quarta-feira, janeiro 21, 2015

À mesa com José Quitério ...



Há vários anos que seguia com deleite as crónicas gastronómicas que José Quitério escrevia no Expresso. Dava-me a conhecer restaurantes, orientava-me com as suas opiniões de conhecedor exímio (e honesto) na matéria e, para além disso, deliciava-me com expressões que não eram habituais em artigos da especialidade como: "amesendação sem mácula", "manducantes", "rol de comestíveis", "mastigantes" e outros que criaram um estilo único. Infelizmente José Quitério deixou de escrever "devido tão-somente à alta traição dos meus olhos ..." como deu a conhecer em entrevista ao Expresso nas últimas semanas.
Não posso deixar de transcrever algumas respostas (curiosas) dadas na citada entrevista. Por exemplo:
- "... há terras que se auto intitulam capitais de isto e de aquilo (a mais ridícula, cujo nome nem digo, por vergonha, é a capital do ovo) ... o ovo, o alimento primordial ... estão a brincar com a macacada)";

- "... os chefes querem ser considerados artistas, se lhes chamam artesãos ficam lixados. Mas depois o que fazem é, sobretudo, negócio";

- "que me interessa que o restaurante número um do mundo seja em Copenhaga? Nos países nórdicos não se come bem, mas quem vai à Dinamarca por causa do Norma? Meia dúzia ... uma vez levaram-me ao melhor restaurante de Oslo, caríssimo, e o que era aquilo? Comida francesa!";

- "... a cozinha foi capturada pela sociedade de espectáculo e os cozinheiros transformados em grandes vedetas, com tudo o que isso implica. Cozinheiros que não querem ser tratados por cozinheiros, nem sequer por chefes, mas por chefs ... chega a ser ridículo ouvir miúdos da escola de hotelaria a dizerem que estão a estudar para chefs".

Tenho muita pena que tenha acabado a deambulação semanal de José Quitério pelos restaurantes do país. Ele é uma referência da gastronomia portuguesa de quem vou sentir saudades.

terça-feira, janeiro 20, 2015

Quando o medo limita ...



As últimas acções terroristas levadas a cabo, nomeadamente em Paris, têm gerado um clima de medo que, em certos casos, leva à tomada de medidas que roçam a irracionalidade. Como aquela que a Oxford University Press, uma das maiores editoras do mundo, ligada à prestigiada Universidade de Oxford, levou a cabo ao retirar dos seus livros palavras como "porco", "salsichas" e outras afins do dito animal. Tudo para não ofender judeus e muçulmanos, já que para ambas as religiões o porco é considerado um animal impuro.

E são medidas realmente tão abstrusas que nem mesmo muitos muçulmanos as compreendem. Como aconteceu com o deputado muçulmano do Partido Trabalhista do Reino Unido, Khalid Mahmood, que se mostrou contra a orientação: “Discordo em absoluto. É um perfeito disparate. E quando as pessoas vão longe demais, toda a discussão cai em descrédito”. Ou como salientou o líder do Conselho de Liderança Judaica: “As leis judaicas proíbem comer porco, não a menção da palavra, ou o animal do qual deriva”.

Ao que se chegou. Os livros em vez de educar servem para alimentar preconceitos.





sexta-feira, janeiro 16, 2015

Os "Bons Negócios"



Esta não é a primeira crónica em que reconheço que já há pouca coisa que me surpreenda. Ainda assim, foi o que aconteceu ao ter conhecimento dos resultados de uma auditoria do Tribunal de Contas, agora divulgados. De facto, deixaram-me de boca aberta. Então não é que o famigerado TGV (o comboio de alta velocidade), apesar de nunca ter passado de um projecto (megalómano, convenhamos) custou 152,9 milhões de euros aos cofres públicos só em sucessivos estudos?

Já se sabia que o TGV não teria viabilidade financeira. Houve até vários alertas nesse sentido. Ana Paula Vitorino, secretária de Estado do Governo de Sócrates chegou a declarar que o TGV não seria rentável. Mas a teimosia de muitos reinou durante vários governos, de vários partidos, e os políticos continuaram a insistir numa empreitada que se adivinhava ruinosa para o país. Apesar disso, num Governo do PSD/CDS liderado por Pedro Santana Lopes, em que António Mexia era Ministro das Obras Públicas, pretendia-se fazer não 3 mas 6 ligações do TGV. Enfim, uma desgraça completa que só agora foi travada mas que ainda não nos permite saber em quanto vai ficar a factura final.

Portugal, aliás os Governantes de Portugal, têm sido uns campeões neste tipo de "super projectos", cujos prejuízos vêm fatalmente cair nos bolsos dos cidadãos. Soube-se, agora, dos 153 milhões com estudos para um (hipotético) TGV. E o que dizer dos 120 milhões (87 milhões em 2011 e 2012 e, em 2014, mais 35 milhões por se ter desistido de os adquirir) que gastámos na compra de helicópteros que nunca iremos receber?

Somos ou não somos bons em fazer maus negócios?

quarta-feira, janeiro 14, 2015

A borrasca vem aí ...



Se na minha primeira crónica deste ano manifestei um aberto optimismo pelo discurso natalício do Papa Francisco, o mesmo não posso dizer hoje sobre o que Passos Coelho disse na sua mensagem de Natal. Embora ele tenha reconhecido (pudera!) as dificuldades que alguns portugueses (só uns quantos milhões, nada de importância ...) enfrentam no seu dia-a-dia, afastou a possibilidade de um cenário negro para 2015. Com a convicção (!) estampada no rosto, o Primeiro-Ministro disse "Este será o primeiro Natal desde há muitos anos em que os portugueses não terão a acumulação de nuvens negras no seu horizonte. Será o primeiro Natal desde há muitos anos em que temos o futuro aberto diante de nós ...".

Pergunto-me como é que em consciência alguém pode fazer uma afirmação destas. Com eleições à porta no país (em que, seguramente, vão ser dados alguns "rebuçados" para nos adoçarem a boca na hora de votarmos) mas também em alguns outros na Europa, com a indefinição das relações entre a Rússia e a Europa e os Estados Unidos e com os problemas que nos estão já a bater à porta pela descida vertiginosa do crude (menos receitas dos países exportadores de petróleo e, portanto, menos exportações portuguesas para esses países), como é que alguém pode ter certezas seja do que for? Ao dizer que "2015 vai ser um ano de crescimento, de aumento do emprego (por acaso, em Novembro último a taxa de desemprego aumentou 3 décimas) e de recuperação dos rendimentos das famílias" e que o próximo ano trará "uma recuperação assinalável do poder de compra de muitos portugueses" não estará tão-somente a fazer campanha eleitoral?


Sabendo que o governo quer dispensar mais 12 mil funcionários públicos em 2015 e que haverá impactos na carteira dos portugueses com a fiscalidade verde e com o anunciado aumento de preços de bens e produtos, parece-me que, ao contrário do que diz o PM, os portugueses não só terão uma acumulação de nuvens negras como se adivinha que, no horizonte, vai desabar sobre nós uma valente borrasca.

terça-feira, janeiro 13, 2015

E vão três !



Esqueçamo-nos, por momentos, das dificuldades que não nos largam. Suavizemos (por momentos, repito) as nossas imensas preocupações para que, tranquilamente, possamos sentir (mesmo aqueles que não ligam aos "futebóis") o orgulho de vermos um português elevar bem alto, e uma vez mais, o nome do nosso país.

Cristiano Ronaldo conquistou a "Bola de Ouro" de melhor jogador de futebol do mundo em 2014. E, com a esta, já ganhou três "Bolas de Ouro". É obra!

Sabemos como muitas vezes o trabalho e a dedicação não são sinónimos de sucesso. Neste caso, felizmente, tudo se conjugou. Cristiano Ronaldo ganhou o galardão de melhor jogador do mundo, que ele merece inteiramente e que é o culminar de um ano de ouro para o jogador português. Parabéns a Ronaldo pelo prémio mas também por ter feito o discurso de vitória em português.



sexta-feira, janeiro 09, 2015

E a verdade é só uma. Tudo aconteceu depois de Maomé ...



Vi em directo mas não quis acreditar. Por isso, e tendo a consciência que as minhas capacidades têm diminuído com o decorrer dos anos, decidi procurar melhor informação para me certificar se tinha realmente ouvido bem. Mesmo considerando que era o último dia do ano e que a excitação com o "réveillon" era muita, ainda assim, tanta parvoíce junta parecia-me excessiva, a ponto de confundir a inteligência dos mais dotados. E aquilo que me estava a custar a acreditar foi assistir aos comentários de uma revista de imprensa do dia 31 de Dezembro de 2014, na SIC Notícias, comentada por uma jornalista (parece que da própria SIC), de seu nome, Marisa Moura.

Às tantas, e a propósito do denominado Estado Islâmico, dizia a tal senhora que "esta questão do Estado Islâmico, tem a ver com movimentos que surgiram depois da morte de Maomé" (é sempre bom esclarecer este facto, não fosse alguém pensar que fosse antes). E, logo a seguir, a explicação que deu sobre os xiitas foi irreal. Segundo ela, "a coisa é fácil de entender. Os xiitas são - e aqui ainda fiquei mais confuso porque para a jornalista "descendentes" e "seguidores" são a mesma coisa - descendentes ou seguidores de Ali, primo e cunhado do Profeta, que disputou a sua sucessão, dando origem a uma cisão no seio do Islão. Aquela que se mantém até hoje entre sunitas e xiitas). O mesmo Ali das riquezas e dos palácios das histórias dos príncipes das Arábias, o que contrapunha exactamente ao que Maomé combatia".

Enfim, fiquei de queixo caído (de estupefacção) perante tamanha pobreza demonstrada por uma profissional de quem se exigiria melhor e mais qualificada informação. A mesma jornalista e escritora que publicou "O que é que os portugueses têm na cabeça?", um livro que não comento (porque não li), mas que não me deixou qualquer entusiasmo em conhecê-lo e que - parafraseando a autora - me colocou a questão: o que é que, afinal, Marisa Moura tem na cabeça?
 

Para quem estiver interessado em aceder àquele naco de sapiência aqui fica o endereço:

https://www.youtube.com/watch?v=Qs-jciZYq6E

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Duelo desigual ...





Sem mais comentários, deixo-vos com o traço e as palavras do cartoonista Henrique Monteiro.





"Não obstante a tragédia e o terror que nasce da intolerância, é reconfortante saber que o humor é uma arma profundamente eficaz contra aqueles que a promovem. Ele persistirá triunfante muito para além do todos os males que nos tolhem a liberdade. Não há força que o elimine nem doutrina que o amordace. É uma luta sem vitória.
Para os colegas que sucumbiram no exercício desse bem precioso a certeza de que o lápis continuará afiado e o papel continuará branco e apetecível.
Henrique Monteiro"

quarta-feira, janeiro 07, 2015

Um "hino de esperança" chamado Francisco



Na primeira crónica deste ano não podia deixar de lembrar o discurso de Natal do Papa Francisco aos bispos e cardeais da Cúria, em que faltaram as tradicionais (e esperadas) palavras de felicitações natalícias. Se bem que o Papa Francisco já nos habituou a surpreender-nos com discursos e práticas não habituais e corajosas.

Francisco denunciou com severidade, uma por uma, as 15 doenças que afligem a hierarquia da Igreja, do carreirismo, à ganância e ao terrorismo da má-língua (“a doença dos cobardes, dos semeadores da discórdia e dos assassinos a sangue-frio da reputação dos seus irmãos"), deixando na esmagadora maioria dos presentes (que não estariam à espera de críticas tão fortes) um mal-estar bem visível nos rostos fechados e tensos.

No discurso duro, convidou os cardeais a fazerem um “verdadeiro exame de consciência, pedindo perdão a Deus” e fez o diagnóstico de 15 enfermidades, descreveu sintomas e apresentou remédios, de uma forma lúcida e conhecedora do que estava a falar. Criticou os que ficam demasiado presos à burocracia, os que recusando abandonar as suas tarefas se esquecem que o mais importante é sentar-se aos pés de Jesus, ou aqueles que, pelo cargo que atingiram, se julgam essenciais e a quem convidou a visitarem os cemitérios onde estão tantas pessoas que se consideravam indispensáveis. Foi ainda mais duro, quando denunciou o “Alzheimer espiritual” dos que se afastaram de Deus e vivem dependentes das suas paixões, caprichos ou obsessões, os que tentam preencher o seu vazio existencial arrebanhando bens materiais.

Os raros (e fracos) aplausos que se ouviram quando o Papa terminou não disfarçaram o ambiente pesado. Mas, para nós, simples mortais (crentes ou não nas doutrinas da Igreja) as suas palavras soaram como que um hino de esperança."Habemus Papam"!