terça-feira, junho 30, 2015

"Acudam-nos" ...



"Acudam-nos": Não vejo expressão que traduza melhor a nossa (a do contribuinte) sensação de impotência e de desespero perante o que esta turma de jovens - mal-preparados - políticos está a fazer ao país e aos cidadãos. Talvez, para os crentes, haja outra: "Valha-nos Deus" ...

É que, segundo o que se soube há pouco, a auditoria do Tribunal de Contas às privatizações da EDP e da REN concluiu, entre outras coisas, que não foram tomadas as medidas necessárias para acautelar o interesse estratégico e nacional e que não houve transparência suficiente nos processos.

As privatizações, realizadas entre Setembro de 2011 e a primeira metade de 2012, foram feitas de uma forma esquisita, digamos assim. Por exemplo, as vendas foram precisamente efectuadas em momentos em que os activos estavam subavaliados (EDP e REN tinham-se desvalorizado na bolsa) e vivia-se um enquadramento económico muito negativo. E, apesar da troika exigir a venda, o Governo não soube (ou não quis) esperar por um momento mais favorável.

Diz, também, o Tribunal de Contas que a Parpública, a empresa que gere as participações empresariais do Estado, mostrou falta de transparência na contratação de assessores financeiros e não acautelou aquilo a que normalmente se chama "conflito de interesses", nos processos de privatização da EDP e da REN. Ou seja, a Parpública não assegurou que os consultores financeiros (seja para a avaliação prévia das empresas ou para a assessoria no decurso do respectivo processo de venda) ficassem impedidos de assessorar posteriormente os potenciais investidores. O que, como sabemos, veio a acontecer: o BESI (não esqueçamos que o seu Presidente, José Maria Ricciardi, é amigo do Primeiro-Ministro) foi o consultor (o avaliador) do Governo no processo de (re)privatização da EDP e da REN” e foi, mais tarde, o consultor financeiro dos compradores: a China Tree Gorges, no caso da EDP, e a State Grid, compradora da REN. Resumindo: ninguém cuidou de saber se havia, ou não, o tal conflito de interesses. Inacreditável! E o que dizer do quanto nos custou a assessoria financeira da Caixa BI que recebeu mais de 20 milhões de euros? Incrível ...

Há quem questione o trabalho das empresas de auditoria e do Tribunal de Contas, argumentando que de nada servem por só constatarem as ilegalidades à posteriori. Pois eu acho que, embora de facto as análises sejam feitas só depois dos actos praticados, esse trabalho serve fundamentalmente para duas coisas. A primeira, para acautelar situações futuras. A segunda, para, em caso de má-fé ou de ilícitos comprovados, a justiça possa actuar.

E, neste caso, embora Passos Coelho já tenha afirmado que "o Governo está de consciência tranquila em relação aos processos de privatização da REN e da EDP", continuo a pensar que se justifica inteiramente a chamada de atenção do Tribunal de Contas. De tal modo que continuo a implorar:"Acudam-nos ..."

quinta-feira, junho 25, 2015

O arrumador ...



Para mim, como para muita gente, a "figura" do arrumador é quase sempre incómoda. Mesmo quando ele está realmente a ajudar. Na maior parte das vezes, porém, irrita-me o facto de ele aparecer a correr, vindo do nada, depois de já termos arrumado o carro num espaço em que caberia pelo menos um autocarro dos grandes. E o que dizer - já numa súplica de pedinchice da moedinha - do "Está bom chefe ..."?

Mas o arrumador, até pela forma como quase sempre se apresenta, leva-me a imaginar que possa ser um provável malandro que não só não me vai guardar o carro (na verdade ele é um facilitador de estacionamento e não um guarda de um parque) como me deixa a incómoda dúvida de ver o carro riscado como represália de uma gratificação considerada insuficiente. Ou o receio que o carro tenha sido levado pela polícia quando, ficando estacionado de modo irregular, o arrumador tenha jurado a pés juntos que ali não iria haver qualquer problema. Só que, às vezes, o carro é mesmo rebocado ou, na melhor das hipóteses, está lá uma multa de todo o tamanho.

Se calhar estou a ser injusto para com a "classe" dos arrumadores. É sempre ingrato generalizar e a verdade é que conheço alguns que fogem ao estereotipo traçado. Tenho encontrado arrumadores simpáticos, discretos, que não usam o tradicional rolo (de jornal ou de outro qualquer papel) na mão e que ajudam efectivamente os condutores a arrumar os seus veículos. A maioria, contudo, obedece ao tal padrão que incomoda. Estarei a ser preconceituoso? Talvez, ou talvez gostasse dar de caras com um arrumador vestido de Armani, bem cheiroso e com o "Financial Times" na mão ...


terça-feira, junho 23, 2015

Mas ... eles foram condecorados porquê?



Não costumo opinar sobre o que não sei. Porém, há coisas que, embora não compreenda, me levam - ainda assim - "a pensar em voz alta". Como é o caso da atribuição de condecorações, nomeadamente aquelas que são concedidas pelo Presidente da República no 10 de Junho. Ignoro quais são os critérios seguidos mas, em alguns casos, ao olhar de um cidadão comum, fazem uma certa confusão.

É que, no meu fraco entender, estas homenagens estariam reservadas a quem tivesse prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores. Desculpem a minha ignorância ...

Este ano, por exemplo, entre um grande número de pessoas que não conheço (e, por isso, não me atrevo a comentar o que quer que seja), foi conferida ao Prof. Doutor José Mariano Gago (a título póstumo) a "Ordem Militar de Cristo (Grã-Cruz)". Nada mais justo a um homem que tanto fez pelo país.

Mas o que dizer da "Comenda" atribuída a António Zambujo - a "Ordem do Infante D. Henrique"? Por muito que aprecie o artista (e gosto verdadeiramente de o ouvir e tenho simpatia por ele), o que é que ele fez assim de tão relevante pelo país? Sobretudo quando não conheço que tenha havido idêntica atenção para artistas como Jorge Palma, Sérgio Godinho ou Rui Veloso, entre outros? Esses, há longos anos com méritos reconhecidos por todos.

E o que pensar sobre Carlos Gil, agraciado com a "Ordem do Infante D. Henrique"? Sabem, por acaso, que aptidões especiais foram postas ao serviço de Portugal pelo novel "Comendador"? Pois bem, eu digo-vos, Carlos Gil (que não conheço e contra o qual nada me move) é apenas, e só, o costureiro - o "designer" - da D. Maria Cavaco Silva, esposa do Presidente da República. Será o suficiente para tão alta distinção?

Como referi, não sei como são escolhidos os nomes. Mas que muitos deles são, no mínimo, polémicos, lá isso são ...

sexta-feira, junho 19, 2015

"Pequena Elegia Chamada Domingo"



"Pequena Elegia Chamada Domingo", de Eugénio de Andrade




O domingo era uma coisa pequena.
Uma coisa tão pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mãos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.

Hoje os montes e os rios
e as nuvens
não vêm nas tuas mãos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios...)
O domingo está apenas nos meus olhos
e é grande.
Os montes estão distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas.

quinta-feira, junho 18, 2015

"Pastel de bacalhau com queijo da serra": o novo petisco?



Há coisas que me deixam arrepiado. E não estou a pensar na brisa fresca que tem soprado nestas últimas tardes de quase-verão. Estou a referir-me à já denominada "guerra do pastel de bacalhau" que tem sido tema obrigatório nas redes sociais e nos blogues.

E o caso não é para menos. Então não é que uns "iluminados criativos culinários" se lembraram de inventar o "pastel de bacalhau com queijo da serra"? Uma coisa que poderá lembrar o tradicional pastelinho de bacalhau a babar-se com queijo da serra. Ora, que eu me babe por um queijo da serra não é de estranhar, pois é um manjar dos céus. Agora, o pastel de bacalhau, uma das jóias mais perfeitas e mais queridas da nossa gastronomia popular, babar-se por um queijo (ainda que da Serra, e do bom), convenhamos que não lembra o diabo.

Não diria, como Maria de Lurdes Modesto (ela que é uma referência maior destas artes), que é uma "obscenidade". Não vou tão longe. Mas acho estranho, no mínimo, um "casamento" como este, que os seus criadores anunciam - entusiasticamente - como "Dois sabores tradicionais. Uma especialidade única". Tretas, obviamente que não estou de acordo.

Aliás, nem percebo a mania de querer ser inovador em matérias que foram descobertas há muito e são tão apreciadas tal como estão. Afinal, querem inventar o quê? Como li algures, "o que querem é achincalhar o património gastronómico nacional. Já temos o pastel de nata de kiwi e a alheira de bacalhau". A seguir, digo eu, é capaz de ser lançada a mais bela de todas as especialidades: morangos com maionese.

E como questionou Maria de Lourdes Modesto: "Ninguém com poder toma conta disto?”. Parece que não ...

terça-feira, junho 09, 2015

José Sócrates: "Amar ou odiar: ou tudo ou nada!"



Provavelmente - mais do que em qualquer outra altura - o poema de Fausto Guedes Teixeira faz agora o maior sentido:


"Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser ...

... Metade dum prazer não é um prazer ...

... Que nenhum homem seja indiferente!
Amemos muito, como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos,
Porque é no sentimento que ela está"



Preso preventivamente há mais de seis meses, José Sócrates considera que "a prisão constituiu uma enorme e cruel injustiça. Seis meses sem acusação. Seis meses sem acesso aos autos. Seis meses de um furiosa campanha mediática de denegrimento e de difamação ...". Por isso decidiu “não dar consentimento” à proposta do Ministério Público para que deixe de estar em prisão preventiva e passe a estar em prisão domiciliária, com uma pulseira electrónica. Ou seja, "ou me libertam ou fico preso aqui mesmo". "Amar ou odiar: ou tudo ou nada! O meio termo é que não pode ser ...".

sexta-feira, junho 05, 2015

Ai, Jesus, tanta confusão na 2ª Circular ...



A prova de que os portugueses pouco ligaram à descida de umas décimas no número do desemprego é que ontem toda a gente falava num só assunto: a saída de Jorge Jesus do Benfica para o seu arqui-rival do outro lado da segunda circular, o Sporting. Aliás, não falavam no desemprego nem em qualquer outro assunto daqueles que têm mesmo a ver com as nossas vidas.

Para quem segue o que se passa nas redes sociais é muito curioso ler os comentários de benfiquistas e de sportinguistas. Os primeiros acusam Jesus de ser um traidor (chamam-lhe Judas e sentem que se passou do bicampeonato ao bicabornato), os segundos acham que o treinador não tem o perfil adequado para estar à frente do clube de Alvalade. Ou seja, estão todos contra Jorge Jesus.

Como contraponto a este enredo todo há também o despedimento (com justa causa, ao que dizem) do treinador leonino, Marco Silva, que muitos apontam já como futuro treinador do Benfica. Está armada uma teia em que nem sequer faltam elementos como a ética (ou falta dela), o reconhecimento ou a ingratidão (ou falta deles) e os grandes interesses de agentes, fundos de investimento e investidores de países africanos.

Uma completa salganhada - que já vimos idênticas no passado, mas esta tem um gostinho especial - que promete dar muito que falar nos próximos dias e semanas e da qual se pode tirar, para já, duas conclusões: a primeira, é que quem realmente se interessa pelos clubes não são os dirigentes, treinadores ou jogadores, são os adeptos. A segunda, é que percebo agora para que foi montada a passagem superior sobre a segunda circular, junto às Torres de Lisboa. Foi - acho eu de que ... - para facilitar o salto dos treinadores da Luz para Alvalade e vice-versa ... Será?

quarta-feira, junho 03, 2015

E "cadê" o pão com chouriço?



Se há coisas que aprendi nos meus tempos de estudante (e de boémia) é que beber à fartazana sem que isso seja acompanhado por algum tipo de alimento sólido (de preferência que tenha "sustância") pode não ser uma boa ideia e acabar mal. Quer eu dizer com isto que umas sandochas ou qualquer coisa do género sempre actuam como mata-borrão para absorver o álcool.

E porque é que me lembrei desse "antídoto maravilhoso" para combater os excessos da pinga? Porque tenho uma teoria quanto ao que se passou no Marquês de Pombal, aquando dos festejos do Bi do Benfica. Como sabem eu estive lá e vi, para além dos stands da Sagres, dezenas de vendedores de cerveja que estavam ao longo das ruas, com geleiras de campismo colocadas nas bagageiras abertas de automóveis ou simplesmente no chão, todos a vender cerveja fresquinha para ajudar à festa e ... ganhar uns cobres. E eram muitos os milhares de pessoas que afluíam ao Marquês, com muita alegria e, muitos deles, já com muita bebida. Nada mais natural do que brindar à saúde e à vitória do Glorioso.

E neste momento estarão a interrogar-se: mas afinal qual é a tua teoria sobre o que aconteceu? É fácil de explicar. Li no Expresso do último fim-de-semana que a Câmara Municipal de Lisboa chumbou um pedido de licenciamento para a venda ambulante de pão com chouriço, alegando "motivos de segurança e ordem pública" (?). E, já perceberam, é aqui que entra a minha teoria: Então a rapaziada bebeu que se fartou e não pôde atenuar os efeitos do álcool com uns pãezinhos com chouriço que fosse? É claro que deu no que deu ... embora se entenda bem a preocupação da CML: é que a venda de pão com chouriço podia constituir um perigo dos diabos ...

terça-feira, junho 02, 2015

A nomeação de Carlos Costa



A recente (re)nomeação de Carlos Costa para Governador do Banco de Portugal leva-nos a reflectir sobre a natureza da política e dos políticos. Se bem nos lembramos das declarações que foram proferidas durante os trabalhos da recente Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES/GES ele foi acusado de ter sido brando e de não ter actuado da melhor forma em relação a Ricardo Salgado e ao BES. O Coordenador do PSD nessa comissão, Carlos Abreu Amorim, não o poupou e disse que a sua actuação foi muito grave. O mesmo Amorim que (depois de ter recebido instruções do Passos Coelho) veio agora afirmar que o mandato de Carlos Costa foi exemplar. Em que ficamos? Que moral pode um indivíduo invocar quando trai a sua própria palavra?

Claro está que não é posta em causa a legitimidade do actual Governo em fazer a nomeação. Embora, convenhamos, seja muito estranho que a faça a poucos meses das eleições e sem ter conseguido o acordo do maior partido da oposição que, eventualmente, virá a comandar em breve os destinos do país. Tanto mais que o PSD tanto tem falado ultimamente na necessidade de consensos. Como não está em causa a honestidade nem a competência de Carlos Costa. Apenas se esperaria que houvesse bom-senso quanto à oportunidade da renovação do mandato, para que não restasse qualquer dúvida de que não houve (como dizer isto?) um pagamento de favores pelo facto do Governador ter "dado o peito às balas" no caso BES, deixando de fora as responsabilidades que caberiam ao Governo.

O convite de Passos não deveria ter sido feito e, tendo existido, não deveria ter sido aceite. É que para além das dúvidas legítimas dos cidadãos, quer o Banco de Portugal quer, especialmente, Carlos Costa, partem para mais um mandato (que não vai ser fácil) numa situação de grande fragilidade.