sexta-feira, novembro 28, 2014

REQUINTE! Criativos procuram-se ...



Calculo que o imaginário dos publicitários seja infindável. Mas eu não sei se as "pérolas" que às vezes se vêm por aí são da autoria de publicitários ou se saem "orgulhosamente" das cabeças dos proprietários de certas empresas.

Nos arredores de Lisboa, em duas localidades diferentes, dei de caras com uma pastelaria que dá pelo nome de "REQUINTE E DOÇURA" e com um talho denominado "BRILHO E REQUINTE". Originais os nomes, não? Mas a ligação que estabeleci entre ambos foi a palavra REQUINTE que, como sabem, significa "apuro" ou "perfeição meticulosa e exagerada".

Em relação à "REQUINTE E DOÇURA", pastelaria e padaria com fabrico próprio, não tenho dúvidas que os seus bolos (com creme ou não) são doces, de magnífico aspecto e de um apuro doceiro (requinte) sem qualquer mácula. Já quanto ao "BRILHO E REQUINTE", o talho, que vende frangos, hambúrgueres, panados de perú, cabeças de borrego e de porco e, a não esquecer, a "fressura" (para quem não sabe, são vísceras comestíveis de rês, um pitéu apreciado por muitos), fiquei com algumas dúvidas. Tal como na pastelaria, não duvido que todos os produtos vendidos pelo talho sejam de primeiríssima qualidade (daí, talvez, o tal requinte). Onde receio não ter chegado é quanto ao brilho que o nome indica. A não ser que se refira aos belos exemplares de enchidos e de aves que chamam a atenção de quem lá entre.

Apesar de todo o REQUINTE (e da originalidade dos nomes), continuo a achar que "Criativos procuram-se" ...

quarta-feira, novembro 26, 2014

"Presságio"





De Fernando Pessoa, "Presságio"

 

O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

terça-feira, novembro 25, 2014

De cabeça para baixo ...



De cabeça para baixo é como me sinto. De repente, a justiça de quem se dizia cobras e lagartos, começou a acelerar e até parece que alguma coisa está a mudar. Num curto espaço de tempo houve as condenações de Armando Vara e Maria de Lurdes Rodrigues (esta, convenhamos, uma condenação algo exagerada), os casos BES e GES, a detenção do director do SEF e de outros altos dirigentes do Estado e a detenção (ao tipo de hollywood) do ex-primeiro-ministro José Sócrates à chegada ao aeroporto de Lisboa. À chegada, não à partida, o que é relevante. Só não sabemos - porque o que sabemos, minuto a minuto, são as notícias da imprensa (em que se especula demais e se fazem afirmações ao sabor de interesses inconfessáveis) - se na Justiça haverá alguém que ande a exagerar, querendo protagonismo.

De qualquer forma o país anda sobressaltado. Quando governantes ao mais alto nível são detidos sob suspeita de ilícitos graves, quando parece estar a desmoronar-se a estrutura do Estado que nos dirige (ou dirigiu), claro que é legítimo que fiquemos muito preocupados. E não nos interessam os nomes mas os cargos que ocupam ou ocuparam.

Nós cidadãos temos o direito à verdade, seja ela qual for. E exige-se à justiça que seja rápida, imparcial e chegue a conclusões fundamentadas que levem à melhor justiça. Não nos basta que a justiça suspeite, que a comunicação social suspeite ou que o comum cidadão suspeite. Não queremos ficar pelas simples suspeições e por expedientes legais que não levam a lado algum. Queremos, e é-nos devido, decisões baseadas em factos. Uma justiça justa e não justiceira. Enquanto isso, ficamo-nos, como agora, de cabeça para baixo ...

sexta-feira, novembro 21, 2014

Chocolate? ... acabou!



O mundo vai de mal a pior, a Europa está como se sabe e de Portugal já nem se fala ... apesar de tudo, por cá, vai-se andando, aos tombos com deficits acima do permitido, com uma dívida pública que não pára de aumentar e com um desemprego que eles dizem ter caído mas que continua a afectar muitos milhares de cidadãos. E aguentaremos isto por muito mais tempo? "Ai aguentam, aguentam", como disse "sabiamente" o banqueiro Ulrich.

E talvez aguentemos mesmo, afinal tem sido essa a nossa sina desde sempre. Mas o que não aguentaremos, não sobreviveremos certamente, é ao anunciado alerta, agora conhecido, de que o cacau (com que se faz o chocolate) está a esgotar-se. É que desde há dois anos que o mundo consome muito mais cacau do que aquele que é produzido e os agricultores não conseguem dar vazão à procura. O chocolate está realmente a acabar.

Ainda por cima os chineses começaram a gostar deste delicioso hábito (e eles são taaaantos) e a preferência pelo chocolate negro, que contém uma percentagem mais elevada de cacau, deram uma ajudinha para que se verificasse o aumento desenfreado do consumo.

Hoje vi pelas ruas muitas pessoas cabisbaixas. No café e no ginásio não se falava de outra coisa que não fosse a calamidade que se perspectiva. "O drama, a tragédia, o horror", como diria Artur Albarran. O mundo está a desabar - não (mas também) pelos motivos de sempre - pela possibilidade (quase certa) de não podermos, em breve, comer chocolate. E não há comissões de inquérito que nos distraiam desta preocupação. Não é só a nossa saúde que poderá vir a ser afectada (prejuízos ao nível do fluxo arterial e da saúde cerebral, entre outros). É que corremos o risco de dizer definitivamente adeus ao bem-estar que uns quadradinhos de chocolate ou uma mousse conseguem transmitir. Sem chocolate - seguramente - não aguentaremos mesmo ...

quinta-feira, novembro 20, 2014

"Chamem a policia, queu num pago"



"Eram dez para uma no restaurante
Almoçava alarve mente
A meio do café um garçon pedante
Chegou-se e pôs-ma conta frente
Atao bebi o brande todo dum trago,
Berrei pró homem num pago, num pago;
O gaijo bronco chamou o gerente,
Saltei pa trás, saquei, saiu o pente...
Pra num andar cadeiras pru are,
Atao pus-ma gritar:

Chamem a policia, chamem a policia,
Chamem a policia Chamem a policia, queu num pago" ...



Era assim que começava a canção "Chamem a polícia" (que foi um grande sucesso popular na época) criada pelos Trabalhadores do Comércio, uma banda portuguesa formada na década de 80.

Pois foi exactamente do que eu me lembrei quando li que a GALP e a REN não pagaram (e continuam a não querer pagar) a contribuição extraordinária das empresas do sector energético. Convenhamos que é uma pipa de massa (como dizia o outro) que pode "sair-lhes dos bolsos", uns 35 milhões e 25 milhões de euros, respectivamente. E porque não querem pagar até admito que aleguem (e estão no seu direito) que esta contribuição constitui uma ilegalidade. Mas a verdade é que as leis são para se aplicar a toda a gente. Aos cidadãos (no activo e pensionistas) e às empresas. Quer se trate do IRS ou do IRC, do IMI ou de outras taxas e contribuições, algumas delas também duvidosamente legais. Como é o caso da contribuição audiovisual cobrada às escadas dos prédios ou uma mais recente que dá pelo nome Taxa Municipal de Protecção Civil que alguns municípios já começaram a cobrar.

E como nenhum de nós se pode dar ao luxo de ter estados de alma quando paga impostos, o melhor é adoptar o princípio: "Ai não pagam? Então, chamem a polícia ..."

terça-feira, novembro 18, 2014

Imaginação é tudo ...



Vi há tempos em Serralves uma interessante exposição sobre o escritor francês Raymond Roussel, um dos precursores do surrealismo, famoso pelo carácter excêntrico da sua obra. E achei curiosa uma afirmação do escritor: “a percepção da primazia é fundamental na concepção, já que nada colhe do real e a imaginação é tudo”.

Miguel Esteves Cardoso, em entrevista recente, dizia “Há ficção de quem escreve e transpõe para o papel coisas que aconteceram e há ficção totalmente imaginada. Só a imaginada é que é legítima. É uma terrível batota falar-se de coisas que aconteceram, a maior parte dos grandes escritores faz isso, mas é batota”.

Não sei se haverá a tal batota a que se refere o MEC. Assinalo, apenas, a convergência de opiniões entre Raymond Roussel e Miguel Esteves Cardoso. Enquanto modesto escrevinhador de crónicas, relato sobretudo coisas reais embora admita que sinto a maior admiração por quantos conseguem conceber histórias apenas e só fruto da sua imaginação.

sexta-feira, novembro 14, 2014

O ensino do português ...



Ana, obrigado por me lembrares que há um "Dia Nacional da Língua Portuguesa", que é "comemorado" em 5 de Novembro. Até eu - que tanto tenho lutado pela não subalternização da nossa língua - cansado que estou dos atropelos constantes vindos de todos os lados, deixava passar em claro tão importante dia. Importante mas que, infelizmente, não resolve absolutamente nada. Só um comprometimento diferente e empenhado de vários sectores faria com que o nosso português fosse indiscutivelmente a nossa língua.

E, provavelmente, por constatar que no dia-a-dia se trata tão mal a nossa língua, talvez não tivesse ficado demasiado espantado ao ler uma notícia que referia que - segundo o estudo “Os Tempos na Escola”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que analisou os 28 estados-membros da União Europeia, mais a Coreia, Singapura, Noruega e Turquia, - Portugal é um dos países com menos horas de ensino da língua materna nos primeiros quatro anos de escolaridade obrigatória.

Seria normal que tendo Portugal uma das maiores durações de escolaridade obrigatória (12 anos), também tivesse uma carga horária mais elevada dedicada ao estudo da língua materna. E assim não é. Repare-se que nos primeiros quatro anos de escolaridade, apenas 26,9% do tempo de aulas é dedicado ao ensino do português, menos do metade do que acontece, por exemplo, na Noruega (57,2%).

E depois admiramo-nos de quê?



quarta-feira, novembro 12, 2014

As viragens ...



No Jornal da Noite da SIC Notícias da última sexta-feira, Francisco Louçã dizia - com uma ironia fina - mais ou menos o seguinte:

"O Primeiro-Ministro tem demonstrado a sua versatilidade na apresentação das suas propostas. Por exemplo:

em 2011 disse que a sua política iria impor uma viragem em Portugal.

em 2012 voltou a dizer que as medidas que iriam pôr em prática provocariam uma viragem em Portugal.
Ou seja, haveria uma viragem da viragem.

em 2013 tornou a afirmar que a política do seu Governo iria no caminho de uma viragem no nosso país.
Ou seja, haveria uma viragem, da viragem, da viragem.

em 2014 teimou no discurso que em Portugal, graças às suas políticas, a economia teria uma viragem
Ou seja, haveria uma viragem, da viragem, da viragem, da viragem".

 
E com tantas viragens, viradelas e reviravoltas, os portugueses sentem-se completamente tontos, e pior, sem quaisquer esperanças de futuro.

terça-feira, novembro 11, 2014

Só à porrada ...



O jornalista José Manuel Rosendo ao comentar há dias no Facebook o escândalo protagonizado por Jean-Claude Juncker dizia "isto só lá vai com uma valente zaragata, e à bofetada …". Ainda que quisesse, não consigo ser tão benevolente como ele. Mesmo tendo em conta que em democracia as coisas não se resolvem desta forma, eu acho que isto só "à porrada" poderá entrar nos eixos.

Aos poucos vão-se conhecendo as podridões. De cá e de lá fora. Só no passado recente, descobriram-se em Portugal os escândalos do BPN, do BPP, do BES e da PT. Agora, foi revelado que o recém-eleito Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, é protagonista de um escândalo de fuga ao fisco por parte de centenas de grandes empresas, que vem do tempo em que ele foi Primeiro-Ministro no Luxemburgo (1995-2013). Ao que se sabe, Juncker ajudou centenas de multinacionais a fugirem aos impostos nos seus países. Juncker era um facilitador da evasão fiscal em grande escala. Um "crime" (por cá, e sem grandes alaridos, Soares dos Santos mudou o domicílio fiscal para a Holanda) que contraria o discurso oficial da União Europeia em torno de questões como a responsabilidade e rigor e a necessidade do restabelecimento da confiança, tão invocados para fazer aprovar a União Bancária e para impor as medidas de austeridade contra os trabalhadores. Um discurso hipócrita e falacioso.

Poucos dias após ter tomado posse como Presidente da Comissão Europeia, Juncker deixou de ter condições políticas para continuar a exercer o cargo para que foi nomeado. Primeiro, porque aprovou, enquanto primeiro-ministro, os acordos secretos que permitiram a fraude fiscal que lesaram vários países. Agora, pela falta de ética demonstrada ao dizer que a cobrança de impostos eram responsabilidade da comissária que tem a seu cargo a pasta da Concorrência. Lamentável.

E voltamos ao início. Perante esta elite vigarista que tomou conta dos Estados, eu acho que a coisa só se pode resolver quando esta gente for corrida a murro, pontapé e o que mais for necessário. E o resto são cantigas ...

sexta-feira, novembro 07, 2014

Vendem-se mais carros. Será que a crise acabou?



Ele é a crise, é a crise mas os números, tal como o algodão, não mentem. E os números dizem que o mercado nacional registou grande dinamismo nas vendas de automóveis ligeiros de passageiros e cresceu 32,2% em Outubro. Ainda bem para todos aqueles que estão ligados ao ramo automóvel e ainda bem para quem tem possibilidade de comprar um pó-pó novo.

Porém, não deixa de ser curioso que seja exactamente nos países "pobres", "intervencionados" e "falidos" que tenha havido o maior crescimento da venda de automóveis. O que nos pode levar a acreditar que a crise económica já é coisa do passado. Mas não, a crise não acabou e, mesmo assim, nos três países com maior crescimento na vendas de viaturas novas - no espaço da Associação Europeia de Comércio Livre - estão duas economias que foram intervencionadas pela troika (Portugal e Irlanda) e um caso de falência (a Islândia). Exactamente o oposto do que aconteceu na chamada Europa rica onde, por exemplo, a Holanda, a Áustria e a Suíça registaram quebras de vendas em termos homólogos nos oito primeiros meses de 2014 e a Noruega, que é um dos países mais ricos do continente europeu, apenas registou um aumento de 2% na venda de carros novos.

Factos são factos mas podem e devem ser lidos com alguma prudência. No caso português, sabe-se que a maioria dos carros vendidos foi para empresas de aluguer de carros. Os outros foram para particulares, alguns dos quais (por que não especular?) talvez só agora tivessem hipótese de trocar de carro. Ainda assim, não deixa de ser curioso ...

quarta-feira, novembro 05, 2014

Só queria que me explicassem ...


Embora não concorde mesmo nada com a venda de empresas estratégicas para o nosso país (a EDP, os CTT, a PT e a ANA, por exemplo e para já), admito que outros valores mais altos se levantaram e ditaram, sem dó nem piedade, a alienação dessas empresas. No caso da EDP, 21,35% do capital foram vendidos à estatal China Three Gorges e três anos depois os dirigentes chineses dizem estar muito satisfeitos com o retorno do investimento feito na eléctrica portuguesa. Pudera!. Tem-se dito que é o casamento perfeito, junta-se o muito dinheiro que por lá abunda com o nosso conhecimento técnico, o saber fazer, o know-how como alguns dizem. Não admira, portanto, que os chineses estejam contentíssimos com esta "parceria estratégica".

   Pois bem, os chineses são os donos da EDP mas a energia em Portugal é vendida essencialmente a
  consumidores nacionais, particulares e empresas. Por isso, e tendo em atenção que estamos justamente em Portugal e, também, tendo em conta a concorrência do sector da energia, penso que todas as acções de marketing e toda a publicidade deveria ser dirigida aos portugueses e, já agora, em português. Então, porque carga de água é que as montras do edifício da EDP na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, ostentam toda a decoração em inglês? Só queria que me explicassem ...



terça-feira, novembro 04, 2014

Ora até qu'enfim que há alguém que me compr'enda ...



Disse repetidas vezes ao longo de anos que EU não era capaz de, simultaneamente, ouvir música (ainda que de fundo), ler e estar com atenção ao que se ia passando na televisão. Não tinha - e não tenho - essa capacidade (e duvidava até que alguém a tivesse) de estar atento a várias coisa ao mesmo tempo, porque pensava que, assim, não prestaria a devida atenção a uma só coisa que fosse. Disse-o aos mais novos (que estavam sempre ligados em tudo) e aos mais velhos que diziam acompanhar a rapaziada e juravam ter arcaboiço suficiente para estar em todas ao mesmo tempo. Eram capacíssimos de ter múltiplas aplicações abertas e de saltitar de umas para outras com uma perna às costas ou liam ou estudavam em companhia de um CD de rock da pesada. E quase todos gozavam com esta minha falta de predisposição assumida.

Então não é que ao ler um dos blogues que sigo habitualmente vi uma referência a um tal Daniel J. Levitin, psicólogo, neurocientista e escritor americano, um "velho" nascido em 1957, que sobre este assunto dizia coisas como:

... “saltar” constantemente de uma tarefa para outra exige um enorme dispêndio de energia mental e tem consequências extremamente negativas para o pensamento conceptual e crítico, ao mesmo tempo que reduz a criatividade e a tomada de decisões (…).todos nós gostamos de acreditar que conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo e que a nossa atenção é infinita, o que corresponde a um mito persistente. Aquilo que realmente fazemos é mudar o nosso estado de atenção de uma tarefa para outra, o que resulta no facto de não devotarmos uma verdadeira atenção a nada ou diminuirmos a qualidade da mesma aplicada a qualquer que seja a tarefa. Quando nos concentramos em fazer apenas uma tarefa de cada vez, ocorrem alterações benéficas no nosso cérebro ...

Ora até qu'enfim que há alguém que me compr'enda ...