terça-feira, dezembro 23, 2014

Boas Festas



Em época de festas,

Desejo-vos SAÚDE, PAZ e AMOR

... e que 2015 vos traga tudo de bom


BOAS FESTAS!

BOM ANO NOVO!


sexta-feira, dezembro 19, 2014

A primeira desilusão ...



Foram felizes os meus Natais enquanto criança. É certo que não havia muitos brinquedos e que abundava a falta de dinheiro (é verdade, minha gente, já naquela altura havia uma crise profunda) mas sentia-se o espírito da época e, diga-se de passagem, a nossa ambição também não era exagerada. Aliás, não havia, então, a febre consumista que se verificou mais tarde. E os brinquedos (poucos em quantidade e variedade) ou as prendas (que muitas vezes eram meias, camisolas ou pijamas) eram-nos dadas pelo Menino Jesus depois da meia-noite ou, às vezes, na manhã seguinte dentro do sapatinho que deixávamos (cheios de esperança) na chaminé da cozinha. O deslumbre e a ansiedade do rasgar do papel dos presentes via-se bem no olhar feliz das crianças. E isto para falar apenas nas crianças que tinham essa ventura porque muitas nem sequer sentiam o prazer de ter um presentinho de Natal deixado pelo Menino Jesus.

Jesus e não - ainda - o Pai Natal. Esse entrou muito mais tarde na vida dos portugueses depois de um "golpe de Estado" sobre o Menino Jesus. Desde então, começou a adoptar-se o Pai Natal como fonte da bondade natalícia e rapidamente o Menino Jesus foi relegado para figura (embora principal) do Presépio. A tradição portuguesa esfumou-se e o velhinho Pai Natal tomou conta do imaginário das crianças.

Isto até ao dia da descoberta - através de coleguinhas de escola ou pela explicação dos pais ou familiares - de que, afinal, o Pai Natal não existe. Toda a ilusão, toda a fantasia, que iluminavam os seus poucos aninhos acabava de forma trágica. A revolta era inevitável como inevitável eram as lágrimas por tamanha frustração. Essas crianças viram chegar ao fim o sonho em que sempre acreditaram e que, de certa forma, lhes foi incutida com a melhor das intenções pelos familiares mais próximos ou que elas próprias criaram. Uma fantasia que, apesar de tudo, continuo a considerar muito importante para o crescimento e formação dos miúdos.

Para as crianças, ao longo das diversas gerações, esta descoberta bem pode ter sido a sua primeira desilusão ...

quarta-feira, dezembro 17, 2014

Sabem o que é o "Índice de Percepção de Corrupção"?



Numa altura em que ainda se fala mais em corrupção (o que não faltam são casos mediáticos, alvo de todas as notícias), muitos questionam o que é o denominado "Índice de Percepção de Corrupção", afinal o que é que a expressão realmente significa. Para explicar, ainda que de uma forma simples, talvez seja melhor recorrer à Wikipédia que, sobre o assunto, diz o seguinte:


"O IPC - Índice de Percepção de Corrupção ordena os países do mundo de acordo com "o grau em que a corrupção é percebida existir entre os funcionários públicos e políticos" ... Os resultados mostram que sete em cada dez países (e nove em cada dez países em desenvolvimento) possuem um índice de menos de 5 pontos num total de 10, sendo que a maior pontuação significa menor (percepção de) corrupção".


E Portugal, como é que está neste índice? Digamos que sem contar com os casos recentes como os vistos gold, Duarte Lima, Sócrates ou Espírito Santo estamos em 31.º lugar. E isso é bom ou é mau? É MAU, claro está, porque a desconfiança (justificada, creio eu) na classe política, nos empresários (grandes e pequenos, dos banqueiros aos construtores civis) e nos gestores autárquicos deixa-nos em estado de sítio.

Só para terem uma ideia do que se passa relativamente aos 175 países do mundo considerados em 2014 nesta análise, Portugal, o Chipre e Porto Rico ocupam a 31ª posição. Depois de nós classificam-se países como a Espanha (37ª), a Hungria (47ª), a República Checa (53ª) e a Itália (69ª), ficando nos últimos lugares a Coreia do Norte e a Somália. A liderar a tabela estão, sem qualquer espanto, a Dinamarca, a Nova Zelândia, a Finlândia, a Suécia, a Noruega e a Suiça.

Resta-nos a (fraca) consolação de Portugal ter subido duas posições neste Índice de Percepção de Corrupção. Convenhamos, pois, que ainda há muito por fazer ...

terça-feira, dezembro 16, 2014

"Mexilhão à bulhão pato"



Juro que não me passou pela cabeça começar a dar-vos receitas culinárias. Se o tivesse tentado antes talvez hoje o "Por Linhas Tortas" fosse um dos blogues mais visitados do país. Mas não, os meus dotes culinários não são suficientemente fortes para trilhar esse caminho e as minhas habilidades gastronómicas (embora apreciadas pela família) situam-se ao nível do trivial, como se dizia dantes. O que até nem está mal de todo quando penso que há umas boas dezenas de anos quando saí da casa dos meus pais, eu de cozinha sabia nada, nem sequer fazer uns básicos ovos mexidos.

Tão-pouco pensei em sugerir-vos uma "nova tradição" para a Ceia de Natal. O que me levou a utilizar o título (gastronómico) desta crónica foi mesmo a palavra "Mexilhão", talvez a mais utilizada nas últimas semanas, em termos políticos. Foi Passos Coelho que, num seminário sobre Economia Social, considerou que "quem tinha mais tenha contribuído mais para o esforço de superação da crise, permitindo contrariar o adágio de "quem se lixa é o mexilhão"". Ou seja, pelas suas palavras, desta vez não foram apenas aqueles que costumam ser sacrificados e, portanto, "quem se lixou não foi o mexilhão".

Claro que a resposta não se fez esperar por parte da oposição que "pegaram" no mexilhão para dizerem ao Primeiro-Ministro que, de facto, quem se lixou - à séria - foi mesmo o mexilhão, isto é, os mesmos de sempre.

E seria bom que o PM tivesse bem a noção da realidade (que parece não ter) e dos números que foram anunciados por organismos oficiais. Por exemplo, segundo a OCDE, os mais ricos ganham dez vezes mais do que os mais pobres. Que 800 mil pessoas estão desempregadas (só as declaradas oficialmente) e que meio milhão de desempregados são de longa duração. Que 350 mil pessoas emigraram nos últimos três anos, que 1 em cada 4 crianças vive em situação de pobreza, que 2,8 milhões de pessoas está em risco de pobreza e que a desigualdade está cada vez mais desigual e que voltou a aumentar 1,5%.

E embora admita que muitos tenham contribuído para tentar superar a crise, a maior fatia do sacrifício voltou a ficar a cargo dos mesmos. Por outras palavras, uma vez mais se pode usar o adágio "quem se lixou foi o mexilhão".



sexta-feira, dezembro 12, 2014

"Autopsicografia" de Fernando Pessoa





"Autopsicografia" de Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Os 90 anos de Mário Soares



No pretérito dia 7 Mário Soares fez 90 Anos. Ele é uma figura marcante da democracia portuguesa, três vezes Primeiro-Ministro, duas vezes Presidente da República, Deputado Europeu e interveniente político constante até hoje. Sempre coerente, às vezes excessivo mas politicamente intuitivo. Um homem da liberdade e um homem da democracia que tanto combateu a ditadura da direita antes do 25 de Abril como a tentativa de ditadura de esquerda em 1975.

Há dias, escreveu Baptista Bastos no Jornal de Negócios: "(...) Os 90 vigorosos anos do velho leão, que nunca baixa as guardas e arreganha sempre as garras quando os factos o exigem, ainda há pouco se demonstraram, quando da visita a José Sócrates, na cadeia de Évora. Alguns palermas que por aí pululam atribuíram a tolejo de insanidade as expressões utilizadas e os comentários à justiça. O que falta de destemor, inclusive físico, a estes tristes preopinantes, é o que sobra a Soares nas suas indignações. Ele, afinal, representa o que de melhor e mais sólido o português médio possui. E é, talvez por isso, por nos representar em idiossincrasia, em improviso e em características de improviso e de brio, que os portugueses gostam dele e lhe perdoam o que, minimamente, não esquecem a outros (...)".


Quando se fala em liberdade e democracia pensa-se em Mário Soares. Quando se fala na integração de Portugal na União Europeia pensa-se também em Mário Soares. Mas tomou decisões erradas? Certamente. Mas Soares sempre teve uma intuição política muito acima da média e sempre demonstrou acreditar que é possível mudar as coisas. Para mim, ele é sem dúvida a grande figura política dos últimos 40 anos.

Depois disto, gostar ou não de Mário Soares, é outra coisa ...



terça-feira, dezembro 09, 2014

Dois pesos e duas medidas?



Apesar da OCDE reconhecer que as perspectivas de crescimento económico em Portugal aumentaram em Outubro face ao mês anterior e continuam acima da média da zona euro, apesar do Eurostat ter confirmado que a economia portuguesa cresceu 0,3% no terceiro trimestre e apesar das reiteradas afirmações da nossa Ministra das Finanças em que as reformas não abrandaram após a saída da troika e o défice previsto para 2015 vai mesmo ser cumprido, ainda assim, mantêm-se as dúvidas das instâncias europeias. Exactamente por isso realizaram-se ontem duas reuniões do Eurogrupo em que os Ministros das Finanças dos 28 discutiram os "riscos" de incumprimento das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, detectados nos Orçamentos de Estado para 2015, concretamente em sete países: Bélgica, Espanha, França, Itália, Malta, Áustria e Portugal. Por precaução, já se vê, se bem que parece haver uma grande preocupação com a Estabilidade e pouca com o Crescimento.

Porém, o que me custa aceitar é que, apesar dos sinais e das previsões acima referidas, o foco continue a incidir sobre Portugal quando, por exemplo, a França e a Itália, países muito maiores do que nós e com economias muito mais pujantes, já tenham afirmado que não só os respectivos défices vão continuar a ser excessivos como as reformas estruturais exigidas há muito vão permanecer à espera de melhores dias. E custa-me, sobretudo, porque há dois pesos e duas medidas. O que, entre países membros da Comunidade Europeia, é perfeitamente inaceitável.



sexta-feira, dezembro 05, 2014

Ou se mudam os nomes ou se alteram os formulários ...



Ainda na semana passada, aqui no "Por Linhas Tortas", chamei a atenção de que era urgente arranjar criativos. E a verdade é que decorrido tão pouco tempo volto a apelar à criatividade e, porque não, ao bom-senso. Então não é que - em alguns locais do país - a recente reorganização das freguesias, ao juntar várias das anteriores freguesias, agregou simplesmente o nome de todas elas? Como aconteceu, por exemplo, na mais populosa freguesia do Concelho de Vila Real que ficou com o pomposo nome de União de Freguesias de Vila Real - Nossa Senhora da Conceição, São Pedro e São Dinis. Assim como que a fazer lembrar certos nomes infindáveis da aristocracia. Vejam se reconhecem este: María del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y de Silva Falcó y Gurtubay. Pois é, apenas o nome da Duquesa de Alba, falecida recentemente, e conhecida por todos - carinhosamente - apenas por "Cayetana.

Em vez de simplificarmos, a tendência é exactamente a oposta: complicarmos. E o pior ainda desta nova designação, com este novo nome oficial, é que os caracteres com que se escreve "União de Freguesias de Vila Real - Nossa Senhora da Conceição, São Pedro e São Dinis", nem sequer cabem em qualquer formulário, oficial ou não. Pelos vistos, as "cabecinhas pensadoras" que "imaginaram" este nome não conseguiram vislumbrar mais do que a designação anunciada e só agora, depois de constatarem a tolice que fizeram, é que a Junta vai consultar a população para ser escolhido o novo nome que poderá vir a ser Vila Real ou Dom Dinis.

Não havia alternativa: ou se mudava o nome da Freguesia ou os formulários ... Menos mal, escolheu-se a primeira hipótese.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

Teremos em 2015 uma nova "Restauração"?



Mais importante (vá lá tão importante ...) do que saber se o Benfica vai revalidar o seu título de campeão nacional de futebol é ter a esperança que o dia 1º de Dezembro do próximo ano (e dos que se lhe seguem) volte a ser feriado. Tanto mais que no próximo ano o 1º de Dezembro calha a uma terça-feira e há em perspectiva um fim-de-semana mais longo. Mas isso são outras histórias ...

O que nos interessa mesmo é a data propriamente dita. É que o 1º. de Dezembro, aquele que até há pouco era feriado nacional, é o dia da celebração da Restauração da Independência. Aquele dia em que há 374 anos acabámos com o domínio dos Filipes de Espanha e voltámos a ser donos do nosso destino. No preciso dia em que aconteceu a defenestração (como eu gosto desta palavra ...) do traidor Miguel de Vasconcelos. Considero mesmo que o 1º de Dezembro é - a par do 10 de Junho e do 25 de Abril - o feriado civil mais significativo, muito embora à maioria dos portugueses passe por ser apenas mais um feriado. A verdade é que desde 1910, o 1º de Dezembro, por ter um significado especial, é devidamente lembrado e comemorado.

Mas não foi assim que pensaram a troika (que não tinha portugueses) nem o Governo (que tinha mas que ... depois falamos nisso) que decidiram dar-lhe sumiço em nome de um hipotético ganho de produtividade. Tretas!

Em 2015, porém, o 1º de Dezembro pode voltar a ser feriado. António Costa, candidato do PS a Primeiro-Ministro já prometeu publicamente que isso vai acontecer se ganhar as eleições. E até do lado da actual maioria Ribeiro e Castro (desde sempre contra a abolição deste feriado) do CDS e até Paulo Portas já se manifestaram no mesmo sentido.

Como já li algures "o 1º de Dezembro é património de Portugal e dos portugueses, pertence à comunidade e a ninguém é moralmente permitido dispor dele com ligeireza, mesmo que o faça invocando o nome do Estado". Por isso, digo eu, se alguém tiver o atrevimento de querer eliminar o feriado de novo, só há um caminho: a defenestração desse alguém.

terça-feira, dezembro 02, 2014

Coisas que acontecem quando "andamos" em cima da passadeira de um ginásio ...



Ontem, enquanto fazia exercício na passadeira do ginásio, ia pensando nas notícias dos últimos dias.

Lembrei-me, por exemplo, da Presidente da Câmara de Palmela que cumpre o terceiro e último mandato e que com 46 anos já pediu a reforma. Demasiado cedo, não?

Pensei no julgamento de Duarte Lima para quem o Ministério Público pediu 5 anos de prisão e a juíza condenou-o a 10. Uma invulgar duplicação de pena que deixou muita gente perplexa.

Claro que também pensei no "caso Sócrates" de que se sabe tão pouco mas sobre o qual se opina muito. Mas há factos que se vão conhecendo a conta gotas e que nos deixam ainda com mais dúvidas. Por exemplo, porque razão a casa onde mora o filho do ex-Primeiro-Ministro (cuja conexão com os alegados actos do pai parece não existir) foi invadida e ele viu levarem-lhe o computador pessoal? Será que isto é legal? Será que a lei permite a devassa do conteúdo de um computador pertencente a alguém só porque é familiar próximo de um eventual implicado em ilícitos?

E, a propósito deste caso, não pude deixar de pensar que José Sócrates foi detido - presumivelmente - para que não destruísse provas que o incriminassem na investigação em curso. Então o homem não faz outra coisas há meses que não seja viajar e só agora é que - mesmo sabendo que estavam à sua espera no aeroporto - vinha para destruir uma série de papéis comprometedores? Exactamente o mesmo que aconteceu a Ricardo Salgado que sabia estar a ser investigado há muito e só há dias se lembraram de fazer uma mega operação de busca para obterem documentos suspeitos. Não sejamos ingénuos, eles podem até ser culpados do que os acusam mas burros eles não são certamente. E se havia coisas para destruir, há muito que eles se devem ter encarregue disso.

Ao sentir um abanão no braço voltei à realidade. Um rapaz com uma braçadeira vermelha com um "C" e com a inscrição "Coach" na T-shirt perguntou se me sentia bem. A passadeira tinha parado há um bocado e eu estava com uma expressão muito carregada. Sosseguei-o e saí da sala. Antes, porém, ainda passei por uma jovem que ostentava no fato de treino a inscrição "Personal Trainer". "Estrangeirices", achei eu. Foi aí que desconfiei que a minha tensão arterial devia ter subido um bocado ...