sexta-feira, outubro 31, 2014

O sexo e a (c)idade



O "sexo e a cidade" é o título de uma série americana que passou com bastante êxito na TV e de que muitos se lembrarão. Mas o que de facto eu quero abordar hoje é "sexo e a idade" ou, melhor dizendo, uma decisão do Supremo Tribunal Administrativo (STA) que tem gerado uma enorme polémica nos últimos dias.

Há 19 anos uma mulher foi operada na Maternidade Alfredo da Costa a um problema ginecológico sem grande gravidade mas que lhe provocou uma incapacidade permanente de 73%. Como resultado de uma operação que correu mal a senhora, então com 50 anos e dois filhos, ficou a poder ter relações sexuais, mas com muita dificuldade, sentia embaraço em sentar-se e andar, passou a sofrer de incontinência urinária e fecal e tinha dores e mau estar constante.

Por se considerar que houve negligência médica a Maternidade foi condenada a pagar à mulher 172 mil euros mas o Supremo não concordou com a Primeira Instância e reduziu para 111 mil euros. Redução baseada em quê? Diz o acórdão: "a doente já tinha 50 anos e dois filhos, ou seja, uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança".

Só que esta decisão, não é apenas uma decisão polémica. É infeliz, atenta contra direitos constitucionais (direito a uma vida sexual activa, no caso) e, do ponto de vista científico, é falsa porque, segundo os peritos, em muitos casos aos 50 anos a sexualidade continua a ter enorme importância na vida das pessoas. Para mais, os juízes confundiram sexualidade com procriação. Porque carga de água é que uma mulher de 50 anos teria que prescindir da prática sexual só porque já tinha dois filhos? Brilhante!

Quase duas décadas depois estes distintos juízes, eles próprios com idades entre os 56 e os 64 anos, "pariram" esta magnífica decisão quando o que parecia estar em julgamento era se houve, ou não, erro médico. Associar sexualidade à maternidade é aberrante e fez-me lembrar o inesquecível poema "Truca-truca" de Natália Correia (que aqui publicámos em 18 de Setembro de 2009), uma resposta inteligente, espontânea e bem-humorada dada no Parlamento (em Março de 1982), ao deputado do CDS João Morgado. Essa sim, BRILHANTE e a recordar.

quarta-feira, outubro 29, 2014

Confesso, o sortudo que ganhou os 190 milhões do euromilhões sou eu!



Só para sossegar os mais atormentados por não saberem quem é o sortudo que ganhou uma pipa de massa na última semana, venho aqui publicamente declarar que os 190 milhões do euromilhões me saíram a mim. Bom, não foram bem os 190 milhões porque uma boa fatia - 38 milhões - vão direitinhos para os cofres do Estado. Tendo em conta a "divida portuguesa" que bom seria para o nosso país que os prémios chorudos do euromilhões saíssem em Portugal.

E tenho que me apressar em reclamar o prémio porque se o não fizer até Janeiro do próximo ano perco o direito a ele. Para já, e segundo as contas do Correio da Manhã, estou a perder em juros qualquer coisa como 9 700 euros por dia, o que, mesmo tendo em conta o dinheiro ganho, ainda é uma data de massa. Não julguem, porém, que me tenho escondido do país só para não ter que emprestar (ou dar) alguns milhares a uns quantos "amigos de infância" que me poderiam bater à porta. Precisamente porque estou a pensar nesses amigos e, em especial, no país, é que tenho estado em reflexão.

Então, já sabem que o feliz contemplado sou eu. E, a partir de agora, ficam também conhecer a minha intenção de beneficiar muita gente com parte do dinheiro ganho. Ora bem, nós somos 10 milhões pessoas. Uma vez que fico com 152 milhões pensei dar uma boa maquia a cada português. A todos? Não. Ainda não decidi quem fica de fora mas, para já, todos os políticos - no activo ou não - não terão direito ao bodo. Há também uns milhares de parasitas da nossa sociedade que não serão contemplados. Verei depois, com mais detalhe, quem serão. Digamos que dos 10 milhões ficarão de fora uns 2 milhões. Acham muito? Se calhar serão mais, digo eu ...

Com tanto dinheiro distribuído vai ser uma festança. Nem o Ministro da Economia poderia prever como a economia vai crescer. Serão os produtores e distribuidores de produtos alimentares a aumentar as vendas, bem como os vendedores de electrodomésticos, de automóveis, de casas (a construção civil vai outra vez estar em alta), de viagens. A economia estará sempre a crescer e os impostos destas transacções a caírem nos bolsos do Estado. O PIB tenderá a subir, a dívida a cair e as agências de rating terão que criar especialmente para Portugal mais um A porque o AAA já não vai chegar.

O plano parece-me bom, pelo menos no primeiro ano. Depois espera-se que outro ganhe um euromilhões chorudo e dê continuidade a este verdadeiro ovo de Colombo. Fico-me por aqui. Agora, tenho que ir procurar o talão premiado porque não o encontro em parte alguma ...

terça-feira, outubro 28, 2014

Cultura? Sim, claro, mas ...


Se aceitamos que para treinar uma equipa de futebol o treinador possa nunca ter jogado futebol (ou que tivesse sido, vamos dizer assim, um jogador fraquinho) ou que para Ministro da Saúde não seja obrigatório ser médico, por que carga de água é que iríamos exigir a uma pessoa que fosse culta (com alguma cultura, vá ...) só para estar à frente de um Ministério da Cultura? Felizmente, e para que não tivéssemos esse tipo de problema, acabou-se com o Ministério da Cultura. Basta-nos uma Secretaria de Estado. A este propósito, li algures o desabafo do Ministro da Cultura grego, Pavlos Geroulanos (certamente depois de uma noite mal dormida) "é uma "pena" e uma "loucura" Portugal não ter um Ministério dedicado à Cultura". Coisa de gregos ... não façam caso.

 

Mas, convenhamos, o problema não acontece apenas em Portugal. Veja-se o caso da Ministra francesa da Educação - Fleur Pellerin - que admitiu na televisão que não tinha lido qualquer livro do Nobel da Literatura de 2014, o francês Patrick Modiano, e que, no geral, lia "muito pouco". Numa entrevista ao Canal+ quando lhe foi perguntado qual o seu livro favorito de Modiano, a Ministra hesitou e acabou por dizer "Admito sem qualquer problema que não tenho tido de todo tempo para ler nos últimos dois anos. Leio muitas notas, muitos textos legislativos, as notícias, os despachos da AFP, mas leio muito pouco". O que levou alguns comentadores a questionar: "Leio muito pouco", assume portanto "sem qualquer problema" a Ministra da Cultura, e até agora ainda não se demitiu. Que lamentável".




Lá como cá. Cultura? Sim, claro, mas ...

sexta-feira, outubro 24, 2014

"Amo-te Sem Saber Como" de Pablo Neruda,



Pablo Neruda (1904 - 1973) foi um poeta chileno, um dos mais importantes poetas de língua castelhana.



 

"Amo-te Sem Saber Como" de Pablo Neruda,

 

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

quarta-feira, outubro 22, 2014

Quando a Banca fecha a torneira aos depósitos ...



Parece que foi há séculos mas não foi. Todos nós nos lembramos que até há bem pouco tempo os bancos se degladiavam entre si para atrair novos clientes ou não davam tréguas aos já fidelizados oferecendo as taxas mais atractivas para os depósitos a prazo ou outros produtos tentadores cuja complexidade poucos entendiam. Quantos de nós fomos "assaltados" pelos gestores de conta - às vezes com chamadas telefónicas para as nossas casas a horas impróprias - a aliciarem-nos com produtos "absolutamente garantidos" e de alta rendibilidade.

Pois parece que foi há muito tempo. E se nessa época eram os bancos que nos procuravam para lhes entregarmos o nosso dinheiro (as nossas poupanças) que se destinavam a financiar outros clientes, hoje são esses mesmos bancos que fecham a torneira dos depósitos por que têm onde se financiar mais em conta. É que, para além de poderem recorrer ao Banco Central Europeu (BCE) onde os juros são mais baixos dos que teriam que pagar aos depositantes, factores como as taxas Euribor estarem excepcionalmente baixas ou mesmo negativas ou o chamado rácio de transformação (depósitos sobre créditos) estar já à volta dos 120% tornam pouco interessantes as taxas de mercado oferecidas pelas instituições bancárias. E (creio) os juros vão continuar baixos pelos menos até ver ...

Por isso (e até ver, repito) os aforradores têm que pensar em alternativas. O imobiliário é uma delas mas há outras. No meu caso já comprei uns quantos porquinhos-mealheiro ... dos tradicionais. Na verdade, as poupanças depositadas nos porcos podem render ainda menos do que se estivessem em depósitos a prazo mas tenho a certeza que me vai dar um prazer dos diabos assentar o martelo em cima dos porcos, parti-los aos bocados e tirar as notas e moedinhas que, com sacrifício, tenha colocado na ranhura dos ditos. É o regresso às origens, que é como quem diz, o retorno aos anos da minha meninice.

terça-feira, outubro 21, 2014

O adeus aos sacos de plástico?



Quando se esperava (tudo indicava que) o OE para 2015 contemplasse a descida de 1% sobre a sobretaxa de IRS, o Governo não inscreveu essa medida na proposta e anunciou apenas (aliás imposto pelo Tribunal Constitucional) o fim da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) e de cortes menos radicais na despesa. Ainda assim, o próximo ano vai continuar a ser muito duro para os portugueses. A título de exemplo, a factura do IMI vai aumentar significativamente no próximo ano, embora este facto não advenha especificamente do OE 2015 mas sim do fim da cláusula de salvaguarda previsto para 2014. Portanto, o IMI vai ser mais uma dor de cabeça para os cidadãos.

Mas onde o Governo foi, de facto, criativo foi na proposta aprovada na última quinta-feira em Conselho de Ministros que contempla uma taxa de oito cêntimos sobre cada saco de plástico de compras. Ou seja, o saco será vendido a oito cêntimos mas ainda haverá lugar à cobrança do IVA. Na prática, cada saco sairá por cerca de dez cêntimos. Tudo isto disfarçado pela anunciada medida (emblemática para o Governo) da "fiscalidade verde" que parece ser toda a favor do ambiente, mas que, ao certo, serve para o Governo ir arrecadar mais uns 40 milhões de euros em 2015.

Não fico, pois, nada descansado, embora o Governo garanta que ao lançar esta e outras medidas (aumentos, em suma) não estão a pensar em aumentar a receita mas sim em reorientar os comportamentos. Tretas, digo eu, mesmo que dos 460 sacos por ano e por consumidor se espere atingir um tolerável gasto de 50 sacos por consumidor. Se não mudarmos de hábitos (isto é, se não reorientarmos os nossos comportamentos, como eles dizem) cabe-nos desembolsar qualquer coisa como mais 50 euros por ano. Agora, quem não deve ter gostado mesmo nada da ideia são todos aqueles que estão na cadeia de fabrico dos sacos de plástico ... E devem ser muitos.

sexta-feira, outubro 17, 2014

Quem semeia ventos (pode) colhe(r) tempestades ...



Quando entrei naquela enorme rotunda vi logo uns quantos GNR que faziam uma operação stop. Como não é costume mandarem-me parar, atacava confiante a rotunda quando um braço policial se ergueu, firme e hirto, mandando-me encostar. Depois da costumada e imponente continência e a saudação "Boa tarde senhor condutor" seguiu-se o habitual: a verificação de documentos e as voltinhas ao veículo para ver se tudo estava nos conformes. Finda a inspecção, pediu-me para sair do carro para fazer o teste do balão, o que me aconteceu pela primeira vez.

É curioso, e penso que isso acontece a quase todos, que sempre que polícias, finanças, segurança social ou tribunais nos contactam isso dá-nos uma sensação de insegurança que nos leva a pensar: "Mau, o que é que eu fiz de mal?".

Enquanto me dirigia à carrinha para soprar o balão, disse ao agente "também tenho aqui o comprovativo do pagamento do selo" ao que ele respondeu "não, isso nós não controlamos, eles (a Autoridade Tributária) fazem-no muito melhor do que nós.

A partir daí, foi ouvi-lo vociferar contra tudo e contra todos. Que estávamos num país de faz-de-conta onde todos pagavam e ninguém se revoltava, que eles (os da AT, os políticos e sei lá mais quem ...) eram corruptos e ninguém corria com eles que só queriam "roubar". Eu nem queria acreditar que estava a ouvir um agente da GNR devidamente uniformizado e em funções. Imaginei-me num café onde um (podia até ser aquele) comum cidadão desabafava as suas indignações. O agente só se interrompeu para me perguntar: "o senhor não é das Finanças, pois não?". Sosseguei-o dizendo que não e ele prosseguiu o desabafo.

Por acaso não sou das Finanças, nem sou um oficial superior da GNR, nem sou magistrado nem tenho qualquer poder. Pelo que, perante a verborreia inusitada (mas sentida, sentia-se) do GNR, eu não poderia, ainda que pretendesse, chamar-lhe a atenção ou até, eventualmente, aplicar-lhe qualquer procedimento disciplinar. É que quando se fala demais e, sobretudo, com quem não se conhece, por vezes colhem-se dissabores ... como diz o ditado "quem semeia ventos (pode) colhe(r) tempestades" ...

Depois de outra solene continência mandou-me seguir caminho com a frase do costume: "Boa viagem, senhor condutor".

Ainda mal refeito deste encontro vim andando devagarinho, sempre pensando na revolta não reprimida do agente. E perante tudo aquilo que ouvi da boca dele, não pude deixar de sorrir quando imaginei uma situação em que o agente seria eu e no (possível) resultado mostrado no aparelho se lhe pedisse que fizesse o teste do balão ...

quarta-feira, outubro 15, 2014

Não há fome que não dê em fartura ...



Ainda há oito dias eu contava aqui no "Por Linhas Tortas" as desventuras de uma professora de Bragança em busca de uma escola onde tivesse vaga e eis que leio uma outra história de um outro professor que ficou colocado em 75 escolas, mesmo depois de ele ter desistido do concurso. Leram bem, dos 3216 horários que o Ministério da Educação atribuiu a sexta-feira passada, 75 ficaram para ele, que não vai aceitar qualquer um. Isso significa que, por causa de um erro, mais de 1000 crianças, no mínimo, ficarão pelo menos mais uns dias sem aulas.

Lá diz o ditado "Não há fome que não dê em fartura ...". Ou, digo eu, a incompetência continua.

terça-feira, outubro 14, 2014

Reunião extraordinária de 18 horas? Ninguém aguenta ...



Pois foi o que aconteceu. A proposta de Orçamento de Estado para 2015 só foi aprovada em conselho de ministros extraordinário que durou umas "escassas" dezoito horas. Ninguém aguenta ... Uma maratona que se repete - já com os anteriores orçamentos tinha sucedido o mesmo - e que constitui um péssimo exemplo, sobretudo vindo de um governo que se diz (e já ninguém acredita) tão rigoroso. E não foi, seguramente, uma mostra de "dedicação ao trabalho", antes pelo contrário. Mas a "obra" ainda não está concluída. O Governo terá ainda três dias para limar as linhas mestras do Orçamento de Estado que deve ser entregue na Assembleia da República até à próxima quarta-feira, dia 15.

Vão-me desculpar se estiver a fazer confusão mas penso que foi Henry Ford, o primeiro grande empresário dos automóveis, que tinha o hábito de, no fim do expediente, passar por todos os locais de trabalho das suas fábricas para se assegurar que todos os empregados saíam à sua hora. É que, dizia, prolongar a sua jornada de trabalho só se podia dever a duas coisas: ou essas pessoas tinham mau ambiente em casa ou - o que se recusava admitir - eram desorganizadas e geriam mal o seu tempo de trabalho e as suas prioridades.

Deu para entender?



quarta-feira, outubro 08, 2014

Os bustos presidenciais



Na passada quinta-feira, no andar nobre da Assembleia da República, foi inaugurada uma exposição, sob o título "100 anos de presidência", onde se mostra os bustos de todos os Presidentes republicanos, da autoria de Joaquim Esteves, um artesão de Barcelos.

Arte é arte mas há coisas que não caem bem a toda a gente. Os partidos da esquerda contestaram de imediato que os bustos de António Óscar Carmona, Craveiro Lopes e Américo Tomás, presidentes não eleitos do tempo da ditadura fizessem parte dessa exposição. Contestação e requerimento que não passaram na Assembleia da República.

Percebo que politicamente seja difícil aceitar que presidentes eleitos de forma fraudulenta se juntem na mesma galeria aos que foram eleitos democraticamente. Custa-me, porém, a aceitar que se reúna um Plenário de 230 deputados especificamente para debater durante dois dias este assunto. Parece-me caricato e uma perda de tempo. A ser aceite a vontade do PC e do BE teríamos, então, uma exposição de "40 anos de presidência". É que, quer se goste ou não, a verdade é que tivemos aqueles presidentes e a História não deve omitir factos e acontecimentos que se passaram, mesmo os mais negativos. Esses devem até ser lembrados, como exemplo a não repetir no futuro.

Não visitei, ainda, a exposição mas admito, como já ouvi algures, que possa haver uma falta de "rigor histórico". Talvez por isso tenham surgido algumas ilações precipitadas e desajustadas. Se assim for, e porque a exposição vai estar patente vários meses no Parlamento, sendo objecto de visitas de estudo por parte de muitas escolas, o que será necessário é que se proceda a um enquadramento adequado. Sugere-se, apenas, bom senso e que se faça a devida contextualização do que aqueles presidentes representaram para Portugal. Nada mais.

terça-feira, outubro 07, 2014

Como não ficar revoltado?



Acho que este caso não foi suficientemente noticiado. E é apenas um dos muitos que estarão a acontecer no país e que mostra bem o claro desrespeito pelos cidadãos. Conta-se em poucas palavras:

Estando o início das aulas para o ano lectivo 2014/2015 agendado para a semana de 11 a 15 de Setembro de 2014, uma professora do ensino especial de Bragança foi colocada a 12 de Setembro (já no período em que se deviam iniciar as aulas) em Constância, uma vila do Distrito de Santarém, a uns curtos 362 quilómetros de distância de casa ou, em alternativa, em Vila Real de Santo António, no Algarve. Por ser mais perto escolheu Constância e para ali se mudou à pressa com a filha, aluna do 11º ano. Procurou casa para arrendar e escola para a filha, acabando por encontrar ambas em Abrantes (a 15 quilómetros de Constância). Em 15 de Setembro (2ª feira) apresentou-se no Agrupamento de Escolas de Constância, onde começou a trabalhar.

Porém, na sexta-feira seguinte, dia 19 (uns escassos quatro dias depois de começar a trabalhar), já depois das cinco da tarde recebeu um e-mail informando-a da desvinculação da colocação em Constância e do lugar disponível em Vila Real de Santo António, a que se seguiu outro e-mail, perto das 19 horas, com a opção de Portimão. Teria que decidir até à segunda-feira seguinte qual das duas escolas escolheria. Recordo que a professora já tinha casa arrendada e a filha matriculada na escola.


"Sinto-me revoltada. Arrastar a minha filha nisto é angustiante. A mudança já foi complicada. Ela está no 11.º ano, essencial para a média de entrada na Universidade, tem testes marcados. Agora é obrigada a ir para Vila Real de Santo António, no outro extremo do país", desabafou a professora. E como não ficar revoltada perante uma situação completamente inaceitável, com todos os transtornos - económicos e emocionais - que daí advêm. Parece que se anda a brincar com a vida das pessoas. É inacreditável e desumano.

E perante situações como estas qual é a posição de Nuno Crato e do seu Ministério? A da completa negação do problema que toda esta salganhada da colocação de professores provocou. Pior, o resultado é ainda mais absurdo porque o Ministério não quer assumir o ónus da anulação do concurso, imputando essa responsabilidade aos directores das escolas. O que não parece ser legítimo.

É inadmissível que aconteçam casos como o desta professora de Bragança. Como não ficar revoltado com tamanho desrespeito?

sexta-feira, outubro 03, 2014

O dinheiro não compra tudo ...



Achei piada a uma história que li no Expresso desta semana sobre aquele navio - o "Atlântida" - que foi construído nos estaleiros de Viana do Castelo por encomenda do Governo Regional dos Açores e que nunca chegou a ser utilizado, por motivos que não vêm agora ao caso. Depois de uma "eterna" indefinição sobre o seu futuro, acabou por ser comprado ao Estado pelo empresário Mário Ferreira, dono da Douro Azul.

Conhece-se bem do dinamismo de Mário Ferreira. Uma vez comprado o barco, logo pensou reconverter o "Atlântida" para fazer cruzeiros de luxo na Amazónia. E, enquanto as obras não terminam, decidiu ir ao terreno estudar os melhores e mais exóticos itinerários. Foi então que teve um encontro com um chefe de uma tribo indígena que ele pretendia cativar para o negócio, mais concretamente, Mário Ferreira pensou que a tipicidade própria dos elementos da tribo seria um bom cartão de visita para acolher os turistas. A coisa combinou-se mas houve um problema. O pagamento do serviço não poderia ser em dinheiro. E porquê? Porque na selva não havia onde gastá-lo. A moeda de troca teria que ser em pão, por não haver por ali cereais e em bidões de gasolina para usar nas arcas frigoríficas com peixe. E o acordo realizou-se.

Ao contrário do que muita gente pensa, nem tudo na vida se resolve com dinheiro ...

quarta-feira, outubro 01, 2014

As novas do Novo Acordo Ortográfico ...



A história mal contada do novo acordo ortográfico, em que "embarcámos" para fazer jeito aos brasileiros, está longe de chegar ao fim. Aliás, já nem sei se os próprios brasileiros querem, ou não, levar por diante o que tinha sido combinado. E sinto isto por que, há semanas, vi uma notícia que me deixou perplexo. Então não é que os nossos irmãos brasucas já começaram a pensar em novas alterações que irão desfigurar, ainda mais, a ortografia portuguesa?

Muito embora a Presidente brasileira Dilma tenha resolvido suspender a entrada em vigor do AO até 2016, o facto é que um denominado "grupo técnico" nomeado pelo Senado brasileiro já fez o trabalho de casa e lançou uma série de novas alterações, de que vos damos alguns exemplos (vejam o antes e o depois):

Hotel - Otel, Hoje - Oje, Humor - Umor, Chá - Xá, - Macho - Maxo, Blusa - Bluza, Exemplo - Ezemplo, Êxito - Êzito, Exigente - Ezigente, Existir - Ezistir, Açúcar - Asúcar, Pescoço - Pescoso, Auxílio - Ausílio, Música - Múzica ... e por adiante.


Uma verdadeira barbaridade. O apocalipse!

Só espero que alguns génios (imbecis?) cá do sítio não vão na conversa e tornem a aceitar mais uma facada na língua portuguesa, um projecto completamente absurdo e que nunca devia ter visto a luz do dia. É que, a ser aprovado, veremos num futuro próximo coisas como "homens honestos se tornarem em omens onestos". Eu sei que a honra já viveu melhores dias mas de honra passar para onra, é demais. E não estou a ser demasiado "Ezigente", pois não?