quinta-feira, janeiro 30, 2014

Casamento de professoras ...





A nossa forma de viver alterou-se profundamente nas últimas décadas . A tecnologia trouxe-nos novos mundos e as mentalidades mudaram, e de que maneira. Globalmente e, em particular, no nosso país. Os que não viveram (e sofreram) os ditames do Estado Novo nem se aperceberão das muitas transformações da sociedade e, da forma (mais ou menos) livre em que vivemos hoje.

Por acaso, alguém se recordará que na década de 30 do século passado a lei impunha às professoras que queriam casar determinadas regras? Quais? Por exemplo, estas:



"O casamento das professoras não poderá realizar-se sem autorização do Ministério da Educação Nacional, que só deverá concedê-la nos termos seguintes:

1º. Ter o pretendente bom comportamento moral e civil;

2º. Ter o pretendente vencimentos ou rendimentos, documentalmente comprovados, em harmonia com os vencimentos da professora. (artº. 9. do dec. nº. 27.279, de 24-11-936).

As interessadas devem requerer a Sua Excelência o Ministro com fundamento no artigo citado, e juntar ao requerimento documentos comprovativos da idoneidade moral e civil, bem como dos vencimentos ou rendimentos do seu noivo.

Os processos respeitantes a pedidos de autorização para casamento de professoras de ensino primário devem ser acompanhados de parecer dos directores dos distritos escolares.

Também é condição indispensável ao deferimento que os pretendentes comprovem a data desde a qual se encontram na situação económica que torna possível a autorização do casamento, bem como a estabilidade que a mesma pode oferecer".


Estávamos, então, em 1937. E este é apenas um exemplo da sociedade de então.



quarta-feira, janeiro 29, 2014

As bizarrias autárquicas do Major Valentim Loureiro




A ser a verdade o que vem publicado na "Visão" on-line (que transcrevo), o major terá muito que explicar. Vejam só:

"Quando Marco Martins tomou posse, o difícil foi não esbarrar em situações insólitas. Primeiro, o gabinete de Valentim Loureiro estava transformado num bunker, onde poucos alguma vez haviam entrado. Em quase duas décadas, o anterior presidente só por duas vezes se terá deslocado ao bar do edifício camarário e "para reclamar com os funcionários ", conta-se. Valentim tinha um elevador secreto e exclusivo cujo código de acesso era a sua data de nascimento que ligava directamente a um parque de estacionamento para os automóveis do presidente e da filha, ex-vereadora. Para trás, Valentim deixara também o fax com a respectiva lista de contactos, que iam de dirigentes do mundo da bola a pessoas com quem tinha negócios. Mas o filme apenas começara. Ao longo das semanas que já leva de mandato, Marco Martins descobriu viaturas velhas da autarquia por abater, "nas quais já haviam nascido pinheiros", uma frota automóvel com uma idade média de 22 anos e gastos de milhares de euros em aplicações informáticas que nunca foram instaladas ou usadas. Soube, também, que umas moradias em banda, vandalizadas e destruídas, afinal pertenciam à Câmara, e que o erário público também continuava a pagar o arrendamento de um mercado provisório, num terreno onde, desde 2011, já não existia nada. Um heliporto, orçado em 92 mil euros, foi também construído junto do IC29 e de um hospital, mesmo depois do pedido de licenciamento ter sido chumbado pelo Instituto Nacional de Aviação Civil. "Processos judiciais em que a autarquia é ré, são cerca de 400, mas ainda não estão quantificados os valores", refere o autarca, que herdou uma dívida de 145 milhões de euros, contas ainda por baixo, "pois espero mais surpresas". Não fosse Marco Martins bombeiro voluntário e dir-se-ia que Gondomar tem demasiados fogos para apagar. "O que me salva é ter subido degrau a degrau, na vida autárquica e ganho experiência a partir de uma freguesia. Caso contrário, estava tramado."

"Gabriel O pensador" dizia "É pra rir ou pra chorar?". Eu já nem preocupo com isso. É que a ser verdade - repito - Valentim Loureiro deveria ser accionado judicialmente por má (criminosa) gestão da coisa pública.



segunda-feira, janeiro 27, 2014

E, pacientemente, os chineses vão-se instalando ...


Quem não se recorda dos anos da euforia das lojas dos 300 e dos restaurantes chineses de comida exótica que foi novidade para época? Passada essa fase dos pequenos negócios familiares, os chineses em Portugal estão cada vez mais pujantes, com lojas que ocupam tudo o que é sítio e nem sempre nos melhores lugares. Ainda não há muito, fiquei chocado por ver na baixa de Portalegre - num edifício de traça antiga, em pedra, uma casa tradicional certamente brasonada e com história - um armazém chinoca com bandeirinhas e balões vermelhos à porta e toda uma espécie de artigos para venda a esparramar-se no exterior pela calçada. Não sei como a autarquia permitiu uma coisa dessas, embora adivinhe.


Pé ante pé, e depois do comércio tradicional, a presença do gigante asiático, está a alastrar no nosso país, por várias razões mas, sobretudo, porque Portugal é uma excelente porta de entrada na Europa, que eles também querem conquistar.


Por cá, já dominaram as privatizações (o nosso Governo está mais interessado no dinheiro do que no perfil dos investidores) e com dois nomes de peso, a China Three Gorges e State Grid, colossos estatais chineses que protagonizaram grandes investimentos de capital na EDP e na REN. Depois veio a armada financeira, os bancos ICBC e o Bank of China e, mais recentemente, o fundo Fosun comprou os seguros da Caixa Geral de Depósitos. Paralelamente vão comprando casas bem localizadas e, ávidos de luxo, percorrem a Avenida da Liberdade e os centros comerciais em busca de marcas conceituadas e caras.


Acredita-se que o número de chineses em Portugal possa chegar aos 20 mil cidadãos e o seu peso económico é já significativo. O "império" vai-se instalando a pouco e pouco. Pacientemente.


Será que é a isto que se costuma chamar a "paciência do chinês"?



sexta-feira, janeiro 24, 2014

Suécia: Jogos Olímpicos? Não, obrigado!





Os grandes acontecimentos desportivos costumam ser uma montra fantástica para os países que os organizam. Tanta visibilidade, em todo o mundo, pode, na verdade, potenciar mais e melhores negócios e um aumento significativo das receitas com o turismo. Mesmo que o tremendo esforço financeiro não seja, muitas vezes, recuperado.

Foi assim em Portugal com o Europeu de Futebol de 2004. O país engalanou-se de bandeiras nacionais e quase ganhou o título de campeão europeu. Só que, passados dez anos, ainda não recuperámos das dívidas contraídas para a construção e manutenção de tantos estádios, equipamentos esses que, nalguns casos, estão quase ao abandono.

O mesmo está a acontecer no Brasil que este ano vai acolher o Mundial de Futebol e em 2016 vai organizar os Jogos Olímpicos. À euforia por ter conquistado a honra de organizar tão importantes eventos, passou-se à construção e remodelação de estádios e de infra-estruturas que estão a custar rios de dinheiro aos cofres do Estado. E num país em que a má qualidade dos serviços públicos e os sistemas de educação e de saúde estão longe de ser satisfatórios, a indignação popular tem vindo a aumentar perante os custos astronómicos que estão a ser alocados para a "Copa" e "Jogos Olímpicos".

Mas o deslumbramento que ocorreu em Portugal e no Brasil não se verifica em todo o lado. O exemplo da Suécia é paradigmático. Ao invés dos dois países de língua portuguesa, a capital sueca rejeitou organizar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Apesar dos eventuais ganhos, Estocolmo não aprovou a organização da competição, decisão que teve o apoio do próprio governo. E porquê? Porque na lista das prioridades daquela autarquia havia outras necessidades como, por exemplo, construir mais casas na cidade. Em vez de gastar muitos milhões de euros com os Jogos, os custos com a construção das novas casas andarão pelos 1,13 milhões de euros. Uma verba bem mais reduzida, uma poupança que os contribuintes suecos agradecem. Não é por acaso que a Suécia é considerada como um dos países mais justos socialmente e com mais baixos níveis de desigualdade.



quarta-feira, janeiro 22, 2014

Ouvindo Beethoven



De José Saramago





 


Ouvindo Beethoven


Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juízo até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
que a presa de registro, o verso acta.



Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas.



terça-feira, janeiro 21, 2014

Falácias e mentiras sobre pensões





Vale a pena ler o artigo de opinião escrito por Bagão Félix no Público do último dia 13, com o mesmo título desta crónica. Como sempre, Bagão Félix é claro, é sensato e põe o dedo na "ferida certa".


Só para espicaçar a vossa curiosidade, transcrevo um excerto:


"... no Governo há “assessores de aviário”, jovens promissores de 20 e poucos anos a vencer 3.000€ mensais. Expliquem-nos a razão por que um pensionista paga CES e IRS e estes jovens só pagam IRS!

Ética social da austeridade?”


Uma pergunta bem pertinente mas a que ninguém do Governo estará interessado em responder.



segunda-feira, janeiro 20, 2014

O referendo sobre a co-adopção ... e as crianças, senhor?





A verdade é que não deveríamos ficar admirados pelos resultados obtidos quando se deixam certos assuntos nas mãos de rapazolas que, por iniciativa própria ou a mando de alguém, tomam decisões que vão contra o mais elementar bom-senso. Como esta de querer fazer um referendo sobre a co-adopção de miúdos por casais do mesmo sexo.


Aliás, esta aberração do referendo que se quer fazer vai um pouco mais longe. Não se pretende apenas saber a opinião dos portugueses sobre a questão da co-adopção (uma lei que já tinha sido aprovada em Maio no Parlamento, embora na generalidade) como, no mesmo documento, também pretendem saber o que pensamos sobre a adopção de crianças por casais do mesmo sexo (coisa que não é permitida por Lei). Enfim!


Mas a proposta para a realização do referendo foi mesmo aprovada. Foi uma votação tão complicada que até muitos dos deputados do PSD ou não "alinharam" ou, fazendo-o, apresentaram declarações de voto. Isto é, votaram sim mas não estavam nada de acordo com aquilo a que deram o seu aval. Uma coisa que é difícil de entender mas que se percebe bem quando se pensa que defender o "tacho" é mais importante que manter a verticalidade da sua coluna vertebral ... se a tiverem.


Podemos estar, ou não, preparados para as "novas famílias" constituídas por casais do mesmo sexo. A sociedade tomou este rumo e, goste-se ou não, é o que temos e as crianças naturais ou adoptadas não podem ser prejudicadas por isso. E a realização deste referendo (a acontecer) em nada vai beneficiar os "superiores interesses das crianças". O preconceito continuará a esquecer as mais de 17 mil crianças que estão institucionalizadas e que esperam ansiosamente por um lar. Quer tenham dois pais ou duas mães, tanto faz. Tenho grande dificuldade em compreender que se prefira o internamento de uma criança numa instituição social em vez de lhes dar o calor afectivo de uma família, seja ela de que natureza for. Uma família que acolha, eduque e dê amor.


Estou em crer que toda esta lamentável encenação - esta Golpada Política, como lhe chamou Marques Mendes - dê em nada. Cavaco Silva já disse que está contra o referendo e o Tribunal Constitucional, se o assunto lá chegar, terá certamente o bom-senso de o chumbar. Mas houve uma coisa que foi conseguida. É que durante uns dias ninguém falou das medidas muito gravosas que resultam do Orçamento de Estado para 2014 (e já aí vem um rectificativo a caminho). Entretanto, as famílias e as crianças continuam à espera de uma resolução.



sexta-feira, janeiro 17, 2014

A costumada "confusão entre a política e os negócios"





O assunto não é novo mas voltou agora à ribalta quando se soube que o super-Ministro de Passos Coelho, Vítor Gaspar, quer ir (e seguramente irá com o apoio do nosso Governo e da Chanceler Merkel e do seu Ministro Schauble) para o FMI e que o simpático ex-Ministro da Economia Álvaro Santos Pereira será o economista número 2 da OCDE. É um filme que já vimos, protagonizado por outros intérpretes, que depois de prestações duvidosas ao serviço do nosso país, deram o salto para cargos importantes lá fora. E estou a lembrar-me, vá lá saber-se porquê, de Vítor Constâncio e de Durão Barroso, só para citar dois deles.

Mas a "promoção" que mais me chocou e, certamente a muitos portugueses, foi a de José Luís Arnaut. O advogado e político, que foi Ministro no executivo de Santana Lopes, foi convidado para um alto cargo no banco norte-americano Goldman Sachs, o mesmo banco que detém, após privatização, a maior participação accionista nos CTT e em que Arnaut trabalhou, simultaneamente, como consultor do Banco e do Estado Português.

De resto, José Luís Arnaut está intimamente ligado a um conjunto de privatizações levadas a cabo pelo actual Governo, nomeadamente a ANA, a REN e os CTT. E esteve também presente (embora não se tivesse concretizado) na pretendida privatização da TAP. Umas vezes trabalhando para o Estado, outras para as empresas vendidas, outras ainda para as empresas compradoras. Um verdadeiro super-homem!

É a costumada confusão entre a política e os negócios, o habitual jogo de influências, em que uns quantos se saem muito bem (à custa de operações pouco transparentes), e em que os interesses de Portugal e dos portugueses saem invariavelmente lesados.



quinta-feira, janeiro 16, 2014

Não sei, não ... o melhor é não confiar demasiado ...





Nos últimos tempos tem-se ouvido com uma certa frequência que "Portugal é um país de brandos costumes" e que "a austeridade trará inevitavelmente confrontos sociais".

No primeiro caso, a frase já vem de longe, dos tempos da propaganda salazarista, mas a nossa História desmente-a. Basta lembrar que só nos séculos XIX e XX, contam-se por milhares os mortos em guerras civis e revoluções. No fim da monarquia, o penúltimo rei de Portugal, D. Carlos e o príncipe Luís Filipe, herdeiro do trono, foram assassinados e já na República, o Presidente Sidónio Pais teve o mesmo fim. Face a estes factos será que Portugal poderá ser mesmo considerado um país de brandos costumes?

Quanto aos confrontos sociais que muitos anunciam, teremos mesmo motivos para nos preocuparmos? Ainda não há muito Mário Soares descreveu a situação do país como “de grande risco”, “a caminho da ditadura" e que “a violência está à porta”. Dois dias depois O Papa Francisco alertou para o perigo de violência devido à actual situação económico-social.


E isto são alertas que têm que ser tomados em devida conta. Não são ameaças, não são incentivos à violência, são, na minha perspectiva, olhares lúcidos sobre o que se pode passar em Portugal e no mundo com as crescentes desigualdades sociais e com as dificuldades por que passam os povos.


Poderemos vir a ter, então, a exemplo do que temos visto noutros países, violência nas ruas? A sensatez que os portugueses têm mostrado apesar do desespero do desemprego, dos aumentos de impostos, da falta de medidas que nos levem para níveis de vida mais dignos não afasta totalmente a ideia de que a desordem, quiçá o caos, poderão chegar. É que "os brandos costumes" poderão não ser eternos.


Para já, e a confiar no que vi expresso nas redes sociais, podemos ficar descansados. Para 2014 a generalidade dos votos dos portugueses vão no sentido de esperar um novo ano com saúde, alegria, amizade, muito amor, menos crise e pouca troika e um jackpot no euromilhões. Até por que, como se costuma dizer, a esperança continua a ser a última a morrer.




quarta-feira, janeiro 15, 2014

Afinal, este país é para quem?







Mau, ainda no último dia me referi aos "velhos" reformados que, pelos vistos, pouca serventia têm, e já estou hoje, de novo, a bater na mesma tecla. E tenho razões para isso porque tenho observado, para meu desprazer, que existe uma obsessão com os reformados e com os velhos de uma forma geral, um certo instigar à luta entre gerações, muitas das vezes, oriunda da parte de quem nos Governa.


Mas hoje a história tem a ver com um artigo escrito há duas semanas pelo sub-director do "Expresso", João Vieira Pereira, com o título "Este país é velho, de velhos, e para velhos", todo ele um bota abaixo, desde logo para com os velhos mas também com o Tribunal Constitucional e com a própria Constituição.

É perigoso fazer extrapolações de um texto, ainda por cima longo. Corre-se o risco de especular em ideias "tiradas do contexto" que, por junto, quereriam (eventualmente) dizer outra coisa. Ainda assim, as palavras estão lá, com as letrinhas todas e as citações que se seguem não terão, a meu ver, interpretações que possam suscitar dúvidas por aí além. Como por exemplo:

"os velhos querem manter aquilo que dizem ter conquistado. E muitos dos novos ambicionam apenas ter o que os velhos têm. Injusto? Para quem? É mais injusto reduzir os pretensos direitos adquiridos (expressão que me causa calafrios) ou hipotecar o futuro dos jovens?


Se pudesse escolher entre cortar pensões e reduzir o emprego jovem que está nos 44% qual escolheria? ... as gerações mais velhas estão a matar a esperança dos mais novos".


Se compreendo que uma boa parte do Orçamento do Estado vai para salários, pensões e prestações sociais e que a sustentabilidade das contas públicas está gravemente ameaçada, repudio totalmente esta guerra aberta contra os velhos.


Durante anos a fio eles trabalharam, em muitos casos sem as condições mínimas exigíveis, em muitíssimos casos sendo explorados por número excessivo de horas de trabalho e baixas remunerações e cumprindo as suas obrigações fiscais. Que culpa lhes podem agora ser imputadas sobre as dificuldades do país?

Que culpa têm eles de que um dos problemas estruturais mais graves deste País seja a sua baixíssima taxa de natalidade? E sobre insustentabilidade da nossa segurança social também foram eles que falharam? Eles a quem muitas vezes lhes fizeram descontos nos salários, descontos esses que nunca foram entregues pelos patrões.


São os velhos que têm culpa que a economia esteja num tal estado que obrigue os jovens a emigrar e que, deste modo, não possam contribuir com os seus descontos para o pagamento dos que já estão reformados?


São ainda estes velhos sem préstimo que têm a culpa dos cortes na educação e na investigação e das taxas de desemprego?


Para além de uma completa insensibilidade social, esta gente é incapaz de pensar para além do orçamento de cada ano. E têm o despudor de considerar os "direitos adquiridos" (leia-se, as justas expectativas criadas por pensionistas e reformados a uma reforma - para a qual descontaram - tranquila e com dignidade) um privilégio. E afirmar que "as gerações mais velhas estão a matar a esperança dos mais novos", é uma perfeita afronta a quem tanto lutou e sofreu durante anos e anos.


Portugal não é definitivamente um país para os velhos, tão-pouco para os jovens que não têm futuro. Afinal, este país é para quem?





segunda-feira, janeiro 13, 2014

Prontos a "bater as botas"?

                                                             



19 de Dezembro de 2013. O dia em que foi anunciado o chumbo do Tribunal Constitucional à proposta do Governo sobre a Convergência das Pensões. Uma decisão, recorde-se, que foi tomada por unanimidade pelos juízes e uma derrota em toda a linha para o Governo que mais uma vez quis desafiar a Constituição ...

Pouco depois, na SIC Notícias, José Gomes Ferreira, António José Teixeira e Tiago Duarte comentavam o assunto abordando as diversas perspectivas: económica, política e constitucional. Todos eles admitiam que este era mais um chumbo a juntar a uma já longa lista e, mais uma vez, resultante de uma grande incompetência legislativa e/ou de uma matriz ideológica que não concede desvios.

Às tantas, Tiago Duarte, constitucionalista, dizia que o Tribunal tinha levado em consideração que as pessoas que iam ser afectadas pelos cortes propostos (os pensionistas e reformados da Caixa Geral de Aposentações) "eram pessoas frágeis, em fim de vida". Juro que me apeteceu bater-lhe. Verdade ... Só porque são pensionistas e reformados, só porque são mais velhos estão, como dizer, prontos a "bater as botas"? É assim que são vistas as pessoas que já não estão no mercado de trabalho mas que ajudaram, cada um à sua maneira, a construir e a desenvolver as empresas e o país?

Achei um tremendo mau gosto. Tiago, cuidado, já não estás muito longe de lá chegar. É que o tempo passa muito rapidamente.




sexta-feira, janeiro 10, 2014

As decisões emocionais podem ser precipitadas ...



Compreendo que a emoção tenha influenciado o espírito de muitos portugueses e daí tivesse surgido um sentimento que rapidamente ganhou força: os restos mortais de Eusébio deveriam ser trasladados para o Panteão Nacional. E o coro dessa vontade foi de tal modo forte, que a decisão política tomada após conferência de líderes parlamentares não podia ser outra. De forma unânime, e com uma celeridade pouco habitual noutras matérias, os partidos com assento parlamentar apoiaram a iniciativa.


Alberto Martins, do PS, disse : “Esta é uma deliberação política de grande relevo, é uma exigência democrática, há um consenso unânime entre todos os grupos parlamentar de reconhecimento do Eusébio como uma grande figura nacional, um atleta ímpar, genial que foi uma referência de Portugal e da lusofonia”.

Nada de mais verdadeiro. E o Panteão Nacional é o lugar onde repousam muitos dos vultos da história portuguesa. Mas se me permitem a opinião, onde os restos mortais do "Pantera Negra" deveriam descansar era mesmo no Estádio da Luz. Ainda que Eusébio seja uma figura transversal a todos os clubes, era ali na Luz - porventura naquele estádio que poderia ostentar o seu nome e que já tem uma estátua glorificando-o - que Eusébio deveria ser homenageado para sempre. Nunca ninguém como ele representou a alma, a raça e o amor benfiquista. O Panteão Nacional, apesar da imponência e da solenidade, parece ser demasiado austero e frio para o "Rei Eusébio".





quinta-feira, janeiro 09, 2014

O vocabulário político não pára de surpreender ...



Ainda ontem aqui me referi às dificuldades de comunicação de Assunção Esteves e volto agora a escrever sobre a Presidente da Assembleia da República para, desta vez, reconhecer publicamente a minha incapacidade em perceber muitas das coisas que diz.


Como no caso de uma declaração à Renascença sobre os seus desejos e receios para 2014, em que Assunção Esteves afirmou:


"Temos sempre um receio humano de não conseguir. O meu medo é o do inconseguimento, em muitos planos: o do inconseguimento de não ter possibilidade de fazer no Parlamento as reformas que quero fazer, de as fazer todas, algumas estão no caminho; o inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustacional derivado da crise."


ao que acrescentou:


que o seu maior receio é de “um não conseguimento ainda mais perverso: o de a ..."

Conseguimento, inconseguimento e frustacional ... disse ela!


De facto, não estou preparado para tanto. É um vocabulário demasiado elaborado para mim ...





quarta-feira, janeiro 08, 2014

Assunção Esteves não acerta uma!



É certo que havia demasiado emoção. A morte do Rei Eusébio provocou uma incontrolável onda de dor e de união pela perda de um dos símbolos mais queridos dos portugueses. Dos que o viram jogar e o acompanharam pela vida e daqueles que tinham apenas uma vaga ideia daquilo que ele representava. E o funeral foi uma coisa nunca vista, um "funeral de Estado" como raramente se terá assistido no nosso país, a que assistiram muitos milhares de pessoas. Sobretudo o povo, a que Eusébio sempre pertenceu e de que nunca se quis afastar, apesar de ser uma vedeta interplanetária.


Os políticos, claro está, não faltaram. Pareceria mal. Nem os repórteres da comunicação social que cobriram, ao milímetro, todos os movimentos desta cerimónia fúnebre e que a propósito de tudo (e muitas vezes de nada) tentavam sacar desabafos e estados de alma de quem estava presente.


Ouvi depoimentos sentidos, ouvi palavras de circunstância e ouvi também - quando questionada sobre a possibilidade dos restos mortais de Eusébio serem trasladados para o Panteão Nacional (o desejo de muitos portugueses) - a Presidente da Nossa Assembleia da República pronunciar-se sobre os custos elevados que essa operação acarretaria. Realmente Assunção Esteves tem dificuldades de comunicação. No próprio local onde decorria o velório, falar em dinheiro demonstra uma grande insensibilidade. E também desconhecimento do que estava a dizer. Segundo ela essa eventual transladação poderia custar aos cofres do Parlamento centenas de milhares de euros o que, mais tarde, o próprio Gabinete da Presidente veio esclarecer que essa operação andaria à volta de 50 mil euros. Assunção Esteves não acerta uma!





segunda-feira, janeiro 06, 2014

"Recomeçar"




Neste início de 2014, um lindo poema.

De Miguel Torga,

 

"Recomeçar"


Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...