácter.

No mesmo dia do anúncio de Relvas quem teve grande força anímica foi o Benfica que conseguiu uma vitória importante sobre os ingleses do Newcastle, por 3-1, que lhes abre a perspectiva de seguirem em frente na Liga Europa.

Tudo em poucos dias. Isto é um país fantástico. E animado ...
 
 
 

terça-feira, abril 02, 2013

Sabem as respostas ou ... não?


Se bem me recordo publiquei aqui, há muito tempo, uma poesia da Adriana Calcanhoto, "A idade dos porquês". Os versos reflectem a curiosidade natural das crianças que tudo perguntam, muito embora, nós adultos, nem sempre tenhamos a capacidade de lhes dar as melhores respostas.

Hoje, lembrei-me de algumas perguntas (parvas) que, provavelmente, também nós crescidos e cheios de experiência, temos dificuldade em responder. Por exemplo:

- Se depois do banho estamos limpos porque é que lavamos a toalha?

- Porque é que a palavra grande é menor do que a palavra pequeno?

- Porque é que separado se escreve tudo junto e tudo junto se escreve separado?

- Se o vinho é líquido, como pode existir vinho seco?

- Quando inventaram o relógio como sabiam que horas eram para poder acertá-lo?

- Como foi que a placa "É Proibido Pisar a Relva" foi lá colocada?

- Porque é que quando alguém nos pede que ajudemos a procurar um objecto perdido temos a mania de perguntar: 'Onde é que o perdeste?

- Porque é que há pessoas que acordam os outros para perguntar se estavam a dormir?


E, então, sabem as respostas ou ... não?

segunda-feira, abril 01, 2013

Quando a narrativa é falsa


 
Sei bem do que é que estavam à espera quando viram o título da crónica de hoje. Mas equivocaram-se. Embora eu continue a dizer que a narrativa é falsa.

Repetidamente, ao longo dos anos, sempre nos quiseram convencer que nas noites em que muda a hora (Março e Outubro), para as chamadas horas de Verão e de Inverno, nós dormimos menos uma hora ou mais uma hora, consoante a época. Nada mais falso.

Verifiquei isso mesmo na última noite de sábado para domingo. Em vários serviços informativos da rádio e da televisão disseram-nos que à uma da manhã deveríamos acertar os relógios, acrescentando 60 minutos à hora em vigor, passando, portanto, da uma para as duas horas. Razão pela qual dormiríamos menos uma hora nessa noite. Porém, ontem de manhã quando acordei, tinha dormido as mesmas sete horas de sempre.

Para quê este embuste? Um simples acertar de relógios (que, ainda por cima, nos dão um trabalho dos diabos) justifica tamanha mentira? Ainda se fosse no 1º de Abril ... o dia das mentiras ...

Não, meus senhores, não é isso que me faz dormir menos ou mais horas. Hoje não me apetece, mas poderia abrir aqui o saco das lamentações e, aí sim, eu vos diria o que me tira realmente o sono.