quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Os "novos" sacos de plástico ...



Sabíamos de há muito que a ideia mirabolante de pôr os portugueses a pagar 10 cêntimos por cada saco de plástico - para além de aspectos ambientais que se compreendiam - tinha sido arquitectada, fundamentalmente, para sacar mais umas massas à rapaziada. Estimou-se na altura que à volta de 40 milhões de euros. Ao fim e ao cabo mais um imposto, rotulado simpaticamente de "fiscalidade verde".

Mas, azar dos Távoras, depois de uma data de estudos que se fizeram sobre o assunto, o que as cabecinhas pensadoras não conseguiram atingir é que os privados, nomeadamente as grandes superfícies, deram sumiço aos sacos tradicionais e "inventaram" uns outros sacos (também de plástico) mais resistentes e maiores, que evitam o imposto e ... vendem-nos aos clientes. Ou seja, lá se foram os 40 milhões que o Fisco pensava arrecadar e aumentou o lucro dos empresários. Uma jogada de antecipação que destruiu o encaixe previsto.

E não fosse uma dor lombar com que fiquei por ter pegado em sacos enormes e pesados (antes o esforço físico era repartido por vários sacos), eu estaria ainda a rir da partida que os privados pregaram ao Estado. É que a medida aprovada, pouco ou nada tinha a ver com a defesa do ambiente. Queriam apenas mais dinheiro. Não foi desta mas, cuidado, eles não desistem ...

terça-feira, fevereiro 24, 2015

Mais um "tiro" ao lado ...



Se bem que Cavaco Silva já nos tenha habituado a situações pouco comuns (chamemos-lhes assim) - e lembro, por exemplo, um indulto que concedeu há anos a um proprietário de discotecas de Évora, ignorando que, afinal, o homem era procurado pelas autoridades policiais portuguesas e estrangeiras - achei muito curioso o facto do nosso Presidente condecorar o ex-autarca de Murça, precisamente no dia em que se soube que o Tribunal de Contas decidiu não homologar (por terem sido ultrapassados os limites legais de endividamento) as contas de 2008, 2009 e 2010 do município a que presidia então o agora comendador. Ainda que as multas já tenham sido pagas.

Realmente não passa pela cabeça das pessoas que uma condecoração seja atribuída como prémio pela má gestão de um autarca. Foi mais um "tiro" ao lado do Presidente. Parece não restarem dúvidas que Cavaco anda a precisar urgentemente de assessores mais atentos e competentes.

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

E agora, Passos?



No mínimo, o que qualquer português gostaria de saber é qual vai ser a reacção do Primeiro-Ministro depois do Presidente da Comissão Europeia ter admitido que a troika beliscou a dignidade dos portugueses.


"Pecámos contra a dignidade dos cidadãos da Grécia, Portugal e, muitas vezes, da Irlanda também". As palavras Jean-Claude Juncker soaram como um trovão e puseram em causa não só a actuação da troika como a anterior Comissão Europeia, liderada por Durão Barroso, de confiar “cegamente” nela. Aliás Juncker admitiu que a troika nem sequer tem legitimidade democrática.

Já se adivinhava que depois da vitória do Syriza na Grécia a Europa jamais seria a mesma. E aí está o desabafo do Presidente da Comissão Europeia a confirmá-lo. Mas, claro está, o Governo português, através do seu porta-voz, o Ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Marques Guedes, já reagiu, afirmando que considera infelizes as declarações de Juncker: "Nunca a dignidade dos portugueses foi beliscada"". A sério?

Pois os cidadãos acham (e têm sentido na pele) que essa identidade (cumplicidade) estranha entre o Governo português e a troika e as "medidas virtuosas" que a troika quis implementar em Portugal e mais aquelas que o nosso obediente governo entendeu acrescentar lhes roubaram a possibilidade de viver com a dignidade que merecemos. Retirada, aliás, com uma receita (à base de "reformas" assentes em mais impostos e cortes) que muitos já adivinhavam não ir dar bons resultados.

O mea-culpa de Juncker veio tarde mas chegou. Mas nem mesmo assim o Governo português é capaz de reconhecer que as políticas europeias foram demasiado duras e injustas para os cidadãos. O PSD apenas se desculpou com "as metas e objectivos terem sido manifestamente desajustados porque tinham sido mal negociados de início (culpa exclusiva do PS, segundo dizem) e o CDS - de forma hipócrita, convenhamos - afirmou "Aquilo que o senhor Juncker disse foi aquilo que o CDS ao longo dos tempos, de uma forma mais ou menos explícita, foi alertando, um governo de protectorado é um vexame".

A declaração pública e clara de Jean-Claude Juncker não foi suficiente para o "bom aluno" dar o braço a torcer. Vá lá, Passos, a sério, o que é que tens para nos dizer?

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

"Vamos supor"



Como diria uma amiga minha "é chato" fazer comentários sobre uma ficção ou sobre especulações (ficcionadas ou não). Ainda assim, não resisto à tentação de lembrar o artigo escrito na revista oficial da Ordem dos Advogados pela advogada de defesa de dois dos implicados no caso Sócrates, sob o título (sugestivo, por sinal) "Vamos supor".

Paula Lourenço, a dita advogada, sem referir os nomes dos seus clientes (um empresário e um advogado), dizia nomeadamente:

“Suponhamos agora que os cidadãos chegam ao aeroporto num voo proveniente de Paris, pelas 18h, que são presos sem mais, sem que lhes seja entregue um mandado de detenção, que lhes são retirados os telemóveis das mãos para que não possam fazer qualquer contacto, revistados e apreendidos todos os documentos que transportavam consigo sem que igualmente houvesse um mandado para o efeito” ...

“Suponhamos agora que por não ter sido entregue o mandado de detenção nem feita a constituição do arguido, nem garantida a presença do advogado, as buscas que continuaram na casa de um dos putativos detidos são complementadas com “interrogatório” de várias horas ao seu cônjuge” ...

“Suponhamos agora que, movidos pelo poder desmedido e adrenalina circundante (…) “agarram”, literalmente, no advogado, o levam para a sua própria casa e aí fazem busca não autorizada, apreendem documentação vária na presença da mulher, filho de cinco anos e bebé com dois meses que assistem horrorizados à violência com que despejam gavetas e lhes circulam (…) pela casa.” ...

“Suponhamos agora coisas descabidas: suponhamos que os arguidos, durante os cinco dias que duraram as diligências do primeiro interrogatório (…) não tiveram sequer direito a tomar banho, a mudar de roupa, a apresentar-se condignamente perante o juiz que os vai interrogar” ...

A serem verdadeiras as conjecturas - e agora sem "vamos supor", "suponhamos" ou "supônhamos" - parece que a "justiça" é bem capaz de andar a violar princípios básicos do Estado de Direito.

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Uma explicação reconfortante ...



Há dias um amigo mandou-me uma mensagem com uma informação que me deixou muito mais tranquilo. Dizia ele:

"Afinal, os cérebros das pessoas mais velhas são lentos só porque elas sabem muito.
As pessoas não declinam mentalmente com a idade. Os cientistas acreditam que elas apenas têm mesmo mais tempo para recordar factos e acumulam muito mais informações nos seus cérebros. Exactamente como acontece nos discos rígidos dos computadores quando ficam cheios, dificultando assim o tempo de acesso às informações pretendidas.
Resumindo, e segundo os investigadores, esta desaceleração não é o mesmo que o declínio cognitivo. O cérebro humano funciona mais lentamente na velhice porque temos armazenadas mais informações".

É uma explicação reconfortante, admito. E, como se costuma dizer, "Se non è vero, è ben trovato."

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

"Vivá" liberdade



Ao certo não se sabe bem o que é (e o que significa) a liberdade. A definição que mais comummente se ouve é aquela que diz: "a Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa. É a sensação de estar livre e não depender de ninguém. Liberdade é também um conjunto de ideias liberais e dos direitos de cada cidadão". Mas isto, sendo verdade, não passa de uma teoria que nem sempre tem aplicação prática. Se não vejamos ...

Então não é que um senador norte-americano defende que os trabalhadores da restauração devem ter a liberdade de não lavarem as mãos quando em serviço. Segundo ele: "Deixemos a indústria ou negócio decidir, desde que eles divulguem essa decisão... desde que essas empresas assumam publicamente que não exigem aos seus empregados que lavem as mãos depois de usar a casa de banho. O mercado tratará disso", sugeriu.

Era o que mais faltava, deixar ao cuidado dos mercados uma situação de saúde pública, que é disso que se trata. Tanto mais que temos más experiências quanto a essa questão dos mercados. Liberdade sim, naturalmente, mas quando estamos a falar de higiene em trabalhadores de cafés e restaurantes talvez seja melhor não exagerarmos ...



terça-feira, fevereiro 10, 2015

"A bem da Nação"



Há quem diga que Yanis Varoufakis, o novo Ministro das Finanças do recém-empossado governo grego, é o "homem do momento". E tanto assim é que - apesar das dificuldades que enfrenta para tentar tirar a Grécia da situação complicadíssima que atravessa - ele, pela sua personalidade, pelo modo como veste e pelo seu olhar firme e enigmático, consegue cativar. É popular e simpático. Inegavelmente, Varoufakis tem carisma, o que pode não ser suficiente.

Mas Yanis Varoufakis rejeita transformar-se num político ... que é uma coisa que eu não percebo lá muito bem como vai conseguir. A não ser que nem ele próprio confie na classe política, o que, convenhamos, até é capaz de ter alguma razão.

Porém, como lembrava Henrique Monteiro no último número do semanário Expresso, também Salazar e Cavaco Silva diziam não querer ser políticos e o primeiro esteve lá 40 anos e o actual Presidente da República já vai fazer 20. Para quem não queria ...

Pode ser que, mesmo não sendo político, o espírito de missão de Varoufakis - "apenas" o economista - seja o de salvar a Grécia. "A bem da Nação".



sexta-feira, fevereiro 06, 2015

"As Sem Razões do Amor"



de Carlos Drummond de Andrade


"As Sem Razões do Amor"

 

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

A brincar, a brincar, se dizem certas coisas (utilizando peças de "Lego") ...



Nunca fui lá grande artista na montagem de "legos". A bem dizer, o melhor que consegui, juntando as peças multicores que pertenciam aos meus filhos, foi uma torre enorme em que me limitei a encaixar peças sobre peças tentando manter o máximo de equilíbrio para não caírem e umas pontes cheias de design mas que mal se percebiam o que pretendiam ser - apenas pontes. Com os anos fui vendo colecções e exposições de "lego" - e essas sim - eram umas autênticas obras de arte.

Na passada semana, graças à criatividade do deputado do PCP Paulo Sá que recorreu ao famoso jogo infantil da "Lego", pudemos assistir a uma engenhosa argumentação sobre o alegado alívio da carga fiscal (tão propalado pelo Governo) que, afinal, não será sentido pelas famílias.

Paulo Sá, recorrendo "à mais moderna técnica pedagógica" (nas suas palavras), manipulou as peças, pôs e tirou blocos de várias cores (todas elas tinham um significado) de forma a demonstrar que, nos "finalmentes", os portugueses vão ter que pagar em 2015 os mesmos impostos que já pagavam, se não mais.

Foi um momento original a que nem a própria Ministra das Finanças conseguiu resistir. Se quiserem recordar essa brilhante e insólita argumentação podem aceder ao seguinte endereço:


terça-feira, fevereiro 03, 2015

Sem gravata ...



Independentemente do que possa vir a acontecer na Grécia, depois da histórica vitória da coligação de esquerda radical Syriza, liderada por Alexis Tsipras, nas eleições legislativas da semana passada - se o Syriza vai ou não cumprir os acordos celebrados com a troika ou se vai ou não sair da União Europeia, do Euro ou da NATO - o que o Governo Grego nos mostrou é que existem outras maneiras - e mais céleres - de se conseguirem resultados. Por exemplo, num dia houve eleições, no dia a seguir, às onze da manhã, já havia uma coligação, ao meio-dia já estava um Primeiro-Ministro (sem gravata) indigitado, à uma hora tomou posse e ao fim da tarde apresentou o Governo.

Isto passou-se na Grécia. E em Portugal como é? Por cá tudo tem o seu tempo. Demasiado tempo, por sinal. Há gravatas mas não há pressas.

Até entendo que haja alguma formalidade nestas coisas de Estado. Mas tanta e ... com tanta demora?